Lei, Graça e Verdade - Capítulo
IX
Era
um domingo, à tarde, ao terminar de uma reunião. O maior número
havia saído, estando presentes apenas o jovem sírio, a moça
ex-protestante e o discípulo. Conversavam sobre as lições,
observando o Mensageiro que ali estavam três elementos de
excepcional valor, pois chegavam a recordar minuciosamente,
particularidades doutrinárias e casos vistos no amplo salão do
outro plano, felizes ou dolorosos.
—
Entretanto, — falou o jovem sírio, — ficamos desconhecendo
acontecimentos posteriores; não sabemos o que ocorreu em seguida,
após a morte dos Apóstolos e seus seguidores, quando a Excelsa
Doutrina do Batismo foi eliminada. Sendo absolutamente certo que
Jesus veio edificar a Doutrina do Pai sobre a REVELAÇÃO, certo é
que foi corrompida, para ter que vir a ser, mais tarde, restaurada.
Como poderemos vir a ter informes seguros, se as lições terminaram?
O
discípulo perguntou-lhe:
—
Não têm vocês lembrança alguma daquilo que ocorreu na hora de
retomar os respectivos corpos?
—
Quem me devolveu ao corpo, — falou o jovem sírio, — foi um velho
árabe; não recordo porém, tê-lo ouvido dizer qualquer coisa a
esse respeito.
—
Quanto a mim — disse a moça, — apenas tomei parte na última
exposição. O que recordo, com toda a precisão desejável, é
aquilo que vi e ouvi. Lembro-me de uma senhora, toda de branco, que
me disse palavras carinhosas. Nada mais. Tenho certeza, no entanto,
que uma vez conhecendo o verdadeiro Cristianismo, pouco importa
sabermos quem o corrompeu, quando o fez e para quem.
Sinto-me feliz,
muito feliz, por haver conhecido a VERDADE através da REVELAÇÃO. O
Evangelho não é mais o Livro teórico, não fala mais de uma
Doutrina vivida pelo CRISTO e Seus Apóstolos, mas é o livro vivo,
prático, o Testamento que continua a crescer, a ter aumentadas as
suas lições, aquelas mesmas lições que Jesus Cristo não pôde
então ensinar, porque as inteligências do tempo não as poderiam
suportar. Sinto-me feliz, afinal, porque tenho em mim a certeza de
que posso colaborar com o Divino Mestre, na altura de minhas
possibilidades, segundo as faculdades que se estão manifestando, a
bem da verdadeira evangelização do mundo. Sinto que me estou
fazendo discípula...
Assim
falava, embevecida num transporte de super lucidez, quando sua mão
direita começou a ser movimentada por um emissário de alta esfera,
que ali compareceu, vindo não poderia eu dizer de onde, nem com
ordens de quem. Sei, apenas, que vinha cheio de autoridade,
irradiando luzes e matizes de cores deslumbrantes.
—
Quer ver, — disse ela ao discípulo, — quem é que tange meu
braço?
O
discípulo concentrou-se, viu e falou, recomendando que se procurasse
lápis e papel, porque a entidade brilhante desejava escrever. Feito
isso, foi a jovem perdendo a consciência, caindo em transe
sonambúlico. Escreveu muitas folhas de papel, com estranha ligeireza
e caligrafia que não era a sua.
Quando
foram ler, estava escrito:
“O
Pentecostes, como viestes a saber, foi o início da Igreja Viva,
edificada sobre a Revelação, conforme o Senhor a deixara, segundo
as promessas do Pai, feita através dos Profetas hebreus.
Estais no
conhecimento, também, do sistema de reunir dos Apóstolos, com a
finalidade de cultivar a Revelação, o intercâmbio com o mundo
espiritual.
Essa
Igreja Viva permaneceu, até que o Imperador Constantino, a bem da
política imperialista e sanguinária de Roma, a peso de perseguições
e de mortes, fê-la desaparecer, transformando-a no catolicismo
romano que conheceis. Muitas dores, milhares de vidas e grandes
perdas para a Humanidade, custou essa corrupção tremenda. Eu fui um
dos algozes da Excelsa Doutrina, tendo sofrido muito por essa causa.
