DIVINA SIMPLICIDADE – A Lei foi entregue à consciência de cada filho de Deus, e somente a Justiça Divina o julgará, em secreto, em tempo certo. O Verbo Modelo deixou o exemplo de tudo que deriva de Deus, seja Espírito ou Matéria, e a Deus um dia retornará, como Espírito e Verdade, e ninguém com Ele poderá jamais discutir, porque Seu advogado chama-se Justiça Divina. Capítulo I DO GÊNESE AO APOCALIPSE

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terça-feira, 15 de maio de 2012

OS REINOS TREVOSOS - A Vida nos Mundos Invisíveis


IX. OS REINOS TREVOSOS
 
Ao vermos de perto, ficou claro que estas habitações nada mais eram que choupanas. Tristes de se ver, mas era infinitamente mais triste encarar que eram os frutos da vida dos homens na terra. Não entramos em nenhuma destas cabanas – eram por demais repulsivas por fora, e em nada seríamos úteis agora se entrássemos. Em vez disso, Edwin deu-nos alguns detalhes.

Alguns dos habitantes, disse, moram aqui, ou por aqui, ano após ano – segundo a contagem de tempo da terra. Eles não tinham o senso de tempo, e sua existência era uma indefinida permanência na escuridão, por culpa unicamente deles mesmos. Muitos eram as boas almas que penetraram nestes tipos de planos para tentar efetivar uma retirada das trevas. Alguns haviam sido bem sucedidos; outros, não. O sucesso não depende tanto do socorrista, mas mais do socorrido. Se este último não apresentar nem um vislumbre de luz em sua mente, nem um desejo de dar um passo adiante na estrada espiritual, então nada, literalmente nada, pode ser feito. O desejo deve sair de dentro da alma caída. E quão baixo alguns deles caíram! Não deve se supor que aqueles que, no julgamento dos da terra, caíram espiritualmente, tenham-no feito tão baixo. Muitos nem caíram de fato, mas são, no cerne da questão, almas merecedoras cujo galardão os espera aqui.

Por outro lado, há os que em suas vidas terrenas praticaram horrores espiritualmente, apesar de que, exteriormente, foram sublimes; cuja profissão religiosa outorgada por um colarinho romano foi tomada como sinônimo de espiritualidade. Zombaram de Deus em suas vidas santarronas na terra, onde viveram em vazias encenações de santidade e bondade. Aqui se encontram, revelados pelo que são. Mas o Deus a Quem zombaram por tanto tempo não pune. Eles punem-se a si mesmos!

As pessoas que moram nestes casebres pelos quais passamos não eram, necessariamente, os que na terra teriam cometido algum crime aos olhos do povo da terra. Havia muitos que, sem terem feito nenhum mal, jamais fizeram um bem sequer a um simples mortal sobre a terra. Pessoas que viveram sempre para si mesmas, sem um pensamento dirigido aos outros, tais almas constantemente harpejam o refrão que jamais fizeram o mal a alguém. Mas prejudicaram a si próprios.

Como as esferas mais altas criaram todas as belezas daqueles reinos, aqui os habitantes destas esferas inferiores construíram as condições intimidantes de sua vida espiritual. Não havia luz nestes reinos mais baixos; nenhum calor, vegetação, nem belezas. Mas há esperança - esperança de que cada espírito dali queira evoluir. É poder de cada um, fazê-lo, e nada há em seu caminho, a não ser ele mesmo. Pode levar incontáveis milhares de anos para elevarem-se espiritualmente em uma só polegada, mas já uma polegada na direção certa. 

O pensamento inevitavelmente veio em minha mente, sobre a doutrina da eterna condenação, tão amada pelas religiões ortodoxas, e dos fogos do assim chamado inferno. Se o lugar em que estávamos agora pudesse ser chamado de inferno - e sem dúvida seria pelos teologistas - então certamente não havia evidências de fogo, ou calor de qualquer espécie. Ao contrário, não havia nada sem ser uma fria e escura atmosfera. Espiritualidade significa calor no mundo espiritual; falta de espiritualidade significa frio. Toda a fantástica doutrina do fogo do inferno – um fogo que arde, mas nunca se consome – é uma das mais ultrajantes doutrinas estúpidas e ignorantes que foi inventada por clérigos igualmente estúpidos e ignorantes. Quem realmente a inventou, ninguém sabe, mas é fortemente mantida como uma doutrina pela igreja. Mesmo o menor conhecimento do mundo espiritual revela a impossibilidade disso, porque é contra as verdadeiras leis da existência espiritual. Isso, no que concerne no sentido literal. Que dizer da blasfêmia chocante que isso envolve?

