Capítulo
XIII
Uma
Lei Geral, de Ordem Moral, rege a Emanação; e é por isso que
afirmamos aos homens, nossos irmãos, que a função do Profetismo
Generalizado é dar testemunho da Suprema Ordem, que é a Ordem Moral
do Universo. Porque tudo, e todos os movimentos, estão sujeitos a
essa Ordem Fundamental.
É
lastimável quando, em nome da Verdade Fundamental, alguns
trabalhadores, ou que pensam ser, dão-se a terçar divagações
pseudocientíficas, ou a encher livros com palavras técnicas do
plano material ou temporal, querendo com isso significar que são
mestres de espiritualidade, ou que a Ordem Moral com isso é que terá
de contar, para divinizar os espíritos. Fica bem lembrado isto: ao
entrar na fase de conclusão dos trabalhos restauradores da Excelsa
Doutrina, cumpre saber que a VERDADE é mais do que a Ciência, o
AMOR é mais do que a Filosofia e a VIRTUDE é mais do que a
Religião. Isto é, a Essência é mais do que o simples rótulo!
Como
a humanidade está marchando, dentro do período de transição, para
a fase de maturidade, ou segunda meia-idade, importa considerar a
Ordem Moral acima de tudo, pois os desmoralizados não serão
contados entre as ovelhas que hão de herdar a Terra dos futuros
ciclos, ainda que sejam ou pensem ser sábios do mundo.
E
assim reconhecendo, ressaltamos bem, importa atender à Lei Única e
Geral, que Governa a chamada Criação, deixando de dar importância
aos divisionismos que caracterizam os movimentos superficiais. Chegou
a hora, neste planeta, de dar importância ao que é Fundamental,
para deixar atrás ao que é superficial. O que é Divino deve subir
e o que é humano deve baixar. E assim fazendo, ou agindo, os homens
estarão divinizando suas consciências, para merecer a Terra dos
melhores dias, e no plano espiritual, ao desencarnar, deixarem de ser
habitantes das trevas ou dos planos inferiores, embora de paz.
Estávamos
dando ouvidos ao Apóstolo que desceu ao nosso plano, para falar de
tais questões no recinto de conferências, quando se achegou a nós
um dos servidores do departamento de socorros aos
recém-desencarnados, e ali ficou, calado e aguardando a hora de
falar.
Assim
que o Apóstolo terminou a fala, ele disse ao antigo pastor:
– O
reverendo X acaba de chegar, e, como foram bons amigos, a direção
manda dizer-lhe para que vá até ele, para uma boa conversa de
boas-vindas.
O
antigo pastor ficou algo de intrigado, indagando:
– Mas
ele também só merece isto aqui?!...
O
informante respondeu, perguntando:
– Desde
quando a Justiça Divina se engana?
O
antigo pastor murmurou:
– Era
um excelente homem!...
O
informante advertiu:
– Mas
não era um cristão de fato, e sim de certo quilate... Apenas de
certo quilate... E por isso, mereceu o que lhe é dado.
Perguntamos
se era possível acompanhar o antigo pastor na visita ao reverendo
recém-vindo. E como o informante disse que tudo tinha caráter de
aula, ficamos satisfeitos e fomos com ele.
O
pavilhão onde se encontrava era o dos alucinados, e, sabendo disso,
fomos ao encontro do reverendo com algum cuidado. O doente porta-se
como doente e quem com ele tiver tratos, deve saber como fazê-lo. E
é bom salientar, que nem todos nem sempre, se está bem para lidar
com certa classe de doentes ou desequilibrados.
– Vá
sozinho a ele – comandou o médico-chefe do pavilhão – pois está
variando um pouco. Cumprimente-o, apenas, assim que ele abrir os
olhos, e se achar a medida certa, para aconselhá-lo, faça-o do
melhor modo.
O
pastor foi, ficou perto do leito alvíssimo onde se encontrava
acamado o reverendo e aguardou que o mesmo abrisse os olhos.
Entretanto, quando este abriu os olhos e viu o pastor, alucinado
começou a gritar:
– Vai-te
Satanás!... Vai-te Maligno!... Eu sei que o pastor já foi para
Jesus!...
O
antigo pastor ficou imóvel, aturdido, e o reverendo continuava a
gritar, mas agora gesticulando e procurando algo:
– Quero
uma Bíblia!... Hei de lhe enfiar a Bíblia na boca!... Tragam-me a
Bíblia!... A Bíblia!...
O
médico-chefe convidou-nos:
– Vamos
rodeá-lo e orar.
Rodeamo-lo
e começamos a orar, enquanto o pobre reverendo continuava a gritar
por uma Bíblia. Sucede que, passando o tempo, e vendo ele mais
pessoas ao redor do leito, começou a olhar com ares investigadores,
até que perguntou:
– Onde
estou e que faço aqui?!...
