Capítulo
XIV
Durante
minha vida sacerdotal, por várias vezes pontificaram conversas de
homens sábios do mundo, afirmando que faltava a Jesus autoridade
para ser Divino Pastor, pois não se casando nem exercitando postos
de autoridade temporal, nada poderia indicar, de méritos Seus,
concernentes aos Mandamentos que dizem respeito a essas funções e
responsabilidades.
Aparentemente,
poderia alguém assim julgar, e confesso que duvidava e deixava a
questão correr a cargo dos fatídicos mistérios de Deus. Eu não
tinha como responder de fato, da parte de quem assim pensasse, mas
também nada sabia de como a Divina Autoridade de Deus se filtraria
pelo Seu Verbo Encarnado. Portanto, que a vida fosse correndo, que
Deus teria a resposta para tudo, na hora certa.
Depois
de aqui chegar, e ter de enfrentar os fatos da vida diretamente e sem
a interferência dos mentirosos escapulários inventados pelos
homens, qualquer um pode compreender que os Mestres da Verdade são
funcionários da Ordem Suprema, que é a Ordem Moral. E se a muitos
escapa a importância da Divina Ordem Moral que rege a Criação, nós
daqui enviamos o nosso alerta, pois ninguém jamais triunfará agindo
como quiser, em qualquer campo de atividade, desde que se situe fora
da Moral Divina. Aqui tudo muda, porque ela é Virtude Atuante e
Divinamente Poderosa, fora de quem ninguém pode estar bem.
Como
à Revelação cumpre advertir, ilustrar e consolar, tivemos em certa
época de nossa vida, por aqui, consecutivas oportunidades de
aprendizados. Porque, se as conversas e os preconceitos humanos
enchem a vida e as petulâncias por aí, assim não ocorre aqui, onde
as coisas podem mudar, e freqüentemente mudam, de pólo e de
posições em geral, fazendo com que os altos desçam e os baixos
subam, ocasionando as mais diversas e sofríveis reviravoltas para
uns, e as mais diversas e felizes para outros.
Podemos
traduzir a realidade através de alguns ângulos de visão, mas o
fato é sempre o mesmo, como sentido de Lei, porque ela comanda e não
é comandada. Pode ser que tarde, para os conceitos humanos, mas a
realidade é que apenas dá tempo, a fim de que os mesmos elementos
humanos tenham tempo para raciocinar e atingir melhores níveis de
compreensão e soluções a serem tomadas. A Lei Geral que rege a
Emanação, em verdade, oferece elementos, campos de ação, tempo e
circunstâncias várias. E quem não souber computar esses fatores,
fique certo de que, embora trabalhando muito, também muito poderá
prejudicar-se, pelo fato de aplicar mal ao que Deus lhe colocou à
disposição.
Quando
aqui se chega, depois de sair do emaranhado carnal, ou desse oceano
de diversidades, é que se reconhece haver, nos fundamentos, uma Lei
Geral que a tudo preside, de onde tudo partiu e para a qual tudo terá
que retornar. Quem pensa que é inteligente e esperto, querendo
abocanhar o máximo possível, esse mesmo é o que tudo vem a perder,
tendo ainda que ajustar contas com a Justiça Divina, por causa dos
meios de que lançou mãos, para realizar seus intentos egoísticos.
A
Divina Modelagem ordena buscar primeiro o Reino de Deus e Sua
Justiça, para que o mais tudo venha como acréscimo; e quem irá
tirar dessa verdade o seu sentido de intocabilidade? Entretanto, não
pára aí a Justiça que encerra, pois segundo o grau de conhecimento
de causa, do indivíduo, essa já intocável realidade aumenta os
seus tentáculos, para tanto mais responsabilizar.
E
então, como podem observar, para atingir o Grau Crístico o filho de
Deus deve trilhar a senda evolutiva, crescendo em conhecimentos e
obras. E vai para muitos milênios atrás, aquele informe que a
Direção Planetária mandou transmitir, e que encerra toda a verdade
doutrinária: “A Verdade é cortante como o fio da navalha, e o
verdadeiro é aquele que por cima dele caminha, sem se cortar”.