Quando Edwin, Ruth e eu estivemos na terra, tínhamos que crer que Deus, o Pai do Universo, pune, realmente pune pessoas, condenando-as a arder em chamas do inferno pela eternidade afora. Poderia haver caricatura mais grotesca de Deus, do que aquela que a ortodoxia professa idolatrar? As igrejas – de qualquer denominação – construíram uma concepção monstruosa do Celeste Pai Eterno. Por um lado, fizeram d’Ele uma montanha de corrupção à boca pequena, gastando enormes quantias de dinheiro para erigir igrejas e capelas para Sua ‘glória’, fingindo uma contrição submissa por tê-Lo ofendido, ao declarar que temem-No – temem Aquele que é todo Amor! Por outro lado, temos o quadro de um Deus Que, sem a menor compunção, atira pobres almas humanas numa eternidade do pior de todos os sofrimentos – queimar nas chamas que são inextinguíveis.

Somos ensinados a implorar com desenvoltura pelo perdão de Deus. O Deus da igreja é um Ser de humores extraordinários. Deve ser continuamente aplacado. Não é certo que, ao termos implorado o perdão, vamos consegui-lo. Ele deve ser temido – porque pode atirar sua vingança sobre nós a qualquer momento; jamais sabemos quando Ele fará isso. Ele é vingativo e jamais perdoa. Manda tantas trivialidades que estão incorporadas nas doutrinas e dogmas da igreja, que logo expõe não uma grande mente, mas pequena. Fez o portal para a ‘salvação’ tão estreito, que poucos, muito poucos estarão aptos a atravessá-lo. Construiu no plano terreno uma vasta organização conhecida como “a Igreja”, para ser a única depositária da verdade espiritual – uma organização que não sabe praticamente nada do modo de vida no mundo espiritual, mesmo assim ousa colocar leis aos encarnados, ousa dizer o que está na mente do Grande Pai do Universo, e ousa desacreditar Seu Nome ao conferir a Ele atributos que jamais poderia possuir. O que tais mentes bobas e insignificantes sabem do Grande e Onipotente Pai de amor? Vejam bem! – de amor. Então, relembremos todos os horrores que já enumerei. E mais uma vez. Encaremos isso: um céu com tudo que é lindo; um céu de mais belezas que a mente de um homem poderia compreender; um céu do qual tentei descrever um mínimo fragmento, onde tudo é paz, benevolência e amor entre os companheiros. Todas essas coisas são construídas pelos habitantes destes reinos, e são sustentadas pelo Pai do Céu em Seu amor pela humanidade.

Que dizer dos reinos inferiores – os lugares trevosos que agora estamos visitando? É por os estarmos visitando que comecei a falar desta maneira, porque ao estar nesta escuridão conscientizei-me da única grande realidade da vida eterna, que as esferas mais altas dos céus estão ao alcance de todas as almas mortais, isto é, nascidas na terra. A potencialidade para a progressão é ilimitada, e é o direito de cada espírito. Deus não condena ninguém. O Homem condena-se a si mesmo, mas não o faz eternamente, dá um repouso, e é quando se move para adiante, espiritualmente. Todos os espíritos odeiam os planos inferiores pela tristeza que há lá, e por outra razão. E por esta razão, grandes organizações existem para ajudar cada alma que ali habita a sair de lá, em direção à luz. E este trabalho continua através dos tempos incontáveis, até que a última alma seja trazida para fora destes lugares horrendos, e finalmente tudo esteja como o Pai do Universo queria que estivesse.