Grandes lutas enfrentei no curso de muitas vidas, para resgatar um
pouco, deixando vasta soma de trabalhos para os dias em que seria
feita a restauração.
De
fato, vim nos princípios do século em que viveu João Huss; estive
presente, e mais tarde sofri parte das perseguições levadas a termo
contra os companheiros de Lutero. E voltei, no tempo de Kardec,
servindo como instrumento mediúnico, para que a Codificação fosse
apresentada ao mundo, retransmitindo as lições imortais do
Evangelho, em singeleza e verdade, além de ministrar o conhecimento
e as minúcias de muitos e profundos problemas da vida.
Regozijai-vos
com o Divino Mestre, pela tarefa singela que vos cabe, a fim de que
possais vos contar, desde já, entre aqueles que lutam pela
iluminação das almas, para a si mesmos se iluminarem.
Procurai
a Verdade, com todas as forças do cérebro e do coração!
Mantende
o espírito livre dos grilhões sectários, pois que o Espiritismo1
é a Síntese das Revelações, devendo pairar muito acima de
superstições religiosistas!
Amai-vos
uns aos outros, conforme a Divina Lição, porque aqueles que estão
longe do Amor estão longe do Céu! E assim, pelo conhecimento da
Verdade e pelas práticas do amor ao próximo, orai a Deus no templo
da consciência, onde jamais deverá faltar o lume sagrado, que é a
fé construtiva!
Tende
horror à falsa fé; não deis guarida ao fervor contemplativo,
destituído de obras edificantes.
Que a vossa Religião seja o
conhecimento e o culto prático da Verdade, para que possais amar a
Deus em Espírito e Verdade, assim como Ele foi, é e será
eternamente!”
Depois
de lida a formosa mensagem, três almas encarnadas, irmanadas pelos
mais nobres e elevados sentimentos, fizeram coro numa das mais
comoventes orações que pude presenciar, até o presente, entre
espíritos encarnados. Nunca tinha eu visto, e nem poderia supor, que
tanto pudessem alcançar espíritos embutidos na carne, em matéria
de penetração interior, a ponto de refletir com tamanha intensidade
o BRILHO, a LUZ DIVINA, que é DEUS, que é o PAI, essa
VERDADE SAGRADA que todos temos por FUNDAMENTO, mas que bem poucos
sabem compreender, procurar pelos caminhos do conhecimento e realizar
na iluminação interna!
Diante
do quadro comovente, senti que minha inteligência crescia, que minha
consciência evoluía, atingindo um grau de espiritualidade jamais
imaginado. Aquela onda envolvente, celestial, a tudo absorvia,
proclamando o êxtase, clamando pelo CRISTO interno, pelo CÉU que
dorme dentro de cada um de nós.
Atraído
por tamanha unção espiritual, apresentou-se o primeiro Mensageiro,
aquele chamado grande Mensageiro, com quem o discípulo fizera a sua
primeira viagem astral. Era um dos IMEDIATOS do CRISTO Planetário,
uma LUZ que se avizinhava do Seu Divino Tutelar. Sua presença
luminosa, deslumbrantemente gloriosa, encheu de sublimes vibrações
o ambiente, transformando-o num mundo de luzes e músicas, de
indizíveis graças de DEUS.
Sob
aquela tangência tremenda, foi o discípulo quem caiu em transe
repentino, vindo seu espírito para o nosso lado, envolto na aura
gloriosa do grande Mensageiro, do luminoso IMEDIATO de Jesus Cristo.
—
Quantas graças! Quantas! — exclamou o discípulo, reconhecendo
nele o primeiro instrutor espiritual que lhe viera em socorro, cheio
de paz e de ternura para com os seus anseios de VERDADE.
O
grande Mensageiro falou-lhe, com infinita simplicidade:
—
Mais graças temos, ainda, para desabrochar na intimidade espiritual.
