OSVALDO POLIDORO
NOS DOMÍNIOS
MARAVILHOSOS DA
PSICOMETRIA
Eu Sou a Essência Absoluta, Sou Arquinatural,
Onisciente e Onipresente, Sou a Mente Universal,
Sou a Causa Originária, Sou o Pai Onipotente,
Sou Distinto e Sou o Todo, Eu Sou Ambivalente.
Estou Fora e Dentro, Estou em Cima e em Baixo,
Eu Sou o Todo e a Parte, Eu é que a tudo enfaixo,
Sendo a Divina Essência, Me Revelo também Criação,
E Respiro na Minha Obra, sendo o Todo e a Fração.
Estou em vossas profundezas, sempre a vos Manter,
Pois Sou a vossa Existência, a vossa Razão de Ser,
E Falo no vosso íntimo, e também no vosso exterior,
Estou no cérebro e no coração, porque Sou o Senhor.
Vinde pois a Meu Templo, retornai portanto a Mim,
Estou em vós e no Infinito, Sou Princípio e Sou Fim,
De Minha Mente sois filhos, vós sereis sempre deuses,
E, marchando para a Verdade, ruireis as vossas cruzes.
Não vos entregueis a mistérios, enigmas e rituais,
Eu quero Verdade e Virtude, nada de “ismos” que tais,
Que de Mim partem as Leis, e, quando nelas crescerdes,
Em Meus Fatos crescereis, para Minhas Glórias terdes.
Eu Não Venho e não Vou, Eu Sou o Eterno e o Presente,
Sempre Fui e Serei, em vós, a Essência Divina Patente,
A vossa presença é em Mim, e Quero-a plena e crescida,
Acima de simulacros, glorificando em Mim a Eterna Vida.
Abandonando os atrasados e mórbidos encaminhamentos,
Que lembram tempos idólatras e paganismos poeirentos,
Buscai a Mim no Templo Interior, em Virtude e Verdade,
E unidos a Mim tereis, em Mim, a Glória e a Liberdade.
Sempre Fui, Sou e Serei em vós a Fonte de Clemência,
Aguardando a vossa Santidade, na Integral Consciência,
Pois não quero formas e babugens, mas filhos conscientes,
Filhos colaboradores Meus, pela União de Nossas Mentes.
O homem, desde que nasce, encontra-se imerso em um vasto oceano de vibrações oriundas de uma multidão de fenômenos e de seres que o cercam. E assim, como afinal acontece a tudo quanto existe, ele tanto emite como recebe as influências vibratórias do campo onde se situa. São emanações físicas, vitais ou psíquicas, que povoam o universo todo e impregnam os seres e as coisas existentes dentro de um mutualismo absolutamente determinístico.
Nesse infinito campo vibratório, cada fonte oscilatória age intensivamente na razão direta do seu estágio evolutivo. Do átomo e até mesmo das suas subpartículas infinitesimais aos mais vastos conglomerados cósmicos, as metagaláxias, tudo é fonte incessante e inesgotável de radiações sensíveis ou não aos nossos órgãos, embora estejamos inapelavelmente submetidos às suas influências. É dessa interferência mútua e constante entre todos os seres, que ressalta naturalmente a grandiosa lei do amor, da confraternização geral entre todas as criaturas de Deus; leis que não podem ser infringidas sem que se movimente contra nós a justiça substancial da causalidade.
O fato de sermos, nós os entes humanos, tanto fonte emissora como receptora dessas ondulações vibráteis, cria para nossa categoria de seres mais evoluídos, uma obrigação indeclinável de estudar essas interferências e ressonâncias, para melhor compreensão das altas finalidades da vida. Auscultando-as, medindo a sua intensidade e, mais que tudo isso, transformando ou traduzindo o seu código secreto, é que poderemos funcionar nesse complexo aparelhamento orgânico total, que é o universo, como agentes cooperadores do equilíbrio necessário à marcha ascensional de tudo quanto nos circunda. Dessa cogitação é que nasceu a Psicometria.
A mediunidade, que, de um modo geral, é dom integrante de todas as coisas e seres, representa para nós o meio capaz e seguro de nos conduzir à realização desses conhecimentos maravilhosos que, paulatinamente, nos irão descortinando outros universos aparentemente fantásticos. Se Deus é infinito, conseqüentemente a sua criação também o é, mas apenas nos será desvendada de acordo com o nosso merecimento, os nossos próprios esforços em busca dessa graça de amor e bondade.
A Psicometria, ainda muito pouco estudada, é, assim, um campo vastíssimo, infinito mesmo, de ensinamentos salvadores. É um tesouro fabuloso que só ainda não foi aproveitado porque o orgulho, a presunção e a intolerância hegemonizam a ciência, fazendo dela apenas um órgão de satisfação imediatista das coisas mais triviais da vida, e relegando à sua margem os transcendentais problemas do espírito. Mas, no dia em que ela renunciar a esse âmbito constrito da matéria que empana a sua razão, no momento em que ela vislumbrar a fulguração extasiante do reino da espiritualidade – verdadeiro reino maravilhoso de encantamento e glória – então será a Psicometria a viga-mestra de todos os nossos conhecimentos, outras leis mais avançadas revelar-se-ão ao homem, fazendo do seu atual saber verdadeiras bolhas de sabão a se desfazerem no ar.
Nenhuma vibração, uma vez emitida, jamais se desvanece ou se perde; ela subsiste eternamente gravada tanto no ambiente atmosférico como no duplo etérico de todos os seres e de todas as coisas. No espaço interestelar, ela caminha na sua projeção eterna rumo ao infinito desconhecido. As vibrações luminosas partidas de mundos afastados de nós milhares de anos-luz, muitas vezes só atingem a nossa sensibilidade quando o seu foco gerador já nem mais existe. Os nossos atos, as nossas volições, os nossos pensamentos, que, como fenômenos, são outras tantas vibrações, estão definitivamente engrafadas no nosso duplo ou perispírito, assim como também as reações do mundo exterior que nos atingem. Somos, por assim dizer, filmotecas ambulantes à espera de que os operadores (neste caso, os psicômetras) exibam as “películas” imperceptíveis aos olhares comuns.
É por isso que, dizem as Escrituras, nada há oculto que não se venha a saber; realmente, tudo está arquivado na natureza. Em planos superiores é a lei psicométrica que identifica as personalidades. O nosso subconsciente é a nossa história mentalmente arquivada e pronta a se nos revelar a qualquer momento e, com especialidade, depois do nosso desencarne, para que se faça o exame de consciência.
É fazendo uso da Psicometria que os espíritos perscrutam o próprio passado ou de qualquer outra individualidade. É o livro aberto eternamente, em que a natureza exibe a todo instante a história de cada coisa, de cada ser.
Assim sendo, não há dúvida nenhuma de que a Psicometria representa a espinha dorsal da Revelação e, por isso mesmo, os fenômenos espíritas sempre acompanham os fenômenos psicométricos.
No final da presente obra encontrará o leitor o relato fiel de um processo típico de investigação psicométrica. Ela se faz no sentido regressivo do tempo, porque as vibrações são estratigrafadas, isto é, se sobrepõem em estratos vibratórios correspondentes a cada ocorrência e a cada data.
Visão maravilhosa do mundo e seus sucessos, nos estará reservada para o futuro, quando a ciência, menos petulante e mais sábia e prudente que hoje, por processos mecânicos, fizer a captação ou sintonização dessas vibrações imantadas na natureza e transmiti-las em luzes e sons, como hoje faz com a televisão, restaurando fielmente, sem deturpações inquinadas de sofismas, os quadros mais importantes da vida dos povos e das coisas. Ouviremos e veremos o Mestre na imponência da sua gloriosa missão em prol da recuperação do homem.
Essas são as belezas, entre outras muitas, que aguardam o homem cristianizado do futuro, humilde, sábio e fraterno, como deverá ser.
Heráclito Carneiro
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Zainer ali estava, absorto e pálido, frente ao cadáver de Rosália, sua querida esposa. Havia dois anos que se casaram, sem que pudessem ter tido um pouco de paz e de ventura, pelo fato de Rosália ser doentia, supersticiosa e dada a certas atitudes esquisitas. Isto, pelo menos, conforme o modo de entender de Zainer, que nunca se dera ao trabalho de conhecer alguma coisa das verdades espirituais.
Naquela tarde, depois de tanto sofrer, Rosália expirara; e ao partir dissera, com voz sumida, porém cheia de certeza:
– Meu querido, eu voltarei... Ainda falarei contigo... Adeus.... Adeus, por agora...
Atordoado, sem nada compreender, Zainer saíra e fora noticiar a morte de Rosália aos parentes; moravam perto, pois eram sitiantes vizinhos, parceiros de partilha da herança deixada pelos pais de Zainer.
– Rosália faleceu!... – disse, ao entrar portas a dentro da casa de seu irmão mais velho.
O irmão envolveu-o num apertado abraço e procurou confortá-lo:
– Sê forte, meu irmão, que tudo na vida é passageiro. Somente a alma vive eternamente, porque é espírito, porque é partícula de Deus. Sê forte, que outros dias virão, diferentes, quando vocês terão as contas ajustadas e os dias felizes para serem vividos.
Zainer fitou bem o irmão, sem nada dizer, porém saturado de enigma, feito à imagem da perplexidade. E o irmão, vendo-o assim, disse-lhe:
– Fala, meu irmão, que os pensamentos devem ser expostos, sempre que se tornem veículos de motivos superiores. Nunca fizeste nada a bem de melhores conhecimentos... Nunca deste atenção aos problemas do espírito... Entretanto, as leis de Deus vigoram e se cumprem, independentemente de nossas cogitações, sejam favoráveis ou não.
Zainer fitou o semblante sereno do irmão, indagando:
– Se assim é, que elas se cumprem independentemente do nosso querer ou não, para que cogitar de tais problemas?
Félix respondeu-lhe, com bondade:
– Para sofrer menos, pelo menos por isso... Devo dizer, porém, que além disso, temos nós, os filhos de Deus, obrigação de conhecer e usar bem as leis do Senhor. Quanto sabes tu de agricultura, meu irmão?
Zainer explicou:
– Tudo quanto nossos pais nos ensinaram.
– E não achas que muito valem as lições que eles nos legaram?
– Creio que representam tudo, pois temos sabido plantar e colher, com o que estamos vivendo, aumentando a família e cooperando com a nossa parte a bem da felicidade alheia. Talvez que não saibamos reconhecer toda a importância do quanto conhecemos, de tanto usar de tudo de modo prático. Depois que o conhecimento se torna comum, se faz uso e não mais se tem exato discernimento de sua quantia e valias.
– Muito bem, irmão Zainer. O vício, bom ou ruim, tira de nós a noção de quantias e valores, porque transforma tudo em automatismo. Podemos, entretanto, reconhecer a importância dos conhecimentos, desde que lembremos das épocas de preparação da terra, do plantio, das chuvas, da capinagem, da colheita e dos trabalhos de embalagem e venda. Além do mais, entram de permeio mil e uma particularidades ou minúcias, coisinhas que nem levamos em conta, porque nem sequer delas tomamos conhecimento, visto serem por demais concernentes à vida e suas rotinas.
– E daí? – perguntou Zainer, com olhar aflito.
Félix encolheu os ombros, como quem faz sinal de conclusão, elucidando:
– Assim como devemos aprender a jogar com as leis do meio material em que vivemos, para efeito de aumentar os proventos do trabalho árduo, sob o sol, a chuva, o frio e tudo mais, assim mesmo devemos procurar conhecer as leis espirituais, a fim de extrair aquelas vantagens emancipadoras de que temos notícia. Não é por acaso que se existe, movimenta e se percebe a necessidade de luta contra o Mal e em favor do Bem. Quem não entende das verdades do espírito é como se fosse um barco sem governo, pronto a se rebentar contra as rochas, atirado pela braveza das águas encapeladas.
Aturdido, Zainer murmurou:
– Eu nada entendo... Eu nunca dei atenção a essas coisas...
O irmão falou-lhe, com ternura:
– Agora vamos tratar de enterrar tua mulher... Isto é, o corpo, já que o espírito não foi feito para ser enterrado. Logo mais, se quiseres, poderemos entrar em contato, para fins de estudo. Afinal, sempre foste convidado... Como eras do contra, nunca mais falamos contigo a tais respeitos. Em matéria de verdades espirituais, cumpre a cada um tomar medida e talho, porque a Lei ensina que a cada um será dado conforme suas realizações.
Houve silêncio, porque Zainer emudeceu e Félix entrou quarto adentro, a fim de avisar os seus, que ainda dormiam, porque era domingo. Ao voltar, veio em companhia da esposa e filha, banhadas em lágrimas.
– Vão para lá – disse Félix à mulher e à filha – que eu irei avisar os demais em companhia de meu irmão.
Quando em caminho, Zainer comentou:
– Bem, eu creio na imortalidade da alma...
Félix argumentou, convicto:
– A alma é imortal, evolutiva, responsável, comunicável, e habita os mundos, além de ser reencarnável. Aliás, Zainer, a reencarnação é a válvula redentora e evolutiva do espírito. Portanto, se você sabe apenas, ou pressente, que a alma seja imortal, está em grande porcentagem de falha. Tem um ponto a favor e cinco contra. É por isso que sempre fez objeções a tais problemas.
– Acho que ninguém é obrigado a aceitar aquilo que lhe não cabe no poder conceptivo presente. Por isso é que sempre fui do contra.
– Nós todos temos muito jeito para defender nossas próprias convicções, ou pelo menos a versão que mais nos convém. No fundo, Zainer, o que se passa é coisa muito diferente; é que julgamos ter muito mais para ensinar a Deus, do que poderá ter Deus para nos ensinar. Quanto mais se sabe, tanto mais se honra o Senhor e tanto mais se cultivam na vida as leis que nos trazem vantagens; e quanto mais se ignora, tanto mais se acredita que Deus tenha necessidade de nossos conselhos e advertências. Isso é comum, é regra geral, não se passa apenas com você. Eu tenho a minha história para contar... Também fui como você ainda o é.
– Quem te fez mudar? – perguntou-lhe Zainer.
– Você sabe – disse-lhe o irmão – que nossos pais foram imigrantes holandeses, gente de boas tradições e acostumada às melhores leituras. Nós, porém, com o tempo fomos perdendo a tradição e o gosto pelos melhores informes, dada a luta árdua com o meio rude onde viemos parar. Tudo em nós se foi brutalizando, tudo em nós se cristalizou na rudeza dos modos e do tratamento. Um dia, porém, depois de mortos nossos pais, recebi em casa a visita de velho amigo deles, homem que tornara à Holanda, sendo na volta portador de alguns livros muito interessantes. Os livros vinham de nossos bisavós e com destino a nossos pais; como estavam mortos, recebi os livros e procurei lê-los, encontrando informes vários sobre o mundo espiritual e alguns modos de tentar com ele a comunhão. Achando interessantes algumas experiências, dei-me a experimentar, até que obtive resultados. Primeiro, comecei a ouvir pancadas, depois fui observando sombras, até que um dia passei a ver distintamente alguns espíritos.
– Nossos parentes?
– Apenas nossa mãe, sendo os outros desconhecidos. Um deles fora o antigo dono da casa, quando comprei a sitiola ao lado e para lá mudamos. Com este me vi em apuros, porque ele berrava que a casa lhe pertencia, impondo que dali saíssemos. E como isto não podia ser, andou fazendo tropelias, até que nossa mãe o encaminhou, em companhia de um grupo de amigos. Para resumir, Zainer, afirmo que temos colhido grandes benefícios, não materiais e sim espirituais, com as práticas espíritas.
Por aquelas alturas da conversa, chegavam ao sítio do irmão, estacando a troca de idéias. Pouco depois, saíram todos, rumando ao domicílio de Zainer, a fim de providenciar o enterramento de Rosália. Minha função, como parente desencarnado, e designado pelos superiores para ficar junto de Zainer, era auxiliar na medida do possível, deixando correr os acontecimentos. Ali havia, entre Zainer e Rosália, fatos antigos a prendê-los, velhos assuntos a serem tratados. Ela nascera em Portugal, ele no sertão de um Estado brasileiro, ficando o destino, por eles traçado, encarregado de uni-los e fazê-los dar andamento no caso a ser solucionado.
Ensina o Evangelho que aquele que com ferro fere, com ferro será ferido; e a lei de reencarnação nada mais faz do que ofertar meios e recursos. Isto, bem sabemos, independente do modo de pensar das criaturas. Porque aquilo que é por Deus, não fica sujeito ao infeliz cogitar do homem; é e tem execução.
Zainer e Rosália foram outrora amantes muito pecaminosos, pois abandonaram seus respectivos lares, deixando filhos ao abandono e sofrimento. Deviam contas à Lei e à Justiça, mesmo depois de muitos decênios de sofrimento nas trevas. Ao se reencontrarem, desenfreada paixão os unira, ligando-os inapelavelmente. Foi assim que viveram os últimos anos, entre as torturas do mal que minara o organismo de Rosália e as esperanças de uma vida feliz, frustrada agora de todo, com a morte de Rosália, depois de tremendos sofrimentos.
E como a desencarnação viera no tempo, depois dos trâmites normais delineados no plano espiritual, antes de haverem reencarnado, nada mais restava do que providenciar os novos acontecimentos, os fatos que a seguir deviam ter andamento. Os encarnados fariam sempre bem, se jamais olvidassem os que deste lado para eles trabalham, ou deixam de trabalhar, segundo como se fazem ou não merecedores. De todo e qualquer modo, porém, deviam lembrar que nunca estão sós, que sempre estamos vigiando, prontos a entrar em cena, cumprindo ordens superiores, de acordo, é claro, com o que pensam, sentem e fazem.
Uma vez sepultado o corpo de Rosália, fomos com o espírito para o local devido, em esfera bem próxima à crosta, onde teria que enfrentar sério tratamento. É do vosso conhecimento, pelos muitos informes transmitidos daqui, sobre como funcionam os diferentes Céus da Terra, do Planeta em que todos habitamos, vocês aí e nós aqui, todos porém buscando colimar a Sagrada Finalidade, que se resume em desabrochar o máximo de Pureza e de Sabedoria.
Por falar nos Céus da Terra, sabei que são faixas concêntricas e superpostas, que se vão melhorando, glorificando, na razão direta em que se vão tornando mais distantes da crosta, de suas radiações materiais, animalizadas e grosseiras. A esfera para onde Rosália foi transladada era e é, portanto, uma cópia da crosta, com a sua natureza quase igual, tão evidentemente relativa ao meio carnal denso, que difícil se torna aos recém-desencarnados aceitarem a mudança de estado.
Ocorre, também, que não se oprime a quem quer que seja; dá-se tempo e se oferecem elementos indiretos de observação, para que os recém-vindos tenham com que desconfiar de alguma diferença operada. Todavia, falham as ofertas de oportunidade, falham as explicações, tudo falha, muito mais do que possa vos parecer, dado que a grande maioria, infelizmente, sai da carne em estado de perfeita ignorância das verdades atinentes ao mundo de aquém-túmulo.
Quanto seria bom, irmãos, que ao menos todos os encarnados procurassem saber alguma coisa destas plagas, fazendo mais ainda pela melhora íntima, a fim de virem a merecer imediato recolhimento. É mínimo o número dos que são de pronto recolhidos, sendo mesmo exuberante o número daqueles que ficam, em seguida ao desencarne, entregues à dor e à cegueira. Como as religiões dogmáticas ensinam as mais erradas lições, afirmam como sendo verdades libertadoras as piores aberrações, a quantia dos que deixam os corpos físicos e permanecem nas trevas do ignorantismo é assustadora.
Eu também deixei a carne em péssimo estado, não quanto à fé em Deus e ao conhecimento da imortalidade da alma; é que não tratara a sério dos merecimentos indispensáveis, das validades vibratórias. Nunca desconfiei sequer da existência de Deus, como jamais duvidei da imortalidade da alma; porém, isso não é tudo, de pouco ou nada vale, quando não se está equipado daqueles merecimentos que representam o Reino do Céu desenvolvido no íntimo. Aqui, irmãos, é que reside a grande, a total importância, pois quem crê e sabe muito sobre Deus e sua Criação, e não merece imediato recolhimento e bom tratamento, fica penando junto aos encarnados, podendo mesmo suceder que desça aos abismos da subcrosta, onde se passam as tremendas convulsões que deram ensejo aos conceitos infernais.
Não adianta clamar – “Senhor! Senhor!” A questão está em não contrariar a Lei, a fim de não movimentar a Justiça contra nós. Antes de inventar modos e processos de adulação a Deus, ou meios de apresentar ladainhas besuntadas de pieguismo supersticioso, convém fazer questão de executar os Mandamentos da Lei de Deus. A idéia de que gestos e rituais possam quebrantar a Lei e confundir a Justiça, não só é ridícula, como ainda gera piores reações, cria casos que deverão ser de todo ressarcidos. Onde está escrito, na Lei, que tais ou quais formalismos têm o privilégio de nulificar tais ou quais Mandamentos?
Eu também cultivei o conceito de que o sangue de Jesus pudesse ter lavado nossos pecados; também julguei que Ele tivesse vindo ao mundo, segundo as afirmativas dogmáticas, para redimir nossas culpas. E fiz como fazem todos aqueles que se entregam a tais conceitos, de corpo e alma; isto é, confiei nos ritos e vivi a vida sem pensar nos problemas do futuro espiritual.
Em que resultou isso tudo?
Resultou em me reconhecer crente em Deus e na imortalidade da alma, sem contudo estar equipado de virtudes e de bons conhecimentos. Entrei no mundo espiritual vazio, sem o menor conhecimento de causa sobre o futuro ambiente, e, pior ainda, sem os nobres atos que poderiam resultar em galardões de Luz e de Paz. Estive por muito tempo ao lado da família, sofrendo e fazendo sofrer, ignorando a situação e pensando que tudo aquilo fosse jamais ter fim. Como, entretanto, na Criação tudo é por Lei e por Ordem, chegou o meu dia de reconhecimento do estado e dos deveres.
– Renato – disse-me o servidor que me viera recolher – terminou o teu tempo de sofrimentos... Vem comigo, que desde muito não pertences ao mundo dos encarnados. Entregar-te-ei ao plano espiritual de direito, para que em breve saibas o que fazer e sejas feliz segundo os teus merecimentos.
E assim foi que obtive esclarecimentos e paz, vindo a formar, logo mais, entre aqueles que servem a Deus, ao próximo e a si mesmos, através da Lei e da Justiça. Porque nisto repiso, faço questão de reclamar atenção, uma vez que a Deus ninguém serve, nem a si beneficia, sem ser através das leis regentes. Quem ignora leis poderá ter muito boa vontade, mas fará aquilo que não é o melhor, dará guarida a conceitos e a práticas idólatras e supersticiosas.
Portanto, como a escala hierárquica é vastíssima, aqui me apresento como quem ainda pode e sabe pouco, mas tem segurança daquilo que diz e faz, porque é com o pouco e certo que conta, aquilo que conseguiu trabalhosamente. Sei que verdades infinitamente gloriosas nos aguardam, estão em nós mesmos esperando, a fim de serem expostas. É o Reino do Céu, como Jesus ensinou, que cada um traz dentro de si mesmo, ao qual deve todo o esforço manifestante. Todavia, como não há saltos na Ordem Divina, e pretender saltar poderia resultar em fracassos dolorosos, é muito mais interessante que ande com vagar e segurança.
Vamos ao que nos cumpre narrar, a simples historiação de um irmão, em cujo círculo de família e amizades, como sói acontecer com todas as pessoas, grande número de outros irmãos tomam parte. De resto, tudo é comum, a Origem, o Plano Evolutivo e a Finalidade a ser atingida. E isto basta para que se entenda, de uma vez para sempre, que na história de um indivíduo todos os indivíduos podem se reconhecer. O importante será, por isso mesmo, que se tirem os melhores proveitos da experiência alheia, das lições que passam como sendo teóricas.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Ao enterramento de Rosália seguiu-se um longo período angustioso para Zainer, o seu viúvo; e não foi menor o sofrimento de Rosália neste lado da vida, apesar do quanto sofrera durante a encarnação. É que, para todos os efeitos, prevalece a lei vibratória, a lei do peso específico. Esta lei, íntima e inalienável, cumpre em si mesma a sagrada função, pois é quem representa o filho perante o Pai e o Pai perante o filho!
Sempre disseram, os melhores conhecedores, que entre o Pai e o filho paira a Lei de Equilíbrio, aquela Força que aciona a Justiça, contra ou a favor, assim como os atos do filho sejam harmoniosos ou não. E, na palavra modelar de Jesus, vamos encontrar a total afirmativa, quando ressaltou que veio para cumprir a Lei, porque da Lei nenhum ceitil ficará sem cumprimento!
Ao cabo de três anos de sofrimento, Rosália começou a falar nos ouvidos de Zainer, porque servidores deste lado lhe prepararam as condições. Ela não tinha conhecimento algum de faculdade alguma, e menos ainda de seu estado; por isso mesmo, falando ao marido, queixava-se de dores e de abandono.
– Zainer!... Pelo amor de Deus!... Por que não me ouves?!... Por que não me fazes caso?!... Tu me querias tanto!... Onde está o teu amor?!...
Aflitíssimo, espavorido mesmo, Zainer correu para junto do irmão, fazendo-o saber do que vinha de ocorrer:
– Ou é Rosália que fala nos meus ouvidos ou é que estou ficando louco!
Sereníssimo, Félix observou-lhe:
– Já sabíamos de tudo... Assim tinha que ser...
– Mas eu enlouqueço!... – replicou Zainer, assustado e trêmulo.
– Hoje mesmo Rosália será esclarecida – respondeu-lhe o irmão.
– E ficarei livre? – perguntou Zainer.
Félix explicou-lhe:
– Continuarás ouvindo a tua Rosália e outros espíritos, a fim de que dês algo de bom a teus semelhantes.
Deves alguns trabalhos a ti mesmo, em benefício de nossos irmãos, aqueles que no mundo têm menos. Se, porém, não quiseres atender ao compromisso assumido, irás defrontar seríssimas perturbações.
– Eu não sei de haver assumido compromisso algum – replicou Zainer.
– Sabes muito menos do que isso, meu irmão; e a prova tens nisto: nunca fizeste caso das verdades espirituais, nem antes dela partir, nem depois. Cheguei a pensar, quando ela se foi, que virias em busca de melhores conhecimentos. No entanto, Zainer, de nada quiseste saber, exceto agora, porque ficaste sem sossego, porque cuidaste de ficar louco.
Acabrunhado, Zainer balbuciou:
– Sou como sou... Por que, serei assim tão bruto?...
Félix adiantou-lhe:
– Graves registrações do passado, tremendas gravações cármicas. Mesmo quando se é espiritualista, mas se chega a extremos de animalidade, tudo se brutaliza. O espírito deve sublimar-se, não brutalizar-se. Afinal de contas, Zainer, temos em nós mesmos a Lei de Equilíbrio, aquela que nos obriga a ser, tal e qual como nos fazemos.
– Não entendo dessas coisas... Nunca tive jeito para isso...
Sorrindo, Félix observou:
– Mas entende muito bem quando o sofrimento chega e é preciso recorrer a um dirimente qualquer. Até aquilo que menos poderá ser concebido por nós, quando chega em forma de sofrimento, não há quem deixe de atender. A razão pode não atinar com a coisa, mas a emoção registra e força a uma atitude atenciosa; a inteligência não percebe, não quer perceber, mas a sensibilidade nervosa obriga a que se atenda sob forma de dor. Você não teria vindo aqui, neste momento, para esse fim, caso a dor não o tivesse feito correr, não é isso?
Aturdido, Zainer assentiu:
– Tortura moral!... A tortura me fez correr aqui...
Com brandura, Félix advertiu-o:
– Meu irmão, procura eliminar a dor com os recursos do Amor e da Sabedoria; o Bom Deus quer que sejamos amorosos e sábios, e não eternos sofredores. Os castigos que nos atingem, assim como temos concebido, são os resultados de nossas próprias ações. Quando soubermos nos valer das nossas faculdades latentes, das nossas virtudes psíquicas, iremos eliminando as dificuldades e as dores. Ninguém foi feito para ser eterno sofredor, mas sim para se tornar livre e luminoso. A dor é filha da desarmonia, é resultado da falta de equilíbrio íntimo.
Perplexo, Zainer comentou:
– Tudo isso é muito complexo... Por isso é que nunca tive jeito para aprender semelhantes coisas. Não basta a vida de cada dia ser tão trabalhosa?
O irmão abanou a cabeça, em tom de lástima, aduzindo:
– Tudo quanto é fundamental deriva de Deus; ninguém precisa criar coisa alguma que seja necessária, senão que deve saber, ou procurar conhecer, para manipular e usar do melhor modo. Lembre-se, pois, que a Criação é completa, embora nós sejamos ignorantes de muitas realidades, aqui da Terra e dos outros mundos. O que nos importa, por isso mesmo, é fazer bom uso de nós mesmos e de tudo quanto venhamos a conhecer e a ter.
– Aí começa a complicação! – exclamou Zainer.
– Não vejo complicação alguma – replicou Félix – desde que se tenha conhecimento da Lei de Deus e se faça questão de pô-la em execução. Os Dez Mandamentos é que devem ser totalmente observados, para que se atinja o supremo grau de felicidade individual. Porque, escuta bem, ninguém virá a ser individualmente feliz, a menos que seja socialmente correto.
Zainer explodiu:
– Na Terra?!... Neste mundo?!...
– Na Terra, como não? – revidou Félix.
– Cristo não foi crucificado?!... – bramiu Zainer, alterado.
Sorrindo, Félix respondeu-lhe:
– Zainer, o mundo não é que deve prevalecer... Perante Deus, lembre-se, crucificados foram aqueles que crucificaram o Cristo. A vitória deve ser do espírito e não do mundo. E para você saber como se vence o mundo, deve aprender com Jesus como se executa a Lei de Deus, o Código Inderrogável.
Zainer encolheu os ombros, murmurando:
– Andei lendo o Evangelho, mas por alto...
Explicou-lhe o irmão, estreme de bondade:
– Zainer, fora da Lei tudo seria falho. Jesus veio para ser Modelo perante a Humanidade. Observa bem, Modelo na conduta perante Deus, Modelo na conduta perante Seus irmãos e Modelo em face de Si mesmo. Lei, Amor e Revelação, as bases da Excelsa Doutrina, n’Ele tiveram perfeita execução. E se quiseres bem compreender o que importa realizar, nunca te esqueças da Lei, do Amor e da Revelação. Porque é impossível estar com o Cristo, com o Divino Modelo, estando contra os fundamentos da Doutrina trazida por Ele.
Enigmático, Zainer balbuciou:
– A Lei assusta... A Lei é curta e difícil...