Temo que isso tenha sido uma longa digressão, portanto, voltemos às nossas viagens. Devem se lembrar a minha menção aos muitos perfumes e cheiros celestiais que vêm das flores e que flutuam no ar. Aqui, nestes reinos inferiores, acontece justamente o contrário. Nossas narinas primeiramente foram invadidas pelos odores mais asquerosos, odores que nos lembraram o cheiro de carniça na terra. Eram nauseantes, e temi que fossem insuportáveis para Ruth – e sem dúvida para mim, mas Edwin advertiu-nos para que tratássemos isso da mesma forma com que mascaramos a baixa temperatura – simplesmente fechando nossa mente a isso – e ficaríamos quase sem pensar em sua existência. Apressamo-nos a fazer isso, e obtivemos sucesso perfeitamente. Não é somente a ‘santidade’ que tem seu odor!

Em nossos passeios através de nossos reinos, podemos aproveitar todas as incontáveis delícias e belezas, juntamente com as alegres conversas de seus habitantes. Aqui, nos planos trevosos, tudo é deserto e desolado. O grau bastante baixo de luminosidade lança uma névoa por toda região. Ocasionalmente, podíamos ver de relance faces de alguns infelizes, enquanto passávamos. Alguns eram, indubitavelmente, maldosos, mostrando a vida de vícios que tiveram na terra; alguns revelavam a miséria, a avareza, a besta bruta. Havia pessoas aqui de todas as camadas sociais da vida terrena, desde os tempos atuais, até lá para os séculos passados. E aqui há uma conexão com nomes que podiam ser lidos naquelas verdadeiras histórias das nações na biblioteca que visitamos em nosso plano. Edwin e seu amigo disseram-nos que ficaríamos intimidados com o catálogo de nomes, bem conhecidos da história, de pessoas que estavam vivendo aqui nas profundezas, nestas regiões infestas – homens que perpetraram vilanias e atos maldosos em nome da sagrada religião, ou pela ganância desprezível por bens materiais. De muitos desses infelizes não se podia aproximar, e ficariam assim – talvez por inúmeros séculos mais – até que, por sua própria vontade ou esforço, movam-se avidamente na direção da luz do progresso espiritual.

Podíamos ver, conforme andávamos, bandos de almas parecendo dementes a caminho de algum intento maldoso – se pudessem achar o caminho para tanto. Seus corpos externavam as mais repulsivas e horríveis malformações e distorções, o reflexo absoluto de suas mentes malvadas. Muitos deles pareciam velhos, e disseram-me que, apesar de que talvez tais espíritos estejam ali por muitos séculos, não era a passagem do tempo que mexera em suas faces, mas suas mentes doentias.

Nas esferas mais elevadas, a beleza das mentes rejuvenesce as feições, tira os sinais dos problemas e sofrimentos da terra, a apresentam aos olhos o estado físico do desenvolvimento físico que, no período de nossas vidas na terra, chamávamos de ‘flor da idade’.

Os vários sons que ouvíamos combinavam com os arredores medonhos, desde roucas risadas enlouquecidas, até o grito agudo de alguma alma atormentada – tormento infligido por outros tão malvados quanto ele mesmo. Uma ou duas vezes, vieram falar conosco uns mais corajosos que estavam ali em alguma tarefa de ajudar estes mortais aflitos. Ficaram felizes em nos ver e conversar conosco. Podíamos vê-los na escuridão, e eles podiam nos ver, mas estávamos invisíveis para os demais, já que providenciamos essa mesma proteção para os planos tenebrosos. No nosso caso, Edwin estava tomando conta de todos nós coletivamente, como recém chegados, mas aqueles cuja vida é dedicada ao socorro tinham, cada um, seus meios próprios de proteção.

Se qualquer sacerdote – ou teólogo – pudesse ao menos vislumbrar as coisas que Edwin, Ruth e eu vimos por aqui, nunca mais diria, enquanto vivesse, que Deus, Pai de Amor, condena qualquer mortal a tais horrores. O mesmo sacerdote, vendo esses lugares, não condenaria ninguém a ele. Seria ele mais bondoso ou misericordioso que o Pai de Amor? Não! É o homem que se qualifica para este estado de existência depois que passa ao mundo espiritual.