Não te esqueças de que somos filhos de DEUS, que Sua natureza é
LUZ DIVINA, acima de cogitações para nós, segundo o nosso grau
evolutivo, mas que temos por FUNDAMENTO a Sua DIVINA ESSÊNCIA, tudo
quanto é de DEUS. E se conseguiram atingir tamanho e tão glorioso
alcance de penetração, foi por esforço próprio, foi à custa de
trabalho psíquico elaborado na intimidade, pelos caminhos do AMOR e
da SABEDORIA. Tendes encontrado, portanto, a Via do Senhor! Não
abandoneis essa Via, sejam quais forem os percalços da vida, custe o
que custar às vossas carnes, assim como nos deu Ele o Seu Divino
Exemplo. Despertai o CRISTO interno! Enchei-vos de LUZ!
Desapareceu
o grande Mensageiro, em sua própria aura de gloriosa luminosidade; e
o discípulo volveu ao corpo, com os olhos rasos de lágrimas.
—
Onde fostes parar? — perguntou-lhe a jovem.
Respondeu
o discípulo:
—
Estive aqui mesmo. Tornei a ver o primeiro Mensageiro; um dos
IMEDIATOS do CRISTO Planetário.
—
Que te disse ele? — perguntou-lhe a jovem, muito interessada.
—
Disse-me para trabalhar... O trabalho é o programa que conduz ao
CRISTO interno, à iluminação interior.
O
jovem sírio murmurou, cheio de gravidade:
—
Temos, verdadeiramente, recebido grandes lições e maravilhosas
graças. Não podemos esquecer as obrigações; não devemos olvidar
que a Terra é um mundo cheio de trevas, mundo que carece de ingentes
esforços esclarecedores.
A
conversa entre os jovens prosseguiu, plena de felizes intenções.
Foi assim entretidos que os deixei, porque alguns companheiros vieram
reclamar cooperação, a bem de alguém que se achava muito mal e
fazia suas invocações constantes.
Ao
retornar, mais tarde, fui encontrar o discípulo mergulhado em
auspiciosa leitura. Era um livrinho que lhe haviam oferecido, de
máximas, onde colhia ele as pérolas de inestimável valor, porque
impregnadas de severas e diretas advertências, principalmente para
aqueles em que as faculdades mediúnicas se manifestam, os mais
fáceis de influenciação, os mais necessitados de boas previdências
em geral.
Minha
promessa, junto aos amigos e companheiros de função, fora
transportar o espírito do jovem discípulo, a fim de que fornecessem
fluidos humanos, eletromagnetizados, para cooperar em uma cura
desejada e possível. Assim fazendo os demais chamados anjos de
guarda, teríamos volumosa e boa contribuição de fluidos curadores,
com que atender a um irmão encarnado, cujos anos de negligência
espiritual foram muitos, e que ora voltava ao redil dos contatos
conosco, através do sofrimento horrível que o acometera.
Enfim,
era um estulto a mais, como tantos milhões de outros que vivem sobre
a Terra e nas regiões inferiores, gente de DEUS, é claro, mas que
tem a infeliz conduta de ser avessa ao AMOR e à SABEDORIA,
instrumentos que neutralizam a dor.
De
fato, consoante a palavra de um companheiro, dera-se ele ao nefando
procedimento, pois acudira ao chamado de pretéritos recalques,
descambando para o mais ferrenho materialismo, de cujo ponto ao
desleixo moral poucos passos havia. Um certo espírito, que lhe dera
lições de materialismo quando encarnado, a ele se colara,
aumentando-lhe até certo ponto as convicções.
Com
o evolver dos dias, este espírito fizera-se consciente do seu estado
de desencarnado, vindo a sofrer tremendas dores de ordem moral,
caindo em profundo constrangimento. Reconhecendo que a vida
continuava, passou a meditar e a visitar seus parentes e amigos,
enquanto pôde. Quando o seu estado piorou, colou-se ao companheiro
de convicções, não mais o abandonando.
O
encarnado, entretanto, fora-lhe sofrendo a influência, caindo em
amarguras e dores, até que um dia meteu-se no leito, para ali fazer
longo e angustiante estágio. Porque os médicos não lhe dessem
jeito ao mal, apesar dos muitos zelos, sua mulher atendeu a conselhos
amigos, indo parar em um Centro Espírita, onde obtivera alertante
informação.
