Capítulo
XII
No
dia seguinte, segundo as medidas terrenas de tempo, que são
determinadas pela rotação da Terra ao redor do Sol, fomos visitar
um Centro Espírita, uma reunião de cultivadores do Batismo de
Espírito, mas em moldes diferentes da anterior, onde prevaleciam
faculdades muito mais interessantes.
Poderíamos
planar na luz espiritual, fora da feia escuridão reinante imposta
pelos encarnados, mas o fato de terem que lidar os Guias com o plano
carnal, obrigou-nos a todos ao rebaixamento do nível vibratório.
Tudo escuro e segundo a incorporação, nada mais do que isso, com
duas doutrinações de espíritos inconscientes, tal foi o que se
viu. Também, não fora de melhor padrão o nível vibratório geral,
porque o Guia do Centro, sendo um espírito de nome retumbante, era
na hierarquia espiritual bem pouco suficiente. Muito de rótulo e
pouco de essência, e é bom que se note isto, porque muito influi no
modo geral dos trabalhos, em virtude de tudo girar em torno do
Patrono.
Podem
dizer os encarnados como bem queiram, interpretando a questão a seu
talante, mas o fator imperativo é de ordem intelecto-moral, e,
conseguintemente, os dois presidentes, o encarnado e o desencarnado,
imperam diretamente na construção do padrão vibratório reinante.
E ninguém estranhe, dizendo eu que, sendo o propósito de reunir de
ordem humana encarnada, ter que prevalecer a determinante vibratória
ditada pelos encarnados, principalmente pelo que presidir os
trabalhos. E com isto, dizemos da indispensável moralização dos
dirigentes de Centros, além de lembrar a necessidade de bons
conhecimentos doutrinários.
O
farisaísmo pode aparecer e aparece, de fato, em todos os campos de
atividade, ressaltando as aparências, os longos discursos
histéricos, as manias de mandonismo, as futricas, os linguarudismos,
os ciúmes, as invejas, as vaidades, de modo que, aos poucos, um
grupinho de petulantes acaba se acreditando a guarda dos princípios
doutrinários e da consciência dos espíritas em geral. Depois de
assim estarem desequilibrados, perdido o senso da autocrítica,
perdem a noção do ridículo e nada lhes custa pensar que, se não
fossem eles, a Doutrina estaria perdida.
Muitos
são os que começam dizendo que a Verdade não é propriedade
particular de quem quer que seja, e por fim acabam se acreditando os
tais que representam a Verdade. A história das iniciações está
empanturrada desses tristes episódios; sempre foi esse o modo de
corrupção mais fácil. Falam demais, exigem dos outros tudo quanto
podem e nada realmente sabem e podem, porque os fatos provam que são
os vazios de Espírito, os distanciados das boas atenções do mundo
espiritual superior. Quase sempre, como pode ser observado por quem
tenha faculdades para tanto, são escribas e fariseus de outros
tempos, que pediram novas oportunidades no campo doutrinário e de
novo fracassam, porque cedem a espíritos iguais, paralelos
vibratoriamente. Querem falar em nome do Céu, tomam atitudes
patéticas, mas atrás deles são vistos os enegrecidos sacerdotes,
escribas e fariseus hipócritas de outros tempos.
É
de bom alvitre pensar bastante sobre a Doutrina da Verdade que Livra,
como realidade que é do Infinito e da Eternidade, dos mundos e
intermundos, das humanidades encarnadas e desencarnadas, e que um
homem ou um grupo deles, quando muito pode ser partícula
infinitesimal da Seara, grão de areia no cômputo da Obra Total. E
se alguém quiser saber o modo mais fácil de evitar os mais feios
atos de petulância, evite os postos de mando, ou mande como quem
está obedecendo a Deus, que através das Duas Testemunhas, a Lei e o
Cristo Modelo, de tudo encareceu as obrigações a serem cumpridas,
porque os resultados dependerão, sempre, da Imaculada Justiça, com
a qual ninguém jamais irá discutir.
Isto
dizemos por quê? Simplesmente porque, saindo a visitar muitas Casas
Espíritas, de falácias e aparências muito encontramos, porém de
Espiritismo, de Profetismo Generalizado, quase nada vimos. Os médiuns
ou profetas, ou aqueles que, por suas faculdades, as gentes realmente
poderiam entrar em contato com o Céu, esses foram encontrados em tão
pouco número, que deu para alguém dizer, da comitiva, que os
espíritas, já contando com tantos livros, nem por isso fazem menos
coisas erradas. Aparências e superficialidades, ignorâncias e
dúvidas, invejas e ciumeiras repugnantes, isso sim, comanda a grande
parte, lidera o movimento de indivíduos e de grupos.