Quanto mais eu via dos planos trevosos, mais percebia quão fantasioso é o ensino da igreja ortodoxa à qual pertenci quando na terra, sobre o local denominado inferno eterno, a ser governado por um Príncipe das Trevas, cujo único desejo é trazer todas as almas ao seu domínio, e de quem não há como escapar, uma vez tendo adentrado em seu reino. Haveria uma entidade como esse Príncipe das Trevas? Deveria haver, concebivelmente, uma alma infinitamente pior que todas as outras, talvez fosse chamado assim, e por isso seria considerado o verdadeiro Rei do Mal. Edwin nos contou que não existe a menor evidência de tal personagem. Houve os de esferas mais elevadas que vasculharam cada polegada dos reinos inferiores, e não descobriram tal ser. Também houve os que têm sabedoria prodigiosa, e que positivamente afirmaram que a existência de tal personagem não tem fundamento, de fato. Sem dúvida, há muitos que, coletivamente, são muito mais maldosos que seus companheiros de escuridão. A idéia de que um Rei do Mal exista, com a função direta de fazer oposição ao rei dos Céus, é estúpida; é primitiva, senão bárbara. O Diabo, como um indivíduo solitário não existe, mas uma alma malvada pode ser chamada de diabo e, neste caso, há muitos e muitos diabos. É essa fraternidade, de acordo com os ensinos da ortodoxia da igreja, que constitui o único elemento do regresso do espírito. Podemos dar risadas pelos absurdos de tais ensinamentos. Não é novidade alguns maravilhosos e ilustres espíritos serem chamados de diabo! Ainda mantemos nosso senso de humor, e nos diverte bastante, algumas vezes, ouvir algum pastor estúpido, cego espiritualmente, pregar que sabe sobre as coisas do espírito, das quais ele é, na realidade, totalmente ignorante. Os espíritos têm costas largas, e podem suportar o peso de tal lixo falacioso sem sentir nada a não ser pena destas almas cegas.

Não é minha intenção em dar mais detalhes destes reinos trevosos. Pelo menos, não agora. O método da igreja de aterrorizar as pessoas não é o método do mundo espiritual. É bastante que enfatizemos as belezas do mundo espiritual, e tentemos mostrar algo das glórias que esperam cada alma quando sua vida terrena terminar. Fica a cargo de cada um, individualmente, este lindo reino ser atingido mais cedo, ou mais tarde.

Consultamo-nos uns aos outros, e decidimos que seria bom retornarmos ao nosso reino. E assim fizemos nosso caminho de volta às terras de névoa, passamos por ali rapidamente, e mais uma vez chegamos ao nosso celestial plano, com o ar cálido e balsâmico a nos envolver. Nosso novo amigo dos reinos trevosos deixou-nos aí, depois de expressarmos nossos agradecimentos por seus bondosos serviços.   Pensei que era bem tempo de ir até minha casa dar uma espiada, e pedi que Ruth e Edwin me acompanhassem, já que não queria estar sozinho, nem ficar separado de suas companhias agradáveis. Ruth não tinha visto minha casa ainda, mas tinha imaginado – como disse – como ela seria. E pensei que um pouco de fruta do jardim seria agradável depois de nossa visita – curta como o pensamento – aos reinos inferiores.

Tudo em casa estava em perfeita ordem – como eu a tinha deixado para ir aos nossos passeios – como se houvesse alguém permanentemente tomando conta dela. Ruth expressou sua aprovação para tudo o que viu, e congratulou-me a respeito da escolha da casa.

Em resposta às minhas perguntas quanto à agência invisível responsável pela ordem na casa durante minha ausência, Edwin respondeu-me fazendo uma pergunta: o que havia para perturbar a ordem da casa? Não pode haver poeira, porque não há decadência de nenhuma forma. Não pode haver sujeira, porque aqui, no mundo espiritual, não há quem a cause. Os cuidados caseiros, que são tão familiares e tão cansativos no plano terreno, aqui não existem. A necessidade de prover o corpo com comida foi abandonada quando abandonamos nosso corpo físico. Os adornos da casa, como quadros e tapeçarias, jamais precisam de renovo, porque não perecem. Perduram até que desejemos dispensá-los por outras coisas.  Então, o que sobra que requeira atenção? Temos, portanto, apenas que sair de nossas casas deixando portas e janelas abertas – nossas casas não têm trancas e podemos retornar quando quisermos – para encontrar e ver que tudo está como deixamos. Podemos achar alguma diferença, alguma melhora. Podemos descobrir, por exemplo, que algum amigo apareceu enquanto estivemos fora, e deixou-nos algum presente, algumas flores maravilhosas, talvez, ou algum outro toque de carinho. Por outro lado, descobrimos que nossa própria casa convida-nos a sermos bem-vindos, renovando nosso sentimento de estarmos ‘em casa’.

