DIVINA SIMPLICIDADE – A Lei foi entregue à consciência de cada filho de Deus, e somente a Justiça Divina o julgará, em secreto, em tempo certo. O Verbo Modelo deixou o exemplo de tudo que deriva de Deus, seja Espírito ou Matéria, e a Deus um dia retornará, como Espírito e Verdade, e ninguém com Ele poderá jamais discutir, porque Seu advogado chama-se Justiça Divina. Capítulo I DO GÊNESE AO APOCALIPSE

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

NOS PLANOS DA MORTE - Capítulo I

 



 

      CAPÍTULO I

Quando Catarina assomou à porta do quarto, onde seu marido de há muito sofria as torturas de mal incurável, sentiu passar por si alguma coisa estranha, uma espécie de gélida aragem. Como tudo estivesse fechado, sem possibilidade alguma de corrente de ar, Catarina procurou atinar com o que fosse aquilo, posto que o fenômeno fora intenso. Não encontrando explicação nas leis físicas, embrenhou a mente nas suposições espirituais, concluindo pela morte do esposo, clamando em brados alarmantes, acordando sua mãe e os dois filhinhos, que, assustados, vieram ter a ela.

Eu, seu filho mais velho, contando então dezesseis anos, acordado que estava e na cozinha, tomando a primeira refeição, a fim de rumar ao trabalho, acorri aos apelos, encontrando-a debruçada sobre meu pai, que de fato estava morto.

Seguiram-se os trâmites ordinários. Afinal, depois de todos os choques e entrechoques da opinião humana, as leis fundamentais cumprem os desígnios do Supremo Autor, endereçando as criaturas aos devidos fins. Diz velho refrão que Aquele que mais sabe mais calado fica. Realmente, enquanto as criaturas berram conceitos e preconceitos, empinando concepções e mais concepções, entre si as mais contraditórias e paradoxais, a Soberana Vontade executa Seus programas, através de leis básicas, sem ruído, sem alardes nem empavonamentos.

Meu pai sofria havia muitos anos; com isso gastamos tudo quanto fora possível, acumulando ainda algumas dívidas. A medicina havia dito, pela experiência de criteriosos esculápios, não haver recurso para o mal. Quanto ao credo por todos esposado, o Catolicismo, ele nada dissera, nem teria o que dizer, mudo e surdo, cego e materialista como era e como continua a ser. A única pessoa inquirida por minha mãe, e que lhe dissera estar tudo perdido, fora uma senhora benzedeira, muito acatada pelo povo, mas bastante atacada pelo pároco, que a tinha em conta de feiticeira.

Após a tempestade, a cruenta movimentação telúrica, tinha de vir a bonança; e a bonança veio, lenta e segura, até que terminamos por achar bem feita, a obra de Deus. Comparando as torturas e os inúteis esforços de antanho, com as pazes feitas junto às noites bem dormidas e os dias de paz e trabalho, concordamos com a Sabedoria Suprema. Foram quatro anos e meio de rotina pacífica, apenas curtindo saudades imensas, lanços de pranto, porque meu pai fora um homem bom, humanamente bom.

O exemplo que dera, durante a enfermidade, infundira profundo respeito; sua paciência parecia não ter limites! Quando alguém lhe exaltava a condição de sujeição ao mal, ele invariavelmente respondia:

Tenho certeza de que a alma é imortal; portanto, além dos critérios humanos, acima dos recursos da medicina, pairam os desígnios de Deus. Se a morte for total, terei ganho a vantagem do homem decente, daquele que não escandaliza nem mesmo o sofrimento. E se a morte for aparente, continuando a viver o espírito, então receberei de Deus a recompensa de filho obediente. Além destas cogitações, é necessário lembrar que podem existir outros motivos para a vida e suas conseqüências, motivos que eu por ora desconheço, porém motivos que não serão ignorados por Deus. Por tudo isso, basta-me ser paciente, aguardando pelo que vier, quando e como Deus o queira.

A última vez que assim falou, foi a resposta dada ao farmacêutico, havendo este retorquido, cheio de dúvidas:

É filosofia que serve... Mas, quem sabe?... Se ao menos as almas voltassem!...

