Quando ocorriam tais desdobramentos, acentuadamente conscientes, eu tratava de organizar sessão imediata, com todo o recolhimento possível, a fim de sondar o mapa geral e as partes minuciosas do trabalho levado a termo. Vinham, então, as palestras relevantes e confortadoras, a troca de opiniões e a entrada em conhecimentos de subido valor doutrinário e verdadeiro.
Na tarde seguinte àquele desdobramento, reuni cinco ou seis elementos na residência da senhora Alzira, focando a questão em andamento. Ao vir meu pai, que por ela mesma falava, ratificou as lembranças que lhe relatei, acrescentando informes outros, minuciando fatos:
– Quem sai de tais planos inferiores, Teodoro, nunca fica muito tempo aguardando reencarnação, a não ser que deva muitos trabalhos remissivos e preparativos. Jonas, por exemplo, irá trabalhar alguns anos como aplicador de mãos, em região e cidade pouco mais clara e melhorada, onde vivem cidadãos agravados, em processo de reabilitação psíquica. Ora, observe, a Lei conjuga fatores, elementos e esforços; joga com os recursos devidos e necessários, apanhando o indivíduo no plano geral e movimentando-o da melhor forma no painel das particularidades. Não sendo, de maneira alguma, possível o revolvimento das questões em geral, faz com que a criatura tome o melhor partido ou caminho, por onde melhor e mais facilmente possa encontrar a solução geral. Jonas, pelo que foi determinado, irá curar-se enquanto procura curar os outros, porque as forças a movimentar nos outros são aquelas em que deve se adestrar. Estudará os recursos do espírito; notará a importância dos fatores intelecto-morais; atenderá o quanto importa saber e aplicar as forças de ordem espiritual, mental, fluídicas, magnéticas e acionais em geral, a partir dos meandros cerebrais e emotivos, sem apelar para as grosserias idólatras, sem se valer de instrumentos materiais; isto é, sem fazer de Deus o responsável por tudo quando é rampeiro e degradante, segundo as práticas que lhe são costumeiras, práticas viciosas trazidas do mundo, pelas quais se fanatizara e a bem das quais cometera tremendos erros.
– Saberei, papai, quando ocorrerá a remoção de Jonas para outro local?
– Tomará parte na serviceira em curso, observando a conduta simples e fiel, conforme tem feito, porque foi uma de nossas vítimas. Não haveria obrigação alguma da sua parte, uma vez que está encarnado. Como, porém, sua dedicação à Causa do Senhor tem sido muito bem apreciada nestas plagas, e a sua faculdade oferece campo vasto de auxílio, eu roguei a sua participação, havendo boa acolhida por parte dos Altos Mentores.
– Isto me alegra imensamente, papai.
– Nem poderia ser de menos, meu filho. Afirmo, no entanto, que grandes são as responsabilidades que de tudo isso decorrem. Não se deixe embair de orgulhos e vaidades, e não se julgue cheio de graças, porque isso tudo são apenas oportunidades conferidas, em virtude de merecimentos adquiridos. É como se fossem adiantamentos, compreende? E se não souber usá-los, ficará devendo as contas, de qualquer maneira. Lembre-se, pois, de que a simplicidade e o trabalho profícuo são as marcas do servidor fiel. Tome sempre a Jesus por Modelo, Ele que tinha o Espírito sem medida! Quanto ao mais, aguarde pelo que vier. Boa conduta e preciosas leituras, palavras conscientes e orações meditadas. Vou-me, agora, porque os trabalhos são muitos.
Ele se foi, tendo nós outros encerrado a sessão.
Pelo espaço de quatro dias, nada houve de merecedor de atenção. À noite seguinte, porém, esteve plena de belas realizações. Assim que fui deitar, vi como que desaparecer o teto, ficando o firmamento a descoberto, com as estrelas a cintilar. Era maravilhoso, prendia a atenção, fascinava. Dentro em pouco, foram aparecendo luzes na imensidão, luzes que foram vindo, que se aproximaram, aumentando de tamanho e de vida. Digo vida, porque manifestavam soberbo esplendor inteligente, embora se apresentassem como flocos de luz, de luzes em profusão.
Quando clarinadas soaram nos espaços infindos, como que anunciando a presença de alguém, observei que flocos muito maiores foram aparecendo, como a surgirem no local, não provindos de outras partes. E a imensidão se fez povoada de flocos e mais flocos, por todas as partes surgindo, surgindo, surgindo...