Ruth passeou sozinha por toda a casa – não temos formalidades estúpidas por aqui, e ofereci a ela que fizesse da casa como sua o quanto quisesse, e que fizesse o que lhe agradasse. O estilo antigo da arquitetura apelava por sua veia artística, e ela deleitou-se com os antigos painéis de madeira e os entalhes – o entalhe era meu adorno – de épocas passadas. Ela chegou até a minha pequena biblioteca, e ficou interessada em ver meus trabalhos entre os outros nas prateleiras. Um livro, em particular, atraiu-a, e estava folheando-o quando cheguei. Só o título já revelava muito para ela, como disse, e então pude sentir sua suave simpatia chegando até mim, quando ela soube qual era minha grande ambição, e ofereceu-me toda a ajuda que pudesse dar no futuro, quanto à realização desta ambição.

Assim que ela completou a revisão da casa, seguimos para a sala de estar, e Ruth fez a Edwin uma pergunta que estive querendo fazer há algum tempo: Em algum lugar tem mar? Se havia lagos e rios, então talvez houvesse mar! A resposta de Edwin encheu-a de alegria: Claro, temos a praia – e é linda também! Ruth insistiu em ser logo conduzida até lá e, com a guarda de Edwin, partimos.

Logo estávamos passeando ao longo de um lindo trecho de campo aberto com a grama parecendo um tapete de veludo verde sob nossos pés. Não havia árvores, mas havia vários tufos de lindos arbustos, e, claro, cheio de flores nascendo por toda parte. Finalmente, chegamos a uma ladeira e sentimos que o mar deveria estar além dela. Uma caminhada curta nos trouxe até o topo do campo gramado, e então o mais glorioso panorama oceânico descortinou-se diante de nós.

A visão era simplesmente magnificente. Jamais esperei ver tal mar. Sua coloração era a mais perfeita reflexão do azul do céu acima, e mais, refletia uma miríade das cores do arco-íris a cada menor onda. A superfície da água estava calma, mas sua calma de forma alguma implicava que a água estivesse sem vida. Não há coisas como água estagnada ou sem vida por aqui. De onde estávamos, podia-se ver ilhas de tamanho considerável à distância – ilhas que pareciam muito atrativas e que deveriam ser visitadas! Abaixo de nós havia uma faixa estreita de praia, onde podíamos ver pessoas sentadas à beira da água, mas não havia sinais de estar lotada. E flutuando sobre esse mar soberbo, perto, à mão – alguns mais distantes – havia os mais lindos barcos, apesar de eu achar que não estou fazendo justiça chamando-os meramente de barcos. Iates seria mais apropriado. Imaginei quem seria o proprietário dessas finas embarcações, e Edwin disse-nos que poderíamos tê-las, se desejássemos. Muitos dos proprietários moravam ali, não tendo outra casa senão o seu barco. Não fazia diferença. Poderiam viver ali sempre, pois aqui temos um eterno verão.

