UM
AMIGO E UM CONVITE
Primeiramente
devo dizer que o meu estado psíquico ressente-se ainda de avarias
pronunciadas. Afinal, fácil será para quem já conhece alguma coisa
na vida errática, que um grau hierárquico interno corresponde a uma
zona hierárquica externa. Assim, pois, sendo o planeta sólido
circundado de zonas concêntricas e superpostas, ou céus, como se
dizia antigamente, simples será compreender que, à medida que for o
espírito, se iluminando internamente, tanto mais irá tendo ingresso
em zonas mais divinizadas.
Também,
não quero entendam esta teoria de um modo dogmático; porque um
plano qualquer desses comporia gradações várias de seres. Entre o
que seja mais evolvido em uma zona e o que esteja em ponto antípoda,
uma infinidade de pequenas variações existem. Uma zona ou faixa,
portanto, sendo já especificação hierárquica, não deixa de ser,
também, de um modo geral, genérica quanto ao padrão médio em si.
Entende-se, portanto, que dentro de uma zona hierárquica, existe
campo para muitos poderem ensinar e aprender. Isso seria impossível,
caso uma zona astral fosse habitada por uma só e grave condição
espiritual.
Os
céus, portanto, embora crescendo em expressões, à medida que se
afastam da crosta, nem por isso comportam menos umas tantas
heterogeneidades. Sábia lei regula os fenômenos da vida em qualquer
de suas manifestações, disso dúvida não deve permanecer em
ninguém. E quem pensar em céu à moda católica ou protestante, um
céu sem toda uma interminável cadeia hierárquica, pode estar certo
de que, ao ter de enfrentar a realidade, ao desencarnar, terá também
de modificar o seu modo de pensar.
E
isso já fará um grande bem ao filho de Deus, esse filho das
futricas teologais, dos despeitos religiosistas, dos interesses
conchavistas das religiões. E se acharem que estou avançando muito,
deixem também para mais tarde, fazerem um juízo qualquer. É que,
embora todas as religiões preguem o bem teoricamente, nem por isso
deixam de fazer certas guerras, bem mais imundas do que as feitas
pelos políticos e militaristas. Pelo muito que os religiosismos
usurpam dos seus crentes, com os seus padres e suas futricas
fetichistas, que outra coisa não são os formalismos que vendem, bem
poderiam falar um pouco mais de verdade. E no caso de não a ter,
melhor não seria que a procurassem?
Hoje,
como homem sofredor que ainda sou, mas consciente das infinitas
condições de vida no astral da terra, e consciente do que sempre
houve de espiritualismo sadio no plano da carne, digo com todo o
vigor de minha alma, que os cleros nunca fizeram mais do que truncar,
com seus interesses, sectários a evolução da humanidade, no
verdadeiro sentido. Tendo, pois, oportunidade de falar aos que ainda
medram nos planos densos, faço-o com prazer, ao lado de miríades de
outros que, ao redor da terra fazem a mesma coisa, para o mesmo fim,
que é ilustrar o homem a respeito das infinitas possíveis condições
de vida, na erraticidade, quando o tal denso plano tiverem de
abandonar.
Quem
vive na terra, em geral, queixa-se de como vive, acreditando que
poderia viver melhor. Inconsciência de direitos e de deveres é que
isso testemunha, em grande parte; mas, também, é sinal que a
esperança jamais morre. Como também em estas plagas da vida assim
ocorre, é bom vá-se o encarnado acostumando a sondar as razões de
suas deficiências, de não poder saltar para melhor, assim com o
simples gosto de querer. De resto, sem ter vontade de fazer
humorismo, ninguém é barrado em sua marcha progressiva, rumo a tais
melhores planos de vida. O que é de aquilatar, porém, é que não
adianta aguardar a ingerência de favores, nem da parte de leis, nem
de figurões quaisquer.
