DIVINA SIMPLICIDADE – A Lei foi entregue à consciência de cada filho de Deus, e somente a Justiça Divina o julgará, em secreto, em tempo certo. O Verbo Modelo deixou o exemplo de tudo que deriva de Deus, seja Espírito ou Matéria, e a Deus um dia retornará, como Espírito e Verdade, e ninguém com Ele poderá jamais discutir, porque Seu advogado chama-se Justiça Divina. Capítulo I DO GÊNESE AO APOCALIPSE

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sexta-feira, 3 de maio de 2019

O Grande Cisma - Capítulo IX


IX 

         Durante minha vida carnal, pouco mais ou menos toda ela votada aos trabalhos espiritistas, e sei que nos melhores moldes, bem poucos fenômenos se deram comigo, de ordem mediúnica, dignos de melhores atenções. Desenvolvida a faculdade falante, tudo era trabalhar com ela, simplesmente. Vez que outra dava-se um rapto de vidência, de longe em longe sabia-me em viagem astral; o mais tudo era rotina, era sofrer dando passagem a certos espíritos, muitas vezes aturando por horas a fio dores e influências desagradáveis. 

    Por falar em dores, por fazer referência às influências desagradáveis, devo aqui uma lembrança aos médiuns – que nenhum deixe de trabalhar por isso; que jamais cesse um trabalho pelo temor de sofrimento qualquer; porque a recompensa em Deus ultrapassa os limites do concebível. Trabalhe-se, e com gosto, lenindo amarguras, enxugando lágrimas, consolando espíritos aflitos, curando doentes do mundo astral, porque a recompensa é digna de todos os respeitos. Sei quanto é esquivo o espírito encarnado; considero a superfluidade dos conceitos humanos: respeito a pouca monta das certezas terrenas; mas afirmo que convém perseverar, que convém empatar o tempo em serviços de fraternidade mediúnica. Para mim, empregar tempo em obras de solicitude mediúnica valeu muito, ultrapassou o que a minha imaginação concebia. E julgo a meu modo, segundo as dádivas que recebi – fazer o bem, de espírito para espírito, sem mescla de interesse qualquer, é muito mais CRISTIANISMO, é muito mais RELIGIÃO, é muito mais ÉTICA do que viver propalando filiações igrejistas, do que viver fazendo afirmações sectaristas, como é comum entre os homens, quase que em geral. Bazofiar crenças e postulados místicos, gastar rompâncias hierárquicas, ter certeza das verdades eternas, tudo isso é pouco face a face com o bom procedimento, tudo isso é quase nada em face de um pouco de amor fraterno. 

       Já disse alguém, e com sobras de razão, que o mal da Humanidade é estar ela sobrecarregada de criaturas que a si mesmas se justificam; verdadeiramente, temos sobras de santos de si mesmos.  É a realidade, pois os que se julgam certos na fé que esposam, quase sempre dão bons errados, dão com os costados no erro. O bom senso indica no sentido de trabalhar, de aumentar em serviços úteis ao próximo; e a deficiência espiritual concita no rumo das afirmações sectárias, dos fanatismos religiosos, das certezas que salvam... Mais tarde, ao somar das contas, tremenda é a desilusão, porque a Lei queria boas obras e não excesso de falatório, e não afeição a estatutos humanos. Afinal, quem disse que a Verdade Suprema se guia e se comporta segundo os convencionalismos terrícolas? Por acaso, pode o homem julgar o Infinito? Então, quem não pode acrescentar um côvado à sua estatura pode ordenar ao que é Integral? 

            Não pode, é claro, e qualquer de nós consegue compreender isso; mas é muito mais fácil ter uma religião, e discuti-la com os amigos, do que ser bom, do que cumprir com os deveres da Humanidade. Se a Terra tivesse tantos bons, quanto tem de religiosos, de há muito seria um paraíso! É muito fácil compreender isso, não é? 

          Vamos, então, ao relato do fenômeno mais interessante passado em minha vida de encarnado, aquele que servira de guia místico em todos os momentos de minha trabalhosa vida. 

         Haviam-me convidado para um trabalho espírita. Um trabalho a mais, apenas, assim como bastantes outros que houvera feito. E lá fomos, eu e alguns confrades, atender a uma senhora, ainda muito jovem, acometida de mal súbito e desconhecido pelo facultativo que a atendera.