– Bem dizes, irmão, pois a Lei contém tudo em essência; ela ordena que se não cometam idolatrias; ela concita à mais perfeita conduta social; ela afirma a Revelação como sendo o instrumento de advertência, ilustração e consolo. Onde estiver a criatura inteligente, ali estará alguém que sabe ver na Lei a importância e a grandeza de se amar a Deus em Espírito e Verdade; ali estará quem sabe o que é ser decente na conduta social, para merecer de Deus as melhores graças; e ali estará quem sabe para o que serve a Revelação. Tens muita razão ao dizer que a Lei é curta e difícil; realmente, Zainer, a Lei contém o germe de todos os chamados Livros Sagrados, porque encerra as três máximas lições – como Deus deve ser amado, qual a conduta social entre irmãos e, por fim, como devemos encarar a graça que é a Revelação.
– Por ter sido veiculada pela Revelação?
– Justamente, Zainer, se não fosse a comunicabilidade dos espíritos, quantas verdades a menos conheceríamos?
– Eu sou pobre nessas coisas, bem sabes...
– Observa, em síntese, o que a Revelação ensina sobre Deus, a Criação, as leis regentes e as finalidades de tudo quanto faz parte da Criação, seja espírito ou matéria. Acima de tudo, lembremos o que tem ensinado sobre a necessidade de Moral, a importância total que tem na edificação do espírito, em sua obrigação de cristificação íntima. Não esqueçamos, também, que lembra ao espírito a sua condição de imortal, evolutível, responsável, reencarnável, comunicável e passível de habitar os mundos. Enfim, Zainer, a Revelação é quem é, porque sempre foi, o instrumento de advertência, ilustração e consolo. Desde priscas eras que vem ela esclarecendo as criaturas, do melhor modo, enquanto os religiosismos, os cleros, as oligarquias idólatras, ditas religiões, tudo fazem para desviar a Humanidade do rumo certo, dos verdadeiros ensinos.
– Então – inquiriu Zainer – você não acha que todas as religiões são boas?
Félix abanou a cabeça e sentenciou:
– Eu acho que todos devem procurar ser criteriosos, corretos discernidores, a fim de se fazerem dignos conhecedores da Verdade que livra. Em nome de Deus, meu irmão, todos os crimes já foram praticados. Basta que se aplique uma idolatria, ou se faça um tribofe, ou se arme uma arapuca, contanto que seja em nome de Deus, do Cristo e do Bem, chega para ser religião, basta para atrair gente crédula. Ora, a Verdade que livra jamais estará com tudo isso, porque ela não é amolgável ao chicanismo humano. Cumpre, portanto, a cada filho de Deus, procurar conhecer as melhores verdades, dentre todas aquelas que se fazem evidentes, a fim de poder ir atingindo o máximo em demanda à Verdade Total, à consciência da Unidade. Este é o estado de união, de sintonia com o Pai Divino, a que todos os filhos devem chegar por desenvolvimento íntimo, por iluminação interna.
Até certo ponto concorde, Zainer comentou:
– Quero entender, Félix, que haja diferença entre a Verdade e as religiões; é impossível que a Verdade, ou Deus, ande em harmonia com as religiões ou seus senhores. Nunca pude estar de acordo com as concepções humanas, com os ritos, com os sistemas inventados pelos cleros, como sendo aquilo que possa valer ao espírito, na hora em que tenha de se apresentar e responder pelos seus atos. Devo dizer, também, que tenho lido o último capítulo do Apocalipse, por instância de um espírita, encontrando ali afirmativa severa sobre o comportamento de cada um, para efeito de responsabilidade.
– Neste caso – argumentou Félix – não te é fácil reconhecer que a responsabilidade é individual, segundo as obras de cada um e não segundo os conceitos errados que venha a endossar? Isto é, que cada qual terá que responder por si, pelos seus atos, sem pretender que rituais possam livrá-lo de faltas cometidas?
Zainer silenciou, meditou e terminou dizendo:
– Bem, meu irmão, eu creio que haja uma Lei, uma vontade de Deus, Suprema e acima de cogitações, que não se envolva nas bagunças que os cleros inventam, bagunças que pretendem eles, possam valer como meios de libertação espiritual. Andei lendo, como disse, o Evangelho, tendo chegado a compreender que Jesus definiu perfeitamente a responsabilidade de cada um, segundo suas obras.
Félix exultou, exclamando:
– Bravos! Em Jesus você encontrará sempre as três verdades básicas – a Lei que dignifica, o Amor que diviniza e a Revelação que adverte, ilustra e consola; se, portanto, quiseres conhecer a Verdade que livra, anda sempre por esse caminho, nunca te esqueças de prestar atenção aos deveres que te cumprem. E terás, conseqüentemente, elementos de sobra com que contar, para não cair em confusões. Porque, Zainer, toda a obra de Jesus foi apenas um simples testemunho das três virtudes fundamentais que a Lei de Deus contém. Pelo menos para mim, confesso, nada vejo no Cristianismo, na Excelsa Doutrina, mais do que Lei, Amor e Revelação. Jesus, que foi apresentado como Divino Modelo, nada mais fez do que exemplificar o respeito que todos os filhos devem às leis regentes que o Pai estabeleceu. Podes observar, portanto, que importa conhecer as leis, para aplicá-las, sem se importar com os religiosismos humanos, sempre inventados para encher a pança, o bolso e fartar as vaidades daqueles que se dizem ministros de Deus, que são apenas ministros de si mesmos, pois aqueles que transformam a fé em meio de vida jamais serão fiéis servos da Verdade.
– Então – concluiu Zainer – temos por obrigação afirmar que as religiões e a Verdade não andam de mãos dadas?
Ponderoso, Félix acrescentou:
– Todos os movimentos humanos tiveram seus demagogos; e a Religião, o verdadeiro culto da Verdade, não poderia ficar imune. Os religiosismos, os cleros, as traficâncias formalistas, tudo isso é demagogia. Deus, a Verdade, o Cristo e tudo quanto tenha acento merecedor de respeito, têm servido para garantir a função dos chicanismos humanos. Eu sou contra, eu fico à margem de tudo aquilo que não constitua respeito prático em favor da Lei, do Amor e da Revelação. E, para isso, como poderás analisar, não há necessidade de mercantilismos, porque essas virtudes ou leis, são de ordem íntima, nada devem aos sindicatos da mentira que se dizem religiões.
Zainer entusiasmou-se, proclamando:
– Agora começo a entender a coisa! Para ficar bem com a Verdade é preciso que se rompa com a mentira. E para fazer isso, ou conseguir isso, faz-se mister muito esforço, muita análise e devotamento à Verdade, porque as criaturas estão por demais viciadas no culto da idolatria e dos erros que passam por religião.
Félix assentiu:
– Eis aí, meu irmão, a razão por que não fico de acordo com aqueles que endossam o conceito de que todas as religiões são boas. A Verdade é boa e devem ser bons aqueles que procuram conhecê-la e vivê-la nas obras de cada dia. Quanto às religiões, não passam de acomodações convenientes a certos agrupamentos; no fundo, Zainer, existem outras coisas, pairam conchavos humanos, interesses de grupos, de políticas imperialistas. Minha opinião é, conseqüentemente, em favor da Verdade; e para ser da Verdade, nada como ser livre de maquinações de homens, nada como viver à margem de estatutos feitos por mercadores da fé alheia.
– Estou contigo, agora que te entendo, meu irmão – pronunciou-se Zainer.
Enquanto sentavam-se em torno à mesa, Félix comentou:
– Jesus quer elementos de fato, gente que se defina em favor da Verdade, que dê a vida, se preciso for, pela Causa Justa. Quem na Terra quer ficar com tudo, quem acha que tudo é religião, ou é ignorante ou é hipócrita. Ele, o Divino Modelo, não deu exemplo de comodismos mentirosos, de farsas e de acomodações hipócritas. Todos sabem que, a bem da Verdade, rompeu com os chicanismos clericais e se prontificou à crucificação! É preciso mais algum exemplo, para se saber como devemos proceder?
– Também sou de opinião – aventou Zainer – que os homens de bem devem definir-se. A Terra é por demais cheia de erros e de absurdos, para que em nome da Verdade fique alguém com tudo e se acredite digno discípulo de Jesus. Ignorância não é programa libertador e hipocrisia não é virtude, não é medida que se apresente como expressão de boa vontade para com Deus e para com o próximo.
Félix estava meditativo, razão por que, a seguir, murmurou:
– Se Jesus quisesse ficar com todos, inclusive com o Sinédrio, não teria ido direto do berço ao Calvário... O mundo precisa de homens que se definam em favor da Verdade que livra. E para isso, Zainer, faz-se mister o rompimento com os ramerrões que passam por religiões, que pretendem estar com a Vontade de Deus, quando realmente estão apenas com as traficâncias humanas, com os engodos que foram inventados no curso dos milênios, em torno dos quais parasitam milhares de homens e de mulheres, verdadeiro exército de viciados em várias idolatrias. É o mundo materialista, animalizado e analfabeto que deve acabar, para que surja o mundo melhor, aquele mundo constituído de criaturas decentes, de filhos de Deus que se tenham feito mais puros e mais sábios, capazes de melhor conduta social, porque capazes de amar a Deus em Espírito e Verdade, sem se fazerem escravos de simulações e comercialismos degradantes.
Foi posta a mesa e todos fizeram a refeição. Muitas idéias foram trocadas, como não podia ser de menos, em torno do que vinha ocorrendo com Zainer; isto é, sobre as falas de Rosália, que cada vez mais se queixava.
– Tenho penado!... Tenho penado!... – lastimou Zainer, aflito.
– Dentro em pouco – aparteou a cunhada – faremos uma sessão; e se ela puder falar, teremos oportunidade para fazê-la consciente do estado e dos deveres que cumprem a um filho de Deus. Afinal, Zainer, lá vão três anos desde que desencarnou!... Como deve ter sofrido a pobrezinha!...
Zainer encolheu os ombros e balbuciou:
– Desde que nos conhecemos, nada mais fizemos do que sofrer... E não foi por falta de amor, pois a nossa união jamais poderia ser mais ideal e intensa. Nunca pensara em casar, até o momento em que a vira, por mero acidente. Foi como se tivesse encontrado a minha própria vida, o único e real objetivo da vida! E tudo acabou em dor!... E tudo foram desgraças e mais desgraças!... Ainda por cima, nem a morte acomodou as coisas... Nem a morte...
Convicto, Félix interveio:
– Os fatos relacionam e ligam os indivíduos, mesmo que os indivíduos nada entendam das leis de Deus. Portanto, Zainer, a morte, que é mero acidente transitivo, não pode fazer santos nem devassos. A morte e o nascimento fazem com que os indivíduos troquem de estado e posição, de modo exterior e passageiro, mas não fazem por si mesmos coisa alguma; é necessário que os indivíduos conheçam as leis, saibam como usá-las, para extraírem os benefícios possíveis. Caso contrário, sucedem-se as idas e as vindas, repetem-se os acidentes comuns a ambos os estados, sem que os espíritos colham vantagens.
Com ar de aceitação, Zainer monologou:
– Concordo... Concordo... Deve haver motivo...
A cunhada acrescentou:
– Nós conhecemos um pouco da sua história... Devem-se trabalhos de recuperação, porque em face da Lei andaram cometendo gravíssimas faltas...
Zainer ouviu aquelas palavras e tomou-se de grande interesse:
– Como é isso?... Por que não me dizem o que é?...
Félix aconselhou-o:
– Não tenhas tanta pressa, meu irmão; faz centenas de anos que vocês vivem a bordejar a recuperação, sem acertar com o melhor modo de realizá-la. Por que, então, toda essa pressa, agora que ouviste Sara dizer do pouco que sabemos? Afinal de contas, lembra-te, o bom senso não te trouxe aqui... Se não fosse o sofrimento, se não fosse o medo, onde estarias tu? Estarias aqui, tratando das coisas do espírito, através das leis de Deus?
Amuado, Zainer queixou-se:
– Reconheço tudo isso... Todavia, serei o primeiro a buscar a Verdade pelas opressões da vida, por suas imposições?
A cunhada falou, comovida:
– Não... Não és tu exceção alguma. A Terra é uma mundo inferior, bem o sabemos, cujas criaturas se lembram da Verdade e do Bem, somente quando a dor exige e força no sentido da necessária solução. A conduta certa seria procurar os caminhos do Amor e da Ciência, a fim de marchar para a suprema finalidade, que é a edificação íntima em base de Pureza e de Sabedoria; todavia, como os espíritos terrícolas ainda são brutos, muito dados a cultivar os mais baixos instintos, somente a dor consegue abalar as mentes e os corações, fazendo com que se lembrem dos deveres evolutivos, da finalidade a que cumpre atingir. E tu, Zainer, não és diferente dos demais filhos de Deus lotados neste Planeta, neste pobre mundinho... Por isso mesmo, não tenhas pressa, agora que vens de te chegar um pouco na direção da Verdade que livra; queira, de qualquer modo, andar pouco e com segurança.
Zainer ouviu, moveu os lábios mas nada pronunciou; estava defrontando, naturalmente, problemas íntimos dignos de melhores atenções. Foi seu irmão quem falou, propondo:
– Queres, de fato, conhecer a Verdade que livra? Isto é, aquela porção que por ora e aqui na Terra é possível conhecer?
Frente a tal pergunta, feita com toda a convicção, Zainer respondeu:
– Se não estiver muito longe e não for muito difícil, quero.
Sara riu-se do modo dele falar, aduzindo a seguir:
– A Verdade que livra está dentro de cada um dos filhos de Deus! Quem se encontra, como espírito que é, encontra em si mesmo as leis regentes e pode começar com segurança e afinco o trabalho de edificação. Cada um de nós é um Cristo em processo de fazimento, em desabrochamento. O que importa, entretanto, é conhecer ao máximo as três realidades máximas, que são: ORIGEM, PROCESSO EVOLUTIVO e FINALIDADE. Quem conhece o programa de maneira teórica, nada mais deve fazer do que empregar-se de modo prático a bem de sua execução.
Zainer fez um gesto de cansaço, exclamando:
– Pelo amor de Deus! Já se escreveram milhões de livros, em torno de não sei quantas centenas de milhares de filosofias, sem que a Humanidade se tenha encontrado e realizado celestialmente!
Félix aparteou-o, dizendo:
– Procura conhecer bastante sobre a Lei, o Amor e a Revelação. Porque daí é que derivam todos os conhecimentos fundamentais e necessários. Sem Deus não poderia haver a Lei de Deus. E a Lei contém, como já te disse, os três sentidos de que carecemos, para trilhar o caminho libertador. Jesus, que veio para servir de Modelo Divino, afirmou sobre a Lei tudo quanto tinha que afirmar. E nós temos sabido, pela Revelação, que ela concita à verdadeira conduta, quer para com Deus, quer para com o próximo. E aquele que sabe se conduzir para com Deus e para com o próximo, por certo está na trilha libertadora. Quanto à Humanidade, convém saber que pouco tem se importado com os seus reais interesses... Ou nada faz pelo melhor conhecimento, ou se entrega a idolatrias e comercialismos pagãos, acreditando que nisso estejam os melhores conhecimentos. Tu, por exemplo, és a prova do que dizemos... És ou não? Que tens feito para saber de tua ORIGEM, do PROCESSO EVOLUTIVO a que te achas obrigado e da FINALIDADE que deves atingir?
Zainer estacou, tendo feito apenas um gesto negativo de cabeça. Era apenas um, dentre os milhões de filhos de Deus que nada fazem para se reconhecerem tal e se entregarem, daí por diante, ao trabalho de crescimento íntimo.
* * *
Hora e meia após a refeição, em ambiente psíquico deveras favorável, pelas orações feitas e nobres sentimentos esposados por todos os presentes, procuraram eles entrar em comunhão com o mundo espiritual. Depois de breve leitura e alguns comentários do Evangelho Segundo o Espiritismo, Félix pronunciou palavras de fé e recomendou o máximo de concentração mental, para facilitar aos bons espíritos o contato ideal.
– Bem sabemos – disse ele – que os melhores espíritos sofrem restrições ao penetrarem a nossa atmosfera; mais ainda sofrem, porém, ao terem contato com o nosso ambiente áurico, por culpa de nossas condições mentais, quase sempre voltadas para as coisas mundanas, para os animalismos prejudiciais. Vamos, pois, fazer o melhor dos esforços, a fim de nos tornarmos acessíveis, fáceis de contato, para obtermos a Graça da Revelação, isto é, suas lições de advertência, de ilustração e de consolo.
Entrados à concentração, falei por intermédio de Sara, minha sobrinha, afirmando que Rosália ali estava, devendo sair dali consciente do estado e dos deveres, por ordem de mais Alto; e tendo eu feito a minha retirada, pusemos Rosália ao lado de Sara, auxiliando da melhor forma, para que ela pudesse falar do melhor modo. Saliento que, por várias razões, inclusive aquela que deriva de certas condições mediúnicas, e do estado emocional do médium na hora do trabalho profético, é com grande esforço que conseguem os desencarnados transmitir corretamente o seu pensamento. As questões mediúnicas trazem consigo suas dificuldades; as condições mentais e morais do médium fazem variar de muito o trabalho do momento; as tristes condições em que esteja o espírito comunicante valem por outras tantas dificuldades; e quando haja muitas pessoas no ambiente, e que não sejam todas conscientes e de boa vontade, também é fenômeno que colabora para dificultar a melhor comunicação de um espírito.
Ali havia, entretanto, apenas o nervosismo de Zainer e o sofrimento de Rosália, a dificultar a melhor ou mais perfeita comunicação dela mesma. Isto, porém, de início, posto que logo mais tudo eram facilidades para todos. Apesar de ter estado a sofrer todo aquele tempo, Rosália não ficou satisfeita em saber que desencarnara. E foi necessário fazê-la voltar ao estado de sofrimento, para que ela afinal reconhecesse as grandes vantagens obtidas.
É que, infelizmente, poucos são os que saem do mundo com os melhores preparativos espirituais; a maioria sai embrutecida, filtrando animalidade por todos os lados, havendo aqueles que saem de todo agrilhoados ao mundo. Como ninguém virá a ter aquilo que não fez para ter, porque o Reino do Céu de modo algum virá com mostras exteriores, eis que é enorme a caravana dos que se chocam de encontro ao próprio estado. Encontram-se a si mesmos, como não poderia ser de menos, e se encontram materializados e embrutecidos, merecedores apenas de trevas e de dores.
É bom, também, não confundir espiritualismo com espiritualidade. Muitos julgam que ser espiritualista é o quanto basta para virem a obter vantagens no mundo espiritual, ao desencarnarem; podemos afirmar que há muito engano em tudo isso, pois a Lei de Deus não se ilude com aparências, com atos ditos e tidos como sendo religiosos. A Verdade, vamos assinalar bem, não é religiosa, é apenas Verdade; e se ela quer das criaturas Amor e Sabedoria, importa que as criaturas queiram ir a ela, que se encontra em seus próprios fundamentos, através do Amor e do Conhecimento.
Para aqueles, portanto, que vivem pensando em seus rituais e aparatos ditos e tidos como religiosos, deixamos o nosso aviso irmão, bem irmão, aviso que consiste em lembrar a necessidade de mais realizações nos domínios do Amor e da Sabedoria. Quem mais conhecer em matéria de leis fundamentais do Cosmo, e quem mais puder viver em harmonia com as mesmas leis fundamentais do Cosmo, esse é que virá a estar melhor. Porque Deus quer filhos conscientes e amorosos uns para com os outros, em nada tendo interesse nas maquinações inventadas por homens, maquinações que visam defender interesses apenas temporais de certos agrupamentos.
Na Lei de Deus, para quem quiser observar, não se encontram ordenanças de caráter exterior, formais ou rituais; tudo ali é de ordem íntima, tudo parte do coração e da mente, quer seja para adorar a Deus em Espírito e Verdade, quer seja para amar ao próximo como a si mesmo, quer seja para respeitar a Revelação, uma vez que por ela foi a mesma Lei transmitida.
Erram, portanto, fazendo das idolatrias atos de fé, aqueles que procuram ignorar os Mandamentos da Lei de Deus, de quem Jesus, o Divino Modelo, afirmou que nenhum ceitil passará, sem que tudo se cumpra. Em verdade, se alguém quiser ter a melhor das provas de ser a Lei inderrogável, faça a experiência seguinte: – cometa os erros que ela manda não cometer e espere pelos resultados. No devido tempo, há de ter pela frente os mesmos erros, para ressarci-los. Observará que em si registrou as faltas, ficando obrigado a pagar até o último ceitil!
Tudo foi explicado aos dois, a Rosália e a Zainer, sendo que a Rosália foram mostrados alguns quadros do passado, no tempo em que cometeram juntos grandes desatinos, por causa de um amor errado em que se meteram, desatinos que os forçaram a outros tantos erros, motivo por que acumularam terríveis faltas. Ao cabo da sessão, ambos estavam de acordo, para os trabalhos que deviam levar avante, ao se tornar patente a faculdade que se devia manifestar em Zainer, dentro em breve, e com o que teriam ambos grandes oportunidades de trabalho redentor e progressivo.
Ao ir para casa, foi com alegria que vimos Félix ofertar ao irmão alguns dez livros, para que se fosse preparando.
E assim foi que Zainer começou a sentir Rosália a seu lado, cada vez melhor, até chegar a hora em que sentiu-a tomar-lhe todo e falar por seu intermédio. Por esse tempo já havia lido muito, tendo feito esforços íntimos a bem de si mesmo, a fim de ser bom médium, melhor servidor da Vontade de Deus. Como foram aumentando os irmãos que vinham assistir aos trabalhos mediúnicos, porque também fora a cidadezinha se transformando em grande cidade, cuidaram alguns irmãos em montar um grande Centro Espírita.
Consultado para isso, recebi ordens superiores e falei:
– Se tendes realmente consciência do dever espiritual que vos cumpre levar adiante, não tenhais dúvidas sobre o auxílio de Deus, que virá por intermédio dos espíritos mensageiros. Quanto ao mais, cremos que a História das Revelações está ao vosso dispor, ensinando tudo a respeito daqueles que em todos os tempos se dedicaram ao trabalho de iluminação das almas. Que sabeis dos Budas, dos Vedas, de Rama, de Crisna, de Hermes, de Zoroastro, de Orfeu, dos Patriarcas hebreus, dos Profetas, do Cristo inconfundível? Que sabeis dos grandes vultos restauradores, como Wicliff, Huss, Lutero, Giordano Bruno, Kardec e seus seguidores? Por acaso contaram com mistérios e milagres que os isentaram de árduos trabalhos, de trabalhos que os conduziram, em alguns casos, ao martírio? Fazei-vos, pois, dignos discípulos de vossos maiores. Porém, fazei-vos em trabalhos de fato, não em presunção apenas, pois o mundo carece de verdadeiros servidores do Cristo Planetário. Construí o vosso reduto material, e dedicai-vos ao afã de cultivar a Excelsa Doutrina. Assim como fordes para com a Lei, para com o Amor e para com a Revelação, assim o Bom Deus será para convosco. Eis o que mandaram dizer, aqueles que de mais Alto a todos nos administram, sob a égide do Cristo Planetário. De minha parte vos digo, que se fizerdes como vos ensinamos, terminareis vossos dias em grande alegria de espírito, formando deste lado multidões de amigos, de amigos verdadeiros e fiéis, que vos virão acolher nos portais do mundo espiritual, quando chegar a hora de abandonar os corpos materiais.
Fundaram o Centro, que se fez verdadeira sucursal do mundo espiritual, espalhando luzes e consolos, assim como Deus permitia. O mecanismo da Revelação funcionava em ordem; subiam e desciam pedidos, ordens, mensagens e ofertas de variada espécie. Embora sem o melhor conhecimento do vosso lado, este lado cumpria o seu programa, para mais e não para menos. E não será fácil, em verdade, a um encarnado precisar com nossos planos e programas de trabalho; tudo se desdobra através de esferas, regiões, cidades e múltiplos departamentos; tudo é pesado e medido, contado e disposto, segundo a Lei de Harmonia, segundo os merecimentos de cada um.
E é daqui que partiremos, de ora em diante, para relatar alguns acontecimentos, para focalizar alguns feitos, através de algumas canaletas mediúnicas. Porque o mecanismo da Revelação, como sabeis, funciona no âmbito de imensa complexidade, onde porém reina a Lei de Harmonia, o crivo da Justiça infalível.
Tenho por certo que, de todos os modos, para quem se diz contra ou para quem lhe é favorável, todos procurariam ser-lhe grandemente fiéis, se chegassem a saber o quanto é ela respeitável, o quanto é ela reverenciada pelos melhores filhos do Pai Divino. Tanto quanto um filho se eleva em hierarquia, em valores de fato, tanto mais a considera, por sabê-la o instrumento informativo por excelência, o veículo dos informes celestiais. Falar contra Jesus, até mesmo contra Ele, isso é perdoável; mas aquele que blasfemar contra a Revelação, contra o instrumento informativo estabelecido pelo Pai, isso terá que ser pago integralmente!
E quem diz que a Terra não está cheia de múltiplas formas de blasfêmia? Quem poderá negar que, dois mil anos quase, depois do batismo de espírito, a grande maioria dos que se dizem cristãos, nada mais sabe fazer do que blasfemar contra a Revelação, chamando-a ainda coisa de Belzebu? Quem negará que, depois de tantas fanfarronadas idólatras, depois de tantas aparências de culto verdadeiro, depois de tanto sangue derramado por causas ditas religiosas, não esteja a imensa maioria dos cristãos apenas entregue ao tremendo crime de blasfemar contra a Revelação, tachando-a de coisa diabólica?
Triste mundo é aquele, meus irmãos, onde é mais fácil acreditar e confiar na existência do diabo, como ser criado por Deus, para fazer mal aos outros filhos de Deus, do que crer e confiar em Deus, pelo menos a ponto de respeitar a Revelação como Graça e Verdade trazidas por Jesus, o Cristo Planetário, para toda a Humanidade! Triste mundo a Terra, meus irmãos, onde o instrumento de advertência, ilustração e consolo, passa por coisa imunda, para que os mais negros atos de idolatria e blasfêmia passem por atos de fé e de libertação espiritual!
De qualquer modo, infeliz é a Humanidade que não sabe compreender e executar a Lei de Deus, em seus três sentidos fundamentais, sentidos que perfazem a Doutrina Total, porque contendo a Moral que harmoniza, o Amor que diviniza e a Revelação que adverte, ilustra e consola.
Por isso mesmo, quando alguém toma por religião tudo isso que se intitula religião, ficamos a perguntar onde está a necessária dosagem de Amor e de Conhecimento, para efeito de senso seletivo, de análise comparativa, a fim de que haja a definição correta daquilo que dizem ser religião, com o fito de fazer prevalecer a Verdade que livra e não os manobrismos idólatras que constituem o meio de vida de algumas legiões de espertalhões.
Para aqueles que se dizem cristãos, que vivem a se proclamar fiéis aos ensinos do Cristo, de grande importância é que se despertem para a Verdade que livra, observando que o Cristo foi parar num lenho, foi ensangüentar um madeiro infamante, pelo fato de saber discernir entre o joio e o trigo, pela simples razão de não ficar com tudo aquilo que o mundo pretende que seja religião.
Basta lembrar que do templo de Salomão saíram os crucificadores do Cristo!
E se quiserem saber do motivo máximo por que o Cristo, como Divino Modelo que é, foi em linha reta da Manjedoura ao Gólgota, torna-se fácil reconhecer que na Terra, nesse mundinho materialista e animalizado, egoísta e saturado de perversidades, a Verdade que livra tem necessidade de alguns verdadeiros discípulos. Na razão inversa do tremendo montante de elementos descalavrados, que se intitulam ministros de Deus e coisas parecidas, importa que surjam pelo menos alguns poucos elementos de fato superiores, realmente íntegros, capazes de ficarem acima de pusilanimidades, muito acima do ramerrão ronceiro que fica com as porcarias alheias, para que as porcarias alheias fiquem com as suas prevaricações de variada ordem.
Quando alguém pensar na Doutrina Excelsa, pense nos três sentidos da Lei de Deus: – amar a Deus em Espírito e Verdade ou acima de formalismos e superstições; ser decente na conduta social ou amar ao próximo como a si mesmo; e saber cultivar a Revelação, por saber que a mesma Lei de Deus, o maior documento existente, e por isso irrevogável, veio por intermédio da Revelação, da comunicabilidade dos espíritos.
Fora dessa chave, irmãos, ninguém irá ter aos portais da cristificação, aos páramos da Pureza e do Conhecimento! Isso é Cristianismo, isso é libertação!
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Zainer desenvolveu, a par de outras faculdades, a vidência psicométrica. Sem o menor aviso, porém com o nosso conhecimento, começou a receber as vibrações e as imagens que as pessoas e os objetos irradiam. Sem querer mesmo, ao se aproximar de alguém, de algum objeto imantado pelo magnetismo de alguma pessoa, começava a divisar quadros, a distinguir acontecimentos pretéritos e futuros.
Foi então que recebemos ordem e lhe dissemos:
– Zainer, o psicômetra é um vidente ultra-sensível, capaz de se chocar e perturbar com o contato de pessoas ou coisas imantadas; tenha cuidado, portanto, e nunca descuide do nosso amparo. Viva sempre em harmonia com a Moral, jamais perca contato conosco e faça o que puder pelos semelhantes. Muito cuidado com o que vir, pois a psicometria facilita devassar leis e fatos, a ponto de nada lhe ser oculto, de nada lhe ser vedado. Saiba ver bem e falar com reserva, para advertir com precisão e estimular com acerto. Enquanto não estiver melhormente a par dos fenômenos, apele para nós, que lhe diremos o que dizer e como. E vá fazendo suas experiências com objetos e pessoas, porém com o máximo respeito. Lembre-se de que tudo acontece por lei, de que há muita responsabilidade no uso que se faz de toda e qualquer lei. Deus oferece recursos e pede contas com Justiça, tal é a lei.
Zainer começou a fazer experiências com objetos e pessoas; passou a ver imagens, quadros, gravações, extras e intras registrações. Objetos e pessoas eram verdadeiros livros abertos diante dele.
Dois anos depois, veio a ordem para dizer-lhe:
– Zainer, você está bem equipado de faculdades e de conhecimento de causa; a sua função é servir, é resgatar faltas pelo bem que pode e deve fazer. O que lhe foi dado é ferramenta, é instrumento para trabalho redentor. Saiba ver tudo e não se esqueça de que nem tudo se diz. Não lhe passe despercebido que no fundo de todas as pessoas, que atrás de todos os atos menos bonitos, estão sempre os filhos de Deus, as criaturas evolutíveis e perfectíveis. Cristianismo é Amor e Conhecimento, é Verdade e é Bem. Portanto, use de suas faculdades para fazer todo o Bem possível; lembre-se de que a Terra é um mundo cheio de analfabetismos, de lágrimas, de feridas, de misérias múltiplas... Antes de acusar a mácula frontalmente, procure exaltar os poderes divinos que jazem em latência nos fundamentos de cada filho de Deus. Diga a cada irmão, no mundo, que o Cristo interno deve ser amolgado pela exemplificação do Cristo externo; faça saber, a quantos possa, que cada um de nós é um Cristo em preparo, alguém que tem em Jesus, o Cristo Planetário, o Divino Modelo, o Ponto de Referência a ser atingido, a Sagrada Finalidade a ser realizada através do processo evolutivo normal.