Uma curta caminhada por uma estradinha sinuosa trouxe-nos à arenosa beira do mar. Edwin informou-nos que era um oceano limpo, e que em nenhum lugar era muito fundo, comparando-se com os mares terrestres. Sendo impossíveis as tempestades de vento por aqui, a água estava sempre suave, e como todas as águas deste reino, tinha uma temperatura agradável que não fazia os banhistas sentirem frio, ou mesmo arrepios. Era, claro, perfeitamente flutuante, não tendo nenhum elemento ou característica que ferisse, mas, ao contrário, era sustentador vital. Tomar banhos em suas águas era experimentar uma perfeita manifestação de força espiritual. A areia sobre a qual estávamos andando não dava nenhuma má impressão associada com as praias do plano terrestre. Não cansava andar nela. Apesar de que tinha toda a aparência de areia como sempre a conhecemos, ao trato era firme em consistência, apesar de macia ao toque das mãos. De fato, esta qualidade peculiar fazia parecer um gramado bem tratado ao se andar, de tão próximos que eram os grãos. Enchemos as mãos de areia, e deixamos que corresse pelos dedos, e grande foi a nossa surpresa ao vermos que não as deixava arenosas, mas ao toque aproximava-se a um macio e suave pó. Ao ser examinada bem de perto, era sem dúvida sólida. Era um dos fenômenos mais estranhos que eu já tinha visto até então. Edwin disse que era por termos feito, neste caso em particular, um exame mais minucioso daquilo a que fôramos apresentadas até então. Acrescentou que se tivéssemos escolhido fazer um escrutínio cuidadoso de tudo o que víramos, fosse o chão por onde andamos, a substância de que era feita nossas casas, ou mil e um outros objetos que perfazem o mundo espiritual, estaríamos vivendo um contínuo estado de surpresa, e teríamos tido a revelação de que tínhamos apenas uma pequena idéia – mas somente uma pequena idéia – da magnitude da Grande Mente – A Maior Mente do Universo – que sustenta este e todos os outros mundos. Na verdade, os grandes cientistas do plano terrestre descobrem, quando vêm morar no plano espiritual, que eles têm um mundo completamente novo sobre o qual começar um novo curso de investigações. Começam como se fosse do nada, mas com suas experiências terrenas por trás. E que alegria têm, em companhia de seus colegas cientistas, ao sondar os mistérios do mundo espiritual, ao coletar os dados, comparar o novo conhecimento com o antigo, registrá-los para o benefício de outros e dar os resultados de suas investigações e descobertas. E, para tanto, eles têm os recursos ilimitados do mundo espiritual para usar. E há alegria em seus corações.

Nosso pequeno experimento com a areia levou-nos a colocar nossas mãos no mar. Ruth mal esperava para testar se era salgada, mas não, para sua surpresa. Até onde pude observar, ela não tinha gosto de nada! Era um mar mais em virtude de sua grande área e as características das terras adjacentes, do que outra coisa.  Em outros aspectos, assemelhava às águas dos regatos e lagos. Em aparência geral, o efeito era totalmente diferente aos oceanos terrestres, devido, entre outras coisas, ao fato de que não havia um sol para dar sua luz de um lado somente, para causar a mudança de aspecto conforme a direção da sua luz mudasse. A emanação de luz da grande fonte central de luz no mundo espiritual, constante e imutável, dá-nos um dia perpétuo, mas não se deve achar que esta constância e imobilidade da luz signifiquem uma terra monótona ou sem mudanças – ou um local beira-mar. Há mudanças acontecendo o tempo todo; mudanças de cor como jamais o homem sonhou – até que venha para o mundo espiritual. Os olhos de um espírito podem ver tantas coisas lindas no mundo espiritual que os olhos dos encarnados não podem – a menos que sejam dotados com a visão espiritual.

Queríamos muito visitar uma das ilhas que podíamos ver à distância, mas Ruth sentia que seria uma boa experiência viajar sobre o mar numa destas finas embarcações que estavam perto da praia. Mas surgiu uma dificuldade – isto é, parecia que podia surgir – quanto ao barco. Se, como eu tinha entendido, estes eram particulares, deveríamos primeiramente conhecer algum dos proprietários. Edwin, entretanto, podia ver o quanto Ruth queria andar sobre as águas, e logo explicou a posição exata - para sua alegria sem limites.

Parecia que um destes barcos elegantes pertencia a um amigo dele, mas, por outro lado, poderíamos ser bem vindos a bordo em qualquer um deles, apresentando-nos – se quiséssemos observar esta formalidade, já que era desnecessária – a quem encontrássemos a bordo.  Já não tínhamos recebido, onde quer que tivéssemos ido, aquela recepção amistosa e a segurança de que éramos bem-vindos? Então, não deveria haver qualquer obstáculo, no caso dos barcos no mar, à fundamental regra de hospitalidade que vigora no mundo espiritual. Edwin dirigiu nossas atenções para um lindo iate que estava ancorado perto da praia. De onde estávamos, parecia que era dos mais cuidados – nossa opinião depois foi confirmada. Era construído em linhas graciosas, e a grande proa prometia grande poder e velocidade; parecia muito igual a um iate da terra, isto é, externamente.

