EM
CONTATO COM MEU PAI
Em
fração de minuto estava de novo ao lado de Mariana, na companhia de
minha mãe e Mauro. A alegria que sentia, por tão grato
acontecimento, ia para além do que me parecia fácil suportar. Neste
país de morte, coisas dão-se, muitas vezes, inesperadamente,
pujantemente, como que nos forçando a desdobramentos íntimos
fantásticos. Creio que tudo isto já esteja no plano dos dirigentes,
por ser da Suprema Vontade. Deve ser para o despertar histórico,
para que o espírito se vá compenetrando de si mesmo, a contar das
profundezas de seus dias. Cada um de nós tem já o seu passado e,
sem o seu concurso, quem poderia bem marchar para a frente? Afinal, o
certo é um movimentado eterno presente; mas, sem trocar tal eterno
presente por miúdo, por fração, por relativismo, quem agiria? Não
somos já relatividade, por injunção do Absoluto?
É
por isso que, tendo encontrado estranheza no mundo espiritual, em
seus dédalos relativistas, nem por isso deixei de imaginar, que ele
assim seria, sem o meu nulo beneplácito. Sim, amigos; ao deixar o
espírito o seu corpo físico, e o seu habitat
dito material, onde os graus diferenciais penetram tudo, ingressa ele
em um mundo, onde os mesmos graus diferenciais se multiplicam ao
infinito!
Existem
na crosta continentes, países, regiões, mares, rios; cidades,
vilas, casas, casebres; noite e dia; gente sã, gente doente, gente
feliz, gente infeliz; altos e baixos, em todos os sentidos, para
todos os efeitos, tudo coordenado em torno a um Supremo Eu, para fim
de Justiça, Movimento e Evolução? Pois se é assim por essas
bandas da vida, se tudo se move progressivamente, paulatinamente,
rumo à perfectibilidade predestinada, ninguém crie em si
complicados raciocínios, falsas concepções, quimeras, a respeito
deste lado da vida, porque o relativismo em tudo está, aí como
aqui, para a todos facilitar meios e compreensões necessários.
Em
dado momento, minha mãe disse a Mariana:
– Marcharão
dentro de dias para a reencarnação, dois de nossos bons
trabalhadores; quero que meu filho tome o lugar de um deles, sendo
que Simão será o substituto do outro. Há determinismo nesse
sentido, havendo necessidade de executarmos o mandato, o quanto
antes. Por isso, julgo melhor irmos já em busca de meu esposo.
De
novo, um mundo de idéias, invadiram- me a mente, precipitadamente.
Simão, o amigo que havia ficado esperançoso no posto de socorro, ia
mesmo ser chamado. Que sorte de liames nos prenderia? Que fios
materialmente invisíveis nos uniria? Que sorte de poder moral nos
atava a todos? De onde vínhamos nós? Contudo, já me sentia capaz
de confiar em tudo e em todos, sabendo que em poderosas forças
assentam-se todos os destinos. Por tal razão, nada disse, aguardando
que tudo se encaminhasse, segundo aqueles grandes corações
julgassem mais acertado.
De
fato, em pouco estávamos em viagem. Como ninguém quis dizer onde
estivesse meu pai, de mim, também, nada indaguei. O que sei é que
tomávamos o caminho dos abismos. Primeiro, em volição; depois,
cuidadosamente, a pé, todos de braços ou de mãos dadas, para em
caso de assalto das falanges rebeldes, apelar para o poder do
pensamento e da vontade, e pôr-nos a salvo. E descíamos por
caminhos de mim desconhecidos, mas que deveriam ser conhecidos de
outros presentes. Um novo irmão havia se juntado a nós, num posto
determinado. Parece que ele sabia bem sobre tudo aquilo.
Em
certo lugar, estacamos. E ficamos à escuta. Escuridão e lamentos,
gritos e apelos, blasfêmias e gargalhadas horríveis, vinham de um
dos lados, do lado mais escuro. Um fedor quase insuportável havia
ali. Parecia sair do próprio chão. E foi então que, minha mãe,
segredando algo ao homem, que eu não pude ouvir, deixou-nos e se
foi, descendo, descendo, até sumir na penumbra escura e fedorenta,
juncada de uivos, lamentos e blasfêmias.