            Lá estava ela, gemendo e chorando, no seu leito, acompanhada de seu marido e uma filhinha. Respondia coisas sem nexo, falava de assuntos estranhos à sua vida e ao seu meio. Nada mais, portanto, do que um caso mediúnico, do que um mal aparente. Dessas questões tínhamos conhecimentos a valer, era do rol ordinário. 

    – Façamos uma sessão, levando-a para a mesa – disse Cavalheiro, que era no tempo quem presidia aos trabalhos práticos. 

       – É o mais indicado, pelo menos para o que se pode entender, observando o caso pelos sintomas, apenas. 

     A essa minha observação, foi ela tomada por sobressaltos, saltando do leito e ameaçando agredir-nos. Disse quantos impropérios quis e rasgou roupas à vontade, antes que se pudesse dominar o agente que a dominava, que a controlava por completo. 

      Foi para a mesa, com algum custo, e ali se fez o necessário. Tudo rotineiro, tudo comum, apenas o normal para essas ocorrências. Uma vez elucidado o espírito, pediu para falar algumas coisas, tendo sido barrado pelo presidente, que nunca se dera de esgara- vatar a vida, a esmiuçar particularidades alheias.

      – Não – respondeu-lhe Cavalheiro – que nada temos com as vossas questões íntimas. Feito aquilo que nos cumpre, é senhor de suas liberdades e intimidades. Cada um de nós possui um mundo interno que lhe é privado, e nós pensamos ser educados a ponto de respeitar esse direito. 

       Deu-se, porém, a comunicação espontânea de um outro espírito, por um dos médiuns presentes, avisando: 

     – Nobre é o vosso procedimento, não resta dúvida. Muitas vezes, e sem ter essa intenção, alguns presidentes, por interrogarem muito aos espíritos recém-elucidados, fazem mal em lugar de bem. Estes, apesar do reconhecimento de última hora, permanecem embotados, avessos por desconhecimento à nova ordem, não podendo responder a contento de quem age em plano dife rente, muitas vezes com prevenção, revelando não usar na prática o Evangelho de que tanto usa em palavras. Agora, para com este irmão, faz-se necessário abrir valioso precedente, pois nada terá a dizer de sua vida íntima, sendo que teria muito a tratar, de assunto que a todos aqui interessa, não fosse a escassez de tempo. A Lei vos reuniu e o caso vos diz respeito. Antes digo que, por ser de Lei, uma vez mais vos encontrastes no curso da vida. 

       – Sendo assim – concordou Cavalheiro – é interessante por ser útil. 

A entidade comunicante emendou. 

      – Longa é a história. Ele dirá o suficiente, assim como lhe for ditado. 

       Interessado, inquiriu Cavalheiro: 

       – Quem vai instruí-lo? 

     – Quem de mais alto zela pelos vossos bens. Há sempre uma autoridade maior, até chegar a Deus, a PLENITUDE DIVINA que é FUNDAMENTO ÍNTIMO em tudo e em todos. 

    – Compreendemos, então, estar presente o fator cármico, a obrigação de atender, por ser intransferível. Agradecemos o aviso.

      – Ouçam-no, portanto, que poucas são as palavras – respondeu o enunciante. 

       E o recém-doutrinado falou: 

   – Temos tido muitas vidas, bem o sabeis; mas não podeis detalhar, nem muito nem pouco sobre elas. O que sabeis é de modo geral, vale apenas como tese doutrinária, por ser princípio básico da Doutrina do Consolador. Todavia, dizem-me aqui, temos muito em comum sobre eventos históricos; e afirmam, também, que chegou para nós uma grande hora, um tempo de concerto entre partes. 

Demonstrou o espírito estar ouvindo alguém, para terminar: 

     – Tereis, em sonho, como dizeis, a revelação de alguns fatos. Prestai a devida atenção ao que haveis de sonhar. Por ora, agradecido me despeço, afiançando meu desejo sincero de ser útil, a fim de indultar-me perante vós e a Lei. 

       E se foi. 

   Alguns dias se passaram, cheios todos nós de anseios e expectativas. Nada acontecera, enquanto pairávamos naquela tensão curiosa, naquele frenesi auspicioso. Também, ninguém tinha coragem para indagar sobre a demora ou fracasso da proposta, permanecendo numa esperança que aos poucos se desfazia, que se esvaía em desilusão. 