Disse-lhe
o espírito consultado:
—
Todas as criaturas encarnadas se relacionam com o mundo espiritual,
pelas consonâncias vibratórias, a lei que gera aproximações e
repulsões, conforme sejam simpáticas ou antipáticas. O mesmo se dá
no plano espiritual entre os espíritos e Deus: quem se aproxima
d’Ele promove sua evolução, cresce no plano universal,
transforma-se em veículo do SUPREMO PODER e goza de Suas Divinas
Graças; quem se afasta, nega e atrita com o PODER SUPREMO, que lhe é
FUNDAMENTO; prepara-se para más companhias e maus dias; as dores e
as trevas lhe farão compreender, um dia, que deve tomar o caminho de
retorno e levar de vencida a marcha triunfal, debaixo de tremendos
esforços. Sim, debaixo de tremendos esforços, porque ninguém
poderá discrepar violentamente da VERDADE, sem que lhe pesem, no
setor das responsabilidades, tremendas obras de reequilíbrio.
E
com acento alertante, concluiu:
—
Seu marido afastou-se de DEUS, que por todas as manifestações da
Natureza se revela INFINITO em PRESENÇA e PODER, a fim de se unir
aos estultos que encontrou pela frente, infelizes que não poderiam,
como disse Jesus, acrescentar um côvado à sua estatura... Então é
justo, irmã, que se renegue Deus, para aceitar ilusões e erros? Eis
aí, que ele tem ao lado o seu mestre de brutalidades, o seu amigo de
convicções, além de ter o gélido ateísmo a lhe minar as fontes
do equilíbrio, da paz e da saúde. Seu marido, minha irmã, tem
ruínas internas e externas com as quais deve ajustar contas. Para
aconselhar, sugiro que comece desde já um vigoroso serviço de
reação; que se arrependa de sua ridícula descrença, que se faça
leitor de bons livros, que procure se livrar do infeliz acompanhante
que tem ao lado. Nós o auxiliaremos, na razão direta em que se
fizer merecedor. É um grande transgressor e necessita de uma grande
reparação.
A
mulher levou ao marido a mensagem do CÉU, que lhe fora transmitida
pelo seu emissário espiritual; e o marido, velho e decrépito, sem
os estímulos da juventude e sem falsas venturas da saúde mal
aplicada, considerou que havia cometido tremendo erro, do qual teria
que se desfazer, custasse o que custasse.
—
Verdadeiramente, — disse ele à mulher, — eu estou velho, cansado
e doente, enquanto o Universo continua, cheio de vida e de
esplendores... Na minha juventude, saturado de força e vigor,
cheguei a pensar que o sol brilhava por minha causa e que a Terra
produzia para meu exclusivo benefício... Minha presunção não
tinha limites, pois neguei até mesmo o PRINCÍPIO das coisas e dos
seres!... Neguei à OBRA o simples e natural direito de ter o seu
AUTOR!...
A
mulher, que jamais perfilhara os conceitos estultos do marido, em
surdina murmurou:
—
Valha-me, DEUS!... Onde se encontraria infantilidade semelhante?!...
E
acrescentou, em tom de ironia:
—
Que vais fazer com teu mestre e amigo, a quem trazes ao lado?
O
marido, com olhos esgazeados, perguntou-lhe:
—
Não te ensinaram alguma coisa?
—
Ensinaram, — respondeu ela; — ensinaram dois remédios: ler e
viver o Evangelho e tomar água fluidificada. Mandaram dizer, que à
mente e à vontade cumpre um grande serviço renovador, para que o
espírito venha a se colocar em situação de harmonia com o
FUNDAMENTO, que é DEUS, que reside no íntimo de tudo e de todos.
*
* *
Este
era o nosso doente.
Dentro
de alguns minutos, portanto, caiu no sono o discípulo, que deixara
cair o livro também. Apanhei-o pelo braço, completamente alheio ao
corpo, que se achava em plena lucidez espiritual, dizendo-lhe:
—
Estava esperando que o sono dominasse, para que ficasses
completamente livre de qualquer influência vegetativa. Afinal de
contas, não é questão doutrinária a que temos em vista. É uma
cura, porém cura que em tudo está sujeita ao espírito encarnado,
um grande devedor em matéria de fé...