Deram-se início, no Espaço, a trabalhos de vasculha, a fim de encaminhar ao psicômetra alguns irmãos, aqueles que mais careciam de advertência, por causa da má conduta posta em exercício. O mundo espiritual, agindo ocultamente, preparava elementos de orientação a muitos irmãos; e Zainer, que nos ouvia, assinalava os pontos máximos de observação, advertia e estimulava.
E como poderá ser facilmente observado, nada fora da Lei, nada marginal aos problemas cármicos, porque, para todos os efeitos, na Terra ou onde quer que seja, sempre será dado a cada um segundo as suas obras. Um espírito em face da Lei de Causa e Efeito é como todos os espíritos, porque em Deus a Unidade se impõe, seja do ponto de vista da Origem, seja do ponto de vista do Processo Evolutivo, seja do ponto de vista da Finalidade a ser atingida. Ainda que não desejando observar, ainda que fazendo questão de não entender, sempre teremos pela frente a Grande Lei a reger tudo e todos.
E sendo assim, teremos o espírito, a centelha divina, em marcha progressiva e defrontando a si mesma, em seus altos e baixos, arrastando consigo seus méritos e seus deméritos, suas luzes e suas trevas, porém sempre enquadrada no direito de luta, no afã de renovações, de acúmulos vantajosos, até superar o ciclo das reencarnações, até colimar o grau crístico, o estado de união vibratório com o Pai Divino.
Que é a existência? É movimento que tem por objetivo atingir a plenitude psíquica, a união vibratória com a Origem Divina.
Que significa a responsabilidade? A responsabilidade é a lei que torna o espírito merecedor de suas conquistas; ela faz com que ele plante e colha na razão direta, para aprender a discernir entre o Bem e o Mal, vindo assim a conceber em quanto importa ser harmônico em face da Lei. Existir e movimentar são fenômenos paralelos, enquanto que ser responsável é fenômeno que define tudo, é o condão que facilita conhecer a Verdade e a ela dedicar todos os respeitos, todos os esforços harmônicos, cujas resultantes são a Luz, a Glória e o Poder.
Bem se houve o Cristo, apresentado pelo Pai como Divino Modelo, ao afirmar que a libertação só poderá surtir do conhecimento da Verdade e da sua execução. O afã de procurar a Verdade é que devia ser a religião, o movimento todo de vasculha, com o fito de encontrar tudo em matéria de Origem, Evolução e Finalidade.
Podemos afirmar, entretanto, que se os movimentos ditos e tidos como religiosos perderam essa característica, a de vasculha livre e honesta das leis de Origem, Evolução e Finalidade, e enveredaram para os campos da exploração clerical, sustentando exércitos de parasitas, de idólatras e mercenários da fé, que isso não ocorreu pela Vontade de Deus. Isso aconteceu pelo mau uso que o homem fez do relativo direito de livre arbítrio, foi mera questão de arbitrariedade, fato que teve por conseqüência, no curso dos milênios, causar o martírio dos Emissários da Verdade.
Podeis notar que dos templos de pedra surgiram os seus donos, aqueles que esfolaram os Profetas, que degolaram e crucificaram os porta-vozes da Verdade que livra. Isto por motivos conseqüentes, pois aqueles que em nome da Verdade se desviam da Verdade, fazem-se naturalmente detratores dela e inimigos mortais de seus arautos.
E aqueles que os ouvem, nada mais fazem do que endossar erros e faltas, acumulando obrigações ressarcitivas para os dias porvindouros. A história da Terra é a história dos grandes crimes perpetrados contra a Verdade que livra, contra o conhecimento das leis de Origem, de Evolução e de Finalidade. É que, após aqueles que de fato foram Mensageiros da Vontade de Deus, foram aparecendo os mercenários da fé, foram dominando os pervertedores da Verdade, começaram a dominar os imperialismos políticos e marginais à Soberana Vontade.
Aquilo que se vai dizer é, normalmente, um pouco daquilo que muito tem acontecido na Terra – fatos comprovantes de que houve contravenção à Lei de Deus, por vários motivos, porém com acento na perversão doutrinária, na inversão da ordem normal das leis regentes do Cosmo, das leis que devem ser conhecidas, a fim de que venham a ser executadas ou vividas.
Uma vez que no lugar da adoração de Deus em Espírito e Verdade puseram as perversões, as simulações e as idolatrias; uma vez que no lugar do Amor e da Sabedoria puseram dogmas, fetiches e superstições; uma vez que no lugar da Revelação, a quem cumpre advertir, ilustrar e consolar; puseram a funcionar a blasfêmia contra a mesma Revelação, por certo tristes acontecimentos deveriam advir, não somente aos indivíduos em particular, como à Humanidade em geral.
O pouco que se vai mostrar é palidíssima visão do muito que campeia pela Terra e pelos seus rincões astrais, onde os mais dantescos cenários vingam, sem que as mentes e os corações terrestres possam por eles derramar uma lágrima, fazer uma prece ou lobrigar um pensamento de compaixão e prudência, de um modo porque são na maioria desconhecidos, de outro modo porque as causas pairam nos subterrâneos das próprias almas.
E como para a Lei e a Justiça não existem segredos, os fatos recônditos vêm à tona, emergem, comparecem diante do mundo em forma de senões, dores, grandes ou pequenos trabalhos ressarcitivos. Quem olhar para alguém que passa diante de seus olhos, curvado a pequenas ou grandes dificuldades, não tenha em dúvida o fato de ali estarem a Lei e a Justiça. Porque, para premiar ou punir, para isso é que existem e funcionam. E não será imensamente grandioso e confortante saber o que vai em nós, em matéria de Lei e de Justiça, como agentes íntimos de equilíbrio? Não é glorioso conter o filho as divinas virtudes do Pai? Não é majestoso saber que podemos acionar, em nós mesmos, as leis e as forças fundamentais do Cosmo, com o fito de crescer, de conquistar Luz, Glória e Poder?
Clarissa, que era aleijada dos pés, assim sendo de nascimento, mandou o seu par de brincos para ser psicometrada; e Zainer, tendo apanhado os objetos entre os dedos, fazendo oração invocativa, passou a ver a jovenzinha andando de muletas no quintal de sua casa. Aos poucos, remontou à infância e foi penetrando na história da mocinha, pois teve-a como vingativa mulher, por dominadora e truculenta rainha, na vida anterior, mandando muita gente ao martírio e à morte, por motivos políticos. Remontando ainda, ao pretérito longínquo, foi ver o tal espírito a semear discórdias tremendas, por sua influência havendo assassinatos e perseguições atrozes.
– É um espírito tremendamente endividado! – exclamou Zainer, para o mentor que lhe estava ao lado.
E o mentor, com bonomia e simplicidade, monologou:
– E como Deus é servido, que acontece? Eis que a reencarnação funciona, para que a Lei e a Justiça possam funcionar e o espírito, ressarcindo suas faltas, vá evoluindo...
– Que havemos de responder a essa jovenzinha? – inquiriu Zainer.
Ainda lacônico, porém conciso, respondeu-lhe o mentor:
– Que procure agir nos quadros do Amor e da Sabedoria... A Doutrina que ela vem de procurar fundamenta-se na Lei, no Amor e na Revelação, porque é o Caminho do Senhor reposto no seu devido lugar; que procure conhecer e, conhecendo, que se faça mansa e humilde, o quanto possa, desejosa de auxiliar o próximo.
– Com o defeito que tem, ser-lhe-á difícil! – retrucou Zainer, apiedado.
Abanando a cabeça, o mentor observou:
– Estará a Lei errada? Teremos aí a Justiça a desviar o curso dos fatos?
– Não quis dizer isso, mas apenas ponderar, pois a mocinha tem muita dificuldade em se locomover.
E o mentor aduziu:
– Quando era sã, inteligente, famosa e poderosa, que fez? Não usou de tudo para contraditar a Lei de Deus? Tudo quanto fez, como bem viste, não foi trair a si mesma, não foi acumular faltas e agravos?
– Concordo em tudo; apenas, como disse, tenho pena.
– Pena maior causaria – interpôs o mentor – se estivesse nas trevas, sem a possibilidade de reencarnar para resgatar as faltas e ir forjando sua edificação, sua autoglorificação. Portanto, Zainer, mande-a ler bons livros, para que se torne consciente das leis fundamentais e regentes do Cosmo; faça com que conheça as virtudes latentes de que é herdeira natural, para que vá, por meio de bons procedimentos, dirimindo as culpas e exaltando as graças. Se todos soubessem, e quisessem ativar seus recursos naturais, ninguém precisaria cair nessas condições. Como porém as criaturas cometem arbitrariedades, a Lei aciona a Justiça e as culpas tomam forma de variada ordem. Uma vez que importa acertar as contas até o último ceitil, melhor é que se o faça com todo o conhecimento de causa possível. A restauração do Cristianismo, tendo a Revelação por instrumento de base, não é obra do acaso nem da vontade do Homem; isso foi de Ordem Superior, para efeito de advertência, ilustração e consolo. O problema evolutivo é problema que atinge a tudo e a todos; por isso mesmo, aconselhe-a que estude, a fim de saber como deve pensar, sentir e agir, a bem de si mesma.
A jovem quis falar pessoalmente com o mentor, pelo que lhe marcaram dia e hora favoráveis; ao estar presente, foi-lhe dito:
– Teus pais e os médicos pretendem que teu nervosismo seja em virtude do mal que te aflige desde o nascimento; nisto, menina, há muito engano, pois é do teu caráter ser impetuosa, voluntariosa e até violenta. Somos de opinião, pelo quanto conhecemos do teu histórico, que te faças mansa e humilde, compreensiva e bondosa. Caso contrário, poderás acumular mais faltas. Lembramos as boas leituras e as melhores provas de bondade, para que aproveites de fato a nova passagem pela carne. Reencarnar é assomar aos portais da renovação e do progresso, é entrar na linha de possibilidades que conduz à edificação do Céu interior. É, pois, com o máximo em senso de responsabilidade, que focalizamos o problema da reencarnação, que lhe exaltamos o uso. Quem não sabe respeitar a lei de reencarnação, pode-se afirmar, não sabe usar bem de si mesmo! Quem pretende tapar a fonte, por certo que faz obra de imprudência, causando a sede e a desgraça!
– Que me aconselha ler? – perguntou a mocinha.
– Para quem pode discernir à vontade, a Lei de Deus, em seus três sentidos, encerra tudo; porque ela concita a que se ame a Deus em Espírito e Verdade, a que se ame ao próximo até à renúncia, e a que se cultive com honra a Revelação. Para quem saiba ler o Novo Testamento, ele contém tudo isso de modo prático, através do Divino Exemplo de Jesus Cristo. E para quem pretenda conhecer mais, muito mais, entrando por aquelas verdades que Jesus não pôde dizer naqueles dias, por incapacidade assimilativa dos contemporâneos, os livros espíritas aí estão, cheios de Sabedoria e Amor, de Graça e de Verdade.
Foi o início de uma bela jornada, porque a jovenzinha se tornou mulher e teve uma vida exemplar em todos os sentidos. Aos vinte e três anos teve sua mediunidade exposta, vindo a tomar parte em boníssimos trabalhos.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Maurício, que segundo os médicos enlouquecera, fora um caso interessante, embora comum na ordem das leis de Causa e Efeito. Aos dezoitos anos dera para andar sozinho, fugindo de todos, procurando os cantos e escondendo o rosto. E a família começou o seu roteiro de sofrimentos, de tristezas e de profundas desilusões.
Um dia, conversando sua mãe com outra senhora, ouviu-a dizer:
– Já procurou o Espiritismo?
A pobre mulher arregalou os olhos, estacou e não quis falar.
A outra repetiu:
– Ainda não?... Por quê?...
Foi então que ela disse, falando baixinho:
– Somos crentes...
– Protestantes?
– Sim...
Depois de breve silêncio, disse a senhora conselheira:
– Antes de tudo, senhora, não seria melhor procurar a Verdade?
A mãe do rapaz respondeu:
– O Evangelho é a Verdade.
A conselheira retrucou:
– Evangelho não é a letra, Evangelho foi a exemplificação de Jesus, do Ungido que veio viver a Lei, o Amor e a Revelação. Não é certo que Jesus veio para cumprir a promessa do derrame de espírito sobre a carne, como estava nos Profetas? Não é certo que foi anunciado por Gabriel, um espírito? Não é certo que andou expelindo maus espíritos, para curar os enfermos? Não é certo que foi ao Tabor conversar com Moisés e Elias?...
A mãe do jovem doente revidou:
– Nós, os crentes, acreditamos de outro modo... O Evangelho é a Palavra de Deus, trazida por Jesus Cristo.
A conselheira explicou:
– Duzentos e cinqüenta e sete livros foram escritos sobre Jesus, sendo que nenhum deles foi escrito por Ele mesmo. Desses duzentos e cinqüenta e sete, minha amiga, Jerônimo separou vinte e sete, fazendo desses vinte e oito um resumo de quatro, que são os de Mateus, Marcos, Lucas e João. Como pode ver, se o Evangelho da letra é a Palavra de Deus, muitíssimos erros humanos teve Deus que aceitar, pois é certo que cada um viu e escreveu como pôde, além daquilo que andou sendo alterado, em benefício do clero romano e do próprio Império Romano. Creio, portanto, que melhor fora não aceitar tudo quanto se escreveu e se compilou, como sendo o Evangelho do Cristo. Ademais, onde foi parar o Consolador, o informante? Onde está a promessa do Velho Testamento, que Jesus cumpriu, batizando em espírito, no Pentecostes? Em que lugar se encontra o sistema de reunir dos Apóstolos, como está expressa na Epístola de Paulo aos Coríntios, Primeira Epístola, capítulo quatorze?
A mãe do jovem respondeu, acanhada:
– Eu sei, senhora, que os crentes dizem como eu disse... Mas eu não sei muito bem dessas coisas...
A conselheira advertiu-a convicta:
– Tenha cuidado, pois o mundo está cheio de gente que mais pretende ensinar a Deus do que aprender com Deus; de gente que se fanatiza com o seu modo de acreditar, que se vicia na interpretação errada, fazendo de suas manias erradas verdadeiro ramerrão obcecante...
A mãe do rapaz interrompeu-a:
– Bem, a gente precisa ter uma religião, não é?
Ao que a conselheira interpôs:
– Mais importa, minha senhora, conhecer e cultivar a Verdade que livra. Se é em Jesus que pretende basear suas convicções, lembro que, mesmo nas letras que dizem ser o Evangelho, ninguém encontra Jesus mandando procurar religiões estas ou aquelas. Ele, que foi o executor da Lei, teve em conta total três verdades de fato irrevogáveis: a Lei que dignifica, o Amor que diviniza e a Revelação que adverte, ilustra e consola. Queira estudar o Evangelho, se pretende que a letra o seja, e terá provas cabais do que lhe digo.
A mãe do rapaz murmurou, tímida:
– Não sei muito bem dessas coisas, minha senhora.
E a conselheira aduziu, em tom fraterno:
– Sabe, entretanto, que seu filho está recolhido a um manicômio... E deve saber, ou pelo menos pensar, que deve haver uma causa justa, a menos que Deus seja um Pai Divino desprovido de um pouco, de um nada de sentimentos nobres.
A mãe do rapaz murmurou, aflita:
– A Vontade de Deus está sendo feita...
A outra observou:
– Deus, que é todo Verdade, Amor e Justiça, nunca iria ter vontades erradas, vontades incoerentes; cumpre, pois, a cada filho procurar amar a Deus de todo o coração e de toda a inteligência. Ninguém deve acreditar naqueles homens que pretendem escravizar Deus a seus comodismos dogmáticos, a seus tacanhismos conceptivos. Deus é Infinito em tudo, não poderá jamais ser escravo dos ignorantismos humanos, das infantilidades que os homens inventam e às quais se escravizam.
Ao cabo da tertúlia, disse a mãe do rapaz:
– A senhora é espírita?
A interlocutora respondeu, ponderosa:
– Para ser bem espírita, minha amiga, é necessário ser capaz de viver integralmente os três sentidos da Lei de Deus. Eu ainda estou muito longe de repetir as palavras de Jesus, quando afirmou que veio ao mundo para executar a Lei. Meus pensares e meus sentires, entretanto, pairam em favor da Moral, do Amor e da Revelação. Faço, conseqüentemente, o que está no meu alcance.
– A senhora é médium? – perguntou a mãe do rapaz doente.
– Que pensa a senhora dos médiuns? – replicou a conselheira.
A tal senhora encolheu-se, meditou, pendeu a cabeça e nada respondeu.
– Que pensa a senhora dos médiuns? – tornou a perguntar a conselheira.
Entredentes, a mãe do rapaz doente balbuciou:
– Os pastores dizem que são... Que são endemoninhados!...
Depois de sorrir à larga, a conselheira perguntou:
– Que dizem os clérigos e os fariseus de Jesus? Não está escrito, no livro de leis dos Rabinos, que na véspera da Páscoa foi Jesus crucificado, por se entregar à magia e seus sortilégios?
A pobre mulher silenciou para, com muito custo, depois de nova pergunta feita pela conselheira, responder com acanhamento:
– Os pastores dizem assim...
Ao que a conselheira respondeu:
– Estude, minha senhora, para que deixe os pastores cegos de um lado, indo em busca da Verdade que livra, onde quer que esteja, livre de injunções humanas, de vícios conceptivos tacanhos. Saiba que a blasfêmia contra a Revelação é imperdoável, porque sempre foi ela o Divino Instrumento Informativo. E se quiser pensar bem, lembre-se de que Jesus teve por missão, no mundo, trazer a Graça da Revelação para toda a carne.
A pobre mãe estava aflita, sem ter o que falar. A conselheira estendeu-lhe a mão, em sinal de despedida. E foi quando ela disse, comovida:
– Como poderia, minha senhora, fazer por mim alguma coisa?
A conselheira prontificou-se:
– Traga um objeto que tenha sido usado pelo rapaz, quando quiser, a mim, que lhe farei conhecer quem lhe fale o que convém. Temos um bom médium psicômetra, um profeta moderno que muito pode ver, quando Deus lhe concede a graça...
– Profeta?!... – fez a pobre mãe, admirada.
A senhora conselheira explicou-lhe, bondosa:
– Profeta é médium, nada mais; é pessoa com faculdades intermediárias entre o mundo carnal e o mundo espiritual. Para haver intercâmbio, para a Revelação de fato funcionar, há que ocupar elementos humanos apropriados; e os tais elementos humanos apropriados são os médiuns ou profetas. Não se importe, senhora, com os falatórios dos tontos que se acreditam mestres das coisas de Deus, nada sabendo senão de seus vícios idólatras, de seus ronceirismos interpretativos, isso que é fanatizar pela letra e blasfemar contra a Revelação, ela que sempre foi e é o instrumento informativo e consolador.
– Quer, então, algum objeto que tenha pertencido a meu filho?
– Sim, algum objeto que tenha sido imantado pelo seu magnetismo, a fim de haver contato entre o médium psicômetra e o seu rapaz.
Separaram-se as duas senhoras, mutuamente obrigadas; uma a trazer um objeto imantado pelo filho, a outra a levar esse objeto a ser psicometrado, para haver estudo sobre o rapaz e o seu mal, por parte do médium psicômetra.
Dias depois, a pobre mãe comparecia, trazendo uma camisa e perguntando se poderia ser útil.
– De tudo quanto andei apanhando nas mãos, nada me pareceu mais adequado do que esta camisa...
– Desmanchou-se de tanto usar? – perguntou a outra, vendo que a camisa estava esfiapando.
A pobre mãe é que se desmanchou em lágrimas, pelas recordações que a camisa lhe trazia à memória.
– Vamos ao rapaz – convidou a conselheira – que vem agora para o almoço.
E lá se foram, trocando idéias, confrontando pontos de vista.
Zainer acabava de chegar e estava almoçando, quando elas chegaram; como vinha acontecendo, por ser muito serviço, nós o mantínhamos sob vigilância e conforto. Nossa presença era contínua, em tais casos, como recompensa ao seu devotamento. Embora fosse ele um grande culpado em trabalhos ressarcitivos, tinha o mérito de ser leal servidor do seu próximo, abnegado irmão de seus irmãos sofredores.
Entrando na sala, foram apresentados. A protestante fitou-o bem, procurou algum resquício dos Profetas hebreus no dedicado Zainer. Não viu nele Isaías, nem Daniel; não viu uma nova edição do Precursor e não reconheceu em Zainer vestígio algum de qualquer dos Apóstolos. Porque essa gente, que seria capaz de crucificar de novo o Cristo, sob a alegação de ser feiticeiro, tem a mania de dizer que os médiuns são apenas homens e mulheres... Esquecem, portanto, em benefício dos tacanhismos a que se devotam, e tacanhismos fanatizados, que os Profetas, o Precursor e o Cristo, nada mais foram, como humanos, do que homens. Isto é, não sendo capazes de julgar segundo a reta justiça, ou segundo as realidades espirituais, julgam cegamente, fazem obra de Caifaz ou de blasfêmia.
Entretanto, Zainer disse, antecipadamente:
– Dê-me, senhora, a camisa de seu filho... Meu Guia diz que ele está recolhido a um manicômio... Diz, também, que isso devia acontecer, porque o vosso fanatismo sectário não aceitaria coisa alguma sobre as verdades de Deus, a menos que um tremendo sofrimento assim obrigasse.
Lívida, a pobre mãe entregou a camisa, sem desembrulhá-la, sequer.
– Aqui está... Seja feita a Vontade de Deus...
Atuando sobre Zainer, fizemos que respondesse:
– Para haver de fato prevalência da Vontade de Deus, cumpre que não se imponha contra ela o ignorantismo humano. Lembre-se de que o Sinédrio encravou Jesus num lenho infamante, como feiticeiro, contra a Vontade de Deus. Não se faça, pois, em nome de Deus, aquilo que contraria a Sua Vontade.
A protestante pretendeu observar:
– Não acho fácil conhecer bem a Vontade de Deus... Tanta coisa há que dizem ser a Verdade, que dizem ser de Deus, e que a gente vem a descobrir em contrário.
Ainda uma vez fizemo-lo dizer:
– A Vontade de Deus se expressa através da Lei de Deus; se todos os filhos de Deus quiserem, na conduta humana em geral, dar-se ao trabalho de executar a Lei, teremos todo o respeito possível pela Moral, pelo Amor e pela Revelação. E onde houver tais respeitos, por certo não haverá religiosismos, clerezias, dogmas, simulacros, fanatismos de letras, etc. Porque a Lei de Deus, o documento irrevogável, não manda fazer coisas contraditórias.
A senhora protestante confidenciou:
– Desde três dias que tenho lido a Lei de Deus... Realmente, ela não fala em religião alguma, ordenando que se ame a Deus e que se ame ao próximo. Também acho que ela veio pela Revelação, como esta senhora me falou, contendo, portanto, afirmação em favor da Revelação.
Zainer disse-lhe:
– Essa coisa nós sabemos e cultivamos, logo não temos por que discuti-la.
E passou a dizer, com referência ao filho dela:
– Vejo o seu filho recém-nascido... Observo que o cercam vultos negros, embuçados... Reparo que ele vai crescendo, crescendo... Noto que o menino fica mocinho e que os vultos negros se aproximam... Vejo uma balança, como sendo o símbolo da Justiça Divina, que pesa sobre ele... Isto faz que os vultos embuçados se aproximem, dominem e o transformem em uma pessoa alterada... Agora é um anormal, por motivos espirituais, nada conseguindo a medicina em tal caso...
Parou, leu o que lhe foi mostrado e tornou a falar:
– Sobre ele aparece uma faixa, tendo esta legenda: – “Procurem, para sanar o mal espiritual, o remédio espiritual; tirem-no do manicômio o quanto antes, pois há cura para ele, desde que se proponham os pais e ele, quando for hora, ao conhecimento das leis de Deus”.
Haviam cessado as visões psicométricas, quando foram ditas estas palavras, endereçadas à mãe do rapaz:
– Leia O LIVRO DOS ESPÍRITOS o quanto antes.
A mãe do rapaz disse que sim, tornando a voz a dizer, por intermédio de Zainer:
– Não tenha receio algum, pois Jesus veio para batizar em espírito, e não para deixar letras que não escreveu, letras adulteradas e adulteráveis.
– Muito bem – disse ela – eu farei isso.
– A Revelação é que é a Palavra de Deus – disse a voz, retornando – as letras, para serem fiéis, devem testemunhar a Revelação como sendo o instrumento informativo, instrumento que adverte, ilustra e consola. Buscai o conhecimento das leis de Deus, através da Revelação, e vos livrareis de todo o mal.
A tal senhora, a conselheira, rogou à voz:
– Muito obrigada por tudo. Não seria possível, todavia, saber da origem dos acontecimentos? Dizer alguma coisa, por exemplo, sobre o que motivou o presente estado do rapaz?
– Fazei oração a Jesus, com todo o fervor possível! – exclamou a voz, a voz que vinha através de Zainer, sem contudo parecer sair de sua boca.
Eles entraram a orar e nós vimos que um grande mensageiro se fez visível, um anjo ou espírito das altas esferas; foi ele quem acionou Zainer, ou suas faculdades, para reverter às obras pretéritas do rapaz doente. E Zainer foi dizendo:
– Vejo um velho, todo cercado de sangue... Observo que vai regredindo em idade... É um cardeal... Vejo-o acusando a muitos, vejo-o condenando... Muita gente é supliciada por sua ordem... Há cheiro de carnes assadas!... Um horror invade o ambiente!... Pelo amor de Deus!...
Zainer como que despertou de um sono trágico, tendo os olhos esbugalhados e suando a valer. Sua fisionomia era de terror. Foi ele quem falou, explicando o que vira:
– Vi quadros dantescos, vi gente sofrendo suplícios terríveis, tudo por ordem de um cardeal, que tinha ascendência sobre muitos outros clérigos. Havia no ar gritos, berros, lamentações, blasfêmias, cheiros tétricos...
Zainer de novo transformou-se, repetindo a voz:
– Teu filho, mulher, foi terrível; tinha prazer em fazer blasfemar, acreditando que com isso perdia aos que, tangidos pelos tremendos sofrimentos, enfraqueciam na fé e de fato blasfemavam. Contudo, ele é que atravessou centenas de anos nas trevas, no âmago das inenarráveis torturas, até poder reencarnar, para ir completando a necessária reparação. Nesta passagem terrena, se quiserem fazer alguma coisa em benefício do conhecimento e do bom procedimento, poderá melhorar muito a situação, pois é a terceira reencarnação a que se submete, com caráter expiatório.
A mãe do rapaz rogou:
– Que Deus nos guarde de todo o Mal e nos guie para todo o Bem. Como poderemos agir, para auxiliá-lo? Estamos sofrendo muito por causa dele!
A voz esclareceu:
– Ninguém está sofrendo por causa dele, uma vez que a família inteira é constituída de grandes culpados; apenas, irmã, cada um ocupa o seu lugar, no quadro dos deveres ressarcitivos. Ninguém culpe a outrem, pois que todos são réus das maiores culpas. Quem é contra a Lei de Deus, não pode ser a favor da mesma Lei de Deus, porque é impossível servir, ao mesmo tempo, a dois senhores... Ninguém se iluda, porque a Lei não está dividida contra si mesma! Tomai exemplo em Jesus, o Divino Modelo, cujo exemplo de sujeição à Lei foi total.
– Compreendemos, senhor, que somos todos culpados! – gemeu a pobre mãe.
E a voz ordenou:
– Tragam o rapaz aqui, assim que possam... O seu coração já pende para a Verdade e isto muito representa.
A mulher começou a chorar, tocada de grande alegria íntima.
Passados alguns dias, o rapaz foi introduzido no recinto, cercado de servidores espirituais, a fim de ser tratado espiritualmente. Naquele mesmo dia, tendo havido ordem superior, pois o grande mensageiro se fez de novo presente, deram-se algumas doutrinações de espíritos perseguidores. Dias mais tarde, estando o rapaz melhor de saúde e de espírito, a voz lhe disse:
– Queres, irmão, trilhar a senda verdadeira?
Ele respondeu:
– Eu quero... Mas eu nada conheço... Qual é a senda verdadeira?...
A voz explicou:
– A Excelsa Doutrina tem por fundamento a Lei de Deus. A Lei de Deus ensina que se deve amar a Deus em Espírito e Verdade; que se deve amar ao próximo como a nós mesmos; e que importa honrar a Revelação, pois veio por ela. Em Jesus, o Cristo Planetário, tereis o Modelo a ser seguido. A vida que Jesus viveu é que é o Evangelho; quem procura imitar o Modelo é que vive o Evangelho, é que é cristão.
– Está bem... Deus me ajude a vencer – disse o rapaz.
– Lê O LIVRO DOS ESPÍRITOS – ordenou a voz, desaparecendo.
– Muito obrigada por tudo! – exclamou a senhora conselheira, enxugando o rosto, pois ela chorava de contentamento.
– Deus lhes pague! – falou a mãe do rapaz, também enxugando suas lágrimas de felicidade.
E voltando para Zainer, afagou-lhe as mãos, dizendo:
– Meu filho, assim posso chamá-lo, Deus te pague por tudo...
Zainer interrompeu-a, esclarecendo-a:
– Eu também sou um grande errado, em trabalhos reparadores; trabalho para o meu resgate, isso é que realmente acontece. O teu filho, minha irmã, deve muito ao próximo... Que aprenda a grande lição, assim como eu também aprendi. Agora devo ir, que outros deveres me cumprem.
Despediu-se e se foi, contente pelo fato de ter sido um profeta da Verdade, de ter dado testemunho da Verdade e de ter feito o Bem possível.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Torquato arrastava-se pelas ruas, pedindo esmolas em nome de Deus e, às escondidas, xingando a tudo e todos; era bem fingido para com os encarnados, sabia como enfronhá-los em suas artimanhas. Suas modulações vocais eram perfeitas, chocantes, de causar piedade; e seus trejeitos confundiam, porque ele exagerava os defeitos.
Uma tal criatura, um tal espírito em expiação de culpas, ainda mais se carregava, porque fazia do aleijão o seu meio de vida, e meio de vida que tomava aspecto capcioso, explorador da sensibilidade alheia. Se quisesse ganhar a vida honestamente, por certo que o faria, pois apenas as pernas eram torcidas, não conseguindo andar de pé, tendo que estar num carrinho ou andar de rasto. O mais tudo era perfeito, além de ser inteligente e malicioso.
– Olhem para este infeliz!... Uma esmola para quem foi uma vítima do destino!... Perguntem a Deus qual foi a minha culpa!... Já sou aleijado, não permitam agora que eu morra de fome!...