Entretanto,
fomos encontrar bons trabalhadores nas gentes mais simples e sem
contato com os ambientes rotulados e mandonistas. Elementos simples,
muitas vezes pobrezinhos, afastados de pseudo-importâncias, mas onde
o caráter e as faculdades se manifestavam e se manifestam
intensamente, e, bem por isso, servem à Causa servindo aos
precisados de bons trabalhos proféticos ou mediúnicos, isso que
define e caracteriza a Doutrina da Verdade que Livra, pois os outros
campos de trabalho têm os seus apóstolos. Disto deviam
capacitar-se, de uma vez para sempre e de modo marcante, os que
militam na Seara da Verdade: que aos mediunismos em geral, e ao
Espiritismo em particular, cabe a tarefa de advertir, ilustrar e
consolar, reconhecendo que, para consolar de fato, faz-se mister as
verdadeiras filtrações mediúnicas. Caso contrário, virão a ser
como os rotulismos clericais e as fanáticas manias protestantes,
onde nada sai da casca ou do rótulo, sem ser quanto ao fato de, em
nome de um diabo que nunca existiu, porque Deus não tem concorrente,
andarem a explorar e a burrificar legiões de tolos e simplórios que
existem realmente.
Foi
diante de uma irmã, em casa paupérrima, que o antigo pastor ficou
encantado. Ela apanhou a Bíblia e leu cinco trechos do Livro dos
Atos, depois entrou a comentá-los, afirmando que Jesus veio
transmitir a Divina Modelagem e a Generalização da Revelação, e
que os cristãos, por serem falsificados, vivem falando que o Divino
Molde realmente existiu, mas esquecem-se de imitá-Lo nas obras e de
cultivar a Revelação, o instrumento de advertência, ilustração e
consolo.
– Realmente
– disse ele – os cristãos vivem para afirmar que Jesus disse e
fez isto e mais aquilo, mas na hora de imitar, ou procurar saber como
fez, de que leis e elementos lançou mão e o porquê de ter feito,
ficam de longe, curtindo ignorâncias e hipocrisias, mentindo a si
mesmos e aos semelhantes.
Celestino,
sorrindo, comentou:
– Jesus,
deixando a Divina Modelagem e o Batismo de Revelação, é o Fato
Divino que os homens, por ignorância ou hipocrisia, transformam em
fábrica de divisionismos, comercialismos idólatras e até mesmo em
blasfêmias contra a Vontade de Deus. Enquanto ativou leis e
elementos, para produzir fatos comprovantes de que dispunha realmente
do Espírito Sem Medida; enquanto, no Pentecostes, Batizou em
Espírito ou Revelação, para deixar uma Doutrina Viva e Permanente;
enquanto os Seus seguidores foram mundo afora levando a notícia do
Cristo, do Batismo de Espírito e dos seus práticos resultados
proféticos, que passaram a fazer os homens depois que Roma, no
quarto século, corrompeu a Doutrina Pura?
Vivamente
interessado, o antigo pastor considerou:
– Devemos
reconhecer, a bem do respeito que devemos ao que é Verdade por Deus
e não pelos homens, que os três pilares do Cristianismo são: a Lei
de Deus, a Divina Modelagem do Cristo e o Batismo de Espírito ou
Generalização da Revelação. E como venho a reconhecer a lei das
vidas sucessivas, para a união vibratória com o Princípio Sagrado,
e não para as salvações de favor, afirmo o meu desejo de voltar à
carne, para trabalhar a bem do Cristianismo do Cristo. Se for da
Vontade de Deus, que eu volte e trabalhe para esse fim, muito ficarei
satisfeito.
Celestino
sorriu e fitou-o, sem falar. E o antigo pastor, curioso, perguntou:
– Que
significa, bondoso irmão, esse enigmático sorriso?
Com
tristeza, o instrutor respondeu:
– É
mais um que chega e se arrepende... Bom seria que o fizesse por lá,
antes de vir para cá... Nada mais, meu caro irmão.
O
antigo pastor baixou a cabeça, todos ficamos a meditar e sob
contrição despedimo-nos. A Justiça Divina, que não faz discursos,
mais uma vez falava alto sobre a Verdade que livra.