Pouco
tempo passou-se e estava de volta, trazendo consigo um vulto
qualquer, todo enrolado, como se fosse uma grande bola de panos
velhos. Como sabia que devia ser meu pai, fiz por auxiliá-la; mas
fui observado, baixinho, para que sustentasse um bom pensamento e
conduta serena.
– Não
pretenda ensinar à Justiça Divina o que seja Justiça, meu filho.
Depois
de um convite a uma oração, fomos subindo, devagarinho,
auscultando, ora aqui, ora acolá, até sairmos do pior lugar. E pude
ver, de relance, os traços da fisionomia de meu pai, perdidos num
misto de barbas e lama. Seu corpo mal estava coberto por trapos
fedorentos. E não deu para mais, porque a caravana se pôs em
marcha.
Atingimos
um posto, aquele mesmo onde apanhamos o tal irmão de que já falei;
e foi ali que pude ver melhor a meu pai. Francamente, nunca pensei
que em tais borrascas se metesse. Como viveu ele bem mais do que eu,
não sabia de seus feitos, para tal merecer. Agora sei; negar Deus
foi um mal, ensinar a negar foi pior, e praticar certos outros atos
de deslealdade para com minha mãe amigos, tudo concorreu para um tal
fim. Todo caso, ninguém é alheio à Justiça Divina. Ela põe e
tira, sem rodeios e nem senões, absolutamente infensa às injunções
do convencionalismo humano. O reino do céu é um princípio de
essência e não um jogo de rótulos. Todo o verniz humano, todo o
exteriorismo social, que poderiam contra um tal transcendente
princípio de lei?
Seja
como for, porém, meu pai ali estava e, para mim, seu modo de estar
torturava-me profundamente. Tinha sido um bom pai, pelo menos até
onde eu sabia e pensava. Tinha, pois, vontade de fazer por ele
qualquer coisa; mas de que forma, com que elementos, se outros que
ali estavam, bem mais evolvidos, mantinham uma calma superior,
ostentando rostos alegres? Talvez por pensar, por sentir, ou por
qualquer outra razão, minha mãe a mim dirigindo-se, disse
confortante:
– Optar
pelo menor mal já é ser prudente; este quadro poderá não ser
agradável de ser visto neste momento, mas, sem ele, como o teríamos
maravilhoso dentro de alguns meses? Como teríamos as vantagens dos
bens profundos, sem as elaborações precisas? Há alguma coisa de
visível, que ostente valor apreciativo, seja no sentido que for, que
não tenha custado mil problemas por resolver?
– Minha
mãe, compreendo o que quer dizer; acima de tudo, sinto que Deus é
Perfeito em todos os sentidos, e, não teria sido para com meu pai o
Seu primeiro engano. Como ignoro as causas, abstenho-me de comentar
os efeitos.
Minha
mãe sorriu satisfeita, olhou-me com ternura e emendou:
– De
minha parte, que sei um pouco das causas, afirmo que os efeitos são
de todo judiciosos; quem nos arrebatará o inferno construído
internamente, com tanto afinco e ardor? Que mais bela prova nos daria
o Amor de Deus, do que nos ofertando o direito de possuir o
construído?
Enquanto
minha mãe falava-me, outros impunham sobre meu pai suas mãos,
mantendo um pensamento concentrado. Era uma operação energética em
boa escala. E meu pai iniciava momentos faciais indeléveis. Em
pouco, distendia as pernas, esforçava-se por movimentar os braços,
contorcia-se todo, como quem despertasse de longo e profundo sono. Os
irmãos, por sua vez, prosseguiam firmes em seus propósitos
benfazejos. E quando pôde meu pai abrir os olhos, vi que estavam
congestionados, vermelhos, comportando em seu vago poder expressivo,
evidência de dores lancinantes recalcadas. Era como alguém que já
náufrago perdido se julgasse, levando estampada na face, a imagem
dolorosa que no cadáver se revelaria inconfundível. Tive, de novo,
vontade de atirar-me sobre ele, chamá-lo, fazê-lo sentir o mais
depressa que ali estávamos, que dias melhores o aguardavam, que a
sua esposa estava por ele fazendo o possível e melhor. Mas, minha
mãe me deteve, dizendo-me:
– Filho,
procure saber comportar-se. Dentro em breve estará agindo em prol de
encarnados sofríveis, sendo necessário apelar para toda a
possibilidade de segurança. Sem calma, sem nervos controláveis,
como poderia oferecer tais serviços? A serenidade é uma conquista
do espírito, é um capital capaz de ser posto a prova, em múltiplos
empregos, sem nunca desdourar nem falir em seus intentos.