E quanta gente pensava, dado nada conhecer das leis de Causa e Efeito, que o Torquato, de fato, era apenas uma vítima das incúrias de Deus... Quanta gente, ao vê-lo rastejar com exagerados trejeitos, e proclamar suas razões em tom de mártir do destino, andou pensando absurdos contra a Ordem Divina!... O porquê dos acontecimentos, quando não conhecido e conscientemente observado, certamente resultará em atos blasfemos; e isso faziam muitos irmãos, alguns perguntando onde estava Deus, que não via aquilo, enquanto outros diziam, para si mesmos, que ali estava uma vítima dos pecados paternos.
Enquanto, porém, a matraca humana desfiava impropérios e incoerências, a Lei ali estava, fazendo funcionar a Justiça e ofertando meios de ressarcimento. Acima dos conceitos humanos, tacanhos e ronceiros, alguns aceitando tudo como imposições de um Deus cruel e vingativo, e outros julgando que nada havia sem ser o mecanismo bruto das engendrações telúricas, acima de todos os senões da versátil e aleivosa conceptividade humana, a Ordem Divina se impunha, fazia o indivíduo defrontar suas mesmas ações e responsabilidades.
Foi um delegado de polícia, estudioso das coisas do mediunismo, quem se ofertou para estudar o caso, mais por inteligência investigadora do que mesmo por piedade. Para ele as partes deviam arcar com suas responsabilidades para com o TODO, pois havia chegado à concepção justa de que tudo na Obra de Deus é parte e relação, jamais existindo Causas que não sejam obrigadas a produzir Efeitos, nem Efeitos que possam deixar de conter suas Causas determinantes.
Antes dos fenômenos, pensava ele, estão as leis que os determinam; portanto, concluía, não é possível que o Universo funcione, exista, movimente e se imponha em acontecimentos reflexos, sem que tudo se subordine a uma Força Moral Única. E isto, pensava, explica as obrigações do espírito para com as leis de evolução, responsabilidade, reencarnação, comunicação e habitação universal. A existência e a imortalidade, pensava ele, não precisam de ser cogitadas; é que o Universo Quantitativo, em suas concepções, não podia sofrer restrição alguma.
Amigo dos diretores do Centro, e sabendo das faculdades de Zainer, propôs levar a termo a psicometração de Torquato. Arranjou o boné usado pelo aleijadinho e se endereçou ao domicílio de Zainer. Eram oito horas da noite e teriam tempo suficiente para investigar o caso, até onde fosse por Deus permitido. Pelo menos o delegado assim pensava, ele que era sincero, racional e respeitador das leis de Deus.
Feita a oração, porque a nada Zainer dava começo sem primeiro apelar aos Planos Superiores, houve a palavra de um Guia:
– Temos acompanhado – disse o mentor – os vossos passos; e temos recebido ordem de vos propiciar os elementos de análise, porque os propósitos esposados se recomendam. Não tenhais, porém, muito em conta a esse caso, por ser ele comum em vosso e nosso mundo; a Terra está cheia de casos iguais, para mais e para menos. Uma vez que compreendeis o TODO, tereis compreendido o funcionamento das partes, suas derivantes e suas obrigações; isto é, as necessidades e as contingências. A verdadeira sabedoria reside, irmãos, no conhecimento da UNIDADE DIVINA, de onde tudo parte; uma vez ligado a Ela, por Origem, seguem-se as leis de Plano Evolutivo e de Finalidade.
– Sempre as Causas – interveio o delegado – como agentes dos Efeitos.
E o mentor aduziu:
– Depois de haver para o espírito a Causa Primária, ou Deus, que confere à criatura os elementos de existência individuada, movimento, evolução e finalidade, tudo o mais é questão de sintonização e aproveitamento natural das virtudes fundamentais ou congênitas. O restante, sabei-o, é apenas parte histórica. No caso presente, por exemplo, o que tendes? Não é apenas um filho de Deus, um nosso irmão, que não soube usar bem de si mesmo, em seus direitos e deveres? Que fez ele de sua existência, do direito de movimento, da responsabilidade de seus atos e dos fatores conseqüentes em geral?
– Não sabendo tudo, talvez, sobre as leis de Origem, Plano Evolutivo e Finalidade, caiu em graves faltas e deve resgatá-las. Assim o entendemos, uma vez que em Deus não podemos admitir falhas quaisquer – intercalou o delegado.
O mentor prosseguiu:
– Justamente! E tereis, como disse, a criatura, suas validades e deveres e o seu histórico. Torquato é, assim sendo, um filho de Deus que se desarmonizou, que se tornou revel à Lei de Deus, ao Plano Fundamental de Harmonia. Deveis saber o que realmente representa a Lei de Deus, como reflexo intelectual da Fundamental Lei de Equilíbrio. Uma vez que haja transgressão aos Mandamentos, teremos validado a Lei de Equilíbrio a reagir; e a sua reação é conhecida como Justiça Divina. Sabendo-se, pois, que cada filho contém tudo em potencial, isto é, que é herdeiro das Virtudes Divinas, aí teremos que ele, o filho de Deus, através de suas mesmas obras, conscientemente ou não, aciona a Lei e a Justiça. Vede bem, portanto, que Deus nos fez semideuses, como disseram os Profetas e como Jesus ratificou totalmente.
– É maravilhoso – disse o delegado – saber que somos herdeiros naturais de tamanhas virtudes! Que mais poderemos querer, para nos tornarmos luminosos e gloriosos, do que trabalhar pela elevação íntima?
O mentor endossou:
– Eis aí os elementos, o movimento e a finalidade! A questão é que, irmãos, durante a caminhada acontecem acidentes vários... Entre outros, sabei-o, acontecem os desvios doutrinários, as falsas doutrinas, os ensinos que desviam e truncam a marcha natural, por ensinarem idolatrias, superstições, ações blasfemas, apostasias e mercantilismos em nome da fé. Torquato, por exemplo, foi um oficial dos Cruzados, alguém que fez da Lei de Deus objeto de contradição e escândalo, de mistificação e crimes hediondos. Ora, como temos ordem de afirmar, sem recear o que quer que seja, quem contrariar a Lei de Deus, por pouco que seja, por esse pouco terá que responder, no Espaço e no Tempo, e através das vidas. Porque estamos dando cumprimento aos ensinos do Cristo Planetário, d’Aquele que, por ser apresentado como Divino Modelo, deve ser tomado como Exemplificador da Lei. Se tendes uma religião, ou pretendeis ter uma religião, vede que ela contenha a Moral que equilibra, o Amor que sublima e a Revelação que adverte, ilustra e consola. Se a vossa escola religiosa escandalizar a um desses sentidos da Lei, pois a Lei de tudo contém em fundamentos, podeis saber que dareis com os costados em maus lugares. Não digais: – “Senhor! Senhor!” pelo fato de terdes uma religião; procurai saber, antes, se a vossa religião está conforme com a Lei de Deus. Porque ninguém irá encontrar o Cristo, meus irmãos, fora da Lei de Deus!
Houve silêncio por alguns segundos, depois das últimas palavras do mentor. E a seguir Zainer passou a relatar os quadros que foi observando.
– Vejo Torquato a se arrastar pelas ruas... Observo que é diferente, que em sua mente há malícia, há fingimento... Parece um artista, toma caracteres em duplicidade, faz questão de impressionar ainda mais os transeuntes... Passa agora para a infância... Vai regredindo, regredindo... Tenho pela frente o velho, a vida anterior, ainda um aleijão, porém muito mais aleijão!... Santo Deus!... Como é tremendo o seu aleijão debaixo dos farrapos que veste!...
Zainer estava atônito, suava e tremia, porque o aleijão irradiava muito mal. A seguir, depois de breve pausa, continuou:
– Agora é um bandoleiro, cerca nas estradas e mata... Um homem que parece jamais ter tido coração!... Vai regredindo, regredindo, regredindo... Vejo-o como navegador, um pirata, um salteador... Comanda um bando de celerados, pratica a pilhagem e não teme a Deus nem aos homens!...
Zainer caiu para trás, ficou imóvel, porém respirando profundamente.
A palavra do mentor se fez ouvir, observando:
– Para que prosseguir, irmãos? Não tendes aí o retrato histórico do infeliz que rasteja pela vossa cidadezinha? Não compreendeis que a teratologia começa no plano Moral da criatura? E se isso for adiante, que ireis ver, sem ser o mísero oficial que em nome de Deus fez de todos os crimes o seu capricho? E indo além, mais para seus confins históricos, que ireis encontrar, sem ser o espírito a subir na ordem dos reinos e das espécies, como é ordinário? Ouvi, portanto, as palavras do Cristo; dai atenção a quem viveu a Lei e derramou sobre a carne toda a Graça da Revelação; extraí boas lições do banco educacional que é a vida de cada dia, de cada minuto.
Estava finda a aula, estava psicometrado o homem que se arrastava pelas ruas da cidadezinha e se fingia de vítima do destino ou das falhas de Deus; estava fotografado o homem, por cujos crimes acobertados aparentemente pela reencarnação, alguns aprendiam a perdoar, e outros conseguiam com que ter elementos de prova para duvidar da Soberana Lei.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Há que haver muito cuidado com os perigos que o mundo oferece aos espíritos que reencarnam; há que considerar aquelas palavras do Cristo, quando no fim da vida disse aos Apóstolos: – “Eu vos agradeço, porque estivestes comigo nas minhas tentações”.
A vida carnal é ambiente em geral que oferece perigos múltiplos, traições de variada ordem, facilidades de falha, de fracasso. Faz-se, portanto, necessário prudência, muita prudência.
Costuma-se dizer que nenhum diabo de fora pode, quando o Cristo de dentro está realmente vigilante; mas, digamos, estará sempre em dia o Cristo de dentro, em matéria de vigilância? Não será que, tantíssimas vezes, por causa de mil e uma fraquezas, perdemos de vista o Cristo de dentro e deixamos reinar o diabo de fora, o erro que conduz ao fracasso?
E sob que disfarces poderá vir o erro, o diabo de fora, para confundir até aos mais bem intencionados e levados de vencida? Sob que pretextos se apresentará, a fim de parecer a medida cabível, a ação do momento, a atitude consentânea com a situação?
Se formos aquilatar pelo crivo da Lei, por quantos motivos encontraremos no mundo razão para trair aos mais santos deveres?
Quantos são os modos de idolatrar, de contrariar a Lei, quando ela ordena que se adore a Deus em Espírito e Verdade, sem a ingerência de elementos intermediários, do que há nos ares, na terra e nas águas?
Por quantas maneiras podemos trair o Segundo Mandamento?
E o Terceiro Mandamento, que ordena jamais tomar o nome de Deus em vão, através de quantas formas e maquinações pode ser contraditado? Quantas e quantas vezes permitimos que a mentira e o suborno tomem o lugar da Verdade? Até onde o vício é apresentado por nós, em nossas obras, como sendo a Virtude?
Quanto aos demais, sobre não fazer mal a ninguém, desde o respeito ao descanso, passando por honrar pai e mãe, não matar, não adulterar, não furtar, não jurar falso, não invejar nem cobiçar de modo algum, sob quantos pretextos tudo isso é feito, é repetido, e por certas leis humanas erradas é até mesmo programa estabelecido, oficializado e garantido pelo mundo?
Apesar do mundo, porém, atiçar e garantir muitos erros, muitas formas de contradição à Lei, certo é que por tudo se responderá, até o último ceitil. Cumpre que se oponha todo o zelo possível em face dos momentos de fraqueza; cumpre que se esteja normalmente em ato de prudência perante os perigos que nos cercam, quando estivermos transitando pela encarnação.
Porque aquelas desculpas, que podem ser apresentadas posteriormente, nunca poderão conter merecimentos, jamais conseguirão encerrar o condão que lhes autorize a convencer a Lei em contrário. Porque com a Lei ninguém discute, ninguém tem elementos para enfrentá-la, visto ser divinamente íntima e estar acima das cogitações humanas. Atos representam registrações íntimas e registrações íntimas representam compromisso para com o Equilíbrio Universal. Se boas registrações, a vantagem não é discutível; se más registrações, as dívidas terão que ser ressarcidas inelutavelmente!
Houve um homem que se apresentou, um dia, para ser psicometrado; vinha todo encurvado, dolorido, sofrido em extremo. Tinha tudo e não parecia ter nada; não parecia ter males graves, entretanto apresentava sintomas de morte.
Para nós, do plano espiritual, estava cercado de escuridão, detinha-se no plano das tristes mentalizações. Ele devia saber dos porquês, ele poderia muito bem advogar em sua causa própria, apresentar as razões de assim pensar, sentir e agir. Os nossos defeitos costumam, para nós mesmos, conter sempre muito ou pouco de razão de ser. Por mais errados que estejamos, temos sempre mais do que uma pontinha de boas razões para sermos assim. Costumamos ter, para conosco, aquela porção de tolerância que, quando para os outros, se converte em julgamento radical.
Diante de Zainer, o homem disse:
– Cheguei a ser bom médium; fizeram os espíritos, por meu intermédio, até grandes coisas. Todavia, fui obrigado a deixar os trabalhos mediúnicos em abandono, porque coisas muito desagradáveis andaram se infiltrando na minha vida material. Ultimamente, de uns quatro anos a esta parte, venho sofrendo dores horríveis, ando cheio de reumatismos. Os médicos já deram tudo, já me encheram de injeções e remédios, porém nada puderam fazer.
Zainer falou-lhe:
– Espere um momento, que estou vendo o seu interior e o seu exterior... O senhor é azulino por dentro, depois vai se tornando cinzento, cinzento escuro, passando a ser preto, um preto opaco bastante feio... Por fora o senhor é todo preto, por causa dos acontecimentos que o envolvem, pelos quais se deixa dominar...
Surgiu naquele momento um mensageiro, alguém ligado ao plano espiritual de onde ele proviera, alguém que sabia dele muitas coisas, ou que trazia informe importante. Este mensageiro, chegando, falou através de Zainer:
– Venho da parte de quem muito lhe quer, pelos seus feitos passados. Trago-lhe o aviso amigo, aviso que consiste em alertá-lo contra a situação a que se submeteu. Nada mais tem feito, de alguns anos a esta parte, senão dar atenção ao mundo, aos seus percalços, esquecendo o trabalho que lhe cumpria e cumpre levar a termo. Deixe de se curvar aos motivos que julga serem os culpados, aos quais acusa, fazendo questão de vencê-los, de superá-los, de liquidá-los.
O tal homem replicou:
– Brigas em família, por culpa de pessoa incompreensível, fazem-me pensar em tudo, menos em coisas boas... E por não me julgar em condições, tenho-me afastado dos deveres mediúnicos...
O mensageiro informou:
– Pode dar a interpretação que bem entender ao fato; pode alegar a razão que bem entenda de alegar, para justificar a sua conduta errada; entretanto, foi apenas um percalço que devia vir, para experimentá-lo, em virtude das faltas passadas e do programa pré-estabelecido. Isso está contido no roteiro de sua vida, apenas não está escrito que iria curvar-se a tais injunções erradas. Procure reagir, porque o fracasso poderá tornar-se de graves conseqüências, quer no presente, quer com vistas ao futuro. Isto é, no presente irá parar nos fundos de uma cama, de onde sairá para o cemitério o corpo e para este lado o espírito, porém em situação gravosa... E com vistas ao porvir, terá pelo menos de passar pela mesma prova, porém agravada e defrontando os riscos do fracasso presente, que se marcarão rijamente, porque transformados em caso cármico, em lastro histórico.
– Vou procurar o trabalho, de novo... – murmurou o tal homem.
O mensageiro disse-lhe:
– Deixe de pensar nos reumatismos... As divergências de família trazem raivas, atraem elementos e energias que valem por tremendos venenos... De fora para dentro vêm os males, que se vão infiltrando, que se vão radicando, porque de dentro para fora os movimentos da mente são-lhes propícios. Tudo quanto tem, que acredita serem reumatismos, mais não são do que energias e fluidos perniciosos, em virtude dos pensamentos recalcados, angustiosos e raivosos. É puro fenômeno patológico, é alteração física por influência de agentes e de forças inimigas provindas do exterior.
Zainer voltou a si e anunciou:
– O seu espírito Guia quer falar.
Deu-se a comunicação do Guia, que lastimou a conduta do médium, dizendo:
– Ele devia entrar para um período de prova e eu fui intimado, pelos meus superiores, a me afastar. Não temos culpa de ter ele se entregado assim ao seu modo de pensar, de justificar o seu procedimento. Pelo contrário, quanto mais os mal-entendidos fossem aumentando, tanto mais devia ele se agarrar mais e mais ao trabalho espiritual. É com a Verdade que se triunfa sobre a Mentira, é com o Bem que se vence contra o Mal, é com a Sabedoria que se aniquila a Ignorância! Espero, agora, com o aviso presente, que volte às boas para com os seus deveres de servidor da Vontade de Deus.
Acabrunhado, o tal homem balbuciou:
– Concordo em que tenha errado...
E o Guia lembrou:
– Fosse você o único!... A Humanidade vive em fracassos contínuos, acumula faltas a mais não poder. Podemos dizer que muitos são os que se provam e poucos são os que triunfam, por falta de melhor conhecimento de causa, e, noutros casos, por falta de um pouco mais de perseverança no trabalho espiritual.
O Guia despediu-se e a sessão teve o seu fim. O tal homem, que serve de exemplo para muitas outras criaturas, dali saiu satisfeito e disposto a recomeçar a faina que lhe cumpria. Compreendera, enfim, que houvera sido muito imprudente.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
A Sabedoria Antiga, a Ciência Secreta ou Iniciação Esotérica; tudo aquilo que foi e ainda é cultivo espiritual à base de Moral, de Amor e de Revelação, desde remotos tempos prega a necessidade de CONSCIÊNCIA CÓSMICA, ou CONSCIÊNCIA UNITÁRIA. Isto é, que de uma UNIDADE FUNDAMENTAL, chamada Deus, tudo deriva, tudo nela tem sustentação e n’Ele tudo alcança a Sagrada Finalidade.
Essa Excelsa Doutrina, que o Cristo veio confirmar e estender sobre toda a carne, com o Seu batismo de espírito, vive proclamando que cada qual tem em si o Reino do Céu; e que, conseqüentemente, esse Reino do Céu não virá com mostras exteriores, não virá de fora, mas terá que ser erigido no íntimo de cada criatura, pelos esforços da própria criatura.
E como todas as Grandes Revelações tiveram fundamento numa Lei de Harmonia, de Moral Divina, segue-se que jamais poderia alguém alcançar a plenitude psíquica, o grau crístico, sem palmilhar a vida nos âmbitos dessa mesma Lei Divina. Em sã verdade, realidade ou consciência, todos deveriam pensar, sentir e agir conforme a Lei de Deus ensina e concita. Porém, como os homens costumam perder-se nos dédalos da confusão, porque orgulhos e egoísmos sóem poder mais do que a simplicidade e a humildade, eis que o mundo se enche de idolatrias, de formalismos e de superstições. Aquela cultura espiritual que deverá ser à base de Moral, de Amor e de Revelação, passa então a ser à base de clerezias comercialistas, realmente pagãs, porque empanturradas de simulacros, de meios materiais que iludem e que beneficiam materialmente aos que transformam as coisas da fé em meio de vida.
Assim sendo, em nome de Deus, do Cristo e da Religião, medram na Terra inteira aquelas práticas que aberram contra a mesma Lei de Deus, o Alicerce de todas as Grandes Revelações. É de pasmar, irmãos, como acontecem certas coisas no vosso e nosso pobre mundinho; é de estranhar como se apegam as criaturas, os filhos de Deus, a todas quantas mentiras e idolatrias lhes são apresentadas, desde que em nome de Deus, do Cristo e da Religião!
Deveriam, pelo menos, procurar a inteligência da Lei, para saber o que ela de fato contém, para servir de crisol, de juiz sobre as religiões, ou sobre aquilo que inventam certos homens e chamam de religião, para terem ali um meio de vida, o seu comércio. Isso, entretanto, não acontece; porque as gentes vão seguindo a tudo quanto aparece, vão atendendo a todas as idolatrias, vão se curvando a todos os simulacros, vão comprando superstições e ignorâncias, vão cultivando a mentira no lugar da Verdade, vão traindo o maior dos deveres.
E tanto aprendem a olhar para fora, a cultivar idolatrias, que se esquecem de que são partículas de Deus, de que trazem no imo as virtudes que, desabrochadas, desenvolvidas, resultarão em Luz, Glória e Poder.
Não procuram amar a Deus em Espírito e Verdade, que é como se pode amar a Deus acima de todas as coisas; pelo contrário, adoram vestes fingidas, paus e pedras, salamaleques e toda sorte de invencionismos humanos comprometedores.
Não se lembram de que é inútil pretender agradar a Deus, quando não se respeita e ama aos semelhantes; olvidam a obrigação de exemplificar a Verdade e o Bem, enquanto se aplicam aos cultos formais e desprezam os Mandamentos da Lei, aqueles nove que se seguem ao Primeiro, todos eles contendo ordens a bem da verdadeira fraternidade. Pelo contrário, pois aqueles mesmos que engendram clerezias pagãs, que vivem de vender simulações, eles mesmos se intitulam ministros de Deus, agravando tremendamente a própria situação e a dos irmãos, aos quais iludem e desencaminham.
Não atendem à Revelação, ao Instrumento Divino de advertência, ilustração e consolo, porque a idolatria os consumiu, tornou-os cegos ao batismo de espírito, à Graça trazida por Jesus Cristo para toda a carne.
Eis o retrato da Humanidade, depois do quarto século, quando a Excelsa Doutrina do Caminho do Senhor foi corrompida, para que vingasse aquilo que Roma forjou e que começou a impor ao mundo ocidental, em nome de Deus, do Cristo e da Religião. E como tal, e como não poderia deixar de ser, pululam pelo mundo aos milhões, aqueles que, viciados no erro, fanatizados pela idolatria, vão mergulhando nas trevas, vão repetindo crimes, e tudo isso enquanto pensam que estão sendo verdadeiros, fiéis a Deus e merecedores de galardões espirituais no após-morte.
A Terra está cheia de idolatrias, a Humanidade está mergulhada nos mais repelentes paganismos! E o pior, para todos os efeitos, é que tais paganismos e idolatrias se acreditam a verdadeira Religião, aquela que tem inicial maiúscula!
Fará alguém, todavia, que a Lei de Deus seja revogada? Nasceu alguém para derrogar a Lei? Os ceitis deixarão de ser contados até o último e pagos?
Por isso mesmo, que da UNIDADE FUNDAMENTAL nada será mudado, rondam pela Terra inteira, no plano carnal e por aqui, aqueles que se fiaram em seus simulacros, aqueles que nada procuraram fazer de verdadeiro e de bom. Porque, ainda que haja erros em parte, uma vez que prevaleçam na conduta boas ações, dignos atos de fraternidade, sempre haverá recompensa feliz. Quando, porém, como sói acontecer, a confiança é depositada nos rituais idólatras, na compra de simulacros, e não há dignas ações a contar em favor, então o desfecho é triste!
Foi um homem apresentado a Zainer, para ser psicometrado. Foi o presidente do Centro que o conduziu, porque a esposa do tal homem, um advogado, muito lhe falara sobre os males de que vinha o marido sofrendo.
– Vamos ver – disse o presidente a Zainer – o que ocorre aqui com o nosso doutor; ele tem um irmão que é médico, com quem falou por último, o qual o mandou procurar uma benzedeira, por certas analogias... Isto é, por causa de alguns males estranhos que uma tal benzedeira tem curado, onde a medicina em nada pode valer. Ora, nós sabemos o que são males causados por certos acúmulos magnéticos, ou fluídicos, males de que a medicina não trata, salvo raras exceções, quando o médico é conhecedor do assunto. Ele nos procurou e nós vamos ver como poderá ele sair do embaraço em que vive metido; são dores de cabeça, tonturas, ameaças amnésicas, etc...
Zainer interrompeu-o, para dizer:
– Teve o doutor algum parente padre ou algum amigo íntimo?
O advogado respondeu de pronto:
– Meu irmão faleceu faz seis anos e pouco!... Era padre, como não?
Zainer informou-lhe:
– Espere um pouco... Chama-se Zacarias, diz o meu Guia...
– Meu irmão chamava-se Zacarias! – exclamou o advogado.
– O padre está segurando a cabeça com ambas as mãos, como quem está sofrendo tremenda dor de cabeça – anunciou Zainer, que parecia estar algo perturbado.
– Meu irmão faleceu de apoplexia... – esclareceu o advogado.
– Seu irmão brande as mãos, como quem está escutando e reclama pedindo socorro... Afirma, com sinais de cabeça, que é isso mesmo... Gesticula e roga que se lhe faça alguma coisa... Ergue as mãos ao Céu e clama por Deus...
O advogado ficou nervoso, ouvindo aquilo, pondo-se de pé e a andar para um e outro lado.
– Você poderia recebê-lo? – perguntou-lhe o presidente.
Zainer respondeu como lhe dissemos deste lado para responder:
– Eu não posso recebê-lo, porque ele está muito mal e eu não estou hoje muito bem de saúde.
O presidente saiu, foi chamar sua esposa e com ela voltou. Ela era médium de boas faculdades. Uma vez sentada ao redor da mesa, comunicou-se primeiro o seu Guia, dizendo:
– Não se precipitem, meus irmãos!... Disso há muito, há muito mais do que vocês pensam. Ao demais, a Lei é vivíssima, tudo está de acordo com a Justiça, a quem ela aciona. Portanto, o ideal não seria pretender sanar um fato, e sim o erro geral, a fábrica que produz tantos males!...
– Compreendemos perfeitamente – anuiu o presidente.
O Guia do médium prosseguiu:
– Lastimável em grande escala é o fato de haver instituições ditas religiosas e que comportam, em sua estrutura dogmática, erros crassos e disposições absolutamente contrárias ao evolvimento dos filhos de Deus; escolas que pretendendo ser de fé em Deus, nada mais fazem do que blasfemar contra as leis fundamentais da Vida e que regem as coisas e os seres; que vivem de práticas idólatras e que se levantam contra a Moral, contra o Amor e contra a Revelação; que trocam o verdadeiro culto, que é o culto do Amor e da Sabedoria, pelos mais bastardos vícios simuladores, pelas bajulações que se compram e que se vendem, que a Deus jamais poderiam convencer, porque Deus quer Verdade e Amor e não pagodeiras mercantilistas em nome da fé. Terminando aqui a minha observação, recomendo que tragam os corações inflamados de Amor e os cérebros cheios de Conhecimento da Verdade. Porque Deus quer Amor e não fingimentos, quer Sabedoria e não adulações.
Saído o Guia, apresentou-se o padre, que exclamava:
– Por Deus!... Quem me acode?!... Tirem-me esta dor!... Eu morro!...
Disseram-lhe que era já um espírito desencarnado; falaram-lhe de estar em uma sessão espírita, a se comunicar por intermédio de um médium; mas o padre a nada atendia, porque a dor o acutilava e ele apenas conseguia pedir socorro:
– Matem-me!... Acabem com esta dor!... Oh!... Meu Deus!...
Zainer ouviu o seu Guia, que ordenou fazerem concentrada oração; e assim foi feito, sendo que a seguir o padre foi retirado da médium, para ser instruído deste lado. Como era hora de seu esclarecimento, normalmente foram-lhe feitos tais benefícios, vindo ele a se assustar um pouco, ao reconhecer que estava desencarnado e numa sessão espírita.
– Vai para a senhora médium – disse-lhe o mentor que foi designado para esclarecê-lo.
Tornado ao aparelho mediúnico, rendeu graças a Deus pelo que lhe fizeram, vindo a seguir o seu interlóquio com o irmão.
– Eu não sabia que estava ao teu lado, meu irmão espiritual e material; e não sabia, também, que a Divina Providência assim determinara, por ser chegada a minha hora de conhecer o estado e a tua hora de conhecer a Verdade. Segue este caminho, meu irmão, que fala das verdades de Deus diretamente aos cérebros e aos corações, sem interferências fingidas, idólatras e mercenárias. Estuda, eis o que mandam te dizer deste lado, para que conheças e vivas a Verdade, e a Verdade conhecida e vivida te faça um dia, quando para aqui retornares, alguém muito mais feliz do que eu sou agora, agora que estou livre daquele tremendo, daquele infernal sofrimento.
– Estão aí alguns outros parentes nossos? – perguntou-lhe o advogado.
– Estão vários deles, porém muito bem situados, pois foram eles que receberam a incumbência de me guiar os passos, quando foi hora de eu ser esclarecido e curado... Curado, sim, pois este corpo é realmente um corpo, e tanto pode ser são, como pode ser doentio.
– Alguém mais poderia falar comigo, dentre os presentes? – inquiriu o advogado, ansioso e satisfeito.
O padre foi convidado a se despedir, para que outro parente falasse ao advogado.
– Eu vou sair, porque me ordenam, para que outro fale contigo. Perdoa-me, irmão, pelo que te fiz sofrer. Mas, peço do fundo do meu coração, aprende a grande lição que o Senhor te envia, através dos fatos que vêm de se dar. Deus vos pague a todos e até breve, se Ele, o Bom Deus, assim quiser. Eu devia ter aprendido antes a fazer a Vontade de Deus, em lugar de impor a mim e ao próximo as tristes e feias vontades de certos homens, daqueles que corromperam a Doutrina do Senhor.
– Eu, por enquanto, nada entendo de Doutrina, meu irmão – disse o advogado.
– Até breve – replicou-lhe o padre – e trata de aprender a Doutrina da Verdade, que isto mandam que te diga e eu sei que é o que convém.
Saído ele, veio uma nossa irmã, progenitora de ambos, assim dizendo:
– Tomo este aparelho – foi ela dizendo – enquanto meu coração de mãe sente júbilos celestiais! Meu filho, que ainda vives a vida carnal! Desperta a todos os nossos para o conhecimento da Verdade! Fala com desembaraço, com tolerância e com firmeza ao mesmo tempo, para que te faças o cicerone de muitos, para que os livre de tremendos contratempos no porvir, quando soar a hora do desencarne. Eu quis ter um filho médico, um filho padre e um filho advogado. Tive-os, bem sabes, meu filho; mas somente agora começo a me sentir feliz... Deixem-me chorar... Eu quero derramar lágrimas... Quero que elas digam ao Bom Deus o quanto me sinto hoje feliz, pelo fato de estar reparando alguns males, males que pratiquei sem saber, julgando que fazia a Sua Vontade! ... Espero, meu filho, que sejas para com os outros parentes a voz que adverte, a voz que ilustra e a voz que endereça aos rincões da consoladora Doutrina do Cristo. Não daquelas que em nome de Deus e do Cristo ensinam a blasfemar contra as verdades de Deus e do Cristo, mas sim daquela que se fundamenta na Lei de Deus, no Amor e na Revelação. Até logo e não olvides a tua obrigação. Lembra-te filho, que acaso não existe... Há, em tudo isto, a Vontade de Deus, que se impõe através das leis e dos acontecimentos que as leis fazem eclodir. Deus vos pague a todos, Deus vos guie os passos durante a vossa peregrinação pelos caminhos do mundo.
