CAPITULO VII
VlJÑÂNA YOGA — DISCERNIMENTO ESPIRITUAL
Neste e nos seguintes cinco capítulos, expõe-se
a doutrina de Krishna e a melhor maneira de praticar Raja-Yoga. Esta parte
trata do conhecimento espiritual, isto é, do despertar da consciência da
Divindade no homem. Deus é Amor e, por conseguinte, pode-se obter a consciência
da Divindade só pela fôrça do Amor Divino.
1. Krishna, o Verbo Divino, continua:
"Escuta as minhas palavras, ó Arjuna, para saberes como verdadeiramente e
sem dúvida Me conhecerás, se fixares em Mim a tua mente e em Mim descançares o teu
coração.
2. Eu te instruirei na sabedoria maravilhosa
dos homens e dos deuses, sem reserva nem restrição ; aprendendo êstes ensinos,
adquirirás o saber perfeito, e saberás tudo o que pode ser sabido por um
homem.
3. Poucos são os homem que, no meio dos milhares
da raça, têm suficiente discernimento para desejar chegar à Perfeição. E,
destes poucos, tão raros são os que a procuram com sucesso, que Se acha apenas,
cá e lá, alguém que Me conhece em minha natureza essencial.
4. Em minha natureza, há oito formas elementais,
conhecidas como: terra, água, fogo, ar, éter, mente, razão e consciência
individual.
5. Mas, além destas formas da minha natureza
material, possuo uma natureza espiritual, superior e mais nobre: é o Princípio
que vivifica e sustenta o universo.
6. Sabe que os elementos de que falei são a
matriz de toda a criação. Eu, porém, sou a fonte de que tôda a criação provém e
à qual tudo volta: Eu sou o Princípio da criação e da dissolução do Universo.
7. Acima de Mim, não há nada. Todos os objetos
do universo dependem de Mim e por Mim são sustentados, assim como as pérolas
dependem do fio que passa por elas tôdas, unindo-as e sustentando-as.
8. Eu sou o líquido da água; Eu sou a luz do sol
e da lua; Eu sou a sílaba sagrada AUM
(1); Eu sou o cântico dos livros sagrados; Eu
sou a harmonia dos sons que vibram no éter; Eu sou a virilidade dos
homens.
(1) AUM 6 o símbolo do Sêr Supremo. A simboliza o Criador ou Pai; U, o Conservador, Salvador ou Filho, e M, o Destruidor, Renovador ou Espirito Santo.
(1) AUM 6 o símbolo do Sêr Supremo. A simboliza o Criador ou Pai; U, o Conservador, Salvador ou Filho, e M, o Destruidor, Renovador ou Espirito Santo.
9. Eu sou o perfume da terra e o esplendor do
fogo; Eu sou a vida de todos os vivos; Eu sou yoga dos yogis, a santidade dos santos.
10. Eu sou a semente eterna e imortal de todos
os sêres. Eu sou a sabedoria dos sábios, a razão dos racionais, a glória dos
gloriosos, a nobreza dos nobres.
11. Eu sou a fôrça dos fortes, livres de tôda
avidez e paixão. Eu sou o amor puro em todos os sêres, que não pode ser
proibido por lei alguma.
12. As três qualidades da minha natureza: a
harmonia, a atividade e a inatividade, as quais também se manifestam como a luz
da verdade, o desejo da paixão e as trevas da ignorância, em Mim têm o
princípio e estão em Mim, mas Eu não dependo delas (2).
(2) Deus é superior à natureza; a natureza não é
Deus, mas é uma manifestação da fôrça Divina. Deus está na natureza, mas não se
limita a ela.
13. O mundo dos homens, achando-se sob o domínio
da ilusão dessas três qualidades da natureza, não compreende que Eu sou
superior a elas, e conservo-me intacto e imutável no meio dos inúmeros
acontecimentos e mudanças.
14. Esta ilusão é muito forte, e tão denso é o
seu véu que é difícil aos olhos humanos penetrá-lo. Só aqueles que a Mim se
dirigem e se deixam iluminar pela chama que está detrás da fumaça, vencem a
ilusão e chegam até Mim.
15. Malfeitores e tolos não Me procuram, nem
aqueles que nutrem pensamentos baixos; nem aqueles que vêem, no vasto
espetáculo da natureza, sòmente o jôgo das forças, sem diretor; nem aquêles
que extinguiram em si a centelha da vida espiritual e se tornaram plenamente
materiais.
16. Há quatro classes de gente que a Mim se
dirigem: os infelizes, os que investigam a verdade, os bondosos e os
sábios.