– Mas
ele é meu pai... – respondi, querendo justificar minha atitude
mental, apenas mental.
– E
minha boa, minha santa mãe, terminou com minhas razões, dizendo com
toda a serenidade imaginável:
– E
aqueles que foram por ele feridos, acaso não eram pais, filhos,
esposas, irmãs etc.? Então, filho, havemos de querer justiça só
para nós?
– Tendes
razão... – tornei, arrependido, curvando a cabeça sobre o peito.
– Levanta
a cabeça, filho, que todos os problemas o são da vida. Sendo, pois,
ela, a razão-de-ser de tudo, como e por que deverá curvar-se ao
mínimo? Ou iremos proceder como os hipernervosos que, em suas
angústias íntimas pretendem ser o fim do mundo no mais comezinho
acontecimento?
Ao
cabo de minutos mais, meu pai pronunciava uns monossílabos. Quisemos
verificar a inteligência dos mesmos. E notamos que estava em seu
juízo; mas, completamente afastado da realidade. Referia-se a coisas
do mundo material. Foi então que minha mãe falou, chamando-o pelo
nome, várias vezes. Isso bastou para que uma nova força nele
despertasse. Como enxergava pouquíssimo, girava a cabeça de modo a
que o som emitido por minha mãe, lhe apanhasse o tímpano em cheio,
facilitando-lhe melhor observação intelectual. Assim que se
apercebeu da voz que tão cara lhe devera ser, lançou os braços na
direção de onde sabia vir, chamando com sofreguidão:
– Angélica!...
Angélica!... És tu? Meu Deus!... Onde estás?!...
Minha
mãe lhe dera as mãos. De seus olhos rolavam lágrimas em
quantidade. E os dois esposos por alguns instantes permaneceram em
palestra elucidativa. Minha mãe lhe disse, tudo aquilo que em tão
curto lapso de tempo lhe fora possível dizer. Depois, disse-lhe de
minha presença ali. E meu pai, que me vira no mundo como um cadáver,
pois desencarnara eu muito antes dele, estremeceu ao ouvir dizer que
eu ali estava. Por fim, disse, indagando de minha mãe:
– E
Deus não quer que ele fale comigo?...
Suas
palavras pareceram conter um profundo e cortante pesar, razão pela
qual sobre ele me atirei, abraçando-o, beijando-o, dizendo-lhe tudo
o que me ia na alma consternada e agradecida. Apesar de me ter
ensinado a negar a Deus, para mim fora um excelente pai; e se a cada
um cumpre ter segundo as obras, segundo como se auto-aplique moral e
intelectualmente, porque não procurei eu mesmo, por mim, sondar um
tal problema? Não negaria de modo algum a influência estranha sobre
a organização do caráter humano; mas o que for possível de
relatividade, tanto poderá ser contado pró como contra, quer ao que
influi, quer ao que é influenciado. A obrigação é cada qual
pensar com o seu próprio cérebro! O dever é ninguém ser a negação
do valor inteligente da espécie! E o pai que eu tinha ali, era o
homem que havia falado contra a existência de Deus, mas, como todos
os outros negadores do universo – sem nunca provar nada! E por que
deveria eu crer em tanta falta de provas? Em favor de um Princípio
do Todo, temos a prova da Criação, prova inconcussa, eloqüente ao
infinito; mas, em favor da negação, do ateísmo, do nada, que
temos?