Todos
os chefes juntos, de Cristo para baixo, nada fariam nesse sentido; é
da lei fundamental que sejam eles mestres em técnica, em moral, em
exemplos, em todo e qualquer ângulo em que sejam precisos seus
ensinos, seus misteres edificantes. Quanto porém à edificação
interna, que é o único instrumento ascensor, isso fica por Divina
Determinação, a cargo de cada um. As instruções externas devem
vir e de fato vêm de fora, não por um mestre apenas, mas por
miríades deles, de um modo que, muitas vezes, passa despercebido
até. A realização interna é de foro absolutamente íntimo. Por
isso mesmo, nego haja quem tenha mais conhecendo menos; o certo é
que, se sabe sempre mais do que se tem. As lições andam muito mais
do que o aluno.
Fácil
é saber, difícil é realizar. Quem mais do que eu pode fazer alusão
a um tal princípio? De tal modo dirige a Suprema Lei o Universo e
seus fenômenos, em todos os sentidos, em todos os planos, que, saber
mais e proceder menos, corresponde a sofrer mais e ter menos direito
de reclamar. Isso já é muito sabido, em vista o que disse Jesus.
Mas é sabido teoricamente; porque, em base prática, não creio que
haja na terra, como pessoa encarnada, quem dê cabal desempenho ao
dever, de proceder em conformidade com o que sabe, de ordem moral e
espiritual.
Fui,
pois, como pouco mais ou menos o são todos os homens, um
transgressor da Lei; o mal todo foi o que sabia sobre ela, e não o
que dela ignorava. Ela não dá a quem já não possa de fato ter,
nem pede qualquer coisa a quem de fato nada tenha dado. É nesta
linha mecânica e moral que tem sua atividade. E é por isso que o
homem, que julga ter de um dia enfrentar um tribunal que não sabe
onde está localizado, sente-se em si e por si mesmo logrado, ao
deparar com o juiz interno, que o faz entrar na posse daquilo que
edificou, seja o que for, expressões indizíveis de luz, ou abismos
tenebrosos. O seu a seu dono, tal a lei da Lei Suprema. E quem atende
reclamações? Com quem reclamar? Por que forma? Onde?
Há,
sem dúvida, uma saída para tudo. Reclamar? Apresentar razões? Tudo
é possível e justificado. Basta ir reclamar precisamente aonde se
cometeu a falta. No íntimo de cada um, revolver atos tristes,
misérias que tais; destruí-las a umas, reparar a outros, atirar
fora os pedregulhos e encher-se de bens divinos.
É
certo que, às vezes, antes que tal se possa fazer, muitos decênios
devamos aos planos limbosos. Depois de resgatados os erros
moralmente, começará então a reparação técnica, brandamente. E
quem tem de desmanchar um ato, por ser ruim, e repor um bom no local,
já não perde em tempo alguma coisa? Com a dor do reparo moral e o
tempo necessário para reparar tecnicamente, somado tudo, não daria
para concordar em que, viver do melhor modo, seria trabalhar menos e
lucrar mais?
Todos
nós, homens e mulheres do mundo astral imaginamos muito nisso. Temos
esperanças fortes nos efeitos do Consolador ostensivo, em seus
tremendos avisos, nas suas lições de amor e temor. Não obstante, o
Espiritismo não se responsabilizará jamais pelos atos dos seus
adeptos. O sacerdócio estará sempre muito acima das ações dos
seus sacerdotes. Por isso, já vi muitos espiritistas em lugares nada
recomendáveis, aqui por estas bandas. O reino do céu não é dos
religiosos; é de quem for mais verdadeiro! Não foi a Verdade que
Jesus recomendou como libertadora? E se ela toma no mundo humano
aspecto Moral e Científico, por que anda o homem a desprezá-la,
enquanto cuida em comprar e vender disparates litúrgicos?
Sei
bem que é por falta de experiência; neste caso, que ninguém
despreze as caríssimas lições da vida. E se os homens
desencarnados falarem, pelas múltiplas canaletas mediúnicas,
passando à frente, não o preço de suas experiências, mas ao menos
a inteligência das conseqüências vividas e sofridas, que não
deixem os viajores da carne, em esquecimento, o mérito dos avisos.
Cumprimos nosso dever, bem a par das sábias lições do Divino
Mestre. Foi quem avisou muito sobre os méritos do Consolador, como
distribuidor de informes precisos.