Foi, deveras, o começo de uma gloriosa jornada para aquela família; uns após outros foram vindo, foram entrando para a Doutrina do Senhor. O advogado se fez um dos grandes na oratória espírita, tendo feito imenso número de prosélitos, de estudiosos da Doutrina. Ao desencarnar, estando presentes seus familiares e muitos mais, veio ele a reconhecer as vantagens do trabalho fiel. Porque é feliz o espírito que, ao desencarnar, tem pela frente aqueles que foram indicados para o serviço de recepção, de boas-vindas a estes planos de Luz e de Paz.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Deus é igual para com todos os Seus filhos, aos quais sustenta e determina, após havê-los criado ou manifestado; é do imo que os torna sujeitos às Suas leis, e leis que são fundamentais, sem jamais ter outorgado a instituição alguma o direito de ter autoridade sobre eles, para ganhá-los ou perdê-los.
É um tremendo ato de blasfêmia, meus irmãos, dizerem certos cleros que representam a Vontade de Deus, ou que Deus os tenha edificado para serem Seus representantes. Jesus jamais empregou a palavra que corresponde a igreja, nunca fez menção a instituição alguma, pois sempre falou em Doutrina, salientando que não era Sua e sim do Pai. A palavra igreja quer dizer reunião de pessoas, em grego, e nada tem que ver com a Excelsa Doutrina, que é livre pela Vontade de Deus, que jamais será escrava de homens ou de invencionismos humanos quaisquer.
A Verdade, como Doutrina, é Lei, é Amor e é Revelação! Em matéria de Moral, de Fraternidade e de Mediunismo, quem poderá se afirmar o proprietário?!
Entre o Pai e o filho estão apenas as leis fundamentais e a responsabilidade do próprio filho; afora isso, irmãos, estão as mentiras forjadas por homens, mormente aqueles que, cuidando de seus imperialismos sanguinários, no quarto século inventaram o pior dos cleros, aquele que em nome do Deus, do Cristo e da Religião impuseram ao mundo a maior soma de erros, de idolatrias e de crimes de variada ordem.
Fica bem lembrado, irmãos, que cada um tem obrigação de conhecer a Doutrina trazida pelo Cristo para toda a carne, para que, uma vez conhecendo, procure ser moralizado, fraterno e capaz de honrar a Revelação como instrumento de informes, de advertência e de consolações várias. E isto, fica repetido, para efeito de responsabilidade individual, porque a cada um será dado segundo as suas obras, e não segundo sua religião ou coisa que se pareça com religião.
Não podemos, irmãos, falar de outro modo, quando investidos de responsabilidade, quando postos a funcionar como servidores da Vontade de Deus, que se expressa através da Lei, do Código de Moral que em si comporta o Amor e faz honra ao ministério da Revelação. Não podemos encobrir peçonhas e maldades, mormente quando estas se apresentam como se fossem virtudes, pelo fato de se imporem em nome de Deus, querendo passar como se fossem representantes de Sua Vontade.
Ninguém duvide de que a verdadeira autoridade está na Doutrina, à qual o Divino Modelo subordinou-Se, e não em autoridade temporal qualquer; muito menos ainda, irmãos, naquela instituição que é a corrupção, a imoralidade, aquele instituto tenebroso que figura no Apocalipse, do capítulo treze em diante, como sendo o pervertor e o blasfemo, que se levantou na cidade dos sete montes.
Quanto a Jesus, ninguém olvide que foi apresentado como Divino Modelo; que é para ser imitado em pensamentos, sentimentos e atos, nunca porém para ser bajulado através de fantocherias, de salamaleques inventados por homens, principalmente por aqueles que transformam a fé em meio de vida e capacho de mil e uma idolatrias e cambalachos políticos.
Este o caso em xeque, defronte a um frade, que se prontificou a ser psicometrado; porque ele pensou ser autoridade espiritual, em virtude de pertencer ao clero romano, tendo sofrido o impacto da Verdade, que graças a Deus vale como Verdade e não como religião, ou como simples facção humana, eivada de politiquismos e de grandes interesses mundanos.
Zainer, tendo pela frente o frade, assim viu e anunciou:
– Vejo o senhor, frade, muito cheio de preocupações sectárias... Vejo que os seus pensamentos não sobem, não atingem o plano espiritual, porque chocam-se com a Verdade, sofrendo repulsão... O senhor olha muito pela sua maneira de saber e de crer, sem se importar com os problemas da Verdade, que é a Vontade de Deus...
O frade estrilou:
– Pois se sou um ministro de Deus!...
Paciente, Zainer replicou forçado pelo plano espiritual:
– É um ministro de seita, é um ministro de sua maneira de ver... Deus quer a Moral da Lei, Deus quer o Amor do Cristo, Deus quer o cultivo da Revelação que adverte, ilustra e consola... O senhor, frade, olha muito para fora e nada para dentro... O senhor é vazio por dentro...
– Sou fiel à Igreja! – esbravejou o frade, colérico.
O plano espiritual mandou dizer:
– Melhor fora que fosse fiel à Verdade, que como Doutrina trazida pelo Cristo representa a Vontade de Deus... O batismo de espírito veio por Jesus Cristo, a fim de ficar como instrumento de advertência, informações e consolações... O senhor é, apenas, um representante da igreja inventada por Roma, para arrecadar dinheiro e sujeitar os crentes ao Império, no quarto século. Ser cristão é uma coisa, ser católico é outra coisa... O senhor está fora da Lei, do Amor e da Revelação, para estar dentro da invenção romana, invenção que foi imposta ao mundo ocidental a ferro e a fogo, à custa da inquisição...
O frade bramiu:
– Eu sou da Igreja!... Que é a Igreja?!...
– Jesus trouxe, para toda a carne, a Doutrina Excelsa... Ela se fundamenta, como temos dito, na Lei, no Amor e na Revelação... Os caminhos do espírito devem ser o Amor e o Conhecimento... E os objetivos a Pureza e a Sabedoria... E pelos atos, pelas ações, haverá a responsabilidade individual... Não existe instituição alguma temporal, de homens, que seja autoridade para libertar ou condenar a quem quer que seja...
– Que faço eu, então?!... – perguntou o frade, abismado.
E a resposta veio, pronta e imediata:
– O senhor respira, come e bebe, tendo o seu meio de vida... O seu comércio é esse, assim como outros comerciantes do mundo... Quanto a ser cristão, frade, isso é outra coisa, e coisa muito diferente!...
O frade empalideceu, perguntando:
– É... É coisa diferente?!...
Deram-lhe a explicação:
– Procure conhecer e ensinar isto: – a imortalidade do espírito, sua evolução e responsabilidade; sua reencarnação e comunicação, além de dizer que os mundos são habitados. Não se esqueça de dizer que é crime ajoelhar diante do pau e da pedra, bem assim como diante de homens fantasiados, que pretendem que as fantasias sejam autoridade espiritual...
O frade exclamou, patético:
– Seria preciso revolucionar tudo!...
Mandaram Zainer dizer e ele disse:
– Os renovadores já passaram pela Terra... A restauração, em base, já está feita... Estude Wicliff, João Huss, Lutero, Kardec... Procure conhecer o trabalho de todos aqueles que Jesus enviou ao mundo, para repor as coisas no lugar... Não se esqueça de que a obra da corrupção, levantada em Roma, na Roma do quarto século, devia e deve ter fim, para que a Excelsa Doutrina brilhe, de novo, no meio das gentes e até aos extremos da Terra, conforme está escrito no primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos...
O frade pôs-se de pé, andou para cá e para lá, vindo a murmurar:
– Agora sou velho... Agora não posso...
Ninguém mais disse nada, tudo ficou reduzido a silêncio, e enigma. Pouco depois o frade se foi, confuso e acabrunhado, meditativo e triste. Parecia um novo Caifaz em face da volta espiritual de Sua Excelsa Vítima. O homem que vivera fazendo confusão entre igreja e Doutrina, que tomara por tantos anos a nuvem por Juno, dali saíra de todo quebrantado e reduzido às suas justas medidas.
Alguém, deste lado, designado para acompanhá-lo, foi vê-lo a compulsar livros e a fazer comparações entre a Doutrina vivida por Jesus e o Espiritismo. E viram que o frade, sem deixar de ser o mesmo comerciante idólatra, passou a falar de outro modo aos fiéis, lembrando que ao menos se fizessem grandes atos de caridade, para possivelmente serem acobertadas algumas culpas infalíveis... Aprendeu, pelo menos, a confiar nas boas obras, depois de ler com atenção o último capítulo do Apocalipse, aquela voz que ignora igrejas estas ou aquelas e que lembra a responsabilidade dos atos individuais.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Existem criaturas que se abismam, que não compreendem o porquê de recomendarmos toda a atenção possível para com os Mandamentos da Lei de Deus, que foi mandada aos homens, em retransmissão, através de anjos, ou espíritos, pela função missionária de Moisés, um dos maiores preparadores do Caminho do Senhor, da função missionária de Jesus, o Ungido ou Cristo.
E nós também estranhamos que, sendo alguns espiritistas, ignorem que a Lei de Deus é completa, por conter em si todo o testemunho em favor da Moral, do Amor e da Revelação.
Como, porém, em matéria de penetração e assimilação ninguém pode fazer mais do que aquilo que a sua evolução lhe permite, eis que vamo-nos contentando com o pouco que é possível colher. Errados seríamos nós, procurando fazer com que todos entendessem, de um golpe, tudo quanto deverá vir a ser entendido algum dia, quando a evolução assim lhes permitir.
Não é certo que Jesus tinha muito mais para dizer, e não o disse, em virtude da incapacidade de assimilação dos contemporâneos? E como, irmãos, nós que ora fazemos o serviço de movimentação do Consolador, iríamos pretender que todos tivessem capacidade assimilativa total?
Entretanto, devo dizer, é chocante haver espiritistas que ignorem a importância da Moral, ignorando também a significação da Lei, quanto ao fenômeno da comunicabilidade dos espíritos, anjos ou almas, que no fim resume a mesma coisa.
É até algum tanto acabrunhante, irmãos, que muita gente se acredite recomendada perante Deus, pelo fato de viver em contato com o mundo espiritual, através de suas ou de alheias faculdades. Cumpre saber que as faculdades, como a própria palavra indica, sejam apenas ferramentas, instrumentos de trabalho, aquilo que pode muito bem ser até muito mal aplicado, como o fazem os macumbeiros e outros, aqueles que mercenarizam os trabalhos mediúnicos.
Joaquim veio um dia, trazido pela sua irmã Zulmira; e veio cheio de si, parecendo, para ele, que havia açambarcado tudo quanto fosse profetismo ou mediunismo. Era a presunção em pessoa, pelo simples fato de ser um vidente regular, capaz de ver alguns espíritos, sem saber, é claro, que ninguém na Terra, como encarnado, é médium integral, é perfeito no que quer que seja.
Estando a ser psicometrado, disseram-lhe do seu passado, do seu presente, do seu futuro em linhas gerais, ficando as variações sujeitas aos atos que viesse a praticar. Porque o futuro está delineado, de certo modo, podendo ser imensamente alterado pela conduta da criatura. Assim sendo, feliz daquele que procura se harmonizar com a Grande Lei de Equilíbrio, de quem os Dez Mandamentos são a expressão intelectual, para conhecimento humano ou efeito doutrinário.
– Como poderiam falar sobre minhas faculdades e trabalhos? – interrompeu ele ao Guia de Zainer, reparando que não falava com o entusiasmo que para ele seria desejável, normal e obrigatório.
– Procure fazer o máximo em benefício alheio, para que reverta em seu benefício – foi-lhe dito com presteza, pois tudo nele estava sendo visto, visto e até mesmo deplorado.
– Mais do que faço e melhor?!... – estranhou ele, cheio de si.
E a réplica veio, direta e franca:
– Muito mais e muito melhor! Não avalie tanto os seus merecimentos...
Quase irônico, objetou:
– Quem está me vendo tem qualidades para falar assim?... Suponho que estejam vendo muito mal!...
Houve entendimento entre quatro elementos e o Guia dele, para que visse o ambiente espiritual reinante; e quando foi-lhe ordenado ver, mostraram-lhe muito menos do que a quarta parte do que poderia ser visto.
– Vejo perfeitamente! – exclamou, cheio de si.
– É muito pouco... – foi-lhe dito.
– Não vejo mais nada, não creio haver mais o que ver! – refutou ele.
Fizeram-lhe ver um pouco mais, pelo que ele disse:
– Chegaram mais espíritos brilhantes!...
Observaram de pronto:
– Já estavam aqui, como o estão muitos outros, a quem o irmão não poderá ver, enquanto se julgar aquilo que não é.
Joaquim emudeceu; e o mentor adiantou:
– Tenha muito cuidado, irmão Joaquim, com a sua conduta. Observe a Lei, tenha cuidado com os seus atos. Fiscalize a sua Moral, a quantia de Amor que põe em prática na vida cotidiana e o modo como exercita a Revelação. Tenha a Jesus por Divino Exemplo...
Joaquim interrompeu de novo ao Guia de Zainer:
– O Evangelho eu sei de cor, irmão!...
E o Guia disse-lhe:
– O Divino Exemplo de Jesus é que é o Evangelho, não porém as letras adulteradas e adulteráveis. Jesus viveu a Lei, em obras e não em conversas apenas, para que Seu Exemplo ficasse como maestria inabalável. E tendo deixado a Doutrina Perfeita, porque edificada sobre a Moral, sobre o Amor e sobre a Revelação, não cogitou de escrever. Quem viveu e deixou a Doutrina Excelsa e Viva, não tinha necessidade de andar estabelecendo a idolatria da forma. E se quiser bem entender, viva a Moral da Lei, e cultive a mesma Moral nos trabalhos espíritas. Há de reparar que, por mais que faça, muito longe estará do Modelo Divino, que muito fez e sem a jaça da presunção; que tudo fez de modo simples e humilde, ainda que fosse Aquele que tinha o espírito de profecia sem medida.
Joaquim ficou algum tanto aborrecido, pelo fato de não lhe termos feito rasgados elogios às suas faculdades e trabalhos mediúnicos; a verdade, entretanto, é que o pior não lhe foi dito, por medida de piedade e por ser lei a relativa liberdade a que todo o encarnado faz jus. Vimos, todavia, que nele todo havia mais presunção do que reais merecimentos, além de ser bem minguada a sua vidência.
Quando Joaquim se foi, alguém que estava presente, também espírita, fez a seguinte pergunta:
– É tão importante assim a Lei de Deus?
Zainer ia responder, mas não foi necessário, porque alguém que se achava oculto, usando de poderes que eu então ignorava, fez reboar no recinto:
– Pergunte a Jesus, através dos escritos que aí tendes, se existe maior documento sobre a Terra! E se duvidar dos escritos, pergunte a algum espírito, a alguém que seja conhecedor, que possa falar com autoridade, se da Lei algum ceitil passará, sem que tudo se cumpra! E se ainda duvidar, pergunte a si mesmo se está vivendo consoante as recomendações da Lei, quer seja em Moral, quer seja em Amor, quer seja em respeito à Revelação.
O que vimos, de onde mais e melhor se pode ver, é que o homem saiu macambúzio, constrangido e pensativo. Um amigo e companheiro de trabalhos socorristas, vendo aquilo, cheio de unção comentou:
– Certa vez, diante dos escribas e dos fariseus, Jesus perguntou: – “Qual de vós me pode argüir de pecado?”
E depois de meditar um pouco, ele mesmo balbuciou:
– Em verdade, Renato, o termo de confrontação é a Lei de Deus; ela contém a Doutrina Integral, em teoria e em prática, porque o mesmo Jesus que a transmitiu por ordem do Pai, veio vivê-la mais tarde entre os Seus tutelados, para que a Lei fosse teórica e praticamente conhecida, posta integralmente ao alcance de todos os filhos de Deus, a quem Jesus vigia, instrui e orienta, através do Consolador. Moisés foi o instrumento carnal, o médium que serviu de transmissor, nada mais.
Foi com bastantes pensares que dali saímos, naquele dia, por causa de tudo aquilo que vimos e ouvimos. Embora sendo muito livres em relação aos encarnados, temos muito que saber e realizar ainda, por causa da evolução que ainda nos resta realizar e também pelos erros que ainda estão para ser resgatados. De um modo geral, temos ainda muitas contas a ajustar com a Lei de Equilíbrio, por termos andado a contrariar o Código Divino. As marcas da idolatria, os sinais das falsas juras, os estigmas do sangue derramado, os vincos deixados pela inveja, pelo egoísmo, pelos adultérios, por tudo quanto não foi honrar o próximo e beneficiá-lo sempre que possível, de tudo isso ainda temos para ajustar contas. E quando se nos deparam oportunidades de contato com elementos de planos mais altos, a consciência brada, clama em benefício próprio, sopesando fatos delituosos e rogando oportunidades de resgate, condições e situações que favoreçam o trabalho de libertação.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Quantas vezes imaginamos que estamos com a razão, ao pensar de certo modo, ao agir de tal ou qual maneira para com determinadas pessoas. Inconscientes de tudo em matéria ideoplástica; ignorantes de tudo sobre as leis de criação mental; irrefletidos a mais não poder, com respeito aos problemas do espírito, nos entregamos aos desvios mentais, causando males a nós mesmos, cursando a esteira daqueles males que a medicina não pode curar, além de agravar o espírito em face da Lei.
A encarnação nos enfronha em meio denso, pesado, além de nos articular com o complicado mecanismo físico; ela nos coloca frente a frente com todo um mundo de relações, de choques e entrechoques, de onde resultam possibilidades várias de males pessoais e alheios.
Vejamos, por exemplo, este diagrama geral.
No centro, diremos, está a Centelha Divina, a Partícula de Deus, em estado de virtude dormente, de valor espiritual em potencial. É um pedacinho do Céu que não se despertou ainda, que está para acordar para a Luz, a Glória e o Poder. E no curso da evolução, atravessando estados de inconsciência total, de automatismo inconsciente, de automatismo instintivo, vem aflorando e vem dar na espécie humana, vem atingir o estado de consciência individual, de razão, de capacidade racional.
Porém, como tudo obedece à lei das gradações, a entrada no ciclo da razão também tem muito que evoluir, para chegar a ser alguma coisa que de fato se possa chamar de razão. Pela razão investiga, acumula experiências, aumenta o potencial da mesma razão, chegando a ser realmente uma potência intelectual.
Antes disso, porém, tem muito que fazer, dará com os costados em muitos entraves, sofrerá tremendas quedas, reparará bastantes faltas, aprenderá a lição da prudência e se imporá severa conduta em matéria de observações, julgamentos e conclusões.
No homem encarnado, por exemplo, temos o Centro Psíquico, o espírito; a seguir temos os envoltórios energéticos, que se vão diminuindo de intensidade, até atingir as primeiras partículas do corpo astral, que outros acham de subdividir em causal, mental e etérico. A seguir temos a gama física, composta de gases, vapores, líquidos e sólidos.
Nesta disposição física, disposta para funcionar como organismo ou todo mecânico, há umas partes glandulares, um número de órgãos que funcionam como que ligados diretamente ao perispírito, ou corpo astral, onde se sabe que começa a ter origem e função o sistema nervoso geral.
Portanto, ou conseqüentemente, assim que o Centro Psíquico emite uma vibração, harmônica ou não com a Lei de Equilíbrio, haverá reflexo imediato sobre o sistema nervoso, que por sua vez o transmitirá ao sistema endócrino, obrigando-o a alterar a natureza das secreções. E havendo esta alteração, por certo haverá boa ou má saúde, assim como seja feliz ou infeliz, harmônica ou desarmônica a vibração emitida pelo espírito ou Centro Psíquico.
Raivas, ódios, invejas, remorsos, etc., todos os pensamentos que não são harmônicos, que fogem à Lei de Equilíbrio, tendem a envenenar, a matar aos poucos, a forjar a dor e a encurtar a vida. A Sabedoria Antiga já ensinava que, tendo começo na centelha psíquica, e atravessando chakras e plexos, as vibrações da centelha atingem o corpo físico, seja para curar ou adoecer, assim como sejam boas ou más as vibrações emitidas.
Jasmin, a jovem que chegou um dia, era nascida na Índia, era filha de árabes. Trouxe com ela um lenço, muito bonito, para ser psicometrado. Nada falando, entregou o lenço a Zainer, para ver o que Deus permitisse. E Zainer, apanhando a peça entre as mãos, descreveu:
– Vejo um espírito segurando um lenço igual a este... Dizem-me que é o seu duplo etérico e que o espírito foi a dona do lenço... O espírito, que é uma jovem, aponta para a senhorita presente, fazendo sinal de que precisa de suas orações... Não está sofrendo horrores, mas está muito acabrunhada, grandemente triste, como quem se arrepende dos erros cometidos...
Parou de ver e de falar, por um pouco, recomeçando:
– Aqueles quadros se foram e outras coisas estão sendo vistas... Aparece a jovem, porém como menina, vivendo em país oriental... Vejo que cresce, que se faz moça, que começa a namorar... Surgem brigas, rancores, fuga... A jovem foge de sua casa, viaja para muito longe... Prossegue a vida, cheia de percalços, começando as rusgas, as brigas violentas entre o casal...
De novo cessa de ver, estaca, para depois prosseguir:
– Vejo a mãe da moça... Dizem-me que não é mãe, que é amásia de seu pai, porque a mãe falecera ao nascer da menina... Esta mulher está fazendo feitiço, está lidando com feiticeiros, está entregando roupas da jovem a uma outra mulher, sendo que esta se liga a dois homens, que vão para um bosque e ali enterram objetos e praticam gestos, e ali fazem coisas infernais... Sombras se levantam, tomam aspecto medonho, atravessam os ares e vão na direção... Vão atingir a jovem e seu marido, torturando-os, fazendo com que briguem, que se batam e se firam...
Outra estacada, novo silêncio, para logo recomeçar:
– A jovem visita uma senhora, alguém que está com maus envolvimentos e lhe fala... A mulher ouve, escreve e guarda o papel... A jovem parte, a mulher entra em contato com os seus espíritos malfazejos, espíritos escuros, embuçados... A jovem reaparece, escuta a mulher feiticeira e lhe entrega algum dinheiro...
Torna a calar por alguns segundos, depois continua:
– Cruzam-se espíritos trevosos e sombras malignas... Lutam entre si e se batem dezenas de vultos negros... Sombras se envolvem nos ares, caindo por terra, penetrando chão adentro... Observo que todos sofrem, que todos são vítimas de si mesmos, de seus atos malignos... A amásia fica doente, vai parar na cama e se definha em pensamentos tristes... Vê quadros medonhos, porque fica presa de sentimentos de culpa...
Outra mudança de quadros e o psicômetra estaca; a seguir expõe:
– A jovem separa-se do marido, trabalha para viver, definha e também vai parar num leito, onde vive de esmolas... Vejo as duas a um só tempo, num mesmo quadro, vítimas de elementos malévolos, de envolvimentos negros e opacos...
Torna a parar e logo diz, admirado:
– Ambas deixam os corpos e se engalfinham!... Lutam como se fossem feras e há muitos vultos negros em redor, alguns que gritam, outros que gargalham, outros que atiçam... Afundam as duas, vão descendo para a subcrosta, vão parar onde estão as sombras negras que se chocaram e afundaram... Continua a luta, prossegue a refrega, estando as duas esfrangalhadas, sujas, ensangüentadas...
Outro estacato e nova exposição:
– Descem alguns espíritos e retiram a jovem das garras da amásia de seu pai, que fica lutando contra as sombras, porque parece ter enceguecido... A jovem, todavia, é tratada pelos servidores da Lei... Explicam-lhe, falam-lhe... Ela ajoelha, roga a Deus perdão, chora copiosamente.
Novo silêncio, nova explicação:
– Colocam a jovem perto desta senhorita, porque esta senhorita faz muitas orações e se envolve em luminosidade verdeada... Ela, a jovem, diz que são primas em segundo grau... Afirma que foram parentes em outras vidas e roga suas orações...
Zainer anuncia o fim dos quadros. Comparece o Guia e fala aos presentes:
– Meus irmãos, tudo isso é comum e é muito velho sobre a Terra. Infelizmente é assim, neste pobre mundinho, onde as grandes lições do Céu ficam submersas, perdem-se no emaranhado materialista e animalizado das funções humanas, da incompreensão e do egoísmo, da inveja e dos ódios vingativos. Tende muito zelo, amigos, pelo vosso patrimônio espiritual, pela vossa libertação, pelo necessário trabalho de iluminação interna. Lembrai-vos, o Reino de Deus não vem de fora, deve ser erigido no imo de cada filho de Deus! Escutai o Cristo externo, para o grandioso, para a gloriosa manifestação do Cristo interno! Buscai os caminhos do Amor e da Sabedoria, patenteai em vós mesmos a Pureza e o Conhecimento!
Deu alguns segundos de tempo e concluiu:
– Estas duas irmãs, como foi visto, não se prejudicaram somente pela guerra feiticeira a que se entregaram; não foram apenas vítimas de espíritos malignos; elas foram, sabei-o, vítimas de suas vibrações mentais raivosas, fazendo o sistema endócrino alterar-se, obrigando-o a envenenar o corpo com as suas secreções venenosas. Tende, pois, em mente, que os pensamentos infernais fazem o inferno comparecer e dominar em toda a pessoa, do espírito ao corpo, através da gama que é formada a começar dos envolvimentos energéticos. Porque a centelha psíquica vibrando, movimenta os envolvimentos energéticos, ativa os elementos da gama astral e força o sistema nervoso em geral, de onde surtem as más funções glandulares, o que motiva os tremendos envenenamentos do corpo somático. Se quereis ter em dia a saúde do corpo, tende em dia a saúde do espírito! Vibrai Amor, semeai Harmonia, para colherdes Luz, Glória e Poder! Sim, a vida carnal terá que vos entregar ao plano astral; e vireis a ser, irmãos, assim como vos houverdes feito, porque a morte não faz santos nem fabrica devassos!...
Não espereis pelos mistérios, nem pelos milagres, porque caireis em desolação!... Movimentai vossas virtudes, trabalhai em vós próprios, honrai-vos como filhos do Pai Divino!... Não descureis da Lei de Equilíbrio, que está dentro de vós mesmos, para vos recompensar pelas mesmas obras!...
Aquela sessão de psicometria fora um colosso, porque dela surtiram grandes lições de caráter advertencial. Notamos que alguns irmãos, que haviam entrado com a aura mal colorida, saíram com ela melhor, porque os acontecimentos obrigaram aos melhores pensamentos. E uma vez mais, para quem tiver ouvidos de ouvir, aqui fica lembrado que importa muito aprender e orar em conjunto, enquanto se está viajando pela carne, em virtude das permutas fluídicas, que são curativas.
Nós mesmos dali saímos perfeitamente felizes, porque vimos as grandes modificações operadas em alguns irmãos. Isto porque, devemos confessar, grandes mágoas nos custam os vossos fracassos, o vosso descaso pelas coisas do Céu, que tendes em vós próprios e vos cumpre desenvolver. É penoso para nós, ver-vos apáticos em face do Reino do Céu, que não virá com mostras exteriores, que jamais poderá ser o resultado de vossos descasos ou da compra de idolatrias e simulações inventadas pelos cleros. Conhecei e amai, dai de vós o melhor, em vosso próprio beneficio!
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Involução significa ignorância; ignorância significa pensar, sentir e agir de modo contrário à Lei de Equilíbrio, de quem a Lei de Deus é o reflexo intelectual e doutrinário, é a pedra fundamental do edifício doutrinário verdadeiro.
Depois de uma pessoa ser desconhecedora do que é melhor, certamente fará uso do que é medíocre ou pior, e com toda a certeza de que está agindo da melhor maneira, perante Deus e os homens. Lembrai-vos daqueles que esfolaram os Profetas, tendo em mente aqueles que martirizaram João Batista, Jesus e os Apóstolos; todos eles, os fanáticos e assassinos, tendo a Lei de Deus nas mãos, e se dizendo dela executores, transformaram-se em contraditores, pervertores e entrevados.
Toda a história religiosa da Terra está cheia de exemplos formidandos, de provas daquilo que pode, em maldades, em perversidades, o fanatismo religioso, a ignorância das verdades fundamentais. E prova, também, o quanto sobe de monta o perigo dos fanatismos, quando os fanáticos fazem disso tudo o seu meio de vida. As duas forças unem-se, conjugam-se, engendram todos os recursos para a luta nefanda e infernal; e surgem, então, englobados, os mais terríveis inimigos do homem, lutando contra o próprio homem.
Fanatismo religioso, somado aos imperativos da pança, do orgulho, da vaidade, dos assanhamentos político-econômicos, por certo resultam em trágicos acontecimentos, em transgressões monumentais, em crimes de toda ordem.
De par com os erros maiores, de alcance coletivo, marcham os individuais, caminham os menores erros.
Consuelo metera-se em uma subseita protestante, e como tinha muito em si, no seu histórico espiritual ou cármico, para ser fanática, deu entrada numa fase de verdadeira psicose doentia, de grande ou intensa morbidez sectária.
Atraiu entidade espiritual de igual matiz vibratório, vindo a ficar, aos poucos, subjugada ao tal espírito. Com isso, é claro, foi revelando alteração mental, causando os primeiros transtornos à família.
Tiveram início, então, as visitas médicas e os esforços econômicos da família, sem resultado algum, porque o mal residia e imperava na esfera espiritual invisível. O mal de Consuelo era por ação reflexa, é claro, com a participação de sua vontade, e vontade que se estribava nos lastros cármicos, nas tendências criadas em outras vidas, quando fora impetuoso inquisidor e violento senhor de terras.
Um dia, falando pela milionésima vez, sua irmã carnal ouviu de alguém:
– Por que não tentar uma sessão de Espiritismo?
– Ela odeia todos os espíritas! – devolveu a irmã.
– Ela não é Deus para julgar nem está em condições de ser ouvida – replicou a interlocutora.
A irmã carnal da interlocutora falou:
– Isso já nos foi aconselhado... Mas eu nada digo, porque ela é casada e o seu marido também é da mesma religião. Não se pode falar com ele, da mesma forma que não se pode falar com ela. Os dois são fanáticos!... Além disso, meu cunhado ganha a vida ali, é o zelador e o guarda do templo. Sabe como é, como são as coisas?...
A interlocutora acrescentou:
– Mesmo assim, eu falaria. Ela não é sua irmã? O mundo não está cheio de religiões e de outros modos de ganhar o pão de cada dia?
A irmã da enferma balbuciou:
– Salvo se a senhora falar... Eu não falarei, porque eles estão meio zangados conosco, por causa disso mesmo; já foram dizer isso e outras coisas, julgando eles, ou ele, que fomos nós os inventores.
A interlocutora prontificou-se:
– Prepare uma oportunidade, que hei de falar!
E chegou mesmo a hora dela falar, e de falar com autoridade, porque estava de todo protegida. O marido da enferma tudo ouviu e calou, sem dizer palavra, sem dizer sim nem não.