17. De todos êles, ó Arjuna! os sábios são os
melhores, porque Me reconhecem como o Sêr Uno, e incessantemente, a Mim
dedicando a sua vida, amam-Me sôbre tudo, e Eu os amo com o mais intenso amor.
18. Todos os que Me adoram são bons e todos a
Mim chegarão; mas o sábio que se Me entrega todo, sujeitando-se em tudo à minha
vontade, é como o meu próprio Eu, repousando em Mim, que sou o seu alvo
final.
19. Depois de muitas vidas, em que acumulou
sabedoria, vem o Sábio a Mim e, realizando a sua União comigo, compreende que o
homem perfeito é idêntico ao universo (1). Poucos há que chegaram a êste grau
de adiantamento.
(1) O homem perfeito é chamado, nas Escrituras Sagradas: Vâsudêva, Filho do Homem.
(1) O homem perfeito é chamado, nas Escrituras Sagradas: Vâsudêva, Filho do Homem.
20. Os outros, por falta de conhecimento,
impelidos a esta ou aquela deidade, com vários ritos e cerimonias, vão a outros
deuses. Todos acham o que procuram, de acôrdo com a sua natureza.
21. Hás de saber, entretanto, ó Arjuna, que a
verdade, apesar de ser desconhecida pelos fanáticos e intolerantes, é esta:
Que, ainda que os homens adorem vários deuses e várias imagens, e tenham
diferentes concepções da deidade adorada, e até pareçam as suas idéias ser
contraditórias entre si, tôda a sua fé se inspira em mim.
22. A sua fé em seus deuses e imagens não é
senão o alvorecer da fé em Mim; adorando essas formas e concepções, êles
querem adorar a Mim, sem o saberem. E, em verdade te digo, eu aceito e
recompenso essa fé e adoração, uma vez que seja honesta e conscienciosa. Êsses
homens fazem o melhor que podem, conforme o estado de seu desenvolvimento, e
receberão os benefícios que procuram, conforme a sua fé; todo benefício, porém,
emana de Mim. Tal é o meu Amor, a minha Razão e a minha Justiça.
23. Mas lembra-te, ó príncipe, que as
recompensas desses desejos momentâneos, finitos, perecíveis, são igualmente de
pouca duração. Os homens que adoram os deuses inferiores, as caricaturas e
sombras imperfeitas da Divindade, vão aos mundos de sombra, governados por
êsses deuses-sombras. Mas aqueles que são sábios e capazes de Me conhecer como
Sou, Um e Tudo, vêm a Mim, ao meu mundo de Realidade, onde não há sombras, onde
tudo é real, até mesmo a chama que faz a sombra desaparecer.
24. Entre os homens, há muitos que, faltandolhes
o discernimento, pensam de Mim (o Imanifesto em essência), como se Eu fosse
manifesto e visível a seus olhos. Sabe, porém, ó Arjuna, que, em minha
essência, não sou manifesto ou visível aos homens.
25. Detrás das minhas formas emanadas, Eu
permaneço indescoberto e invisível ao ignorante. Inato e imortal sou Eu, mas o
mundo obscurecido pela ilusão, não o discerne, pensando que a sombra é a
substância.
26. Eu bem conheço todos os inumeráveis seres
que existiram no vasto universo, em tôdas as épocas passadas; igualmente
conheço todos os que existem presentemente; e, além disso — grande mistério
para os homens, ó príncipe! — conheço todos os que, no futuro, hão de aparecer
no campo da existência. Mas de todos os sêres, passados, presentes ou futuros,
nenhum Me conhece plenamente. Eu os tenho todos em minha mente, mas as suas
mentes não podem conter-Me em minha essência.
27. Os seus olhos vivem enganados pela dualidade
dos contrastes, ó Arjuna e, em vez dá Unidade, vêem as formas opostas e de
gôsto e desgôsto, simpatia e antipatia, desejo e aborrecimento.
28. Porém, não são todos assim; há um pequeno
número de homens que se libertaram dessa ilusão da dualidade dos contrastes,
vencendo o egoísmo e os pecados. Êstes Me conhecem como Um e Tudo e, firmes em
sua vontade, constantes em seu amor e sua devoção, comigo se unem e a Mim
pertencem.
29. Os que em Mim refugiam e a Mim pertencem,
repousando em Mim como a criança no seio da mãe, esforçam-se por se libertarem
dos vínculos da mortalidade e reconhecem-Me como Brama, como o Eu Real, o
Infinito, O Eterno, o Absoluto.