O
antigo pastor adiantou-se e disse, com bondade e observação:
– Está
morto, se assim quiser falar, ou desencarnado, e hospitalizado num
dos hospitais do Espaço, ou de um dos Céus. E procure compreender o
que Deus quer que seja, para não dizer coisas ridículas. Eu sou o
seu irmão e amigo, e aqui fui convidado a vir, para que reconheça a
própria desencarnação...
– Mas
isso é dos espíritas!... – bramiu ele, com os olhos esbugalhados.
Sorrindo,
o antigo pastor atalhou:
– Não,
não. Desencarnar não é privilégio de quem quer que seja. Todos os
que encarnam, um dia deverão desencarnar, e é bom você começar a
pensar de outro modo, porque as manias do mundo por aqui não formam
de modo algum, nas pessoas que pretendem ser decentes...
Num
repente, sentou-se o reverendo na cama, olhou para os lados e
perguntou:
– E
onde está Jesus!... Não é Jesus quem recebe os crentes?!...
O
antigo pastor foi-lhe dizendo:
– Deus
tudo rege através de leis fundamentais e a função dos Diretores
Planetários é dirigir a parte intelecto-moral, através dos
escalões hierárquicos ou dos Seus imediatos. Não faltam por aqui
as organizações socorristas e os departamentos de ensino, e quem
quiser estar bem o mais depressa possível, deve procurar compreender
o que Deus manda, através de Suas Divinas Leis.
– Mas
os crentes não saem prontos do mundo, para o Reino de Jesus?!... –
bradou ele, revelando tremenda desconfiança.
– Todos
temos tido muitas vidas, e muitas teremos que ter ainda, antes de
chegar ao Reino de Jesus. O problema não é de salvação e sim de
autocristificação, e a esse conhecimento e a essa realidade todos
deverão chegar, custe o que custar.
A
essa explicação do antigo pastor, o reverendo nada respondeu, tendo
baixado a cabeça e caído em meditação. E foi o médico-chefe quem
foi a ele, para dizer:
– Lembre-se
de que está no Reino de Jesus, embora em mínima porcentagem. Não
poderá gozar de toda a Paz e de toda a Glória daquele Reino, mas
deve ir-se preparando para isso, como todos os que ainda se encontram
em processo evolutivo, e isso terá que fazê-lo, respeitando os
Fatos de Deus.
– Estou
desarvorado!... Desarvorado!... – gemeu ele, abanando a cabeça.
– Procure
orar... – aconselhou o médico-chefe.
– Adianta
orar depois de morto?!... – replicou ele, provando com isso que
estava realmente escravizado aos conceitos errados do seu modo de
credo.
O
médico-chefe ensinou:
– Deus
é Onipresente, Onisciente e Onipotente, e Seus filhos, encarnados ou
desencarnados, da Terra ou do Infinito, de Agora ou da Eternidade,
onde quer que estejam, podem e devem orar, porque a oração é o
exercício intelecto-moral que facilita entrar em sintonia com Suas
Divinas Virtudes. Quem ora com pureza faz vibrar dentro de si mesmo,
os Poderes Divinos que ali estão. E é por isso que a oração é,
como alguns dizem, o pão das almas, sejam encarnadas ou não, pois
as Leis Divinas pairam acima dessas mediocridades religiosistas.
– Francamente!...
– disse o reverendo, calando-se a seguir.
O
antigo pastor olhou para o médico-chefe e encolheu os ombros, como
quem diz que não sabe mais o que fazer; e o médico aconselhou:
– Convém
que o irmão reverendo durma algumas horas, para acordar com melhores
disposições e vontade de aprender as verdadeiras verdades de Deus.
– Estou
realmente cansado... – disse ele.
O
médico colocou-lhe a mão sobre a cabeça e começou a orar, e
enquanto uma suave música se fazia ouvir, e umas azulinas ondas
bailavam no ar, o reverendo foi caindo em sono profundo.
– Podemos
ir agora – comandou o médico-chefe – pois é mais um que mereceu
ser recolhido, embora tenha que se adaptar à realidade, com mais ou
menos custo, em virtude das falsas lições do religiosismo terreno.
O
antigo pastor, sorrindo com malícia, interpôs:
– Dentro
de breves dias, será mais um a querer se comunicar com os
encarnados, para lhes dizer que a razão está com Deus!... E os
encarnados, embrutecidos pelos seus recalques religiosistas, dirão
que o diabo não cessa de tentá-los! E com isso, a todos os
segundos, a morte fornecerá ignorantes e desiludidos aos planos
espirituais.