Quando observei, já não estava no leito, mas tomando parte na maravilhosa parada celestial, fazendo parte de um pequeno grupo, aquele mesmo que fora ao encontro de Jonas.
– Sabe o que isto significa? – perguntou-me um dos do grupo.
– Ao certo, não – respondi.
Ele veio, e como era muito mais alto, sem esforço colocou-me a mão direita sobre a cabeça, dizendo:
– Repare que ao centro está o globo terrestre, formando ao redor faixas de luz ou de luzes de diferentes colorações.
Havendo observado, notei que havia um bloco negro ao centro, bloco negro que era circundado por muitas faixas.
– Realmente – respondi-lhe.
– Vá pondo atenção em tudo, mas comece do centro, daquele bloco negro, que é a Terra.
– Terei muito prazer nisso tudo, muito obrigado.
Apliquei o máximo de atenção no bloco negro, observando que ele se revelava também todo escamado, feito de faixas superpostas e concêntricas, porém de coloração escura, entre cinza e marrom. Após, fui erguendo a vista, notando que a imensidão era toda constituída de faixas, de faixas agora mais claras, que se elevavam acima de nós, sumindo nas alturas.
– Que maravilha! – exclamei.
– Recomece, recomece! – ordenou o mentor.
Recomecei, notando que apareceram criaturas, a começar do centro do bloco; já não eram apenas luzes, pois se haviam feito humanidades, legiões de seres, vivendo normalmente. Fui olhando para cima, observando que havia diferença muito pronunciada em matéria de colorações. Compreendi que as categorias hierárquicas ali estavam dispostas, a começar do centro da Terra, invadindo as esferas superiores.
– Olhe para ali – disse, apontando com o dedo, para dentro do bloco negro.
E o bloco negro foi como que subindo, na razão direta em que fomos descendo, havendo nós entrado Terra a dentro. Chegando ao local onde houvéramos estado, pisamos o chão local, como da outra feita.
O tal componente do grupo interrogou-me:
– Tem uma idéia, embora vaga, dos planos espirituais ou da Terra em geral. Já sabe onde estamos. Há irmãos para baixo e para cima, por todas as partes, em conformidade com os merecimentos. Em tudo e para tudo está a Lei. Ninguém está abandonado. No âmbito do Plano Geral, cada qual se movimenta, a fim de ganhar em Pureza e em Sabedoria, para atingir as maiores alturas. Como observou, estamos em processo ascensional, estamos habitando os planos ainda rentes ao bloco terrestre.
– Sim, os mais evoluídos para cima e os menos para baixo.
– Entretanto – emendou ele – todos temos o mesmo PRINCÍPIO por Pai e as mesmas vias a trilhar. Tudo quanto foi ensinado à Humanidade, desde os chamados Grandes Mestres da antiguidade, cinge-se ao programa edificador. Realmente a Verdade nunca foi velha nem tampouco nova; jamais houve, em sã razão, sabedoria antiga ou moderna, para ficar apenas em duas datas conceptivas. Tudo quanto foi ensinado, pertenceu a uma só Verdade; o que agora estamos ensinando, e aprendendo, é parte da única Verdade. Apenas, como é fácil conceber, cumpre respeitar os ciclos evolutivos, os aumentos conseguidos, as etapas vencidas.
– Compreende-se perfeitamente.
– No entretanto – prosseguiu ele – bem viu quantas legiões ainda rastejam nos planos inferiores, ajustando contas com as más obras. Não faça confusão entre a involução e a criminosidade, entre os que devem evolução e os que devem faltas e crimes. Ninguém sofre penas pelo fato de ser involuído, pois aquele que não pode subir, normalmente, merece respeito e auxílio. Mas aquele que comete faltas e crimes, esse paga! Não quero lembrar-lhe os pequeninos, aqueles que estão nos primórdios evolutivos; quero que pense naqueles que pagam dívidas nos lugares tenebrosos, quero que faça oração pelos criminosos.
– Por quê?