Na hora da despedida, assim falou a conselheira:
– Quando quiser, fale comigo, que também já precisei do Espiritismo.
E, dias depois, foi preciso mesmo. O marido foi ao seu encalço, porque a esposa começara a fazer pregações em voz alta, no fundo do quintal. Era como alguém que desejava salvar o mundo, assim como aquele que a obsidiava, que fora também um fanático, morrendo em um manicômio. Era apenas um, como outros tantos, mais ou menos fanáticos, que pensam em sanar o mundo, em transformar a Humanidade num todo perfeito, enquanto que eles mesmos vivem a dizer e a fazer coisas erradas, por não compreenderem as leis do mundo e menos ainda as leis do espírito.
Primeiro sujeitaram a mulher a uma análise espiritual de caráter mediúnico; a seguir mandaram-na para a sessão de psicometria. Uma vez diante de Zainer, disse ele:
– Fala-me o Guia que, em virtude de ser um espírito sujeito a ímpetos, por falta de valores conscientes e analíticos, tomou-se presa de idéias fixas e se entregou de todo ao curso mental nada interessante. Atraiu, também, uma entidade inconsciente, doentia, que lhe está ao lado, por sintonia vibratória. Um duplo caso de esquizofrenia, transformado num caso de dupla obsessão, com graves pronunciações patológicas para a irmã enferma. Se isto for adiante, logo teremos as alterações das células cerebrais físicas, porque as células da gama astral já se encontram bastante alteradas, pela pressão do irmão que se lhe encostou. Embora em dose mínima, por ora, já se notam cargas nocivas, de energias doentias a lhe atrofiarem o funcionamento de certas zonas cerebrais.
– Podemos tentar a incorporação do irmão que se acha encostado? – perguntou o presidente.
– Por ela, não; por outro médium, sim – respondeu o Guia.
Foi feito o esclarecimento da tal entidade, ficando ela entregue, a seguir, a um nosso companheiro, que a entregaria na região espiritual necessária, para também continuar o seu tratamento. Porque no mundo espiritual, nas proximidades da crosta, as humanidades vivem em condições que pouco diferem da vida carnal, havendo de tudo quanto funciona na crosta, em matéria de instituições.
A irmã enferma foi entregue ao marido, com ordem de dar-lhe os medicamentos receitados pelo médico do Centro, por causa do abalo sofrido. Quando estivesse em condições, então se faria alguma coisa pelo seu desenvolvimento, se fosse julgado útil ou necessário.
Quanto ao Guia, falando sobre o acontecimento, aconselhou:
– Já se vos disse, irmãos, que importa crescer interiormente, que importa se elevar o filho em Amor e Conhecimento, até integrar-se na condição de Espírito e Verdade, assim como o Pai deseja que Seus filhos venham a ser. Isto, porém, não se poderá conseguir por intermédio de dogmatismos, de fanatismos sectários, de clerezias quaisquer; isto, irmãos, se consegue à custa de conhecer as leis de Deus e de sabê-las aplicar na vida cotidiana. Porque aquele que aprende com Deus, que é Infinito, jamais se faz restrito, misoneísta, sectário e fanático. Estes defeitos, irmãos, vivem em função da ignorância, por isso mesmo que seus escravos não querem aprender com Deus, antes pretendem ensinar a Deus. Fugi, pois, de semelhantes coisas e ações, para vos não agravardes para com a Lei da Harmonia.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Tudo na Ordem Divina, que quer dizer em Deus e em Sua Criação, deve merecer o respeito máximo da parte dos filhos de Deus. Porquanto, querendo ou não, tudo é por Lei, nada é sem Lei. Já se disse que as leis regentes são a moral dos fenômenos; e ninguém poderá pretender que existam leis fundamentais inúteis ou que não impliquem em responsabilidade.
Sendo assim, importa que se observem os acontecimentos cíclicos, para fim de conhecimento e de observâncias à base de leis, de trabalhos e de merecimentos.
A questão ora em xeque é alguém que se apresenta em face do Cristo e de Sua função missionária; é o fato de quem pensa que sabe muito e faz apenas serviço de traição a uma Causa, que é a Causa Planetária, que é o destino da Humanidade terrícola, de toda a Demografia Planetária.
Vamos ao fato, que fatos representam o porquê, a razão de ser do Universo e de tudo quanto nele existe.
Para efeito de estudo, precisamos discutir a função missionária de Jesus, sem discutir, por ser pueril, a Sua capacidade Moral, a Sua condição de espírito capaz de viver a Lei. Um espírito cristificado desde antes de haver Terra, de existir este mundinho, do qual foi o engendrador e é o Diretor, jamais seria um fracasso em Amor e Sabedoria. Disto, pois, não se discuta, não se faça praça.
Quanto à função missionária, que foi cumprir a promessa do derrame de espírito sobre a carne, disto importa tratar, porque a grande maioria vive em perfeito estado de inconsciência deste fato.
Dentre aqueles que se dizem, que pretendem ser iniciados, ou que se classificam a si mesmos de bom quilate espiritual, dentre eles é que surtem grandes desconhecedores dos acontecimentos cíclicos e da responsabilidade que daí decorre para o Planeta em geral.
Dizem-se conhecedores e vivem em regime de arcaísmo; pretendem ser mais e melhor do que os outros e fazem espiritualismo à maneira das crianças retardadas, que não saem do abecedário; concordam em teoria com a evolução e se escravizam aos conceitos e preconceitos de portas fechadas, de mistérios e de enigmatismos.
Tudo isto, irmãos, corre muito e prejudica a obra geral de evolução, pelo simples fato de ser marginal ao trabalho messiânico de Jesus, o Cristo Planetário, que veio abrir as portas da iniciação para toda a carne; que veio trazer para o meio da rua, aquilo que Kabalistas, Essênios, Órficos, Sibilinos, etc., viviam a cultivar em secreto, de modo oculto ou esotérico.
Falando na Verdade, fazem o serviço da mentira; pregando a Evolução, não compreendem o trabalho a ser feito e prejudicam, porque seus intentos de separação e de ocultismo, de modo geral, prejudicam a ordem cíclica, barram o caminho evolutivo para a grande maioria. E que dizer, irmãos, daqueles que, no fundo de tudo, nada mais têm do que orgulho, do que presunção?
Porque, para falar a linguagem que convém, sondando por todas as partes, muita presunção se encontra e poucos valores de fato! Criaturas há, por esse mundo afora, que se acreditam grandes missionários, até mesmo Santos e Cristos, que em tudo provam apenas que são grandes mistificados e mistificadores!
Não sabem para si e pretendem ser mestres dos outros!
Vivem em estado de anarquia íntima e pretendem consertar o mundo!
Não se encontraram ainda e querem mostrar Deus aos semelhantes!
Não aprenderam ainda a cumprir com os mínimos deveres e se fazem exigentes em matéria de direitos!
Vivem para seus orgulhos e egoísmos e clamam pela humildade alheia!
Nada sabem dar, mas tudo pedem e com exagerada sobranceria!
Praticam atos dignos de pena, enquanto se julgam a reencarnação dos Crisnas e dos Budas, dos Hermes e dos Cristos!
Estão mergulhados no pó da Terra, onde a vaidade os atirara, e pretendem a paridade com os Ramas e os Pitágoras, que viveram para as alturas dos conhecimentos transcendentes!
Não conseguem praticar o pouco que convém e é necessário, porque vivem para aquelas práticas que contraditam a Sabedoria e Vontade de Deus!
O nosso homem de agora, todo metido em suas importâncias, por causa do grau e do título conseguidos numa escola espiritualista, só conseguia encarar os semelhantes das alturas de sua presunção iniciática. Olhava de cima e de soslaio. Se não tinha essência, pelo menos usava prodigamente os rótulos de que dispunha.
– Vejo-o – disse-lhe Zainer – a se acorrentar com grossas e pesadas correntes... O senhor mesmo se ata e se acredita muito bem posto!... Vem agora um mensageiro do Alto que proclama a necessidade de trabalhar pela Doutrina trazida pelo Cristo para toda a carne... Brada ele, em altas vozes, para que se abram as portas do Conhecimento para todos os filhos do Pai Divino... Proclama para que ninguém fique nas portas, sem entrar e sem permitir a entrada aos seus irmãos...
– Mas eu sou tudo, sou iniciado! – exclamou ele, irônico – Nosso Mestre é impessoal, está representado em todos os Grandes Iniciados! Todos os Grandes Unidos, todos Eles, são para mim iguais!
Zainer repetiu-lhe o que o mensageiro disse, como resposta:
– Na hora cíclico-histórica, em que se restaura no mundo a Excelsa Doutrina, fundamentada na Moral que dignifica, no Amor que diviniza e na Revelação ostensiva, que adverte, ilustra e consola, é ordem da Diretoria Planetária a todos os homens de boa vontade, para que se façam seus dignos obreiros, para que a estendam aos confins da Terra, como se acha escrito no primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos. Quem quiser ser discípulo do Cristo, faça obra de cristão.
O tal homem disse, cheio de si, que já era um Cristo; e Zainer disse-lhe, assim como viu acontecer:
– O mensageiro se foi, depois de haver entregue a mensagem... Nada mais vejo a seu respeito. Tudo escureceu, meu senhor, a seu respeito.
O homem levantou-se, encolheu os ombros e disse que devia ter havido alguma confusão. Depois de ter-se ido, mal satisfeito, o Guia recomendou a todos os demais presentes, os diretores do Centro, que ficaram para a reunião mensal:
– Não vos galardoeis a vós próprios! Fazei o bem, cultivai o batismo de espírito; levai avante, a todos os irmãos, a Doutrina trazida por Jesus para toda a Humanidade. Tende horror aos títulos religiosos conferidos pelo mundo; sede, irmãos, simples e humildes, assim como o foi Aquele a Quem o Pai apresentou como Divino Modelo, como Exemplo a ser imitado.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
A crosta, ou Terra sólida, é circundada de sete Céus, de sete faixas concêntricas e superpostas, que se subdividem em mais de trinta mil subcéus ou subfaixas. O mais um, que é o Céu Crístico, não se acha adstrito ao Planeta, e sim ao Sistema Solar. Os espíritos que até lá se elevaram, por evolução, ultrapassaram os limites vibratórios que jungem à lei de reencarnação.
Os Cristos, os Chefes Planetários, de Sistemas, de Galáxias e Metagaláxias, pairam acima das restrições a que se acham sujeitos os sete Céus inferiores; quando encarnam, para cumprir aquelas funções ditas de Celeste Ungido, fazem-no por vontade própria e revestidos de tremendos poderes, de altíssimas graças espirituais.
Assim sendo, à medida que se afastam da crosta, vão os Céus se tornando cada vez mais gloriosos, ou celestiais, ou divinos, até atingir aquele que é o Céu Universal ou Cósmico, o mais um, aquele que não é sujeito às leis comuns do Planeta.
E ao espírito cumpre, a ele que vem subindo a escala hierárquica, que vem atravessando a gama dos reinos, das espécies e das famílias, ir conhecendo as leis, para ir agindo com inteligência, para se ir empregando como quem sabe de onde vem, onde está e para onde marcha.
Tudo fica resumido, portanto, em saber o que é e para que finalidade existe. O mais tudo, como se compreenderá com facilidade, constitui o processo evolutivo, a trabalheira emancipadora, o cumprimento do programa autodivinizante, que se dará através do Espaço e do Tempo, e no curso das vidas sucessivas, para enfim terminar acima das cogitações de Espaço, de Tempo e de vidas sucessivas obrigatórias.
Desde os mais remotos Budas, tendo princípio em Ima, o mais remoto de todos os Grandes Iniciados, a Doutrina da Unidade, e da União, por evolução, dos filhos com o Pai Divino, tem sido ensinada. E Jesus, Aquele Celeste Ungido que veio abrir as portas da iniciação para toda a carne, através do seu batismo de espírito ou Revelação ostensiva, repisou a mesma doutrina, por ser ela simples, normal e necessária ao espírito. Isto é, por evolução dar-se-á a sintonização vibratória, a União no mais alto grau de consciência.
Trata-se, portanto, de elaborar a União no âmago, onde Deus está, como Divina Origem. Isto, irmãos, deveria ser a lição primeira, o marco inicial de aprendizagem total, da caminhada através das gradações evolutivas conscientes. Isto é, pelo menos depois que se entra na espécie hominal e se chega a ter algum conhecimento das leis de Deus.
Deveria ser, dizemos, o início da escalada evolutiva, a primeira condição imposta pelo indivíduo a si próprio.
Que seria preciso fazer, porém, para tal coisa acontecer? Naturalmente, as coisas seriam outras, se houvesse um pouco mais de honestidade e boa vontade por parte, pelo menos, das religiões, daquelas agremiações que se dizem escolas de fé. Que se dizem escolas de fé, mas que são, em regra, verdadeiras concentrações de crédulos, entregues, quase sempre, a homens que são grandes amigos de suas vaidades, de seus orgulhos, de suas manias conceptivas, de seus títulos do mundo, de seus respectivos bolsos e estômagos.
Salientamos bem, por estas alturas, que não tomamos a sério as ditas boas intenções daqueles que fazem da religião meio de vida e carreira nobiliárquica; os simplórios costumam acreditar, ou pelo menos admitir, aquilo que fazem aquelas pessoas que se dizem ministros de Deus. Peço o favor de me não confundirem com isso, porque sou um cidadão desencarnado e que gosta muito de observar os homens de dentro para fora e não de fora para dentro.
Os encarnados vêem de fora para dentro, a certos homens que, se fossem vistos de dentro para fora, causariam grandes angústias e profundos abalos. Quando nada mais houvesse, reconheceriam que eles nem sequer sabem ser ignorantes sinceros, o que seria uma virtude, e que são matreiros na arte da simulação, pois dão-se a fazer que os outros confiem, principalmente os que pagam ou compram idolatrias, naquilo que eles mesmos não acreditam.
De um modo geral, irmãos, tende todo o cuidado ao lidar com aqueles que colocam elementos materiais, ou a matéria, a servir de instrumento intermediário de adoração a Deus. Tudo quanto é material é para ser bem usado materialmente, porque a matéria nunca será mais do que o espírito, para vir a ser adorada. E quando, portanto, alguém coloca a matéria como intermediária, já está cometendo crime de lesa-espiritualidade, já está traindo o primeiro mandamento da Lei de Deus.
E assim por diante, também os que se fanatizam pela forma, como por exemplo a dos livros ditos sagrados; porque a Palavra de Deus sempre foi a Revelação e nunca escrito algum, adulterável ou adulterado. A Lei, que é ou foi escrita, e que é o maior documento da humanidade, veio pela Revelação e nela encontra seu testemunho. Nenhum espírito consciente, fica lembrado, jamais dirá um ceitil contra o Código Divino. Jesus veio executá-lo, para ficar como Exemplo Vivo, deixando patente que ninguém poderá ser grande ou bom filho de Deus, se estiver agindo fora das encomendas da Lei de Deus. Os que obram a iniqüidade, fica dito, são os que aborrecem a Lei, são os que desarmonizam. Serão postos de lado, como Jesus afirmou, porque suas obras foram más, embora as palavras fossem boas.
Natália fora verdadeira fanática pelos formalismos, como sejam velas, imagens e amuletos, objetos e coisas ditas de bom resultado, para ter sorte na vida, em seus amores e negócios. Dizia ela, como tanta gente o diz, que Deus é Espírito e Verdade, Onipresente, Onisciente e Onipotente; mas, como tanta gente o faz, andava pendurando em Deus os seus simulacros; pretendeu, a vida toda, que Deus fosse o escravo e não o Senhor de tudo aquilo, daquelas quinquilharias e superstições.
E como todos os que encarnam virão a desencarnar, mais dia ou menos dia, a hora de Natália chegou. Depois de breves males, sem que ninguém percebesse, da parte dos familiares, Natália espírito abandonou o corpo; deixando Natália corpo para ser devolvido ao laboratório da mãe Natureza, a fim de, conforme as leis da retorta telúrica, servir a outros fins, entrar na constituição de outros corpos, orgânicos e inorgânicos.
Que sucedeu com a Natália espírito? Em que condição e situação veio a se encontrar, em seguida à desencarnação? Uma vez que era muito crente, pelo ângulo em que podia sê-lo, que lhe coube por turno, ao reentrar no plano espiritual, depois de cinqüenta e poucos anos?
Natália não ficou muito tempo ignorando seu estado, porque continuou apelando a seus simulacros; mas o seu conhecimento do estado, nem por isso lhe fez sair dali, do ambiente doméstico ao qual se prendera intensamente, fosse pelo apego aos bens do mundo, fosse pelas imantações idólatras e supersticiosas. Ela se encontrava totalmente ligada a tudo aquilo, porque a tudo aquilo se ligara através de recalcados pensamentos e vibrantes empenhos psico-magnéticos.
Não que lhe faltasse fé; mas sim que a empregou de modo excessivamente material. Assim como se fosse alguém que, tendo bons gêneros, por não saber cozinhar, fizesse de tudo umas comidas intragáveis, cruas ou queimadas, etc. Aquilo, enfim, que o maior número faz, e repete vidas e vidas consecutivas, achando ainda que é como de fato se deve fazer!
Porque o erro, em credo, passa a ser um vício, assim como qualquer outro nefando vício, que enquanto agrada por fora, prejudica por dentro; isto é, enquanto farta o viciado em seu anseio, em sua morbidez, vai-lhe minando o espírito, vai-lhe custando agravos cármicos, porque vai-lhe embotando os surtos de fatos espirituais, as manifestações de real espiritualidade, a União com o Pai Divino, que é no imo que deve ser feita.
Quem recorre a ídolos, sejam quais forem, tira de si o direito de sintonia e o transfere ao que jamais poderá tê-lo! A Divina Essência, que é nosso fundamento, com quem devemos ir religando, infusando, sintonizando por identificação perfeita em poderes vibratórios, jamais deve ser feita menos do que a matéria. Quem adora a Deus através de elementos materiais, de qualquer forma comete ato de afronta, de humilhação a si mesmo, uma vez que a Deus ninguém consegue humilhar. É ato abominável, porque paus e pedras, amuletos e coisas que tais, nunca poderiam ter qualquer valor inteligente ou moral, para intervir como poder espiritual. E além da afronta moral, resta ainda, para o seu cultivador, a triste condição de indivíduo medíocre, de espírito atrasado, dividido contra si mesmo.
A irmã de Natália passou a vê-la, um dia, ajoelhada defronte a uma imagem, e com aspecto irascível, como quem exprime revolta por desatenção. Enquanto a viu, não teve medo, mas a seguir apavorou-se, saiu correndo a clamar por socorro. E o marido, preocupado, alarmado mesmo com aquilo, foi ter com Zainer, de quem era amigo, para fazer a sua deposição sobre o caso.
– Nunca dei crédito a essas coisas, mas a Zuleika ficou estarrecida! Por isso é que vim procurá-lo...
Zainer interrompeu-o:
– Nunca soube de tais verdades, diga assim. Todos os que ignoram tais leis e fatos, contam a história do mesmo modo, pretendendo ocultar a ignorância. O fato, entretanto, é mera questão de desconhecimento de causa e algumas gramas ou quilos de brutalidade. Assim lhe digo, tenha paciência, para não conferir à ignorância aqueles foros de respeito que devemos somente à Sabedoria e ao Bem.
Domingos ficou chocado, mas agüentou a situação, porque era daqueles que blasonavam suas aversões pelas coisas espirituais. E foi Zainer quem lhe disse:
– Vamos falar com o presidente do Centro, que reside aqui perto, a ver se podemos fazer uma sessão na tua casa?
E como Domingos concordasse, para lá se dirigiram. Hora e meia depois, lá estavam reunidos, orando pela abertura dos trabalhos, preparando para comungar com o mundo espiritual ou exercitar a Revelação, o instrumento conferido por Deus, cuja finalidade é advertir, ilustrar e consolar.
Depois da comunicação dos Guias, trouxeram Natália, que de fato estava mesmo entrando em franco período de alteração mental.
– Fui crente em Deus e sou crente em Deus! Por que, então, Deus me abandona e despreza?!... Tem hora em que sinto vontade de negar tudo!... Tudo!...
Através de Zainer, um Guia falou-lhe:
– Que teve e tem a idéia de Deus, isso é inegável. Mas quanto a confiar e a cultivar, confiou e cultivou idolatrias e superstições. Mereceu, tempos depois de haver desencarnado, reconhecer o seu estado... Entretanto, porque cultivou práticas contrárias à Lei e à verdadeira espiritualidade, ficou entregue a elas. Cumpre saber, ainda, que não foi amante de fazer o Bem, pelos meios possíveis a qualquer encarnado, confiando plenamente em suas idolatrias ou simulações. Tivesse feito o Bem e teria tido outros recursos, embora continuasse em plano inferior, por estar desprovida de melhor espiritualidade.
Sem compreender, revidou:
– Eu sei que fui religiosa!...
O Guia advertiu-a:
– Ser formalista não é ser realmente religiosa. Podemos dizer, mesmo, que a Verdade não é religiosa, bastando-lhe ser Verdade. Por isso mesmo que, conforme as lições de Jesus, ninguém foi convidado a procurar ter esta ou aquela religião, e sim a procurar conhecer e cultivar a Verdade, que é libertadora. Se quiser saber, por acréscimo, procure na Lei de Deus a chave da questão – ela ordena que se ame a Deus em Espírito e Verdade, que se ame ao próximo como a nós mesmos, e concita a que se cultive a Revelação, pois veio por intermédio dos anjos ou espíritos. A Lei, o documento impassável, testemunhado por todos os Grandes Reveladores e pelo Cristo Planetário, não é religiosa, é simplesmente Verdade. Por isso mesmo, saibam ou não os homens, queiram ou não, quem contra ela estiver não estará bem consigo mesmo, porque estará contra a Lei de Harmonia Universal. Se você, irmã, julga poder ensinar a Deus, daqui iremos e a deixaremos como tem estado e está.
– Pelo amor de Deus!... – bramiu, terrificada.
– Então – disse-lhe o Guia – prometa que virá a ser inimiga de idolatrias e de superstições, prometendo, conseqüentemente, que virá a procurar os caminhos do Amor e do Conhecimento, que são os produtores da Pureza e da Autoridade. Se fizer isso, reconhecendo que a Excelsa Doutrina tem por fundamento a Moral, o Amor e a Revelação, tudo andará muito bem. Usar essas quinquilharias materiais, irmã, isso é para os mercenários da fé e é para os espíritos errados e medíocres.
Natália derramou lágrimas a valer, prometendo, a seguir, que faria tudo para se libertar daqueles nefandos vícios. E foi-lhe dito, prontamente:
– Não é aqui, nem com simples promessas, que se dá testemunho de amar a Deus em Espírito e Verdade, no templo da consciência! Não é aqui, neste lado da vida, que se prova o Amor pelo próximo! Não é aqui, no plano espiritual, que se honra a Revelação, como instrumento de advertência, ilustração e consolo! É na vida carnal, no seio da encarnação, o lugar onde se provam os verdadeiros conhecimentos e as melhores intenções para com a Verdade que livra!
E depois de tudo encerrado, em matéria de doutrinação, um outro Guia disse aos presentes, como complemento instrutivo:
– Usai a matéria como deve ser usada, para as reais necessidades físicas, mas não a façais intermediária em matéria de adoração ao Pai Divino, que tendes por Fundamento, Sustentação e Destinação. Não é possível que o espírito se diminua perante a matéria, sem incorrer em grave falta, pela qual terá que responder, mais cedo ou mais tarde. Ligai-vos a Deus pelos elos do coração! Aumentai vossos créditos através das boas obras em sociedade! E fazei-vos grandes em Autoridade, pelo Conhecimento e culto das Leis Universais ou de Deus!
Fora, sem dúvida, uma grande sessão aquela, para todos nós; porque nunca é demais saber que devemos lavrar no íntimo a União, que devemos construir em nós mesmos a Celeste Conexão, tornando-nos também Espírito e Verdade.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Que poderá suceder a um indivíduo, pelo fato de, como filho de Deus que é, vir a usar mal as leis de que poderá usar, usando-se a si próprio de modo contrário à Lei de Deus?
Qual o montante de prejuízo que se causa, pelo fato de usar mal de si mesmo, de leis e de espíritos inferiores, inclusive de elementais?
Se a linha justa é amar e conhecer, para tornar-se Puro e Sábio, em que tristes coisas se embrenhará o espírito que, movido por forças mentais negativas, se lançará aos tremendos perigos da feitiçaria?
De um modo geral, saibamos, ninguém chegará a resolver o problema do Primeiro Mandamento, sem se tornar capaz de executar os outros Nove Mandamentos; porque o caminho que conduz à realização do Primeiro são os restantes. Aquele que transgride a Lei perante seus irmãos, jamais será capaz de executá-la perante Deus.
E enquanto for alguém assim errado, ficará sujeito às leis de ida e volta, de mergulhos na carne, de provas e de expiações.
Porque o espírito reencarna por estes motivos básicos, a saber:
a) Evoluir normalmente, quando não tenha nenhuma culpa a resgatar; isto é, ir-se tornando Puro e Sábio através das experiências comuns;
b) Para efeito de provas, quando tenha falhado em alguma coisa, ou mesmo que tenha cometido algum deslize de somenos importância;
c) Para efeito de expiação, quando tenha cometido ações tenebrosas, chegando a perder de todo, pelo tempo que durem as culpas, o direito de relativo livre arbítrio; e,
d) No caso dos Cristos e dos abnegados, que de si mesmos queiram tomar certos encargos, com o fito de auxiliar a Humanidade ou certos irmãos. É questão missionária, que sempre arrasta consigo grande soma de graças e poderes, em virtude da soma de renúncia que empregam na função.
Celestino, um dos irmãos diretores do Centro, apresentou em uma das sessões o caso de Evandro, um jovem que vinha definhando, morrendo aos poucos, sem que os médicos pudessem minorar-lhe sequer os mais graves aborrecimentos.
Evandro sofria apenas de fraqueza tremenda e terríveis acessos de angústia; o seu abatimento era de causar pasmo e as suas angústias faziam pensar em coisas infernais. Pela fraqueza caía por terra e pelas angústias gemia desesperadamente.
Preparamos, junto aos irmãos encarnados, uma sessão apropriada ao seu caso, depois de havê-lo psicometrado através de Zainer.
Que viu Zainer, a respeito daquele rapaz sofredor?
– Vejo o moço envolvido por negra fumaça e levando, pendurado no pescoço, um bicho estranho... A fumaça é infernal e o bicho sofre muito, caindo em tremenda angústia... Agora muda o quadro... Vejo o jovem, mais ou menos com dezoito anos, dançando com uma jovem morena, esbelta, porém muito mal acompanhada... Vultos de má catadura acompanham-na, parecem presos à sua aura, à sua história, aos seus pensares e às suas intenções... Aparecem os dois brigando, trocam-se palavras ásperas, batem-se...
Ficou quieto alguns segundos, depois continuou:
– Observo a jovem andando, subindo uma colina, entrando numa casa com ares sinistros... Vultos negros, indefinidos, montam guarda a essa casa... A jovem entra, fala com alguém que chama de tio, a quem pede bênção... O homem, que se acha muito mal acompanhado, mas que se satisfaz com a companhia, ergue os olhos e lhe diz palavras de bênção... Parece estranho que um tal homem pronuncie o nome de Deus e que pretenda abençoar alguém...
Mais uma pausa e uma vez mais torna à fala:
– Muda-se o quadro... Vejo o tal homem, conversando com os vultos negros e pronunciando o nome do rapaz... Escuto o que lhe falam os maus espíritos, ordenando que faça umas tantas coisas... Muda-se o quadro outra vez.. O feiticeiro está arrancando alguma coisa de dentro de um gato preto... Arranca-lhe o coração e sorridente leva-o consigo, depois de atirar o gato morto no mato...
Pára mais alguns segundos e prossegue:
– Abre o coração do gato, coloca nele uma carta, uma carta que deve ter sido escrita pelo rapaz... Fecha o corte, amarra o coração, enquanto vai fazendo gestos e vai dizendo palavras... Diz que o rapaz fique, venha a ficar como o coração do gato... Que está atado, amarrado, para secar ou morrer... Muda-se de novo o quadro, vejo o homem procurar uma árvore e ali amarrar o seu despacho... A seguir fala alto, clama ao sol que seque o coração e que faça o rapaz pagar pelo seu crime... Clama, com todo o vigor, que os infelicitadores devem pagar pelo abuso, devem morrer por causa da desgraça feita a uma jovem...
Torna a silenciar e logo mais volta a dizer:
– Outro quadro... O feiticeiro entra numa caverna cavada no meio do mato, e ali acende velas de cabeça para baixo... Evoca seus espíritos, que presentes se encontram, que o atendem... Ordena-os e eles obedecem-no... Coisas esquisitas se passam, porque os tais espíritos ruins entram nas pedras, nas árvores e pela terra, trazendo seres vivos, alminhas que gemem, que emitem guinchos tristes... Ao pronunciar ele certas palavras, com vigor, vai colocando num pano preto cascas de árvore, punhados de terra e alguns cascalhos de pedra... Apanha um vidro, uma garrafa... Derrama... Derrama sangue... Faz a sua mistura, prende as alminhas, cria uma nuvem negra, nuvem que envolve tudo aquilo, todo aquele pacote de imundícies, formando uma peça infernal, uma liga tenebrosa... Agora anda com aquilo, desce o morro e enterra o despacho num buraco recentemente feito... Depois de tapado o buraco, estende as mãos e pronuncia palavras de condenação... Reclama que morra o malvado, que pene como aqueles espiritozinhos amarrados, que apodreça como tudo aquilo que é matéria e deve apodrecer...
Cessada a visão, o presidente rogou a causa de tudo aquilo, dizendo o Guia encarregado de presidir ao trabalho:
– No passado está a razão; o psicômetra que observe mais, olhando bem para o jovem.
Zainer fixou os olhos no rapaz continuando a relatar os quadros:
– O jovem regride em idade... Passa a ser um velho... Um jovem, uma criança, nada... Reaparece como adulto, um homem de pele bronzeada, vestido como indiano, também muito mal envolvido... Quadros se repetem, ele é feiticeiro... Usa de tudo... Terra de cemitério, flores, ossos... Mata animais, tira-lhes o sangue e se entrega a terríveis práticas... Entra no mar, passa embrulhos debaixo de ondas, pronuncia palavras e é acompanhado de tristes vultos negros... Vejo-o enterrando coisas, pacotes, animais, sapos enormes espetados em paus... Fica velho, todo rodeado de sombras negras, que o dominam inteiramente...
Silencia, demora um pouco e continua:
– O velho morre... Tem uma visão horrível e clama por Deus!... Aqueles vultos, aquelas centenas de vítimas clamam contra ele... O velho corre, assim como pode, querendo fugir... Afunda, afunda na terra!... Corre para todos os lados, vai de ponto em ponto, amarrado aos embrulhos que enterrou... Vive clamando, bramindo, uivando tenebrosamente!... Parece uma fera subterrânea!... Os vultos o perseguem, não lhe dão trégua, causam-lhe pavor!... Nada mais vejo...