Por
tais e tão simples elucubrações, eu mesmo devera descobrir que meu
pai, nem por si mesmo poderia provar o que me afirmava, quanto mais
fazê-lo por mim. Logo, o que fiz foi adorar um diabo por mim mesmo
inventado. Como poderia contra um tal inimigo? E por que atirar sobre
meu pai a minha culpa? E assim, creio, terão de vir a pensar um dia,
todos aqueles que quiserem, de um modo geral, imputar a segundos e
terceiros o peso de suas culpas. Naturalmente, respiramos todos do
mesmo ar; mas, não é certo que cada qual respira por si? Assim
mesmo, portanto, somos diretamente responsáveis pelo modo como
encaramos os problemas fundamentais da vida, como vemos e ouvimos,
aceitamos ou negamos.
Sem
dúvida, sei ter sofrido a culpa de ter ensinado o ateísmo. Sem
dúvida, sei ter sofrido a culpa de ter sido deísta pelo prisma
fanático de um moisaísta arrebatado, perseguidor e assassino. Sem
dúvida, a felicidade está no equilíbrio, na ponderação, no meio
termo, pois nem o negador eliminaria a Deus, nem o crente poderia
modificar-lhe a essência. Para mim, mais vale saber um pouco do que
crer muito! E saber um pouco é fácil, porque toda obra testemunha
um autor, seja lá ele como for, esteja onde estiver, tenha feito
como tenha entendido ou podido a sua obra! Tal é, agora, a minha
concepção.
E
como a chamada Criação cresceu de monta com a desencarnação e o
esclarecimento no devido tempo, faço do saber o altar e do agir bem
a oferenda. Eis minha religião, no presente. De futuro, espero
aumentar-me em tais oblatas.
Depois
daquele dia, em que me encontrei pela primeira vez com meu pai,
quando fora recolhido do seu exílio ressarcitivo, muitas coisas mais
se deram, pois que dois anos faz. Dois anos, sim, com seus dias, suas
noites, e todos os atributos concernentes, uma vez que a ordem
cósmica impera por estas bandas da vida, pelo menos até onde
conheço.
Meu
pai fora recolhido a uma das muitas casas de reparação. Disso não
passam e nem é preciso que passem, uma vez que só e nada mais,
reparam espiritualmente, moralmente, mentalmente, intelectualmente,
e, materialmente em sua natureza essencial. E não se diga que começa
do mais material para mais espiritual; em tudo há interpenetração
de valores, embora a variação à base de porcentagem, seja um fato
indiscutível. É processo reparador, em geral e relativo, aquilo a
que é submisso o espírito, quando atirado aos antros abismais,
sejam eles de que condições forem. Condições, sim, porque as
formas de purgação variam ao infinito e para todos os efeitos. A
complexidade da vida aqui aumenta de muito, sendo que o mecanismo da
Suprema Justiça, ganha foros indescritíveis, penetrando as gamas
mais íntimas do ser, pela cronologia dos feitos, desde os mais
remotos dias de sua história consciencional.
Digo
consciencional, porque nada sei de quem tenha tido de enfrentar, a
menor ação praticada como inconsciente, como animal inferior; do
mesmo modo, já reconheci casos tremendos e positivos, em que o
espírito encarnou, levando no seu pré-traçado programa, o
ressarcir faltas cometidas a mais de quinze mil anos antes da
encarnação do Cristo Planetário. E eu estive presente a isso, por
deferência de amigos de minha mãe, espíritos de alto coturno
evolutivo, que como despenseiros dos bens divinos, controlam o
movimento dos que lhe são afetos.
Eu
vi, a um tal espírito, ser colocado frente a uma câmara de visão
retrospectiva, uma máquina fenomenal, e ser a sua história
revivida, até alcançar aquela encarnação. Foi ela, depois,
focalizada em suas minúcias, para efeito de elaboração de
programa, gradativo em suas contínuas e espaçadas contingências,
tal como acontecem acidentes na vida de todos, servindo de provas
uns, de expiações outros etc. E não pensem que foi um
espiritozinho qualquer, um alguém que ainda medre pelo plano do
homem médio, do tipo padrão. Foi um dos grandes vultos da história
religiosa do Planeta, um dos mais conhecidos mestres de todos os
tempos e lugares, um vulto que jamais será banido da história
terrícola.