O
discípulo perguntou-me:
—
Pratica ele alguma religião muito falha em relação à VERDADE?
Respondi-lhe,
tendo em mente a importância do assunto:
—
Pior, muito pior que isso! Se é verdade que a maioria da religiões
cogita mais do que interesse dos seus donos, interesses que vão do
bolso ao estômago, atravessando centenas de outros também mundanos,
nem por isso deixa de conter o ALICERCE DIVINO, o germe da VERDADE. O
nosso irmão, que está muito mais doente do espírito do que do
corpo, teve muito prazer em negar tudo quanto se refere a um DIVINO
PRINCÍPIO EMANADOR. Fez, portanto, muito pior do que cultivar uma
religião cheia de falhas e comercialismos mundanos.
Chegando
junto ao leito, dois outros protetores ali estavam, acompanhados da
jovem ex-protestante e do jovem sírio. Imensa foi a alegria dos
três, ao se avistarem de novo, horas depois, no mundo espiritual e a
serviço de DEUS.
—
Vejam, — disse-lhes eu, — como sofrem os dois de frio
insuportável, tanto o encarnado quanto o desencarnado. É o frio da
descrença, é a gelidade da alma que os atormenta.
E
o doente, enquanto isso, reclamava cobertores e chás quentes, com
que atender aos males da alma, a se refletirem no corpo.
—
Façamo-nos visíveis ao desencarnado, — propus, — a fim de
levá-lo para o local adequado. É o primeiro merecimento, porque o
encarnado andou lendo o Evangelho, e orando pela fluidificação da
água, ação que beneficiou ambos.
Quando
visíveis ao desencarnado, imediatamente quis ele saber:
—
Terei muito por que responder, perante o Tribunal Divino?
Um
dos companheiros falou-lhe, ensinando-lhe a grande lição, aquela
que a todos cumpre saber, porque é simplesmente natural:
—
O Grande Tribunal, irmão, é íntimo. A Chave do Reino de DEUS é na
intimidade que se encontra.
Será instruído, para que volte a
encarnação, nada mais. Ninguém chegará a ter, em verdade, o Reino
do Céu que em si mesmo não edificou. Não leu jamais, por acaso que
fosse, as lições de Jesus? Não se lembra de ter dito Ele: “Eis
aí, que tendes o Reino do Céu dentro de vós mesmos”?
O
infeliz irmão abanou a cabeça, caindo em doloroso pranto.
Um
dos companheiros disse ao jovem sírio, que também derramava
lágrimas, condoído que se achava:
—
Nem por acaso teve conhecimento da maior lição, de todas quantas
foram ensinadas aos homens! Como poderia assimilar as lições do
Consolador, se nem ao menos procurou aprender as mais fáceis e
imediatas? Como atender às verdades de que Jesus não tratou
naqueles dias, se nem sequer tomou conhecimento da parte que foi
dita?
Fizemos
com que os três encarnados colocassem suas respectivas mãos sobre o
doente, a fim de lhe passarem fluidos revigorantes e curativos em
geral. Porque os fluidos estavam saturados de fé, carregados de
sublimes valores psíquicos, não apenas eletromagnetizados. Existem
fluidos que curam e existem fluidos que até induzem a sentimentos
gloriosos. Aqueles que se identificam com a UNIDADE DIVINA, que LHE
sentem a PRESENÇA por causa dos desabrochamentos íntimos, esses
podem transmitir fluidos que fazem mais do que curar os corpos.
Transmitem graças realmente espirituais, graças que, quando bem
aceitas e alimentadas pelos indivíduos que as recebem, podem
produzir grandes e imortais efeitos .
Feita
a passagem de fluidos ao doente, ele adormeceu. Foi então que o
trouxemos para o nosso lado, a fim de que visse o companheiro de
negação, prostrado como se achava, chorando amargamente o produto
de suas dolorosas convicções. Depois, muito a propósito,
recolocamo-lo no corpo, obrigando-o a ter lembrança dos
acontecimentos. Afinal, para nós, era uma ovelha desgarrada que
tornava ao redil do PAI, alguém que, tanto quanto nós, esteve
sujeito a suas tentações internas e externas.