– Simplesmente porque nós pertencemos aos serviços de socorro, e serviços que dizem respeito aos errados por causas religiosas. A começar de lugares como este, na subcrosta, nossos trabalhos desenvolvem-se de maneira ascensional, pois a Chefia Geral pertence a Jesus Cristo. E como deve ter percebido, Jesus edificou Doutrina sobre a Revelação, para fazer conhecer o mecanismo da vida planetária, do todo, a fim de, aos poucos, harmonizar os conhecimentos e os trabalhos de maneira prática. O que ora ocorre, no plano carnal, representa o efeito de uma Ordem Superior, por via de fatores cíclicos; importa exercitar a Revelação, porém dentro do máximo rigor; isto é, tendo por finalidade a edificação intelecto-moral, o aperfeiçoamento em geral, não porém com fins interesseiros, objetivos degradantes, como infelizmente ocorre com alguns irmãos menos avisados, que atendem a espíritos sem a menor autoridade, que apenas vazam seus próprios defeitos.
– Infelizmente – aduzi – muitos são aqueles que perguntam a espíritos sobre questões de ordem puramente alheias ao programa de edificação espiritual. Pretendem que os espíritos sejam seus empreiteiros de bens mundanos.
– Justamente – atendeu ele – onde reside um grave erro. A função do Consolador é informar sobre as verdades fundamentais, é ensinar segundo a capacidade dos instrutores e dos aprendizes, tendo por extensão algumas vantagens curadoras. Resumindo, cumpre-lhe recordar as lições do Cristo, portanto desempenhar a função doutrinadora, exercitando os recursos possíveis em matéria de preservação da saúde física. Como pode compreender, cada cidadão destas plagas pertence a um determinado grau de evolução e plano de habitação, vindo a focalizar as questões em conformidade com o seu caráter e poder de concepção. Disso resulta, que alguns irmãos da Terra, menos avisados, perguntam a certos espíritos aquilo que lhes está acima de cogitações. E outros fazem pior, entregando-se a práticas horríveis, apelando para recursos animalizantes, convocando agentes do pior quilate, agentes que se fazem passar por tudo quanto não são, mentindo para todos os efeitos, com o fito de se fazerem respeitar e honrar.
– Tenho pensado nisso, bondoso irmão.
Distanciando-se de mim, anunciou:
– Fui indicado para dizer o que disse e fazer o que fiz. Agora, Teodoro, o restante é com o seu pai.
Depois de eu lhe agradecer, meu pai comandou:
– Vamos ao governador, tratar do caso Jonas.
Dentro de segundos estávamos defronte ao homenzarrão, que havendo chamado um seu auxiliar, mandou que nos conduzisse ao local onde se achava Jonas.
O padre estava metido em roupas diferentes, habitando uma palhoça nos confins de um vale, bem ao pé de pedregosa montanha. Sua indumentária era simples e grosseira caricatura, sua morada horrível e o local bastante ermo. Havia em tudo aquilo muito exagero, o triunfo do desequilíbrio psíquico; mas o homem estava de acordo, vibrava a favor de inadiável reforma intelectual.
Quando apareceu, vindo das alturas da montanha, parecia um Elias a seu modo e gosto, assim como pôde imaginar, ataviar e aparentar. Daria para rir, não fosse a piedade que inspirava, levando a sério o programa severo, mas de maneira até ridícula.
Meu pai havia advertido, antes de chegarmos, que a situação devia ser respeitada, fosse qual fosse, porque seria o começo de uma grande renovação interior, com o alijamento das formas grosseiras de culto, quer mentais, quer práticas. E assim ocorreu, conforme suas previsões.
– Salve! – bradou ele, cheio de pose, erguendo o seu improvisado bordão.
– Salve! – respondemos nós, erguendo as respectivas destras.
Apontando com o bordão o alto da montanha, explicou:
– Estive orando, para que Deus os enviasse! Fui ouvido e rendo graças!
Em tom cadenciado, enfático a mais não poder, meu pai convidou-o:
– Jonas, chegou a sua hora de servir em Espírito e Verdade! Venha para os lados do Senhor, segundo a Lei de Deus; para que cure muita gente! Bem sabe o que é o mundo espiritual: a cópia exata do mundo terrestre, com as pioras que se pronunciam nas regiões inferiores, onde legiões e legiões penam e gemem a culpa adquirida através de erros tremendos!
Escancarou os braços e exclamou:
– Venha amigo Jonas!... Estes braços amigos o esperam!...
E o padre caiu em cheio naqueles braços amigos, chorando copiosamente, subindo sem perceber para um lugar melhor, uma Terra menos grosseira, porém bastante inferior, onde iria aprender a curar outros doentes, para a si próprio melhorar, a fim de logo mais ingressar em nova investidura carnal.