E
um dos grandes vultos presentes, verdadeiro filtro do Supremo Chefe
Planetário, considerou com simplicidade. Digo com simplicidade,
porque aquilo que faria arder os miolos de um cidadão encarnado, sem
chegar a fim seguro algum, é por eles tratado, como se fosse a coisa
mais comezinha da vida. Elaboração de programa, feliz ou
desgraçado, para prêmio de boas ou más ações, para um indivíduo
ou para toda a humanidade que seja, qualquer coisa será estudada e
aplicada, sem a menor discrepância de qualquer ordem. E ele disse,
frente ao mapa de responsabilidades do grande irmão focalizado:
– Assim
como se portar o ser para com os seus irmãos, assim se portará para
com ele a Justiça Divina.
Nem um só ceitil da Lei deixará de se cumprir, tal é a disposição
intrínseca da própria Lei. No espírito grava- se a história de
suas ações, o peso moral de suas obras, aquilo que, mais tarde ou
mais cedo, terá de ser revisado, integralmente.
E
um outro, que bem se sabia sentir, era-lhe menor em tamanho
hierárquico, emendou em seguida, lastimoso, assim como quem
considera seus próprios erros:
– E
os comercialistas clericais, que prossigam forjando truques e
prerrogativas absolventes.
E
eu imaginei em meus dias de antanho, quando no tempo da passagem de
Jesus pelas vielas da carne; senti um calafrio perpassar todo o meu
corpo, substancial relativamente a outros graus dimensórios, mas
rijo para mim. Revi mentalmente minhas ações nefandas, beleguim de
um fanatismo cruel, que era exercitado em nome de Deus! Revi-me
ofertando carnes e sangues, tendo tudo isso de crimes em conta de
oblatas à custa das quais, viria a merecer o direito e o poder para
eliminar do cenário humano Aquele Excelso Filho, que por suas provas
evolutivas, elaboradas no turbilhão das duras e normais provas,
pelos mundos siderais, ali estava, manso e humilde, piedoso e
sofrido, aguardando da consciência poluída dos irmãos menores... a
cruel recompensa.
Eu
tinha visto, no mapa histórico do tal mestre, a personagem por ele
vivida, de estipulador de tais falsas oblatas. Se nem tudo o que hoje
os homens manuseiam é do punho do autor atribuído, nem por isso
deixou ele de ser o responsável direto pelo espírito do erro. E
ele, volveria à carne, por aqueles próximos dias, para em servindo
à Causa do Cristo, nos serviços de restauração do Consolador, de
permeio, reparar faltas mui anteriormente contraídas, nos tempos da
civilização atlante.
Que
meditem os meus amigos no que digo, com simplicidade, para que de
suas ações não surjam dores para o próximo. Principalmente, se
esse tal próximo for do estofo de um verdadeiro Mestre, porque,
então, o peso do crime atingirá cumes fantásticos. Pecar contra a
Virtude é doloroso feito! E como saberá o homem, ao certo, onde
estará ou não escondido o virtuoso ou o vicioso, depois de ambos se
acharem mergulhados num corpo denso? Por isso, sem desprezar o dever
de análise comparativa, para efeito de classificação de méritos e
valores, digo que o melhor é cultivar aquele amor, aquela
tolerância, aquela resignação, tudo aquilo de virtudes de que deu
cabal exemplo o próprio Cristo.
Eu
disse, atrás, que o Cristo não veio para inverter valores, exigindo
primeiramente o acerto total e, secundariamente, o culto do
Consolador, da Revelação interplanos; afirmo o que disse antes, que
ao Consolador cumprirá enveredar o homem, teórica e praticamente,
rumo aos seus mais precisos conhecimentos. Pretender que se encare a
Jesus como um exemplificador moral, apenas, é tirar-lhe o mérito da
função vivida, por Deus outorgada, de revelador da Revelação
tornada pública, do batismo de Espírito Santo. Tornar o homem
conhecedor, tal e simplesmente é o dever do Consolador. As
realizações de ordem moral, isso é lá com o próprio homem, sendo
de seu direito inato, ser absoluto responsável, segundo como vir a
saber e praticar.