Depois de nova parada, volve à fala:
– Descem do alto espíritos servidores... Atraem e um monstro surge de dentro da terra!... Um grande bicho, uma coisa tremendamente feia!... Os espíritos servidores dominam, controlam o grande e monstruoso animal... Projetam-lhe descargas de força... Descarregam sobre ele jatos de luz verde-azulino... O monstro se transforma... Vai se transformando... Surge o mesmo homem bronzeado... Está assustado, pasmo, tiritante... Os espíritos falam-lhe, dizem da hora que é chegada, dos pagamentos feitos através daqueles lugares tormentosos... Alçam o homem e lá se vão... Chegam a um plano espiritual, entregam o homem a dois outros, que o levam consigo... Dizem, agora, que vai preparar-se para reencarnar...
Finda a visão psicométrica, fala o Guia designado:
– Tendes aí, irmãos, uma prova a mais da Lei de Harmonia, que uma vez ferida ou contrariada, revida e força ao reequilíbrio. Mera questão de Causa e Efeito, mera confirmação daquela sentença que diz respeito ao – “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
O presidente interferiu:
– Com os agravos a mais, em virtude do conhecimento de causa?
E o Guia respondeu:
– Toda e qualquer culpa, irmãos, é segundo o ato e o montante de conhecimento de causa, conforme o Cristo assinalou em Seus ensinos. Vide o que está escrito no último capítulo do Apocalipse, pois através do Espaço e do Tempo, e no curso das vidas, todos acertarão suas contas e terão que progredir, até atingir o grau crístico, o Céu Universal desenvolvido no íntimo. Porque, fica repetido, nesta verdade estão encerradas todas as lições, provindas de todas as Grandes Revelações: “Todos os filhos do Pai Divino hão de em si mesmos realizar o encontro com Ele, e, pela União feita, ultrapassar o ciclo das reencarnações obrigatórias. A isto é que chamamos, entendei, realizar a penetração no Plano Crístico”.
– Temos perfeito conhecimento disso, pelas vossas lições – respondeu o presidente, satisfeito.
E o Guia aconselhou:
– Nós iremos libertar o rapaz, até certo ponto; porque a libertação total depende dele mesmo. Que aprenda as lições da Verdade e que faça quanto bem possa a seus irmãos. Que observe a Lei de Deus, porque fora dela jamais haverá quem possa triunfar; que siga o Divino Exemplificador! Que seja capaz de renunciar a si, até mesmo em caso de vida ou morte, assim como Ele deixou o Exemplo Modelar. Em verdade, como sabeis, o Modelo exterior foi apresentado, para que cada um tenha em que se modelar perfeitamente. Assim como sois conhecedores, assim mesmo façais aos vossos semelhantes, para que todos possam trilhar a via libertadora.
E se encerrou mais uma sessão, com grandes proveitos gerais.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Qual seria o maior erro perante a Lei? Qual deles seria o menor? Em que poderia a fé do indivíduo, ou sua religião, dirimir-lhe em parte qualquer culpa que viesse a cometer?
Haveria, no lastro de quitandas compráveis e vendáveis, em matéria de religião, ou que passam por atos religiosos, alguma coisa de real, de verdadeiro, com qualidades ou capaz de absolver alguém de suas culpas?
Enfim, irmãos, teria algum ato de fé, ou ritual qualquer, autoridade para revogar ou derrogar a Lei?
Bem haveis de saber que, milhares de milhares de vezes, topamos com situações aparentemente embaraçosas, com irmãos em condições penosas, ou muito menos felizes do que aquelas em que poderiam se encontrar, pelas aparências ou em virtude da vida que levaram, que levam, fatos que aparentam prerrogativas, condições e situações que parecem valer por fatores dirimentes.
Todavia, quando se observam as questões de dentro para fora, dos fatos internos para com as aparências externas, temos que nos curvar e reconhecer que a Lei não respeita bandeirolas, simulações, ginásticas tidas como atos de fé.
No plano carnal e por aqui, nas esferas inferiores, peregrinam irmãos que consigo arrastam cargas de aparente religiosidade, montões de gestos, fardos de simulacros, vasta bagagem de rituais os mais engenhosos e extravagantes. Nem por isso, todavia, a Lei os recomenda, eleva-os na escala hierárquica. Eles a si mesmos se convencem, mas não convencem a Lei de Harmonia; é que, em verdade, estão fartos por fora e passam fome por dentro... O problema da iluminação interna, o verdadeiro problema, esse não os tocou ainda! Eles não quiseram conhecer as trilhas do Amor e da Sabedoria, para conseguir os galardões da Pureza e do Conhecimento; eles se agarraram aos institutos do mundo e aos seus conceitos, eles andaram vivendo para aqueles simulacros que os homens para si fizeram, como disse o Profeta Habacuc, no seu inolvidável capítulo dois.
Assim foi o caso de Joana, irmã de Josias, o paralítico.
Este Josias, depois de quinze anos de paralisia, deu-lhe na mente recorrer ao Espiritismo; e como tivesse amigos espíritas, não lhe foi difícil dizer a Raimundo, um seu amigo de infância:
– Sabes, Raimundo? Eu gostaria de conhecer a opinião de um espiritista, sobre a minha paralisia, que aos poucos toma conta de meu corpo. Já não basta que me atrofie as pernas e os braços, pois observo que me congela todo e me faz ter calafrios na espinha. Como sei que és espírita, bem poderias me trazer aqui alguém que tivesse como consultar os espíritos...
Raimundo, assustado, revidou:
– Agora é que pretendes isso?!... Sempre disseste coisas terríveis contra o Espiritismo!...
– Minha religião... Eu nunca disse nada, a bem dizer... – replicou Josias, de modo convincente.
– Um homem deve ser mais do que um pouco de fanatismo sectário! – esbravejou Raimundo, preocupado.
– Deus andaria de turras comigo, por isso? – inquiriu Josias, pensativo.
Raimundo meditou e pronunciou-se:
– Não se trata de turras por parte de Deus... É que atuações prolongadas terminam em casos patológicos. Isto é, a influência espiritual, sendo longa, provoca alteração no físico, chega a estropiar de todo.
Josias raciocinou, murmurando:
– Bem, ninguém assume compromisso algum... Quero apenas consultar um espírito, assim como consultei tantos médicos e centenas de curiosos. Se nada der certo, é apenas um fracasso a mais, um como centenas de outros, está bem?
Raimundo, que se revelava triste, considerou:
– Sempre respeitei a tua convicção religiosa. Se soubesse que tudo terminaria assim, creio que teria feito contigo uma briga muito grande. Afinal de contas, a dor também não tem cor sectária... Todos sofrem, porque todos nascem e morrem... E ao menos por causa do sofrimento, ninguém deveria ser fanático religioso!
– Boa filosofia! – exclamou Josias, sorrindo, apesar do sofrimento.
– Trarei aqui alguém – prometeu Raimundo, satisfeito – todavia, vá orando, para ver se consegue alguma coisa, depois de tantos anos de sofrimento.
Admirado, Josias perguntou-lhe:
– Acaso não tenho eu orado, dias e noites a fio?!...
Fleumático, Raimundo respondeu:
– Aqueles a quem Jesus andou curando, também viviam fazendo orações de dia e de noite; entretanto Jesus veio, para eles, no tempo certo... Eu penso assim, e creio estar certo, pois sou de opinião que para tudo há lei neste mundo. Diz um velho ditado, que manda quem pode e obedece quem tem que obedecer, não é isso? E eu tenho por certo, Josias, que ninguém vem, da parte de Deus, sem ser na hora certa.
Ainda sorrindo, Josias aduziu:
– Nesse caso, Raimundo, na hora certa deixei de ser fanático.
– Concordo – anuiu Raimundo, com bonomia.
Meditativo, Josias adiantou:
– Há vinte anos atrás, Raimundo, eu tinha o Espiritismo em conta de coisa realmente diabólica!... Depois, com o passar dos dias, fui mudando um pouco. E já consigo acreditar que não seja lá tão diabólico assim... E se for, tome nota, é um diabismo que tem Deus, que ensina lições divinizantes...
– Estás a me adular? – perguntou–lhe Raimundo, sorrindo.
– Não. Tenho pensado muito, meu amigo, em tudo quanto tem acontecido no mundo, nestes últimos vinte e poucos anos. Já não há casa que não esteja dividida, já não há mais uma só família que pertença a uma só religião. Há de tudo, em todas as famílias, sendo que o Espiritismo está levando as suas vantagens. Isto eu digo, Raimundo, com toda a sinceridade de que sou capaz. Ainda ontem, para me referir à minha família, aqui estiveram minha irmã e dois sobrinhos, que se passaram para o Espiritismo. E quando fui dizer umas tantas aos meus sobrinhos, mais por esportividade do que mesmo por convicção, eles riram de mim, dizendo que eu nunca aprendera a ler o Evangelho, apesar de ter mais de cinqüenta anos. Veja no que dão as coisas, Raimundo, quando a gente pensa que anda certo, pelo fato de encarar toda a Verdade pelo ângulo estreito das convicções humanas...
Raimundo interrompeu-o, intercalando:
– Estou de pleno acordo, Josias. Ninguém deve, pelo fato de encarar a Verdade pelo seu estreito ângulo de visão, pretender que está vendo e conhecendo a totalidade da Verdade. Os dogmatismos andaram cometendo tremendos crimes, por fazerem isso, enquanto a Humanidade foi bastante analfabeta para não saber pensar um pouco mais. Com a instrução, as coisas foram mudando e os donos de religiões não andam muito contentes. Enfim, Josias, a Verdade não quer o homem religioso e sim o homem cheio de virtudes e de conhecimentos; a Verdade quer que se acabe com todos os formalismos, os da letra e os outros, aqueles que são piores ainda...
Agora foi Josias a interrompê-lo:
– Isso é uma verdadeira revolução! Haverá tanta virtude e tanto conhecimento assim no mundo?
Raimundo abanou a cabeça e disse:
– Nós, os espíritas, pensamos em termos de eternidade! O que é, ou isso que agora é assim, deverá ceder lugar ao que há de ser, com a evolução normal. É por isso que somos contra tudo quanto tem base nos conchavismos e comodismos humanos. A tudo aquilo que cheira a ranço, importa que se chegue o crisol do progresso e da renovação. E quando o homem não evolui por bem, o tempo e a vida se encarregam de fazê-lo evoluir pela dor. Aos maus alunos se impõe o castigo, não é isso?
– Que carapuça! – exclamou Josias, surpreso.
– Bem – prometeu Raimundo – trarei alguém aqui, para dizer-lhe algumas palavras de conforto.
E na noite seguinte, ele e o presidente do Centro conduziam Zainer à beira do leito onde se achava Josias.
Ao ser apresentado a Zainer, disse Josias:
– Tenho ouvido falar de suas faculdades maravilhosas.
O presidente interveio, satisfeito:
– Enquanto a Terra existir, e gente sobre ela, existirão profetas. Porque a Palavra de Deus é a Revelação.
– Nesse caso – observou Josias – Deus não fala há muito tempo com os Seus filhos. Pelo menos, que eu saiba, a começar de trezentos e vinte e cinco, quando Roma fundou o catolicismo, para atrair o dinheiro e a obediência de que carecia.
Raimundo ficou pasmo, e com ele os demais, ouvindo Josias dizer aquilo.
– Como sabes isso?! – perguntou-lhe Raimundo.
– Andei lendo umas tantas coisas, meu velho. Meus sobrinhos deixaram aí uns livros... E andei folheando alguns deles.
O presidente acrescentou, volvendo ao tema anterior:
– Bem que previu o Profeta Amós, na sua visão maravilhosa, como relata o capítulo oito, que a Revelação seria banida do meio das gentes, por causa dos muitos erros acumulados. Está dito, ali, que haveria fome e sede, mas não de pão nem de água, e sim da Palavra de Deus, que é a Revelação.
Josias exclamou, enigmático:
– Quer dizer, então, que hoje Deus me visitou? Porque vocês se acreditam os modernos profetas do Senhor.
Raimundo comentou, convicto:
– Se os dons espirituais para nada servissem, para que Deus nô-los teria dado? Se o batismo de espírito, trazido por Jesus para toda a carne, é obra de inconsciente, por que devemos ser cristãos? Entretanto, Josias, nós sabemos do que estamos tratando, falando e fazendo. E por isso dizemos, que melhor seria para a Humanidade, deixar de blasfemar contra a Revelação, dizendo-a coisa diabólica. Ou seria o diabo, se ele existisse, capaz de fazer coisas mais interessantes do que Deus? E se fosse a Revelação coisa diabólica, como não seria Jesus diabólico, Ele que foi anunciado por Gabriel, Ele que andou falando com Moisés e Elias, Ele que andou expelindo maus espíritos, Ele, enfim, que veio derramar do espírito sobre toda a carne?
Josias admirou-se:
– Vocês conhecem bem a Escritura!
Zainer avisou-os:
– Assim diz o Guia: “Estamos prontos para o trabalho”.
– E nós – disse o presidente – prontos para cooperar.
O psicômetra iniciou o relato:
– Josias tem ao lado uma freira... Ela sofre do mal que lhe causou a morte, a paralisia que lhe invadiu o corpo todo, até atingir o coração. E um Guia diz que o caso é pura questão de Espiritismo, de Cristianismo de fato, porque é necessário afastar o espírito sofredor para o doente melhorar... Ele acentua a palavra melhorar, explicando que o mal está por demais avançado, é caso crônico ou de patogênese radicada.
– Como se chama a paralítica? – perguntou Josias.
Ela quer falar mas não consegue; e o psicômetra responde:
– Façamos oração, porque ela está muito mal e pranteia copiosamente.
Houve grande movimentação no chamado ambiente psíquico, pelas orações feitas, havendo, inclusive, chegado um grupo de espíritos mais competentes do que nós, em matéria de tais serviços. Eles é que foram lidar com a irmã paralítica, descarregar sobre ela energias potentíssimas, até que falasse. E quando falou, pronunciou a palavra “Joana”.
– Joana! Seria minha irmã?!... – exclamou Josias, espantado.
– Afirma que sim – respondeu Zainer.
– Morreu num convento!... Passou a vida em orações!...
O Guia falou e Zainer repetiu:
– A grande oração é cumprir a Lei de Deus! O filho amado é aquele que toma a Lei por base e a executa o quanto possa. Quanto à sua irmã, depois de sofrer aquele fracasso, aquela infelicidade, refugiou-se no claustro. Sua obrigação seria, entretanto, enfrentar a situação, vencer e ser mãe de alguns filhos. Suas dívidas pretéritas deverão ser resgatadas. Sem dizer que tenha feito mal algum, dizemos que sofreu por causa do desvio a que se entregou, procurando fugir às suas mais prementes necessidades.
Após breve lapso, endereçou-se a Josias:
– Quanto a você, irmão, tem contas a acertar sobre o mesmo crime cometido por ela no passado... Ambos tramaram e praticaram perversões... Induziram ao pecado contra a virtude... Todavia, bastante fizeram nesta vida, porque sofreram com paciência... Sempre conseguiram bastante, embora com evidentes fracassos.
– Não entendo dessas coisas, porque pouco sei de Espiritismo... – balbuciou Josias, cabisbaixo.
O Guia falou e Zainer repetiu:
– Deus é a Suprema Autoridade e o Espiritismo é a Escola da Verdade; procure conhecer e cultivar o batismo de espírito, trazido pelo Cristo Planetário para toda a carne, e saberá muito mais do que isso. Porque o Espiritismo é apenas a reposição das coisas no lugar, consoante as promessas do mesmo Jesus. E se bem quereis saber, quem recebeu a incumbência de mentorar a restauração, imensamente grato se encontra de haver feito aquilo que lhe foi ordenado, estando ainda em grandes trabalhos complementares, que compreendem a consolidação e a extensão, que deverá abranger os extremos da Terra, conforme se encontra assinalado no primeiro capítulo do livro dos Atos.
Houve silêncio, ninguém interferiu, razão por que o Guia disse, prosseguindo:
– Raimundo que receba a paralítica.
Os servidores deslocaram a irmã doente, que causava mal ao irmão sem o querer, e esta começou a gemer, a clamar por Deus, como era do seu natural, desde que ficara entrevada e também depois de haver deixado o corpo. E uma vez feita a doutrinação, ela ficou pronta para falar, embora sem conhecer os porquês de tudo aquilo, porquês que estavam lá para trás, nos erros antanho cometidos.
– Quantos mistérios! – exclamou Josias, admirado de tudo.
E o Guia esclareceu:
– Da Ordem Divina estão excluídos os mistérios e os milagres, porque prevalecem as leis e os fatos. Aprendei a conhecer a Verdade, conforme os ensinos do Modelo apresentado pelo nosso Pai Divino; aprendei com a Verdade, irmãos, e abandonareis a tudo quanto vos torna fracos e sofredores, inconscientes e infelizes.
Depois de breves palavras a mais, Joana seguiu em companhia de um grupo de irmãos servidores. E o Guia disse a todos os encarnados:
– Não adianta clamar: – “Senhor! Senhor!” O que importa é fazer a Vontade do Senhor, cuja Lei de tudo contém, porque encerra a Moral, o Amor e a Revelação.
Fomo-nos dali, como sempre muito satisfeitos. Nem poderia ser de menos, uma vez que o Evangelho reinante era o vivo, o das obras, o Evangelho que contém as leis e os fatos.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Semir, o sírio riquíssimo, andara lendo qualquer coisa sobre a psicometria; e encantado com o assunto, procurou o presidente e lhe perguntou sobre a possibilidade de fazer algumas experiências.
– Trata-se de alguém doente? – perguntou-lhe o presidente.
– Não, trata-se de umas pedras... Desejo saber se os objetos, de fato, guardam as marcas dos acontecimentos, de acordo como dizem certos livros.
– Há verdade em tudo isso – respondeu-lhe o presidente – mas considerando a intensidade do fenômeno segundo a capacidade do médium psicômetra. Deve saber que a Humanidade é constituída de seres, e que os seres variam muito de gradação hierárquica, variando conseqüentemente a gradação em geral, mormente no campo das faculdades mediúnicas. Quanto ao seu caso, o das pedras, vamos ver o que podemos fazer...
Semir interrompeu-o, para ressalvar:
– Não pense o senhor que pretendo saber de fortunas; as pedras não são desse gênero, são pedras vulgares, que talvez tenham alguma coisa interessante em seus registros psicométricos.
– Seja como for – assentiu o presidente – é fácil psicometrá-las; se nada resultar, nem se acabarão as pedras nem a psicometria, não é isso, senhor Semir? E se houver alguma coisa de útil, tanto melhor para todos nós, porque não teremos empatado o nosso precioso tempo em vão.
O riquíssimo homem arregalou os olhos, concordando:
– Tem razão o senhor, pois não devemos empatar mal o tempo... Tempo é muito mais do que dinheiro...
O presidente ouviu, pensou e pingou os “ii”:
– Zelamos muito, senhor Semir, o emprego dos trabalhos mediúnicos, porque o número de enfermos é muito grande. E para nós, devo informá-lo, a grande questão é fazer todo o bem que se possa, por aqueles que não contam, muitas vezes, sem ser com as graças do mundo espiritual.
– Então – disse o homem riquíssimo – a primazia cabe aos trabalhos de assistência social em geral?
O presidente respondeu, concorde:
– Nem poderia ser de menos, senhor Semir, dadas as verdades doutrinárias fundamentais que são intrínsecas à Lei de Deus; por ela sabemos como nos devemos portar para com Deus, para com o próximo e para com a Revelação, que sempre foi o órgão instrutivo, de advertência e consolo. Portanto, tendo na Lei tudo quanto é necessário em matéria doutrinária, fazemos questão de ocupar bem a tudo quanto sejam elementos, recursos e oportunidades.
– Filosofia interessante! – bocejou o homem riquíssimo – e de Jesus, que me diz o senhor? Porque, pelo visto, os senhores são muito rigorosos em se tratando de religião.
– O senhor não o é? – perguntou o presidente, sorrindo.
– Eu sou maronita... É o catolicismo libanês, é uma religião como outras o são, porque tudo dá na mesma.
O presidente sentiu-se constrangido, mas observou:
– Toda a Verdade, em síntese, está contida na Lei, quando se falar em sentido teórico-doutrinário. Para amar a Deus em Espírito e Verdade, importa que o espírito se eleve a tal grau, que faça a sua escalada evolutiva; para amar ao próximo como a si mesmo, terá que alcançar elevada noção de responsabilidade; e para honrar a Revelação, que foi o seu veículo, terá que praticá-la, de onde resultará conhecer as leis básicas, que são: imortalidade, movimentação, evo1ução, responsabilidade, reencarnação, comunicação e habitação universal. Depois de saber isso, em conseqüência do cultivo da Lei, tudo o mais é mera questão de minúcia.
– E Jesus? Como interpretam a função de Jesus?
Bondosamente, o presidente explicou-lhe:
– O Diretor Planetário, que foi apresentado pelo Pai Divino como sendo o Modelo a ser imitado, veio para executar a Lei e para tornar a Revelação generalizada. Procure nas Suas palavras o que disse sobre a Lei e não se esqueça de que veio ao mundo para realizar o grandioso fenômeno do Pentecostes, que foi o derrame de espírito sobre toda a carne. Cremos que qualquer pessoa, sendo honesta mentalmente, não precisará de interpretar o Cristo, porque ficará com Ele, com a interpretação que Ele a si mesmo deu. Isto é, Modelo em MoraI, Modelo em Amor e Modelo em Revelação. Quem compreender isto, senhor Semir, terá a chave de tudo quanto foi mistério na antigüidade, deixando portanto os mistérios, para se apegar às leis e aos fatos, caminhando livremente pela trilha libertadora.
– Admirável! Admirável! – exclamou o sírio, satisfeito – Eu não sabia que o Espiritismo fosse assim avançado e obrigasse a tamanhos estudos.
Zainer chegou naquela hora, tendo-lhe dito o presidente sobre as intenções do sírio riquíssimo; e havendo Zainer olhado para ele, refletiu no semblante a imensa alegria que lhe vinha das profundezas da alma, tendo ainda exclamado:
– O senhor traz consigo maravilhosas vibrações!... Que tem o senhor aí?!...
– Umas pedrinhas... Umas pedrinhas... – respondeu o sírio, satisfeito.
– Elas vibram de modo estranho e feliz! – disse Zainer, que por sua sensibilidade entrava em contato com as pedrinhas e com os pensamentos do seu portador.
– Quando poderemos psicometrá-las? – perguntou o sírio, interessado.
– Quando o senhor queira! – respondeu Zainer, imediatamente.
– Já? – fez o sírio, enfiando a mão no bolso, para tirá-las.
– Já! – endossou o psicômetra, estendendo a mão.
– Uma por vez! – sentenciou o sírio.
– Como queira – assentiu Zainer.
E lá se foram para a secretaria, onde os três homens se trancaram, para sondar em algumas pedrinhas alguns dos traços mais fortes da história terrícola.
– Primeiro esta! – apresentou Semir, colocando sobre a mesa a pedrinha que trazia um cartãozinho, onde se liam as palavras: “Estrada de Damasco”.
Zainer apanhou a pedrinha na mão direita, depois de havê-la desembrulhado, começando a expor os quadros que fora vendo:
– Vejo o senhor embrulhando a pedrinha, tendo outras ao lado, sobre uma secretária... O senhor ata o cartãozinho com a indicação, colocando o embrulho no meio dos outros... Agora enxergo a pedrinha, estando nas mãos de um homem, o qual viaja com o senhor, em um navio... Regredindo, vejo o senhor numa terra estranha, viajando, andando, comprando objetos, fazendo malas e despachando... Agora noto que alguém cava a terra onde o senhor aponta, e do meio de muitas pedrinhas, tira essa e observa-a com atenção... Guarda-a, com muito zelo, como se fosse relíquia...
Há um momento de silêncio, depois Zainer torna a descrever:
– Diz o Guia que essa pedra foi arrancada do local onde, segundo a tradição, Paulo de Tarso teve encontro com o espírito de Jesus...
– Justamente, conforme as indicações que obtive – respondeu o sírio.
Zainer prosseguiu relatando:
– Passam caravanas, gentes e mais gentes, de várias raças e de todos os modos... Ladrões assaltam, noctívagos dormem ao léu, piam as aves noturnas... Agora transitam legiões militares... Agora dão-se batalhas... Tudo passa... Um homem é morto e roubado... Surge um clarão imenso, um homem cai por terra e os outros o acreditam enlouquecido, porque olham e nada conseguem ver...
O barrigudinho está atônito, passa as mãos pela barba comprida, clama e apalpa as pessoas... Há tremor e pânico, há horror naqueles homens... Agora carregam o pobre cego, havendo alguém que foge, que abandona os companheiros, porque sente horror tremendo dentro de si...
Estaca, silencia um pouco e logo mais prossegue:
– Outros acontecimentos... As turbas passam... Há fremor nas gentes, há coisas no ar... O anseio move homens, mulheres, crianças... Gentes fazem caminhadas longas, querem ver, saber... Doentes, aleijados, chaguentos... Há de tudo pelos caminhos, as estradas se encontram abarrotadas... Passam cavalos, camelos, gente de todas as espécies, de todas as condições sociais... Agora surge uma nuvem de pó, é a multidão que se aproxima... É Jesus!... É Jesus... Túnica branca, sem mais nada... É nos pés, que tem um couro, um couro atado por cima... Seus discípulos afastam o povo, a multidão... Mas todos querem chegar, todos querem ver, todos querem pedir... Ninguém obedece, todos querem falar... Jesus pára, atende, impõe as mãos, sara!... Há gritos, louvores, brados... Gente ajoelha, chora, ri, exclama...
Cessa a visão, tudo passa, o psicômetra anuncia:
– Tudo se foi; voltam a transitar as caravanas, os homens a pé, os cavaleiros e os militares... É noite, piam as aves, cantam os galos, o tempo passa...
O senhor Semir anuncia:
– Creio que agora já são acontecimentos de antes do Cristo, nada mais nos interessando de fato. Vimos a história em sentido regressivo. Quanto à pedrinha, é originária do local onde dizem que Saulo caiu diante do Cristo ressurgido. Na minha última viagem, quis trazer algumas relíquias, pagando caro para que me fossem facilitadas essas conquistas. Eu mesmo acompanhei as buscas, tendo essa pedrinha sido extraída de um metro de profundidade, de um terreno à margem da estrada.
Zainer tinha vivo anseio, por isso reclamou:
– Dê-me outra pedrinha!
– Esta – apresentou o senhor Semir, pegando a esmo.
O presidente olhou bem e leu o cartãozinho, onde se lia: “Monte Tabor”.
Zainer colocou a mão direita sobre a pedrinha, passando a relatar:
– Os mesmos trâmites iniciais... A viagem de trem. de vapor, de carro... A subida ao Monte... Peregrinos, gente que reza, que caminha em orações... Rolam os dias, passam os tempos, gerações que se vão... Batalhas, guerras, mortes... Surge a palavra “Napoleão”... Recuam os dias... Caravanas de crentes sobem e descem, fazem orações, rogam... Há noites e dias, chuva e sol, peregrinos que choram e mercadores que berram seus produtos... Há profundo silêncio, há muita paz... O dia está lindo, cai a tarde... É Jesus que vai à frente, pensativo, muito pensativo... Ele fala, eu não entendo... Todos oram, todos ficam quietos... Estremece o ar, vibra a atmosfera, vibram os corações... Os discípulos estão falando, tremendo, clamando, porque a luz domina!... Três homens brilhantes!... Há glória espiritual no Monte!...
Pára, observa e continua:
– Jesus fala e eles ouvem, temerosos e cheios de unção... Descem do Monte... Rolam os dias, as noites... Agora é Jesus, sozinho, quem sobe o Monte... É noite e as estrelas brilham... Jesus medita, ora; reveste-se de luz, de estranho brilho... Desce do Monte... Passam dias, e Ele volta ao Monte... Fala com vultos brilhantes, com espíritos aureolados de luz fulgurante... Tudo brilha, tudo se transforma em glória... Desce Ele do Monte... Passam os dias, rolam os tempos... Outras pessoas sobem, descem... Creio que são tempos remotos, porque tudo parece isolado, triste, lúgubre, deserto...
O presidente falou:
– Formidável! Jesus costumava orar, então, nesse Monte, antes de lá ir ter com os discípulos, para o grandioso fenômeno da transfiguração.
O sírio apresentou outra pedrinha, onde se lia: “Horto das Oliveiras”.
Zainer fez a mesma coisa, pousando a mão sobre ela, começando a dizer:
– Dão-se as visões iniciais... Vamos passar por elas... O senhor está caminhando com alguns homens, discutindo sobre coisas não espirituais... É uma espécie de briga...
O sírio adiantou:
– Nesse dia, por causa de algumas latas de azeitonas que mandara despachar, houve séria discussão numa praça... É isso mesmo.
Zainer continuou:
– Passam-se quadros, todos com referência à cidade... É do senhor, me parece, que estão vindo os quadros... Quer ficar mais longe, por favor?...
O senhor Semir foi parar num canto da sala, tendo Zainer prosseguido:
– A pedrinha irradia, porém muito apagadamente... São quadros opacos e neles se movimentam turbas humanas, um vai-e-vem contínuo... Deságua tremenda tormenta, com relâmpagos e negror no espaço!... Uma mulher rola pelas águas e clama por socorro... Tudo passa... Tudo passa... Transcorrem os dias... Creio que estamos no tempo... Muita gente no Horto; o Horto está mudado, somente árvores e pedras... Parece que vejo, ao longe, a multidão apinhada... O quadro se aclara, os panoramas mudam... Várias vezes Jesus aparece, no meio de imensa multidão, que oprime, que se aperta... Agora estão agasalhados, Jesus está coberto de manto, e o manto é um tom de vermelho-claro... Os quadros passam... Sucedem-se... Avançam pelo tempo... O Sermão da Montanha, não pude vê-lo e identificá-lo!...
O presidente lastimou:
– O maior poema que se disse na Terra!...
O sírio endossou, cheio de unção:
– A renúncia em forma de poema!... A conquista do Céu pela brandura e pelo perdão!...
Zainer comentou, dolorido:
– Se ao menos os senhores pudessem ver Jesus!... Que majestade, meus irmãos, dentro daquela doçura!... Parece um sonho divino!...
Comovido, Zainer derramou copiosas lágrimas; e a sessão psicométrica daquele dia teve o seu fim.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
A outra pedrinha, apresentada no dia seguinte à noite, quando os três de novo se reuniram, estava com a legenda: “O batismo de Jesus”.