      Certa noite, quando menos cogitava mentalmente sobre o caso, e quando acontecimento da vida me prendia toda a atenção, pela gravidade que assumia, pude sonhar o mais lindo sonho de minha vida. 

       Eis o sonhado: 

     Era uma linda noite de luar. O ermo nos contagiava, fazia-nos pensar na profundidade das leis universais. Fazia-nos, digo, porque éramos três homens, caminhando por entre campos e bosques, tendo a alma suspensa por indefinível temor. Chegando a uma elevação, vimos ao longe uma cidade, muito iluminada, vibrante, cheia de vida, alegrias e temores. 

      Um falou, com voz pausada e pontilhada de amargura: 

       – Vamos, que é Paris. Marchemos para a morte. 

      Minha alma pareceu gemer. Digo assim, e com razão, pois a dor me vinha do mais profundo, dos recônditos espirituais. Eu ignorava, até então, o que continha aquela situação e aquela frase, parece que feita de agonia e atroz. 

      – Gemes por que? – inquiriu-me aquele mesmo companheiro. 

      – Não sei... 

     – Dói-te alguma coisa? – Dói-me a alma!... Sofro do espírito!... Uma tremenda agonia me devora!

      Ele balbuciou, lugubremente: 

     – Previsões do espírito. Esta noite morreremos pelo Cristo, pela Verdade. 

      – Esta noite?! Mas se há tanta beleza nas alturas. 

      O outro interveio: 

      – Que se pode fazer, se há tanta feiúra em certas almas? Esta é a noite de São Bartolomeu, a noite que marcará na História uma das piores ações por parte da Igreja que se diz do Cristo. Muito sangue será vertido... Muito luto cobrirá aquela cidade e muitas outras... Porque a Verdade, na Terra, para vencer, tem obrigatoriamente necessidade de terríveis testemunhos. Pensa, por acaso, que foi preparada pelo Cristo a Sua própria crucificação? É que nos planos inferiores a Verdade é minoria. Se não a podem liquidar, podem entretanto, por algum tempo, constrangê-la. 

        – Ainda bem... Se estamos com a Verdade... 

    – Por isso mesmo, voltemos. Vamos morrer com os nossos companheiros, para que não nos marque a Lei com o sinete da covardia. 

        O companheiro começou a brilhar, pelo que o inquiri: 

      – Você é por acaso um profeta? Vejo que prediz e que brilha. Diz a Escritura, que isso acontecia com aqueles que possuíam o Espírito de Deus.

       – Muito bem, somos profetas. Por isso mesmo, volte e cinja-se ao dever, que deve um severo resgate. Em outros tempos, por fraqueza de espírito, delatou, traiu, fez morrer a muitos servos da Verdade. E agora que chegou para si uma grande hora, por que foge de novo? 

      Tive, no momento, como que a revelação íntima do que ocorria. Envergonhei-me, atirei-me por terra, pedi perdão.

      – Levanta-te, que és um homem! – bramiu um deles. Levantei-me, mas conservei a cabeça baixa. 

      O companheiro fez-me encará-lo de frente. Estremeci, pois ele era o retrato vivo de Wicliff. Olhei para o outro, como que forçado por estranha influência, e reconheci-o como sendo João Huss. Eram os paladinos da Reforma, os alicerces do Protestantismo, que eu tinha pela frente, no momento em que fugia de Paris, quando abandonava os companheiros da luta. 

       Terrivelmente constrangido, mortalmente agonizado, roguei: 

      – Pelo amor de Deus, ajudem-me!... Não tenho coragem!... Não sei morrer... 

      Eles agora brilhavam. Não se lhes podia encarar, porque ardiam os olhos. 

        Huss falou, com vigor e brandura: 

     – É necessário enfrentar a situação com espírito alevantado, certo das vantagens da Verdade sobre as escabrosidades da mentira e do erro. A Verdade é brilho, a mentira é treva. Na morte se adquire a Vida, e na vida inferior sepultam-se as alegrias da chamada morte. Vai, pois, e empunha o estandarte da renúncia, que um belo testemunho darás, enquanto um grande resgate levarás a termo. 

