O CÉU MARAVILHOSO
Capítulo VI
Capítulo VI
Ao
sair do vasto Salão, lancei um olhar para aquelas centenas de mapas,
onde estavam contidas lições sobre as verdades transcendentes, e
agradeci a Vicentina o fato de me haver proporcionado aquela visita.
– O
prazer foi meu, particularmente meu, além de ser uma de minhas
atribuições o trazer para aqui os recém-vindos que aqui já podem
vir, ou que estejam à altura de compreender tais lições.
– Isto
deve ser visto – observei – com bastante tempo, pois os mapas
demonstram, desde antes da matéria densa, como a centelha espiritual
se movimenta, para atingir a espécie humana, e como depois disso
deve movimentar o Conhecimento e a Vontade, para a realização do
Cristo Interno.
Sempre
capaz de encarar as questões pelo seu centro-de-gravidade, Vicentina
advertiu:
– Repare
sempre, Bento, que a Suprema Ordem é a Ordem Moral, e que aquele
espírito que a observa em suas obras, seja em que grau for da escala
social, é sempre o que mais proveito tira de todo o seu trabalho.
Lembrando
um fato que sempre me fez pensar muito, disse:
– Sempre
me chamou muito à atenção o fato de os grandes vultos da
espiritualidade terem querido sempre ser apenas servos da Ordem
Moral. E no Cristo Modelo essa realidade foi o mancal sobre o qual
girou toda a Sua movimentação.
– Nem
poderia ser de menos – afirmou ela – porque nada pode ser
interessante de fato ao espírito, se ele o fizer contrariando a Lei
de Deus. Ora, Jesus foi a Lei Prática ou a Lei Viva, o Divino
Exemplo que o Pai enviou à humanidade terrestre. Com a Lei e o
Cristo, a humanidade tem o Código de Conduta e a Modelagem em que se
plasmar. Seja qual for a profissão do homem encarnado, deve pairar
no seio das Duas Testemunhas Fiéis e Verdadeiras, custe o que
custar, pois do contrário triunfará em face do mundo, mas
fracassará em face do Céu.
– É
pena que a humanidade não reconheça isso!
Ponderosa,
comentou Vicentina:
– Os
mundos são como os indivíduos, que devem enfrentar as diferentes
idades e as diferentes responsabilidades. Eras e mais Eras entregaram
a humanidade a outras tantas Eras, e nós já sabemos que a segunda
meia-idade ou fase de maturidade se aproxima, provocando a separação
entre cabritos e ovelhas, entre os que forem merecer ou não merecer
a Terra dos futuros tempos, aqueles tempos preditos como bastante
melhores, e que, de melhores para melhores, deverão entregá-la ao
grau qualificado de Jerusalém Celestial. Entretanto, como lentíssima
foi a viagem até aqui, também lentíssima será a viagem até a
consumação evolutiva. E antes de lá chegar, muitas seleções
haverá, muitas separações entre cabritos e ovelhas...
– Como
é isso?... – interrompi.
– De
ciclos em ciclos – explicou ela – haverá seleções. A primeira
será de um rigor maior, e de longe em longe outras virão, pois a
Terra irá sendo moradia melhor, e quem não fizer por merecer o
melhor, fatalmente terá que migrar para o planeta que merecer. Tudo
isso já é muito sabido, pois as palavras do Cristo ou dos
Apocalipses, jamais deixarão de ter cumprimento e explicação. E se
bem quiser compreender, lembre-se de que a Restauração da Doutrina
do Caminho, por marcar um tempo no Apocalipse, representa fatos
transitivos e acontecimentos proféticos aos quais os verdadeiros
discípulos do Cristo devem acurada atenção.
– É
fácil entender, Vicentina, que se as profecias do Velho Testamento
se realizaram no Novo Testamento, as do Novo terão que se realizar
nos dias porvindouros. E como séculos se passaram, creio que devemos
estar dentro dos tempos previstos, para certos acontecimentos
convulsivos e com tendências aos melhores dias.
Ela
fez um gesto de assentimento, mas franziu o cenho, para depois dizer:
– Sim...
Nós já vimos no painel psicométrico tudo quanto vai acontecer, ou
como está previsto nas profecias...
– Por
que, Vicentina, esse ar de sofrimento ao pensar nisso?
Compungida,
falou ela:
– Tudo
poderia mudar por bem, se a humanidade fizesse por isso... Mas em
vista das rebeldias, das adulterações doutrinárias, dos
mercantilismos religiosistas e das crescentes imoralidades, tudo virá
com tormentas realmente apocalípticas... Já vimos a Terra dividida
em três partes, e apenas uma delas ficar sofrendo menos, porque as
outras duas, diremos, pegaram fogo...
– Se
por Justiça Divina assim tiver que acontecer – disse eu – é
porque assim convém que seja.
Vicentina
acrescentou:
– O
pior, em qualquer caso, será para os cabritos. Enfrentar de novo
tudo isso que a Raça Advinda ou Adâmica enfrentou, até esta data,
não é coisa que convenha a quem quer que seja. Os avanços
científicos já fornecem regalias de grande monta, e perdê-los, por
causa de má-vontade para com a Ordem Divina, de modo algum se
justifica.
Lembrei-me
de certos fatos e comentei:
– Se
o Batismo de Espírito ou Generalização da Revelação, vinda
através do Cristo Modelo, devia conscientizar a humanidade, foi erro
muito grave o de Roma corrompendo a Excelsa Doutrina, para impor sua
igrejinha politiqueira.