Zainer colocou-lhe a mão em cima, iniciando a revelação dos quadros que se iam desenrolando:
– Os mesmos quadros iniciais de viagem... A sua chegada à beira do rio, ao pôr-do-sol!... Um homem cava a terra, tira uma pedra, quebra-a e apanha um pedacinho... O senhor olha, mostra a outro homem e este faz sinal de não... O outro cava mais, afunda o buraco e tira dali outra pedra, esta bastante clara... O senhor olha, o outro homem também e aprova... Agora sucedem-se os quadros, mudam muito depressa.... Pescadores isolados, vagamundos, meninos brincando... Mulheres que lavam roupas, que apanham água, que fazem orações... Desabam aguaceiros e coriscos riscam as nuvens...
Assim vão os quadros, até que Zainer se alerta:
– Estamos, creio, no tempo!... João Batista está metido na água e vai com uma peça, uma casca, parece, derramando sobre muitas cabeças e dizendo palavras que eu não entendo... Agora muda-se o quadro e ele apanha a água do rio com as mãos em concha... Outros quadros surgem, um novo dia... Lá estão, conversando, os dois grandes vultos!... João, vestido de peles, queimado de sol, bastante moreno em confronto com Jesus, que está vestido com a túnica branca de sempre, um branco opala, simples, muito simples... Jesus é castanho-claro... Está maravilhosamente visível!... É manso, é sereno, é todo convicção!... Agora entra na água, é batizado por João... O espaço se ilumina, brilha!... Ouve-se um como trovão e muitos que ali estão se ajoelham!... Todos olham para cima, parece que desejando ver alguma coisa... O sol brilha, não foi trovão!...
Zainer cai em pranto, não fala mais; é o Guia quem o toma e explica:
– Quanta graça nas coisas de Deus!... Quem dera que os homens aprendessem a grande lição com as pedras!... Tudo está registrado, a natureza guarda de tudo a mais perfeita lembrança, porque está imantada, está magnetizada!... É sublime, é divino, irmãos, o que se está vendo e rememorando!... Louvemos o Pai Divino, que assim fez até as pedras, capazes de guardar semelhantes imagens. Quanto poderemos nós guardar, irmãos, em nossos corações, quando soubermos compreender e amar como dignos filhos de Deus?!...
Pouco depois, recomeçada a fala, Zainer relatou:
– É João, para trás, em outros dias, anteriores, quem ainda batiza, acompanhado de muitos outros homens, todos vestidos como os nazireus, os profetas de Israel... Passam os quadros... Perdem-se os dias no passado, tudo muito depressa, como se alguém estivesse precipitado...
Zainer volveu ao normal. apresentando o senhor Semir outra pedrinha; nesta, estava escrito: “Mar Morto”.
Depois dos quadros preliminares, viu o psicômetra:
– Eis-nos entre as montanhas e as praias desertas do Mar Morto, que se confundem com os dias cálidos e as noites de luar prateado e brilhante, porém tomados de angústia... Apresenta-se um letreiro, onde se lê a palavra “Vespasiano”... Apresenta-se outro letreiro, onde se lê esta sentença: “Fim do grandioso Cenáculo Essênio, um dos baluartes do profetismo hebreu”... Ainda outro letreiro, cujas palavras dizem: “Neste rincão maravilhoso, longe do mundo materialista e saturado de vícios, aguardou Jesus a Sua hora de entrar para o ministério a que viera, executando a Lei e batizando em espírito”...
Zainer silencia, constrange-se todo e relata:
– Anunciam o ano de setenta, pairam no ar as tragédias cometidas por Vespasiano!... Há sofrimento até nas pedras... Os homens, as mulheres, todos aflitos, aprontam urnas e as enterram... Milhares de potes são postos em furnas, para que fiquem imunes ao vandalismo que se aproxima... Descem do Alto grandes e brilhantes estrelas! Celestes mensageiros informam!... Os Essênios deixam suas terras, seus rincões solitários e ungidos de sublime espiritualidade!... Marcham e se espalham... Participam dos trabalhos do Caminho do Senhor...
Mais uma estacada, para Zainer anunciar:
– Estamos regredindo no tempo... Agora é um tempo de paz, de trabalho e de sublimes contatos espirituais... Os mestres do mundo espiritual assistem de modo ostensivo, deixam cair filamentos luminosos naquelas direções!... Estamos entrando... Vamos para uma sala cavada na rocha... Temos pela frente uma reunião de caráter mediúnico... Homens e mulheres se encontram revestidos de luz gloriosa, de azul e ouro, de verde e opala, de amarelo brilhante!... O moço Jesus está no centro, sentado, cabisbaixo e todo aureolado de intensíssima luz opalina, cujos raios atingem longe, muito além das pedras e dos lagos!... E fantástico!... É fantástico!...
Zainer derrama fartas lágrimas, de tanta comoção. A visão cessa por um pouco, até que Zainer se repõe. Pouco depois, continua, cheio de unção:
– Das alturas correspondem!... Legiões luminosas descem, envolvem o local e música divinal se espraia pela Terra inteira!... Há luz, há esplendor por todas as partes!... O Céu envolve o mundo, o Céu cobre a Terra!... Agora termina a sessão... Cada qual toma seu rumo, com a alma em êxtase... Todos estão luminosos, todos brilham...
Zainer leu de novo o letreiro que lhe apresentaram, anunciando:
– Apareceu escrito no espaço: “Amai a Deus em Espírito e Verdade, amai o vosso próximo até a renúncia e cultivai a Revelação com inteireza de elevação, porque só assim estareis executando a Lei de Deus”.
Refeitos, pois a emoção fora tremenda, os três homens passaram alguns minutos comentando os fatos; quanto a Zainer, dizia que seus relatos estavam muito longe de refletir os fatos, os quadros vistos.
– Onde quer que Jesus apareça – disse ele – forma-se um halo de estranho e glorioso esplendor, uma estuância espiritual que não é possível refletir através de palavras!
O presidente considerou:
– Ser Ungido é ser Selado; é estar investido de Poder e de Autoridade, em um grau que transcende ao poder humano de concepção. É representar o Pai Divino, é ser Embaixador Celestial e, portanto, deve participar da Glória Divina e deve fíltrá-la de modo patente. Em um Cristo Planetário, digo eu, ninguém deve ver apenas o indivíduo celestializado, ou divinizado, mas sim o Delegado do próprio Deus!
Quando ele, o presidente, terminou a sua alocução, ecoou no recinto uma voz estrondosa, que disse:
– Assim deveis compreender! Um filho cristificado, apresentado como Delegado, a fim de constituir o Modelo Divino, o Molde Perfeito, para que os demais filhos tenham em que se modelar, para se irem aperfeiçoando!
Houve um grande tremor em todos, por causa daquela voz potentíssima. Tudo serenado, Semir apresentou outra pedrinha, cujo cartãozinho dizia: “Calvário”.
Zainer colocou a mão direita sobre a pedrinha, havendo imediatamente caído em grande angústia, por causa das vibrações que ela emitia.
– Que tristeza, meu Deus!... – exclamou o psicômetra – Há uma treva cobrindo a paisagem!... Tudo se desenrola debaixo de fúnebre cobertura!... Parece que a tristeza envolve, ainda, o local do tremendo crime!... E vão passando, vão entrando e saindo quadros... Tudo, porém, triste, muito triste!...
Depois de breves relatos, vendo gente subir ruas e orar aqui e ali, chegou o tempo certo, o quadro tenebroso:
– Eis que chega o tempo!... Há tumulto em toda Jerusalém!... As ruas estão apinhadas!... Gentes comentam o fato, com medo uns, com entusiasmo outros... Os ares estão conturbados por baixo, mas há muita luz e muito esplendor em cima, nas alturas!... A Terra está em trevas, mas no astral distante há festa entre os espíritos de eleição!... Agora descemos, descemos... Estamos diante do Calvário, estamos na frente de três cruzes, todas elas ainda ocupadas!... Horror e trevas!... Prantos lancinantes de muitas mulheres!... Soldados aparvalhados!... Clérigos que olham aquilo com sarcasmo e raiva!... Autoridades que não sabem como agir!...
Zainer estacou, constrangeu-se todo e gritou:
– Meu Deus!... Estão pregando!... Crucificando!... Há gritos tétricos, há horror de morte em tudo aquilo!...
Como os quadros eram regressivos, logo após recomeçou:
– A multidão se acotovela!... Jesus caminha, todo roto, todo sujo, todo maltratado, carregando a cruz nas costas!... Tudo se mescla, tudo se divide!... É que alguns choram, enquanto que outros se alegram loucamente!... Soldados chicoteiam!... Alguns homens cospem no rosto de Jesus!... Ao longe, algumas mulheres se entregam ao pranto e à oração, porque Deus, somente Deus poderá saber de tudo e de tudo dispor!... Em suas almas, em seus corações, bem estamos vendo, há treva e há esperança!... Jesus havia dito tudo, havia prevenido de tudo quanto ocorreria!...
Mais um lapso, breve lapso, e tudo recomeça:
– Jesus diante de Pilatos!... Jesus defronte a Herodes!... Jesus devolvido a Pilatos!... Está ferido, maltratado, ensangüentado!... Mas está impávido, está celestial!... Envolvem-n’O as luzes de cima, das legiões que O cercam!... É Deus!... É a Luz Divina que O ilumina e sustenta!... O mundo cometeu um crime, porém terá que resgatá-lo!... A Lei de Deus paira no ar, balouça como se estivesse clamando por Justiça!... Vejo as tábuas da Lei, que vibram no alto, bem no alto, anunciando tempos de treva e de dor!...
Mais um breve silêncio e prossegue:
– Estamos no Horto! ... É noite... Judas vem na frente, Jesus o espera e lhe dirige a1gumas palavras... Judas beija-O... Jesus torna a lhe dizer duas ou três palavras... Muitos homens, armados, cercam e prendem a Jesus!... Há tumulto e correrias... Alguns homens querem espancar!... Judas brada que não!... Judas detém alguns homens exaltados... Jesus é amarrado e conduzido preso...
O Guia anuncia a Zainer o fim dos quadros; de fato, cessam as visões transmitidas pela pedrinha.
O sírio riquíssimo apresenta outra, cujo cartãozinho diz: “Monte Sinai”.
Zainer coloca a mão direita sobre ela, enquanto que a voz potentíssima volta e anuncia:
– Entre Jesus e a Lei de Deus não há diferença, porque o Cristo é a Lei vivida em condição humana! A Lei contém a Moral que dignifica, o Amor que diviniza e a Revelação que adverte, ilustra e consola! Em Jesus, sabei-o, há isso mesmo, além de haver o derrame de espírito sobre toda a carne!
Passado o momento de exaltação, Zainer começa a relatar:
– Surgem os quadros preliminares... Vão se repetindo os fatos, regressivamente... Estamos vendo o Monte Sinai!... No alto está coberto de nuvens densas, como se fossem densas fumaças fosforescentes... Um grande povo se estende pelo vale!... Fremem os ares com o pavor, com o terror que medra naquela gente toda!... Surge Moisés!... Parece-se com João Batista!... Digo ser João Batista, pelos traços fisionômicos!... É frágil de corpo, mas a energia vem do mundo espiritual que o envolve!... Legiões de almas luminosas lhe envolvem a personalidade e lhe dizem o que fazer... Moisés reflete um estranho poder!... Dele partem chispas de luz!... Moisés é um homem cintilante!... Suas faculdades mediúnicas parece que incendeiam!...
Houve uma parada e o quadro mudou-se:
– Moisés fala ao povo e o povo teme a sua presença!... O povo se afasta... Moisés dirige-se ao Monte... Procura o caminho, sobe, sobe... Entra naquela nuvem fosforescente... Sua presença causa movimentos reluzentes... Almas de escol cercam-no, motivo por que Moisés brilha, brilha!... Há estremecimentos nos ares e há muita alegria no plano espiritual!...
Zainer silencia, para depois continuar:
– Moisés ajoelha e cai em oração!... Das alturas um corisco fende os ares e um grande, um luminoso espírito fala a Moisés... Este se ergue, encaminha-se para um lado e apanha duas lajes parece que preparadas... O grande espírito fala, em voz como de trovão, enquanto Moisés escreve nas lajes... Parece que o trabalho é custoso, mas o Profeta é tremendamente assistido! ... O grande espírito envolve o Profeta e este risca a pedra com vigor e pavorosa força!...
Novo lapso e nova narrativa:
– Estão avisando – diz Zainer – que esta foi a segunda subida de Moisés ao Monte... Afirmam que assim foi a Lei, mais uma vez, no seio de mais um povo, retransmitida aos homens... Dizem que a Lei contém tudo, a Moral, o Amor e a Revelação. Testificam que o Cristo foi a Lei Viva, contendo tudo quanto ela contém de modo teórico. E anunciam que nada mais será anunciado.
Zainer é tomado pelo Guia, que diz aos dois presentes:
– Se alguém, irmãos, dizendo-se religioso de qualquer religião ou seita, não quiser estar convosco, pelo fato de serdes discípulos do Cristo ou da Lei Viva, que contém em Si a Moral, o Amor e a Revelação, tende piedade desse alguém, pois ele estará fora da Lei e do Cristo! Quanto a vós outros, servidores da Excelsa Doutrina, sabei que o erro e a ignorância desse alguém, desse infeliz alguém, em nada vos poderia honrar! Sede, pois, dignos filhos do Pai Divino, que vos enviou, em todos os tempos, Grandes Reveladores, tendo-vos enviado o Cristo Planetário, na ocasião propícia, para tornar o conhecimento da Verdade de alcance geral ou generalizado. A Verdade, como Doutrina, é a mesma Lei; e o Cristo, como Divino Modelo, é a expressão da Lei em caráter humano. Se souberdes cultivar a Lei, ou executá-la, consoante a demonstração feita pelo Cristo, estareis com a Moral, com o Amor e com a Revelação. Estareis, portanto, com todas as virtudes e com todos os conhecimentos necessários.
O presidente perguntou:
– Podeis dizer algumas palavras sobre o Espiritismo Histórico?
O Guia respondeu:
– Quem diz Grandes Revelações, não diz grandes religiões; infelizmente, sempre surgiram homens, ou grupos de homens, que transformaram as Grandes Revelações em obra de mercantilismo! Sabei, portanto, que os Grandes Iluminados sempre tiveram a Lei de Deus por base de conduta. Sem Lei não há Virtude e sem Virtude não há Autoridade! A Verdade é o conjunto, apresentado como Doutrina. É por isso que o Espiritismo representa a Ordem dada pelo Cristo Planetário, aos Seus Imediatos, em caráter de reposição das coisas no lugar. Tendes no Espiritismo a Moral, o Amor e a Revelação. Posso dizer-vos mais – aquele que recebeu a incumbência de dirigir os trabalhos restauradores, sob a égide do Cristo Planetário, dá-se por feliz de estar cumprindo com os seus deveres. A Doutrina, que Jesus apresentou como provinda do Pai Divino, foi restaurada como tal e como tal está sendo levada aos confins da Terra.
– Muito obrigado! – disse o presidente.
– Nada há que agradecer, porque estamos fazendo a parte que nos cumpre; é de todo glorioso servir a Jesus e aos Seus Imediatos. Tendo em mente, porém, que aí ficará a Doutrina reposta no lugar, ficando cada um responsável pelo uso que dela fizer. Ninguém poderá deslocar para outrem a sua responsabilidade individual, o produto de suas obras. Vide o capítulo final do Apocalipse, pois a obra restauradora é o seu prosseguimento, é o Novíssimo Testamento.
O Guia despediu-se. Houve silêncio e oração.
Ao terminar a tarefa que nos encomendaram, em companhia de muitos outros irmãos e amigos, queremos também render graças ao Céu, porque ela nos favoreceu o trabalho bendito, além de nos propiciar belíssimas oportunidades de observações infinitamente deslumbrantes. As maravilhosas faculdades do psicômetra foram vertentes de formosíssimas revelações, também para nós, os servidores deste lado. E por tudo quanto nos fora dado, nossas almas rendem graças ao Todo Poderoso, que é íntimo a tudo e a todos, porque é Onipresente, Onisciente e Onipotente. E se é Verdade Irrevogável que o progresso cumpre a todos os filhos de Deus realizar, é também Lei Inderrogável que ele será feito sob graças ou sob dores, segundo como for o comportamento de cada um. Não nos julgueis exagerados em matéria de exigência Moral; compreendei que, experimentados que somos, fomos para isso enviados, para falar a linguagem da experiência. Nossas dores representam, para convosco, o grande brado de alerta. Nossas falhas hão de valer, por certo, advertências de tremenda importância. A hora cíclico-histórica reclama atenção, muita atenção, porque é de caráter transitivo, é a passagem de uma era para outra, sendo indispensável lembrar aquele tema onde figuram cabritos e ovelhas, os da esquerda e os da direita...
Como a verdadeira Mestra é a Lei de Deus; assim como Jesus, vivendo-a, foi apresentado como Mestre ou Modelo, procurai realizá-la em Moral, em Amor e em Revelação, pois assim obtereis duas vantagens fundamentais: pelo conhecimento da Verdade dareis fim aos conceitos enigmáticos, misteriosos e milagrosos, de que se valeram as instituições medíocres rotuladas de religiões, para se imporem aos povos menos avisados, e, pela execução da Verdade em vossos atos em geral, tornar-vos-eis realmente livres.
E então repetireis com Jesus, quando refletiu, em palavras, o grau de união em que Se encontrava para com o Pai Divino: – “O Filho do Homem veio do Céu e está no Céu”. Respondei, irmãos, a esta pergunta: Seria possível alguém dizer isso estando em desarmonia com a Lei de Deus ou Vontade de Deus? Atendei, pois, a este conselho: não é de ladainhas, não é de formalismos que a Providência está necessitando, por parte dos habitantes da Terra; é de obras dignas, é de exemplos libertadores, consoante Aquele que foi apresentado como Divino Modelo. Ninguém se confunda, portanto, esperando por algum redentor de fora, porque disso jamais haverá na Ordem Divina. Cada qual tem em si mesmo o Reino do Céu, e deve trabalhar para despertá-lo, porque não virá com mostras exteriores.
Eu, que um dia fiz um curso de aprendizado, depois de sofrer as penas decorrentes de minhas faltas, compreendi aquilo que deveis compreender, mais cedo ou mais tarde; isto é, compreendi que a Lei de Deus contém tudo, sendo que o Cristo de tudo é a Testemunha Viva, por exemplificar a Moral, o Amor e a Revelação. Se o vosso irmão, portanto, estiver contra estes fatores básicos, alertai-o, visto ser impossível estar com Deus e contra Deus ao mesmo tempo.
Raciocinai e vede que vos pedimos Inteligência, Amor e Trabalho, porque isso mesmo pedimos a nós mesmos, que somos iguais em Origem, Processo Evolutivo e Finalidade.
* * *
Osvaldo Polidoro Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Deves estar lembrado, irmão que vens de ler esta narrativa, da morte de Rosália e dos seus dizeres na hora do desenlace:
– “Meu querido, eu voltarei... Ainda falarei contigo... Etc. ...”
Temos que, ao findar a obra, confirmar suas palavras; ela, de fato, escondeu-se atrás de um pseudônimo, sendo o Guia que direcionou os trabalhos de Zainer, o roteiro de suas atividades mediúnicas. Como espírito dotado de grandes valores acumulados, viera ao mundo para auxiliar, para guindar um irmão, alçá-lo do triste lugar em que caíra, levantá-lo da horrível posição em que se atirara.
Era seu esposo, apenas? Não! Antes de tudo somos irmãos, filhos do Pai Divino, sujeitos aos mesmos deveres e herdeiros dos mesmos divinos bens. Portanto, irmãos, havia entre eles o que há entre vós, entre nós, aparentes laços de sangue e familiaridade, enquanto que fundamentais leis de igualdade, de fraternidade, de mútuas obrigações emancipadoras.
Lá ao longe, segundo os conceitos humanos, porém aqui perto, segundo as leis de Deus, Zainer e Rosália foram sanguinários adversários. Ela, todavia, enveredou pelo sendeiro da redenção, triunfou sobre si mesma e se elevou no quadro infalível dos aumentos vibratórios. Ele, porém, rumorejou pelos baixios, palmilhou lugares tristíssimos e repetiu vidas recalcadas de fracassos.
E ela, de alguns séculos a esta parte, revendo seus dias históricos, compreendeu a lacuna existente. Foi então que se dirigiu a seus superiores, indagando daquele irmão, daquele desafeto sanguinário.
– Está sofrendo, irmã, o preço das iniqüidades perpetradas... – foi a resposta que lhe deram, aqueles que sabiam das leis e das mútuas obrigações.
– Qualquer coisa me diz – acentuou ela – que devo fazer alguns esforços em seu beneficio. Afinal de contas, erramos juntos!
– O superior, entre dois errados, deve auxiliar o inferior, desde que este se prontifique a trabalhar pelo seu ressarcimento. Porque, se é certo que na Ordem Divina jamais existiram enigmas, mistérios e milagres, certo é, também, que nunca deixará de existir a lei de cooperação. Investigue, portanto, se ele está disposto ao reerguimento, para auxiliá-lo em seus esforços redentores. Não terá que fazer favores, nenhum mistério irá encontrar, para beneficiá-lo; mas terá, como em todos os tempos, a Lei de Deus a seu favor, para auxiliar a quem deseje de fato ser auxiliado.
Ela saiu a campo, foi procurar o inimigo de outros dias; ele rondava os tristes lugares da subcrosta, sofria o preço de suas obras e de suas incoerentes atitudes para com a Lei de Causa e Efeito. Estava reduzido a escombro, mal se diria ali estar, nos fundamentos, um filho de Deus destinado a ser, um dia, Luz, Glória e Poder, ou reflexo da Divindade!
– Queres erguer-te, irmão, deste lugar pavoroso? – perguntou-lhe ela, toda comiseração.
Largado como se fosso um tolo, respondeu:
– Tudo não é apenas pavoroso?... Isto é tudo quanto há de bom...
– Nós mesmos – disse ela – temos o Reino do Céu dentro, para ser despertado e usufruído. As glórias do Pai estão em nós, devendo apenas serem por nós menos desabrochadas. É questão de conhecer a Verdade e de executá-la... Por ora, se quiseres, oferece um pouco de boa vontade... Eu te guiarei, eu te darei a mão...
– Quem és tu?... – perguntou ele, aparvalhado, porém interessado.
Ela meditou, depois respondeu:
– Um espírito irmão... Que importa saber ao certo quem sou, quem és tu, se a Lei é acima de parentescos e de particularidades?... Anda, vem comigo, vem descobrir a Luz Divina que está dentro de ti mesmo, que está enterrada nas profundezas do erro e da ignorância! ... Dá-me a tua mão, confia em mim...
Ele ergueu-se e acompanhou-a. Ali começou a sua jornada redentora, auto-redentora, sob o influxo da Lei de Deus, de quem o Cristo Planetário é o Fiel Executor.
Vede bem, irmãos, como se cumprem as leis e os desígnios de Deus. Todos tendes, ao redor, em forma de parentes, familiares e amigos, ou mesmo inimigos, apenas a irmãos em Origem, Processo Evolutivo e Finalidade. Como é certo que ninguém erra nem acerta sozinho, convém lembrar sempre dos deveres reparadores, porque enigmas, mistérios e milagres não existem, prevalecendo sempre a realidade das leis e dos fatos.
Assim como foi com eles, como está sendo, assim mesmo será com todos nós; as religiões, ou coisas que se dizem tais, inventadas por homens, poderão negar a Deus o Supremo Direito de ser como de fato o é. Entretanto, os conceitos humanos passam, mas a Verdade permanece!
Lembro-vos, de novo, aquela sentença, a vós que tendes a Lei de Deus por Mestra e a Jesus Cristo por Divino Modelo: – o erro e a ignorância não vos podem honrar de maneira alguma. Fazei tudo, portanto, para estardes acima dos ramerrões do mundo. A Verdade não é religiosa, basta-lhe ser Verdade. Por isso mesmo, irmãos, é a Verdade quem livra, desde que conhecida e executada. Observai, porém, que conhecida e executada entre irmãos, na vida social, nos atos diuturnos. Já estais muito longe dos dias férteis em erros, em idolatrias, em fetichismos, em superstições; já não careceis de andar pelas trilhas indicadas pelas clerezias comercialistas, edificadas sobre nobiliarquias temporais, dogmas absurdos e blasfemos, cujo fito sempre foi servir imperialismos despóticos, conchavos de grupos, maquinações escusas, onde o bolso, a pança, os orgulhos e as vaidades humanas sempre andaram a se refestelar.
Pelo que vos tem ensinado a Excelsa Doutrina, cujos fundamentos são a Moral, o Amor e a Revelação, ou as forças que dignificam, que divinizam, que advertem, ilustram e consolam, bem podeis compreender que no vosso imo está o Supremo Juiz, o Tribunal Divino, jamais havendo mistério algum, milagre qualquer, que vos possa agravar ou libertar.
Através da Excelsa Doutrina, aprendereis em consciência a importância da iluminação interna, pela qual vireis a amar a Deus em Espírito e Verdade, assim como Ele é e deseja que o sejais! Porque a Moral da Lei, que é a da Excelsa Doutrina, está isenta de facciosismos sectários, está acima de conchavos de grupos, não toma parte nos sindicatos humanos que visam a sustentação e o funcionamento daquelas organizações supra designadas.
Através da Excelsa Doutrina, cujo Amor ensinado é aquele que verte da conduta social a mais excelente, compreendereis que o Reino do Céu, que é de ordem interior, é questão de essência e não de rótulos, é questão de alma e não de engodos inventados, sustentados e impostos pelos ganancismos de certos grupos.
Através da Excelsa Doutrina, que tem na Revelação o instrumento que adverte, ilustra e consola, tereis sempre lembrados a Moral que harmoniza e dignifica, e o Amor que sublima e diviniza. E a um tempo, como podeis observar, estais defronte à Doutrina Integral, ao Terceiro ou Novíssimo Testamento, porque estais na presença de Deus, da Criação, da Verdade, das Leis Regentes, do Cristo e de vós próprios. De vós próprios que sois, em verdade, Cristos em desabrochamento!
E por isso mesmo, irmãos, estais na presença da interpretação total do Cristo, ou da Síntese Geral, porque estais observando a matéria elevada ao grau de sublimação, depois de atravessar todos os estados inferiores, desde que veio das primeiras energias condensadas, atravessando reinos e espécies, fornecendo ao espírito elementos e meios, condições e oportunidades. Sim, no Cristo tendes a Criação vitoriosa, o espírito e a matéria, tudo que veio dos planos infra e se elevou, pela movimentação e evolução, aos planos ultra! No Cristo, ó irmãos, tendes as Terras e as Humanidades, tendes a vós próprios, porque a um tempo revela a infusão reinante entre o Pai e o Filho, entre a Lei e a Evolução das coisas e dos seres.
Compreendendo as leis regentes do Universo, compreendereis o Cristo como Medida Completa; e compreendendo o Cristo como Medida Completa, ou evolução espiritual e material levada a termo, tereis pela frente o caminho demonstrado plenamente, o ponto de referência a ser atingido.
Quem estará fazendo favor a terceiros, pelo fato de tomar exemplo com quem sabe, pode e é manso e humilde? Ou haverá, acaso, algum sectarismo que possa mais do que a Verdade, assim como foi ela revelada pelo Cristo, a fim de vir a ser conhecida dos homens de boa vontade e pelos seus esforços íntimos realizada?
Ao terminar a narrativa quero, muito propositalmente, fazer três considerações de ordem doutrinária:
a) A Lei de Deus contém três sentidos fundamentais, que são a Moral, o Amor e a Revelação. Para o espírito vir a conhecer e a executar a Lei de Deus, necessita de fazer toda a escalada biológica, toda a evolução através dos reinos e das espécies, até atingir o grau crístico;
b) O Cristo Planetário veio dar cumprimento à Lei de Deus, em Moral, Amor e Revelação, precisamente para Sua obra ficar servindo de Divino Modelo a todos os espíritos Seus tutelados;
c) O Espiritismo, ou restauração do Cristianismo primitivo, tendo por fundamento a Lei, que quer dizer a Moral, o Amor e a Revelação, nada tem com as religiões e os sectarismos que vingam pelo mundo. Basta-lhe ser como é, para ser evolutível ao infinito, no concerto da fenomenologia cósmica, de todas as verdades que, somadas, perfazem a Verdade Total. Será ridículo pretender aumentá-lo ou diminuí-lo, uma vez que ele é completo pelas suas virtudes fundamentais, uma vez que ele tem tudo para crescer, assim como o Cristo Histórico irá crescendo, na razão direta em que a Humanidade for compreendendo o Cristo Cósmico. Deus, a Verdade, a Lei e o Cristo, eis do que tratará o Espiritismo, em todos os tempos, até que a Humanidade esteja n’Eles integrada, por haver completado o ciclo evolutivo que lhe cumpre. Porque ele contém tudo para ensinar bem, quer seja a respeito da ORIGEM, quer seja a respeito do PROCESSO EVOLUTIVO, quer seja a respeito da SAGRADA FINALIDADE DA VIDA!
Onde quer que se encontre, portanto, um espírita consciente, ali estará quem tem elevada consciência do Criador, da Criação, das Leis Regentes e das Virtudes Fundamentais de todos os seres. Não importa a ele o problema da Terra em particular, porque mentalidade cósmica que é, sua mente abrange o Infinito, por saber que universais são todas as coisas e todos os seres em Deus. Sua atuação jamais será no sentido de endossar a inferioridade, o erro e o crime, por saber que é a lei evolutiva a trilha que conduz à libertação final. Não se dará ao trabalho nefando de prestigiar as formas inferiores de culto, compenetrado que é de que o Divino Modelo, por ser Divino Modelo, cumpriu com o seu dever de Conhecedor Verdadeiro, sacrificando a vida pela Causa da Verdade e não a Causa da Verdade pelos mesquinhos e subalternos interesses sociais ou mundanos.
Quanto ao Espiritismo, ou Causa da Verdade, do que importa é ser ou não ser. E uma vez mais fica dito, que muito importa haver poucos e reais espíritas, do que muitos prosélitos sem a menor noção da função que lhes cumpre no mundo, função de todo iluminadora de almas, porém de bem difícil desempenho, pela dureza do meio, pelo materialismo reinante ainda nas grandes massas humanas terrícolas.
Naquele tempo, salientou Jesus que aos Discípulos da Luz cumpria ir pelo mundo e trabalhar entre lobos vorazes... Ele mesmo tendo escolhido doze principais, teve dentre eles um que traiu, outro que negou e ainda outro que precisou apalpar para crer... Por isso mesmo, não se acredite que de momento todos possam ser espíritas; porque a Causa da Verdade não é a causa da inferioridade, capaz de servir a todo e qualquer pretexto, desde que parecendo estar com a Verdade. Os lobos vorazes mais perigosos não são aqueles que se mostram como tal; são aqueles que, parecendo ovelhas, debaixo da aparência meiga escondem os piores propósitos. Não foram os materialistas e ateus que crucificaram a Jesus. E bem sabeis vós quais foram — os homens do Sinédrio!
Não seria prudente pingar o último i, sem dizer-vos que a Humanidade, ao findar o primeiro ciclo do Cristianismo, conta com muitos e não apenas com um só Sinédrio.
FIM