Meu pai, que era assíduo leitor da Bíblia, respondeu-lhe:

É disso que a Escritura está cheia, não?

O senhor Juvelino fez um esgar, balbuciando a meio tom:

Ora a Bíblia!...

Duvidas? – perguntou-lhe meu pai.

Ele encolheu os ombros, emendando:

Entre dois erros, prefiro ficar com o menor: se a Bíblia é verdadeira, onde estão aqueles grandes avisos do Céu? Onde foram parar os anjos, os espíritos, tudo quanto ela diz que acontecia naqueles tempos? Prefiro que minta a Escritura, antes que eu o faça, compreende? Porque eu vivo do melhor modo, procurando fazer o bem, evitando todo e qualquer mal...

Meu pai atalhou-o:

Jesus não falhará!... Jesus não falhará!...

O farmacêutico acrescentou, evasivo:

Talvez... Talvez, Bonifácio... De tudo aquilo só resta a idolatria e a exploração humana... Se Jesus teve por missão fazer isso que anda por aí, que é a continuação de tudo aquilo que de formalismos, idolatrias e explorações já havia antes, creio que Ele foi apenas o mártir da inconsciência, da própria inconsciência. Ou teriam adulterado a Sua Doutrina, posteriormente? Se o fizeram, como se poderá saber e consertar a coisa? E mesmo que se venha a saber e a poder consertar, quantas gerações passaram e foram enganadas? Quem iria, depois de tudo isso, resgatar as legiões de ludibriados?

Lembro-me de que a conversa por aí terminou, ficando ambos a meditar, até o momento em que alguns parentes apareceram, tendo-se ido o farmacêutico, pensativo e triste, como quem deseja aquilo que não pode conseguir, a verdade reconfortante que se vislumbra ao longe e parece inatingível.

Durante o velório, à noite, o senhor Tristão, esse o sobrenome do farmacêutico, ao vir a mim para dar os pêsames, comentou:

Quero crer na imortalidade da alma, faço até algum esforço para isso. A questão é que não posso, não consigo. Quando morre alguém, conhecido e amigo de tantos anos, como o seu pai, fico dias e dias a meditar, a cismar. Se é gente mais de perto, ou do sangue, adoeço, vou parar na cama.

Amargurado como estava, comentei-lhe, sentindo o peso da afirmativa:

É certo, senhor Tristão... Fica-se com a alma congestionada, contrita a mais não poder. Hoje, por exemplo, parece-me ter a morte na garganta!...

Ele revidou, de pronto:

Bem, não é a morte que me ataca e faz estrago; é a incerteza da religião, é a isenção de recursos práticos confirmativos da imortalidade que me faz mal. O ferreiro lida com o ferro e prova com fatos o que faz; a costureira não cobra por aquilo que não produz; eu, como farmacêutico, por exemplo, troco o remédio e os meus serviços pelo dinheiro do freguês. E assim por diante, normalmente a Humanidade trabalha e reparte os benefícios que vive a cambiar. Com a religião dá-se o contrário, nada se prova e quem procura saber dos resultados é herético!...

Em minha simplicidade, e ferido em cheio pelo querido defunto ali presente, achei por bem ser apenas conformista:

É real. Todavia, senhor Tristão, Deus sabe o que faz, não é?

Homem simples, usando sempre de franqueza para todos os efeitos, retrucou:

Pelo menos, Teodoro, Deus nada cobra nem dá opinião. Eu falo é dos que cobram e exigem respeitos exagerados, pelo que fazem de salamaleques a título de religião ou de coisa válida perante Deus! Sabe que um dia destes, perguntando ao pároco a respeito de provas a dar, a fim de justificar as cobranças que faz e os respeitos que exige, deu-me ele, como resposta, o conselho de jamais fazer semelhante pergunta a quem quer que seja?! Não acha você, menino, que é pedir muito pelo nada que prova?

Ainda julgando estar certo, apresentei a minha sugestão:

Devemos ter fé... Se ainda me lembro, Jesus pediu para termos fé.