      Huss pairava no ar, cheio de esplendor espiritual, quando Wicliff foi com ele se emparelhar. 

         Huss prosseguiu: 

        – É chegada a hora da reposição das coisas no lugar, conforme as palavras do Divino Mestre. Para que o Pentecostes ressurja no mundo, muito há que fazer, como preparativos necessários. Se todos fugissem, se todos se portassem assim, como levaríamos a cabo o Mandado Superior? 

        – Eu voltarei... Mas peço ajuda... 

       Viram meus olhos, então, o para mim inconcebível. Eles foram subindo e o firmamento estrelado foi se abrindo, abrindo e cla reando, chegando a brilhar, ofuscando minhas vistas. Eu teimava em olhar, vencia o brilho, sentia o prazer da vitória. Da abertura brilhante surgiu uma multidão incontável e a música que descia à Terra não tinha comparação em beleza e glória. Do seio da multidão foi surgindo Jesus Cristo, que embora ensanguentado, sorria e espargia amor e confiança. Ao chegar a nuvem gloriosa a uma certa distância, Jesus separou-se dela, desceu mais, apanhou os dois baluartes da Verdade pelas mãos e de novo subiu, fazendo-os parte da gloriosa multidão. Foram sumindo nas alturas e tudo volveu ao natural, tendo eu rumado à grande cidade, para renunciar a vida em proveito de uma obra de resgate e testemunho verdadeiro. 

      Na próxima sessão, aquele espírito retornou e se disse infeliz monarca que, inconsciente da Verdade, ordenou a terrível matança. 

      – Muito ainda devo, muito terei de pagar. Em futuras vidas farei o que estais fazendo, pois fazer o bem é melhor do que sofrer o mal feito. Haja de vossa parte, em meu favor, um pensamento de perdão, uma prece... 

       Ele vinha sempre nos visitar e se anunciava “O Devedor”. 

     Mais tarde soube que Cavalheiro, Inocência e Alfredo foram companheiros de agonia e morte nas mãos dos Príncipes e da Igreja. Eles tiveram seus sonhos.

Extraído do livro:     O GRANDE CISMA











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PRINCÍPIO OU DEUS – Essência Divina Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo origina, sustenta e destina, e cujo destino é a Reintegração Total. O Espírito e a Matéria, os Mundos e as Humanidades, e as Leis Relativas, retornarão à Unidade Essencial, ou Espírito e Verdade. Se deixasse de Emanar, Manifestar ou Criar, nada haveria sem ser Ele, Princípio Onipresente. Como o Princípio é Integral, não crescendo nem diminuindo, tudo gira em torno de ser Manifestador e Manifestação, tudo Manifestando e tudo Reintegrando. Eis o Divino Monismo.

ESPÍRITO FILHO – As centelhas emanadas, não criadas, contêm TODAS AS VIRTUDES DIVINAS EM POTENCIAL, devendo desabrochá-las no seio dos Mundos, das encarnações e desencarnações, até retornarem ao Seio Divino, como Unas ou Espírito e Verdade. Ninguém será eternamente filho de Deus, tudo voltará a ser Deus em Deus. Esta sabedoria foi ensinada por Hermes, Crisna e Pitágoras. Jesus viveu o Personagem Inconfundível de VERBO EXEMPLAR, de tudo que deriva do UM ESSENCIAL e a Ele retorna como UNO TOTAL. O Túmulo Vazio é mais do que a Manjedoura. (Entendam bem).

CARRO DA ALMA OU PERISPÍRITO – Ele se forma para o espírito filho ter meios de agir no Cosmos, ou Matéria. Com a autodivinização do espírito, ao atingir a União Divina, ou Reintegração, finda a tarefa do perispírito. Lentíssima é a autodivinização, isto é, o desabrochamento das Latentes Virtudes Divinas. Tudo vai aumentando em Luz e Glória, até vir a ser Divindade Total, União Total, isto é, perdendo em RELATIVIDADE, para ganhar em DIVINDADE.

MATÉRIA OU COSMO – A Matéria é Essência Divina, Luz Divina, Energia, Éter, Substância, Gás, Vapor, Líquido, Sólido. Em qualquer nível de apresentação é ferramenta do espírito filho de Deus. (É muito infeliz quem não procura entender isso).

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