O
fio da navalha é a Justiça Divina, que aumentando as
responsabilidades, também aumenta o seu praticante em Luz, Glória e
Poder. É o Céu que exige conduta, mas é o mesmo Céu que confere
galardões eternos! É o Pai Divino que reclama o devido respeito,
mas é o mesmo Pai Divino que distribui Suas Divinas Virtudes,
transformando Seus filhos em agentes ou Verbos de Sua Vontade, para
que sejam condutores de mundos e humanidades!
Eis
o porquê, irmãos, de serem os Mestres da Verdade, realmente,
Autoridades da Divina Ordem Moral; e, portanto, acima de
inferioridades e mediocridades. Quem quiser entendê-los, que viva
conforme a Lei de Deus, que fala a todos de um mesmo modo, porque a
todos domina, acima de conceitos e preconceitos quaisquer!
Foi
isso o que vimos e soubemos, quando atendemos ao convite de
Celestino, para conhecer a história de uns trinta e tantos irmãos.
Em comitiva fomos ao pavilhão dos espelhos psicométricos, e cada um
apareceu perante si mesmo, como se fosse uma cascata de quadros
reveladores. E o efeito foi maravilhoso, porque teve um poderoso
efeito higienizante, sobre as inteligências e as emoções. As
petulâncias em geral vieram abaixo, as exigências recalcadas
dobraram-se contra si mesmas, os juízos acusadores voltaram atrás e
um sentido de reverência à Lei de Deus subiu de dentro de cada um
de nós.
Jesus
ensinou, desde o começo, que Sua função era viver a Lei e não
derrogar a Lei. Depois, falsas interpretações e interesses criados,
e criminosamente criados, pretenderam substituir a Lei de Deus por
alguns decretozinhos religiosistas, verdadeiros absurdos
transformados em atos de fé. E grandes partes da humanidade
começaram a cair nos abismos de pranto e ranger dos dentes,
encaminhadas pelas absurdidades que os religiosismos engendraram e
foram impondo a ferro e fogo.
Desde
os mais humildes indivíduos, até os proeminentes na ordem social do
mundo, cada um com os seus altos e baixos, todos viram os porquês de
suas vantagens ou desvantagens perante a posição social de agora,
no seio da vida espiritual, onde as aparências do mundo não mais
formam como instrumentos de regalias adquiridas. Cada um estava, isso
foi totalmente reconhecido, onde devia estar, com tudo quanto fizera
para ter, melhor ou pior.
Celestino
pediu ao chefe daqueles serviços psicométricos para que dissesse
alguma coisa aos presentes, concernente ao futuro. E o chefe daqueles
serviços colocou o melhor situado diante do espelho, mandou a todos
que pensassem no Princípio Sagrado, e quadros e mais quadros foram
aparecendo. A história do espírito foi aparecendo, regressivamente,
até chegar ao gibão, quando o mesmo chefe disse algumas palavras,
alusivas à entrada na espécie hominal, ou à entrada na consciência
individual, o começo das responsabilidades de Ordem Moral, e,
conseguintemente, quando começa a ser juiz em causa própria.
Feito
o novo silêncio, os quadros foram surgindo, e vimos o espírito, a
centelha, ir regredindo na escala biológica ou evolutiva, até
deixar o reino animal, e entrando no reino vegetal, regredir neste,
cair no reino mineral, e, muito para baixo, aparecer nos elementos
astrais e etéricos, onde começou a caminhada, desde que saiu de uma
Luz Divina Inenarrável.
Foi
então que o chefe daqueles serviços disse, muito simplesmente:
– Eis
a caminhada do espírito, de lá para cá, pois a regressão foi na
proporção da evolução feita. Eis um nosso irmão, habitante desta
região, retratado fielmente, servindo de modelo a outros, do mesmo
nível histórico. Para cima de nós, como sabeis conceber, estão os
melhor situados, por merecimento, e se com eles fizermos a mesma
experiência, teremos a evolução mais elevada, nada mais. Portanto,
irmãos, o Reino do Céu é de ordem interior, é uma questão de
Verdade, Amor e Virtude, que deve ser realizada dentro de nós
mesmos, por nós mesmos, apenas com as ajudas de Deus e de nossos
irmãos maiores, sem esquecer, de modo algum, as ajudas de nós
mesmos, destes níveis evolutivos. Porque, entendamos bem, quem não
der jamais receberá, quem não ajudar não será ajudado, e quem não
fizer pelos irmãos, jamais terá quem faça por ele!