Ao ver-se em lugar mais claro, onde a natureza revelava as melhoras vibratórias através da fragrância reinante, Jonas ajoelhou e fez a sua oração de agradecimento. Foi uma cena tocante, porque ele sentia profundamente o que dizia, rendendo graças as mais convincentes e sinceras.
Terminada a oração de graças, disse-lhe meu pai:
– Vamos ao diretor do centro de recuperação!
– Vocês não oram de joelhos?! – perguntou, observando que não havíamos tomado a mesma postura que ele.
– Não! – respondeu meu pai, com firme expressão – Tudo quanto é formal, Jonas, é idolatria! Devemos compreender a importância dos fatores emotivo-mentais, que constituem a unidade consciencional, a fim de abandonarmos tudo quanto for exterior, simulativo e fingido! Quem se vale de recursos exteriores, dentro em pouco acredita mais neles do que na Verdade, relegando a plano inferior os nobres e salvadores sentimentos, bem assim como desacreditando das melhores concepções de ordem mental, por onde o espírito se eleva perante Deus, em sua glorificação glorificando o próprio Emanador!
Erguendo os braços, exclamou meu pai, depois de breve e solene silêncio:
– Jonas, meu amigo! Entre no templo de sua consciência e ore com toda a força de sua mente e do seu coração! Estabeleça contato com a Luz Divina, que é onipresente, através de sentimentos elevados e de nobres empenhos serviçais!
Pasmo diante de semelhantes afirmativas, o padre comprometeu-se:
– Suas palavras valem como ordens do Senhor! Aqui está quem deve obedecer.
– Vamos ao diretor! – tornou a dizer meu pai.
E fomos entregá-lo ao diretor de uma grande casa recuperadora, a fim de começar a pensar em outros termos.
O diretor anunciou-lhe, ciente que estava das ocorrências e objetivos:
– Mais um aprendiz das verdades de Deus! Mais um filho do Senhor que procura nas leis o respeito que ao Senhor todos devemos!
Enquanto pronunciava tais palavras, entregou-lhe outro manual, avisando:
– Este manual, Jonas, contém os melhores ensinos sobre as leis e as virtudes conhecidas e aplicadas por Jesus, e mais tarde transferidas aos Apóstolos, pela Revelação ou Batismo de Espírito. Irá conhecer a Igreja Viva de Jesus Cristo, edificada sobre a Moral e a Revelação; o mais tudo, como lhe irão ensinar e exemplificar, depende de suas próprias aplicações. Eu lhe recomendo, antes de mais nada, que saiba honrar o pensamento e os ditames do coração. Estes recursos é que devem ser postos em aumento, porque são os fundamentais e impassáveis; quanto aos demais recursos, de ordem exterior, apenas atraiçoam o primeiro Mandamento da Lei de Deus! Usará a matéria, apenas como serva do espírito, nada mais! Porque tudo quanto passe disso é idolatria!
Cabisbaixo, o padre assentiu:
– Saberei honrar a Soberana Vontade, usando bem o cérebro e o coração, para jamais apelar aos recursos idólatras. Reconheço que o espírito é mais do que toda e qualquer matéria, e que acima da inteligência e dos melhores sentimentos nada pode existir, como elementos de compreensão e amor a Deus!
O diretor indicou aquele que o devia conduzir ao pavilhão onde iria servir, concluindo:
– Erga sua consciência, como produto de sua elevação intelecto-moral, a fim de ter onde manter felizes contatos com a Luz Divina! Aprenda agora, Jonas, e ponha em prática a grande lição de Jesus Cristo! Porque todas as virtudes estão no espírito e devem ser desabrochadas e aplicadas; e quem é virtuoso, por certo aborrece ao que é idolatria!
Assim que o servente indicado levou-o, disse o diretor a meu pai:
– Somos filhos de quem é Espírito e Verdade; entretanto, quanto custa para abandonarmos a idolatria recalcada!
Meu pai emendou, visivelmente contrito:
– Esquecemos o ritual do Amor e da Ciência, que liberta, para nos lembrarmos de outros rituais, exclusivamente pagãos, que chafurdam o espírito. Sabendo que a verdadeira grandeza está para a frente, onde se encontram as conquistas do trabalho libertador, fazemos questão de manter os ramerrões do passado, cheios de simulações, fetiches, superstições e variantes crimes.