Por
isso mesmo, tendo sido o Consolador barrado pelo romanismo, no quarto
século da era Cristã, ao tempo do imperador Constantino, com isso
barrou-se ao homem o direito de inteirar-se de sublimes
conhecimentos. Tudo isso tendo sido por Jesus profetizado, aconteceu,
assim como do século quatorze para cá, está sendo trabalhada a
restauração do Consolador.
O
segundo capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos; os capítulos
doze e quatorze da primeira carta de Paulo aos Corintos; e, A
Doutrina Espírita, bem testemunham um só programa elucidativo,
tendo por centro de gravidade, o intercâmbio entre os planos da
carne e do aquém da carne. E como o programa restaurador objetiva um
tal relativo informe, que abrangerá ainda um século, a contar do
meado do século vinte, eis que cumprirá a todos os homens de boa
vontade, estudar com serenidade, com simplicidade, colocando o bom
senso acima dos interesses subalternos, desses que tudo fazem por
cristalizar princípios, desses que da rotina fazem meio de vida,
campo vasto para as explorações mais vis. O Espiritismo jamais
deverá servir de meio de vida a quem quer, seja a pretexto do que
for, tal é o que afirmo, em sã razão. Isso, materialmente falando.
Moralmente
falando, o Espiritismo abarca todos os quadrantes de moral já
conhecidos, relativamente expostos no curso de todos os tempos.
Mental e intelectualmente, fornece elementos para todos os graus de
intensidade assimilativa. Filosófica e cientificamente, do mesmo
modo, pois impõe-se por graus incontáveis, favorecendo a uns e a
outros, imensos campos de pesquisa. Não obstante, por causa dos
vícios mentais e de certos erros recalcados, ele mesmo que carreia
em si os elementos todos de poder unificador dos credos, fará um
grande serviço de desunião, de desagregação, de revolução. No
entanto, como o escândalo não poderá deixar de se fazer
intrometido nos movimentos sociais em geral, aquele que por ser dono
de igrejinhas que tais, o provocador, esse mesmo responderá por tudo
o que de prejuízos causar à Causa do Senhor, sem que um só ceitil
lhe venha a ser esquecido. Disto, se não olvide cidadão algum,
diga-se ou pense-se o que bem quiser. As chaves da Suprema Justiça,
não andam nas mãos de mercenários quaisquer, por se poderem
arrogar estes, títulos que tais.
Ninguém
é ministro de Deus, menos que cumpra seu dever. O dever é segundo
as leis da própria vida. Não, porém, segundo os conchavismos de
qualquer matiz, de religiosismos estes ou aqueles. Portanto,
aparecendo no vasto painel espiritista, como não poderia deixar de
ser, estas ou aquelas prerrogativas ou afirmações, ninguém deverá
julgar segundo convenções apriorísticas, mas, sim, segundo a
melhor lógica possível, o maior liberalismo são. Nenhum homem, já
ficou dito na mensagem “CONSOLADOR, O UNIFICADOR RELIGIOSO”,
precisará de inventar a Verdade! O dever do cidadão do universo é,
e nada mais, concertar-se com a Ordem Universal! Eis o programa
divino, tal como é traçado ao homem. Fora disso, só a dor terá
por recompensa.
E
não é porque desmanche algo do que é pela Suprema Vontade; é
porque prejudica o bem de segundos e terceiros, de coletividades
inteiras! E isso, amigos, vem a custar bem caro, muito caro. Entre o
homem e as leis, ninguém está, sem ser o próprio homem. Quem,
pois, ficaria responsável, sem ser ele mesmo?
Enquanto
homem do mundo, vivendo com minha máscara convencional, tinha o
hábito de atribuir minhas dores, minhas decepções, aos outros.
Hoje, que sei o que sei, das vidas sucessivas, dos feitos bons e
ruins, das imensas responsabilidades assumidas, digo que só de uma
coisa me lamento – de ter truncado, com minhas atitudes, com meus
ensinos, com meus fetichismos moisaístas e etc. o progresso de
milhares e milhares de irmãos! Santo Deus! Como esta rememoração
me aterroriza! Dá-me, Senhor, oportunidade de reparar tamanhas
faltas!...