Como
fosse de grande atrofia e cegueira espiritual o seu estado, voltou ao
corpo assustado, clamando pelos filhos e pela esposa, dizendo que
estivera com o infeliz companheiro de convicções; que tudo não
fora apenas sonho, que de fato tivera com ele encontro. Relatou o
estado em que o encontrara, cheio de dores e de tristezas, rogando
perdão a DEUS, clamando pela Sua misericórdia.
E
com olhares espavoridos, exclamou:
—
Um horror!... Um verdadeiro horror!...
A
esposa, no entanto, colocara pingos nos ii:
—
Uma graça de DEUS! Reconheça que foi uma graça de DEUS!...
E
ante a perplexidade do marido, completou:
—
Que a lição não fique em esquecimento, que ela sirva de exemplo e
advertência a todos nós. Sem dúvida, foram Mensageiros de DEUS que
te fizeram ver semelhantes coisas, a fim de que te arrependas e sigas
o caminho da fé construtiva.
Um
dos filhos, treinado nas estultícies concepcionais do progenitor, em
tom irônico perguntou:
—
Fé construtiva?... Como é isso?...
Um
dos servidores foi colocar a mão sobre a cabeça da entristecida
progenitora, inspirando-a; e ela respondeu:
—
Consciência espiritual varia ao infinito... As concepções também
variam ao infinito... Mas a morte é certa e o espírito não morre
com o corpo. Também a fé varia ao infinito, pois algumas se
estribam no verdadeiro conhecimento, produzindo obras imortais,
enquanto que outras se estribam em aparências de culto, em rituais
idólatras, em fetichismos e outras coisas mercenárias e inferiores.
O
pai, ouvindo o discurso de sua mulher, satisfeito, murmurou:
—
Ainda bem que você não perdeu o lume da fé!...
E
volvendo aos filhos os olhos marejados, aconselhou-os:
—
Ouvi ao que ela vos disse... Pois que eu cheguei ao fim da vida,
traído pelas minhas convicções, cheio de vazios na alma e dores
cruciantes no corpo... É bom que vocês aprendam com sua mãe. De
hoje em diante hei de mudar, também, se DEUS me conceder mais alguns
anos de vida...
Sempre
inspirada, a sacerdotisa familiar adiantou:
—
Deram-me um livro para ler. E nesse livro está escrito que Jesus
veio ao mundo para batizar em Espírito, a fim de que os homens
aprendam a adorar a DEUS em Espírito e Verdade, libertando-se dos
cultos idólatras, das vestes fingidas, dos comercialismos
religiosistas e de tudo quanto constituiu paganismo. Diz o livro,
seguindo a mesma trilha doutrinária, que aqueles que procuram a
VERDADE em si mesmos, aí a encontrarão, porque DEUS é íntimo a
todos; que esses procurarão os caminhos do AMOR e da SABEDORIA,
vindo a merecer, mais tarde, o galardão dos verdadeiros, justos e
santos.
Ainda
com os olhos plenos de lágrimas, monologou o pai:
—
Vão... Vão dormir... Não se esqueçam jamais de tudo isso...
Fomos
embora, satisfeitos, também enxugando nossas lágrimas de gratidão
a DEUS. Porque nossas almas também são ávidas de LUZ DIVINA, assim
como nossos olhos podem chorar por motivos tristes ou alegres.
Estamos em processo evolutivo, tanto quanto os encarnados, e sujeitos
a quedas e fracassos, no curso das vidas e dos trabalhos educativos.
E sabemos, por isso mesmo, o quanto é sublime encontrar numa alma
pecadora o germe do arrependimento, da volta para DEUS na intimidade.
ETERNAL GOSPEL AND PRODIGIOUS PRAYERS
EVANGELHO ETERNO E ORAÇÕES PRODIGIOSAS
EVANGELIO ETERNO Y ORACIONES PRODIGIOSAS