– E
você, meu irmão – tornou ela – cooperou em muito para esse
grande mal, para o truncamento daquela maravilhosa Graça Reveladora
que o Livro dos Atos trata com extraordinário brilho e esperançosas
colheitas cristificadoras.
Naquela
hora Vicentina concentrou-se, atendeu a não sabia eu, então, a que
chamamento, e avisou-me:
– Estão
a me chamar no Departamento... Mas você não deverá ir, de sorte
que sugiro fique na minha residência, até que eu volte. Está bem
assim?
– Onde
mora você?
Apanhou-me
pela mão e volitamos até às montanhas, onde Vicentina residia, e
onde passei a residir. Foi maravilhoso viver lá por muito tempo,
porque depois, a bem de minhas próprias melhoras, reclamei o direito
de servir em lugar bastante inferior, visando méritos para a minha
próxima volta à carne, quando, espero, serei uma testemunha fiel da
Excelsa Doutrina do Caminho.
Tudo
era muito convidativo na residência que também ficou sendo minha,
mas a contar da bendita hora em que vi os mapas diagramáticos, onde
fiquei sabendo o que somos e para o que somos, tudo quanto foi e é
instrutivo tem assomado à vanguarda de meus interesses. A biblioteca
de Vicentina foi aumentada com a minha chegada, porque nossa querida
mãe fez por me atender, o quanto foi possível. E não é necessário
dizer que o possível, por aqui, está representado no merecimento da
pessoa. E a pessoa, no caso, não era nem é minha mãe, pois mesmo
encarnada, como está, ela é muito benquista pelo mundo espiritual,
e com as faculdades com que conta, o Céu lhe está sempre à vista.
Meus livros e meus trabalhos, portanto começaram naqueles dias a me
absorver o tempo. O mais tudo, para empregar a vida, porque tempo
aqui é muito secundário, girava em torno das amizades e das viagens
que fazia, até onde me era permitido, e ainda o é, embora agora
tenha muito mais trabalho e muito menos tempo para viajar.
Também,
devo dizer que não podendo ir para os altos planos à vontade, ou
como seria de gosto, as viagens pelos reinos inferiores são de bom
alvitre para efeito de estudos, mas não é agradável como
passatempo. A realidade é essa e aprendemos, por aqui, que fora da
sinceridade nada é recomendável a ninguém. Deus sabe como somos,
com nossas vantagens e deficiências, e o importante é agir do
melhor modo, procurando ser útil, sem esconder a realidade a quem
quer que seja.
O
tempo, que eu disse ser secundário, importa em explicação. Embora
muito rentes à crosta, e sujeitos estes planos às influências da
crosta, a nossa contagem de tempo é segundo o trabalho a fazer, e as
folgas entre os trabalhos, sem andar de relógio na mão.
Que
faço eu no plano inferior onde trabalho? Como espírito consciente
das verdades eternas, ou sabendo o que somos e para o quê somos
destinados, vivo dizendo isso aos irmãos que são retirados da
subcrosta e dos umbrais. Somente esses é que para ali vão, porque
os que merecem recolhimento imediato vão para outros centros de
recolhimento; e como a cura do espírito, do corpo perispirital,
depende muito das aplicações mentais, a evangelização das
criaturas é trabalho de total significação. A significação é
total, fica bem saliente, embora muitos são os que pouco aprendem, e
em muitos casos, menos aproveitam, porque das dúvidas e discussões
de nada aproveitam.
Sempre
se dirá que o Evangelho, o do Cristo, aquele que o Cristo viveu, e
não o das idolatrias e dos discursos falazes, é uma questão de
ação, de prática. E os irmãos retirados da subcrosta e dos
umbrais, não merecendo nada melhor senão os planos de pouca luz,
enveredam pelas discussões e não raro negam tudo. Acham que Deus
não existe, que a Justiça é falha, que nós sabemos muito pouco,
que foram mais vítimas do que algozes, etc. E quando se lhes diz que
para melhorar devem reencarnar, e vencer provas e expiações, então
o mal cresce, porque até se revoltam em termos de alta violência,
não raro tendo que ser reclusos ou mesmo recambiados aos lugares de
pranto e ranger dos dentes.
Podem
os encarnados julgar como quiserem, mas o fato é que as mentes
viciadas em descrenças, em brutalidades, em desenganos
religiosistas, de tal modo se robustecem no mal, que é muito difícil
reeducá-las. Além disso, milhares de irmãos recolhidos pensam de
acordo com as épocas em que viveram, centenas e milhares mesmo de
anos atrás, e sem outras possibilidades de assimilação, porque
nada sabiam de ideais quaisquer, espiritualistas ou não. Outros, até
mesmo inteligentes e de boa cultura intelectual, por motivos
sanguinários desceram à subcrosta, e não podem esquecer os seus
ódios raciais, religiosos, passionais, etc. É grande o número dos
viciados de variada forma, dos pervertidos, dos alucinados de mil e
um modos, diante dos quais bem pouco se consegue, quando se quer
empregar a inteligência para os recuperar.
Somos,
certamente, Cristos em elaboração; mas a elaboração é de dentro
para fora, é à custa dos esforços individuais, custe o que custar.
Jamais conceitos religiosos deveriam existir, falando em absolvições,
perdões da Justiça Divina, lavagens de pecados no sangue do Cristo
e outras tantas comprometedoras mentiras. É muito grande o mal
causado pelas falsas concepções religiosistas, embora encham a
pança dos donos de credos e forrem a vaidade de muitos outros
infelizes.