Ali
estavam antigos clérigos, incrédulos, ricos e pobres, altas
autoridades do mundo e pequeninos do mundo, em cujos históricos se
registravam as mais marcantes diversidades funcionais, com as suas
responsabilidades totalmente caracterizadas. E por isso mesmo, cada
qual caiu em silêncio profundo, quando terminou a experiência
maravilhosa. Foi Celestino aos dois clérigos de maior porte, segundo
o mundo, perguntando-lhes o que achavam de bom alvitre dizer, ali
mesmo, a todos, em face das lições aprendidas.
O
primeiro respondeu, falando a todos:
– Ficamos
sabendo, agora, que os Dez Mandamentos e o Cristo Modelo representam
a Moral, o Amor, a Revelação, a Sabedoria e a Virtude. Quem quiser
praticar, segundo as duas testemunhas fiéis e verdadeiras, que
abandone o mais depressa possível os religiosismos que imperam no
mundo, para a vantagem exclusiva de seus donos e mercadores. Eu me
arrependo de tudo quanto fiz, embora o faça tarde, mas posso
garantir, meus irmãos, que também fui enganado!... Creio que teria
feito mais e melhor, se me tivessem ensinado conforme a Doutrina da
Verdade.
Como
o segundo estivesse lagrimoso e nada falasse, Celestino perguntou ao
primeiro:
– Gostaria
de reencarnar e vir a ser, no mundo carnal, um médium ou profeta?
Ele
quis falar, mas sentindo que aquela pergunta filtrava uma oferta de
Deus, caiu aos pés de Celestino, que o levantou imediatamente, e
choroso murmurou:
– Sim!...
Sim!... Eu quero... Quero ser um profeta...
Quando
tudo estava mais em ordem, Celestino perguntou-lhe:
– Compreende
a importância das palavras de Moisés, desejando que todo o povo
fosse profeta ou filtro da Mensageiria Divina?
– Compreendo
– respondeu ele, satisfeito.
– Compreende
a Divina Modelagem de Jesus Cristo, vivendo a Lei de Deus e
derramando sobre a carne aquele profetismo desejado por Moisés, para
que todos viessem a ter conhecimento da Verdade que livra?
– Compreendo
– respondeu ele outra vez, exultante de alegria.
Celestino
olhou para o alto, disse palavras em aramaico e tudo ali foi mudando,
mudando, até que sumiu a forma do pavilhão, ficando o céu
brilhante, cheio de multidões gloriosas, que também olhavam para o
Alto, muito mais Alto ainda. E foi então que um Olho Divino foi
aparecendo, e parecia conter o Infinito dos mundos e das humanidades
dentro Dele, pelo tamanho que revelava, pois tinha em Si Mesmo as
partes e o Todo, sem que se pudesse saber como isso acontecia. E
quando pareceu chegar muito perto de nós, embora se sentisse que Ele
estava dentro e fora de nós, vimos que as comunidades de espíritos
cristificados foram saindo de dentro Dele, enchendo as amplidões
infinitas com as Luzes, as Glórias e os Poderes de que eram e são
portadores.
Poderia
transmitir as palavras que o Olho Divino proferiu, mas elas estão na
Lei de Deus e no Cristo Modelo, em Espírito e Verdade, e não como
dizem e fazem os religiosismos do mundo, para explorar os menos
conhecedores e cautos. O que é infinitamente impossível de
traduzir, são as Glórias e os Poderes manifestados, envolvendo
legiões de gloriosos espíritos, mesmo aqueles que se encontram
ainda muito distantes do Grau Crístico, porém marchando para ele.
Quando
o Céu se estava recolhendo, Celestino tomou a forma de uma estrela
de muito brilho e se elevou, indo parar bem juntinho do Apóstolo
João Evangelista, e de lá fez um aceno, despedindo-se. Tinha
cumprido uma tarefa a mais.
Fomos
embora, fomos meditar nas coisas do Céu, que nos espera de braços
abertos. Ardiam nossos olhos, queimavam tocados por aquelas Divinas
Luzes, mas nossas almas forçavam uma vontade tremenda, para que
aquele estado nunca mais passasse, para que aquele Fogo Divino
ficasse em nós o quanto possível, fortificando nossos corpos
espirituais e temperando nossas coroas energéticas, fazendo-as
vibrar mais intensamente, para os surtos porvindouros, em novas
experiências carnais.