O diretor volveu a ponderar:
– O Céu interior nos convida para o Céu; o primitivismo, que ainda está marcado em nossa estrutura histórica, nos chama para baixo! Ficamos, portanto, bastante perturbados com a situação, muitas vezes não sabendo a quem atender. Há os casos de forçamento proposital, quando as criaturas transformam a religião em fonte de renda, em meio de vida. Nestes casos, engrenam-se vários fatores contrários, havendo rebaixamentos indiscutíveis... É o nosso caso, pois esta região é daqueles que se recuperam de graves faltas religiosas... Os assassinos e os mercenários da fé, por estas plagas, recuperam-se, nem sempre sem tremendos esforços, em vista dos embalos horríveis do passado! Temos outros, piores em crimes, que são os feiticeiros; estes devem ainda outras faltas, pois todo aquele que usa de faculdades para prejudicar, mantendo relações com elementos de baixo calão, apelando para elementais e desviando-os da reta simples, estes pagarão muito mais caro pelas faltas cometidas.
– Tenho-os visto em trabalhos tais! – interveio meu pai – Valem-se de faculdades dignas de todo o respeito, para entrar em contato com os piores elementos humanos desencarnados, apelando ainda para seres de outros graus evolutivos, seres que bem poderiam seguir a linha certa e simples. Ao invés de se afastarem de comidas e bebidas, e outras práticas animalizadas e até bárbaras, entregam-se a isso de corpo e de alma, organizando verdadeiras bacanais hediondas. E o pior, em tudo isso, é que se valem dos nomes de Deus e do Cristo, como lhes ensinam os mais pervertidos espíritos, para terem como satisfazer seus horríveis apetites.
Ficando com a palavra, murmurou o diretor:
– A mediunidade é mesmo, em base, lei de relação. Por isso, onde quer que esteja o espírito, cumpre-lhe avaliar o ato de aplicação, a espécie de intercâmbio a executar. Se é certo que os iguais se atraem, também é certo que todos somos portadores do sagrado direito de relativo livre arbítrio, instrumento natural para toda e qualquer decisão direcional. Quem ornamenta a sua consciência, instruindo o seu cérebro e aplicando os dotes de seu coração, não escolhe jamais os caminhos da inferioridade, quando chega a hora de usar suas faculdades. Se a regra fundamental é ir abandonando a matéria, como apelar para requintes de animalidade, a pretexto de agradar a espíritos tais ou quais?...
Baixando a cabeça, num lance de tristeza, confidenciou:
– Temos errado muito!... Muito!... Todos temos errado muito!...
Um dos companheiros sentenciou:
– Quem se dobra diante daquilo que é inferior, sejam idolatrias ou falsas concepções, não se levanta diante de Jesus! E quem não sabe avaliar os poderes de sua consciência, como bússola orientadora que é, certamente virá a se encontrar muito mal. Todavia, Deus nunca fecha o caminho da saída... Temos, quando nada, o direito de penar e de recuperar o perdido... Somos todos Jonas...
Meu pai, olhando para mim com significativo olhar, aduziu:
– Nas altas esferas as criaturas cantam louvores aos nobres valores acumulados; nestas infelizes regiões, todos acabam debruçando sobre as tristes empresas levadas a cabo. Observe da melhor maneira possível, para subtrair a síntese, a medida geral, no seio da qual os indivíduos se movimentam e reequilibram.
O diretor, levantando a cabeça, proferiu:
– Ainda bem que estou a vencer o meu tempo de serviço nesta região! Creio que devo ter resgatado faltas a valer, pois cada um que chega me faz lembrar as próprias faltas, motivando tristes comoções e dolorosas contrições.
Atendendo à hora em que nos achávamos, meu pai anunciou:
– Devemos ir embora, por hoje. Espero que em breves dias aqui esteja, para saber de Jonas e do grande amigo que tenho em você.
O diretor estendeu a mão, procurou sorrir e agradeceu, considerando:
– Muito obrigado. Algum dia pagar-lhe-ei os bons serviços prestados, trazendo gente cuja melhora para mim representa avanços libertadores. Assim como fizemos pecar, penar e sofrer, assim resgatamos ensinando a subir...
Feitas as despedidas, saímos. Em lugar um pouco distante, fizeram os do grupo a costumeira parada, a fim de mudar os revestimentos e invocar o Amor Divino sobre aquelas regiões ensombradas, onde tanta gente vivia e ainda vive, aprendendo que fora da Lei não se realiza o programa do Céu!