Em quem, Teodoro? Em Deus, ou nos donos de religiões?

Expus o meu pensamento, com acanhamento evidente:

Em Deus... Em Jesus... Eu penso que deve ser assim.

O farmacêutico abanou a cabeça, emitiu o seu sorriso entredentes, aventando:

Logicamente, Teodoro, a chamada Criação testemunha um Emanador, um Princípio, um Deus, seja lá como for, Substância, Energia, Espírito, sei lá!... Também é certo que os livros dizem que Jesus fez grandes coisas, milagres, ou coisas que o valha. O que se lê dos Apóstolos, diz que também fizeram prodígios, que andaram curando, fazendo milagres, etc. No entanto, que fazem os tais de padres, esses homens que se apresentam empalhaçados, cheios de gestos fingidos, criando atitudes formais e obrigando a idolatrias, a fim de garantir as vantagens do bolso e do estômago, do orgulho e da vaidade? Será que o Deus de Verdade, que em tudo e para tudo se comprova à base de leis justas, de fatos concretos, em matéria de religião perdeu a noção de equilíbrio e de moralidade? Ou será que o erro humano pôs a perder a Excelsa Doutrina vivida por Jesus?

Não fora estar angustiado de corpo e de alma, teria perguntado, naquela época, ao senhor Tristão, que importância teriam aqueles problemas para a vida. Afinal, tudo quanto eu sabia dava para pensar deste modo: crentes ou descrentes vivem e morrem! Todavia, naquele transe, estava contrito, cheio de temores e obrigações, motivo por que apenas aduzi:

É isso mesmo... Acho que o senhor tem razão.

Animado de estranha convicção disse, quase num ralho mal disfarçado:

Pondere, menino, que a coisa é bem grave. Que tem visto e sabido até hoje, à custa de ir à igreja? Viu mais do que homens fantasiados, pedras e paus, gesso e barro, simulacros e rituais inventados por homens? É nisso que devia dar a Doutrina de Jesus, segundo como rezam as Escrituras?

Mas eu não sei que coisas rezam as Escrituras, senhor Tristão!... Minha gente crê em Deus, em Jesus, nos Santos... Para crer não é preciso nada disso, a gente sente...

Contrariado com as minhas primeiras palavras, interrompeu-me:

Não pode ser! Então, Teodoro, enquanto uns acreditam cegamente, outros podem explorar maliciosa e grosseiramente, chegando a trair a Lei? Foi esse o exemplo do Cristo? Demais, se o Cristo tivesse feito isso, ou se isso por que aí está fosse o que Cristo deixou, não teria feito Ele coisa ridícula, sacrificando a vida a bem de erros que já estavam degradando a inteligência e envergonhando as consciências desde milhares de anos?

Não tendo o que dizer, verdadeiramente acuado pela força de argumentos que eu não poderia refutar, pela falta de conhecimento de causa, monologuei a esmo:

Bem... Bem, todos falam em Deus, no Bem, na Verdade...

Quando eu gaguejava o que rematar, emendou ele, sorrindo:

Eu sei, eu sei; também os ladrões de cavalos falam em Deus!... Todos querem ter um Deus, nem que seja para fazê-Lo responsável de seus erros! E não faltam os que mentem e roubam, fraudam e impingem grossas estultices, já não digo em nome do Criador, mas francamente à custa do Criador. É necessário lembrar o seguinte: há muita diferença entre crer em Deus, ou fazer um comércio e obra de preservação da ignorância.

Deu-me uma palmadinha nas costas, enquanto fez breve silêncio, para em seguida indagar-me:

Deus quer a ignorância e a idolatria? Deus teme a sabedoria do homem? É justo que em nome de Deus se imponham farândulas e se conservem exércitos de parasitas sociais?

Dei graças a Deus de haver-se avizinhado um mulato que, sorrindo afavelmente, acenava com a cabeça e mostrava uma fila de alvíssimos dentes. Eu estava no barranco, sem beco nem saída, pois nunca havia pensado em religião e, muito menos ainda, em comparações que pudessem e devessem ser feitas. Como quem passa fogo ao vizinho, sorri como pude ao novo interlocutor, continuando calado. O senhor Tristão, cumprimentando o mulato sorridente, perguntou-lhe:

O senhor, que acha?