– É
lastimável – acrescentou o mais idoso do grupo, e homem que nada
tivera com religiosismos quaisquer, pois se dizia descrente enquanto
encarnado – é lastimável que os fanatismos sectários embruteçam
nas criaturas as faculdades de análise, pois o que vemos, daqui, é
que ficam sem capacidade para renunciar ao que não é verdadeiro,
pois se entregam a tudo quanto é contrário às leis simples que
regem a Emanação.
Estranhando
o seu passado incrédulo, perguntou-lhe o antigo pastor:
– Em
quem acreditou o irmão?
– Na
bondade entre os homens... Nunca pude aceitar o Deus que as religiões
pregavam e pregam, pois se o diabo existisse, no que também nunca
acreditei, não seria pior do que o Deus por elas anunciado!
O
antigo pastor fez uma careta muito significativa, mas calou-se e o
antigo descrente adiantou:
– Como
vai um homem, relativamente inteligente e honesto, conceber um Deus
que é por idolatrias, fingimentos, que dá o Céu de graça ou de
favor a uns, que O adulam e exaltam, e manda aos infernos a outros
filhos, porque não podem admitir essas desavergonhadas macaquices?
– Mas...
– foi dizer o pastor, quando o antigo incrédulo o interrompeu.
– Nada
disso, meu irmão! Deus, o Deus da Emanação Infinita, não pode ser
essa coisa nojenta que os donos de religiosismos vivem a cultivar lá
na Terra, para que possam manter inflamada a petulância em que vivem
encarapitados. Estou satisfeito comigo, porque nunca esperei a
continuação da vida e o bem que vim encontrar aqui, eu que fui um
infeliz incrédulo, como por lá me diziam os crentes em manobrismos
sectários...
Estacou
por um pouco, olhou para os que ostentavam vestes sacerdotais e com
ênfase concluiu o pensamento:
– Os
donos de credos e proprietários de Deus e do Cristo, mas que se
encontram por aqui, junto a mim que não pretendi semelhantes
importâncias! E agora, que sei do Emanador que é Essência Divina,
e que eu também sou à Sua Imagem e Semelhança, e que tenho o Reino
de Deus dentro de mim, para desabrochar através das vidas
sucessivas, muito mais ainda me vanglorio de não ter arrastado
comigo os fanatismos repugnantes que vocês arrastaram...
Celestino
foi a ele, advertindo-o:
– Irmão
Prudêncio, lembre-se de que somos, todos nós, os habitantes destes
lugares, espíritos não só inferiores em evolução, mas também
sobrecarregados de erros do passado. Para uma citação perfeita, de
nós mesmos, ou de nosso histórico, somente fazendo um levantamento
geral, através do exame psicométrico. E como a esse expediente
temos recorrido e muito, desde já estou habilitado a dizer a todos
que a conduta ideal é o AMAI-VOS UNS AOS OUTROS. Se acha que a
Bondade lhe valeu vir ter a este lugar, lembre-se de que nem Jesus
Cristo quis ser chamado BOM, e que outros, que praticam a Bondade em
níveis de renúncia e até de martírio, já estão vivendo a
gloriosa vida nos planos mais próximos do Crístico.
O
antigo pastor, ouvindo aquela referência ao texto evangélico,
perguntou:
– Como
interpreta, irmão Celestino, aquela palavra de Jesus?
Convicto
e repentino, o instrutor respondeu:
– A
Bondade poderá ceder o seu lugar, em tempos e lugares quaisquer, a
outros fatores quaisquer? Ou acha o irmão, que o AMOR pode ser
exercitado, sem ser pela Bondade colocada em termos práticos?
O
antigo incrédulo, algo intempestivo, avançou:
– Gostaria
de estar no mundo agora, e saber o que vim aprender aqui, sobre Deus
e Suas Divinas Leis, para dizer o que penso aos fantoches que por lá
vivem a produzir e comerciar os seus fanatismos religiosistas!
Celestino
apanhou-o pela mão e, despedindo-se dos outros, foi-se com ele. Nós
também nos dispersamos, fomos matutar sobre as lições do dia. E
mais uma vez, para o meu uso pessoal, de homem que teve na
encarnação, por ofício ou ganha-pão, o formalismo religiosista,
tive que ceder ao imperativo que a Lei de Deus e o Cristo
testemunham: que Pureza e Sabedoria são questões de VERDADE e não
de cultivos sectários quaisquer. E que a VERDADE está exposta na
chamada Criação de Deus, onde pode e deve ser procurada, fora de
toda e qualquer mórbida ideologia religiosista, por ser ela, a
VERDADE, auto-suficiente ao Infinito, enquanto o homem, mormente o
terrícola, é ainda tremendamente falho em espiritualidade, para
andar decretando, a seu bel-prazer, dogmas e tabelinhas sectárias,
pretensamente libertadoras.