Edwin enviou uma mensagem ao proprietário, e em resposta recebeu um convite instantâneo, extensivo a todos nós. Portanto, não gastamos mais tempo, e vimo-nos no deck deste lindo iate, sendo cumprimentados com grande alegria por nosso anfitrião que, imediatamente, levou-nos para apresentar-nos à sua esposa. Ela era muito agradável, era bastante claro de se ver que os dois formavam um casal perfeito. Nosso anfitrião podia ver que Ruth e eu estávamos bastante ansiosos para conhecer o barco, e sabendo pelo Edwin que não éramos antigos no mundo espiritual, teve mais prazer em nos mostrar.

Nossas primeiras observações de perto mostraram-nos que muitos dispositivos e ajustes que são essenciais nos barcos da terra aqui eram ausentes. Este agregado indispensável, a âncora, por exemplo. Não havendo ventos, marés ou correntes nas águas espirituais, uma âncora torna-se supérflua, apesar de que nos disseram que alguns proprietários de barcos têm-nas meramente como enfeites, e porque não sentem que seus veleiros estariam completos sem elas. Havia espaço sem limites no deck, com uma grande quantidade de cadeiras longas muito confortáveis. Embaixo do deck havia salões e espreguiçadeiras. Eu podia ver que Ruth estava desapontada porque não achava nenhuma evidência de motor que impulsionasse a embarcação, e ela concluiu naturalmente que o iate era incapaz de movimento independente. Compartilhei de seu desapontamento, mas Edwin tinha no olhar uma centelha indicando que devia ter me dito que as coisas nem sempre são o que parecem ser, no mundo espiritual. Nosso anfitrião havia recebido nossos pensamentos, e imediatamente levou-nos ao tombadilho. Qual foi nosso espanto quando vimos que estávamos, gentil e lentamente, nos afastando da praia! Os outros riram alegremente da nossa confusão, e corremos para a lateral para observarmos nosso curso na água. Não havia erro nisso, estávamos nos movendo, e ganhando velocidade conforme seguíamos. Retornamos para ao tombadilho e pedimos uma rápida explicação desta aparente feitiçaria.


Extraído do Livro: A VIDA NOS MUNDOS INVISÍVEIS

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A SAGRADA E ETERNA SÍNTESE

PRINCÍPIO OU DEUS – Essência Divina Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo origina, sustenta e destina, e cujo destino é a Reintegração Total. O Espírito e a Matéria, os Mundos e as Humanidades, e as Leis Relativas, retornarão à Unidade Essencial, ou Espírito e Verdade. Se deixasse de Emanar, Manifestar ou Criar, nada haveria sem ser Ele, Princípio Onipresente. Como o Princípio é Integral, não crescendo nem diminuindo, tudo gira em torno de ser Manifestador e Manifestação, tudo Manifestando e tudo Reintegrando. Eis o Divino Monismo.

ESPÍRITO FILHO – As centelhas emanadas, não criadas, contêm TODAS AS VIRTUDES DIVINAS EM POTENCIAL, devendo desabrochá-las no seio dos Mundos, das encarnações e desencarnações, até retornarem ao Seio Divino, como Unas ou Espírito e Verdade. Ninguém será eternamente filho de Deus, tudo voltará a ser Deus em Deus. Esta sabedoria foi ensinada por Hermes, Crisna e Pitágoras. Jesus viveu o Personagem Inconfundível de VERBO EXEMPLAR, de tudo que deriva do UM ESSENCIAL e a Ele retorna como UNO TOTAL. O Túmulo Vazio é mais do que a Manjedoura. (Entendam bem).

CARRO DA ALMA OU PERISPÍRITO – Ele se forma para o espírito filho ter meios de agir no Cosmos, ou Matéria. Com a autodivinização do espírito, ao atingir a União Divina, ou Reintegração, finda a tarefa do perispírito. Lentíssima é a autodivinização, isto é, o desabrochamento das Latentes Virtudes Divinas. Tudo vai aumentando em Luz e Glória, até vir a ser Divindade Total, União Total, isto é, perdendo em RELATIVIDADE, para ganhar em DIVINDADE.

MATÉRIA OU COSMO – A Matéria é Essência Divina, Luz Divina, Energia, Éter, Substância, Gás, Vapor, Líquido, Sólido. Em qualquer nível de apresentação é ferramenta do espírito filho de Deus. (É muito infeliz quem não procura entender isso).

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