Com a voz bem timbrada, respondeu o simpático mulato:

Eu sou protestante... O senhor tem razão, pois o Evangelho diz...

Num repente, meio nervoso, o senhor Tristão interrompeu-o, obtemperando:

O Evangelho só não diz que Jesus passou pela vida falando muito e sem fazer ou provar coisa alguma! É outra forma de ser conformista com a cegueira, nada mais! Vocês pregam, falam, cantam belos hinos, etc.; mas nada fazem e nada sabem daquilo que Jesus sabia e fazia, ensinou e deixou no mundo!

Pretendendo ser lógico e paciente, o protestante revidou:

O senhor tenha paciência, tenha calma...

O senhor Tristão, vivamente embalado, replicou-lhe:

Paciência e calma eu tenho bastante, meu amigo; o que não tenho e não pretendo ter, lembrem-se, é tolices no cangote!

O mulato aparteou, convicto:

Diz um provérbio chinês que aquele que perde a paciência é porque já perdeu a razão...

O farmacêutico refutou, enfático:

Esse chinês, meu amigo, viveu no tempo em que os cachorros não sabiam para que serviam as lingüiças... Se ele fosse vivo hoje, e tivesse um pouco de senso crítico para aplicar na vida, certamente cortaria o pescoço antes de dizer tamanha asneira. Diga, isso sim, que a mentira religiosa cativa mais do que a pinga, vicia mais do que o jogo e brutaliza mais do que o analfabetismo!

O mulato virou as costas e foi andando, dizendo coisas que se não podiam ouvir. Eu, aproveitando a oportunidade, entrei para dentro de casa, alegando que me estavam chamando. E o senhor Tristão, por sim ou por não, ficou onde estava, fumando o seu cigarrinho de palha, fedorento como ele só. Estava, porém, satisfeito.





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PRINCÍPIO OU DEUS – Essência Divina Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo origina, sustenta e destina, e cujo destino é a Reintegração Total. O Espírito e a Matéria, os Mundos e as Humanidades, e as Leis Relativas, retornarão à Unidade Essencial, ou Espírito e Verdade. Se deixasse de Emanar, Manifestar ou Criar, nada haveria sem ser Ele, Princípio Onipresente. Como o Princípio é Integral, não crescendo nem diminuindo, tudo gira em torno de ser Manifestador e Manifestação, tudo Manifestando e tudo Reintegrando. Eis o Divino Monismo.

ESPÍRITO FILHO – As centelhas emanadas, não criadas, contêm TODAS AS VIRTUDES DIVINAS EM POTENCIAL, devendo desabrochá-las no seio dos Mundos, das encarnações e desencarnações, até retornarem ao Seio Divino, como Unas ou Espírito e Verdade. Ninguém será eternamente filho de Deus, tudo voltará a ser Deus em Deus. Esta sabedoria foi ensinada por Hermes, Crisna e Pitágoras. Jesus viveu o Personagem Inconfundível de VERBO EXEMPLAR, de tudo que deriva do UM ESSENCIAL e a Ele retorna como UNO TOTAL. O Túmulo Vazio é mais do que a Manjedoura. (Entendam bem).

CARRO DA ALMA OU PERISPÍRITO – Ele se forma para o espírito filho ter meios de agir no Cosmos, ou Matéria. Com a autodivinização do espírito, ao atingir a União Divina, ou Reintegração, finda a tarefa do perispírito. Lentíssima é a autodivinização, isto é, o desabrochamento das Latentes Virtudes Divinas. Tudo vai aumentando em Luz e Glória, até vir a ser Divindade Total, União Total, isto é, perdendo em RELATIVIDADE, para ganhar em DIVINDADE.

MATÉRIA OU COSMO – A Matéria é Essência Divina, Luz Divina, Energia, Éter, Substância, Gás, Vapor, Líquido, Sólido. Em qualquer nível de apresentação é ferramenta do espírito filho de Deus. (É muito infeliz quem não procura entender isso).

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