DIVINA SIMPLICIDADE – A Lei foi entregue à consciência de cada filho de Deus, e somente a Justiça Divina o julgará, em secreto, em tempo certo. O Verbo Modelo deixou o exemplo de tudo que deriva de Deus, seja Espírito ou Matéria, e a Deus um dia retornará, como Espírito e Verdade, e ninguém com Ele poderá jamais discutir, porque Seu advogado chama-se Justiça Divina. Capítulo I DO GÊNESE AO APOCALIPSE

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sábado, 31 de maio de 2014

MORAL, AMOR E REVELAÇÃO



















MORAL, AMOR
E REVELAÇÃO





OSVALDO POLIDORO







Capítulo I

O discípulo meditava, sentado debaixo da laranjeira, nas complexidades apresentadas pela Terra; no tremedal de controvérsias, na caudal de sim e não que espraia pela Humanidade. Era-lhe doloroso, por exemplo, ouvir a qualquer pessoa afirmar que Deus não existe, que a alma é invencionismo e que a responsabilidade se prende exclusivamente ao currículo humano-temporal.
Agora, dizia ele para consigo mesmo, aí está meu futuro definido, metido a estudante de medicina, a proclamar que a vida e a inteligência, a emoção e a capacidade de reação, nada mais representam do que as vibrações celulares funcionando globalmente. Ora, pensava ele, essa gente nem mesmo vê o ar que respira, ou o som que ouve,  nem o vento que sopra, tudo isso coisinhas bem materiais, quireras cá da crosta. Como se arvoram, pois, em julgadores de Deus e de Sua Chamada Criação?
Estava assim meditando, quando lhe apareceu o pequeno Mensageiro, que entrando com ele em palestra, lhe perguntou:
– Não é certo, discípulo, que o intrigam as negações humanas?
E o discípulo respondeu, em tom de mágoa profunda:
– Muito e muito, bondoso servo da Verdade! Acima de tudo, lembro que minha irmã vai casar com um rapaz que ora estuda medicina, criatura que afirma não haver Deus nem alma... É doloroso a gente ouvir semelhantes coisas!...
O pequeno Mensageiro sorriu, demonstrou ternura e falou, conselheiro:
– Tenha paciência, discípulo, que o mundo é assim mesmo. Isto é, o mundo terrícola, este mundinho onde nos encontramos, ainda está cheio de guerras, de ódios e de mentiras, de negações e de infâmias. E não se queixe tanto dos outros, discípulo, porque nós fizemos pior ainda, muito pior!...
– Por isso mesmo, – respondeu o discípulo, – é que sofro tremendamente com a negação dos outros; porque nós já encontramos a Verdade, já reconhecemos os tristes efeitos da ignorância e do mal, enquanto que esses nossos irmãos ainda vivem para alardear seus erros, e tanto piores erros, porque vão além engendrar outros negadores, outros futuros sofredores. Se ao menos cada negador restringisse sua negação ao círculo de suas cogitações íntimas, nem faria tanto mal a si mesmo, nem criaria condição para tremendos males alheios, pelos quais também terá que responder, pois quem semeia deve colher na razão direta, não é isso?
– A Terra, – comentou o Mensageiro, – ou antes, a sua Humanidade, não pode viver à margem de escândalos. Sendo um mundo de expiações, habitação de espíritos inferiores e nalguns casos tremendamente errados, deve apresentar seu enorme coeficiente de atos rebeldes a Deus e Suas leis. A vida, entretanto, fará o seu inevitável, o seu justo e inelutável trabalho de harmonização e de concerto. Como a mônada espiritual é imortal, evolutível, responsável, reencarnável, comunicável e de habitação universal, com o tempo e as contingências da vida, por certo reencontrará a Verdade e fará com ela a sua união. Quando apresentar suas desculpas, naturalmente já não serão necessárias, porque o Bom Pai desde a eternidade sabia de tudo, tinha certeza de que Seu filho, por ignorância, poderia muito bem orgulhar-se até mesmo de seus erros e de seus crimes.
Enquanto o discípulo o fitava com admiração, o Mensageiro fez breve pausa; e como nada dissesse o encarnado, o desencarnado prosseguiu:
–  É que ao estado crístico ninguém vai, sem ser pelo evolvimento lento e trabalhoso. Quando dizemos que hierarquia não se discute, no mundo espiritual, estamos dizendo que ninguém poderá ostentar gradação alguma, se no íntimo não a tenha registrado, marcado com o sinete da experiência própria. Todos começamos com as mesmas virtudes divinas em estado potencial; e ninguém jamais obterá favores ou sinecuras em face da Lei de Equilíbrio. Prevalecem, portanto, as leis de livre arbítrio, de responsabilidade e de finalidade. Ninguém poderá escapar ao círculo das leis que engendram, sustentam e determinam. E quem não aprender com as lições dos Grandes Mestres, terá que aprender com as duras lições da vida!
Feita a pausa, o discípulo comentou:
– Eu sei que no âmago da Soberana Lei, as leis menores têm existência e movimentação; eu sei que no bojo do Supremo Determinismo, o livre arbítrio relativo do homem, ou da mônada espiritual, tem o seu cabimento. Infelizmente, porém, não se sabe como evitar os males decorrentes do orgulho e da presunção. Muito raramente alguém sustenta uma inverdade perante as leis da chamada Criação, sem que esteja o orgulho na base do absurdo. Isto é que entristece muito.
– Os verdadeiros sábios e os realmente santos, que não são mais do que os melhormente intencionados da Terra, desconfiam de seus saberes e de suas santidades. Com os outros, discípulo, acontece o inverso, pois na inversão da ordem não é a montanha quem julga o  grão de areia, mas é o grão de areia que se presume capaz de julgar a montanha. É trabalho ridículo, bem o sabemos, mas disso existe e não pouco, no seio da Humanidade.
Ao terminar o Mensageiro a sua peroração, noticiou que tinha serviço marcado, havendo convidado o discípulo:
– Devo estar, dentro em pouco, junto a uma pessoa enferma; quer vir comigo e auxiliar com a contribuição de fluidos humanos eletromagnetizados?
– Quero, como não! – disse o discípulo, todo satisfeito.
E como o Mensageiro fizesse o seu esforço atrativo, passou-se o discípulo para o nosso lado, encontrando-se muito feliz, como sempre realmente maravilhado, pelo fato de merecer de Deus a graça de semelhantes trabalhos.
Foi um lapso o tempo gasto no traslado, porque o Mensageiro, funcionando com ordens superiores, usava um grau superior da gama vibratória, não se detendo em face de percalços muitas vezes comuns nos graus inferiores. Como já deveis conhecer, mesmo que seja nos abismos trevosos, ali estão, no imo das trevas, todas as gradações luminosas, todos os trilhos vibratórios do Universo Infinito, trilhos que podem ser usados por espíritos capazes, ou quando o trabalho assim permita e facilite. Assim sendo, porque ninguém havia de baixo padrão vibratório, o Mensageiro utilizou uma escala ou trilho de intensa luz, para o traslado até junto ao enfermo; e como não pode ser de menos, mais luz significa mais presteza, mais lucidez e mais eficiência.
– Aí temos Abelardo, – informou o Mensageiro, – que sofre de regressão característica, fato que lhe impõe terríveis crises de angústia, tendo como conseqüência dolorosos traumas cardíacos, traumas que deverão causar-lhe, mais tarde, lesão profunda e morte certa.
O discípulo esbugalhou os olhos, de espanto, indagando:
– Por que tudo isso?!... Que é regressão característica?...
O Mensageiro explicou, sereno e compassivo, assim como o fazem todos aqueles que de fato conhecem o mecanismo da Lei e da Justiça:
– Em primeiro lugar, discípulo, regressão característica é perder o estado anterior, a posição adrede adquirida, por graves faltas cometidas; é quando um espírito, que já foi melhor ou mais intenso, regressa na ordem vibratória, pelo fato de cometer falta perante a Lei de Equilíbrio, vindo a reencarnar em condições menos interessantes, a fim de resgatar as faltas e recuperar a antiga posição. E, em segundo lugar, assim como programou é que viverá, porque foi por ele escolhida a expiação e sancionada pelos superiores hierárquicos.
O discípulo alvitrou, ao primeiro estacato do Mensageiro:
– Faremos, então, apenas uma obra de consolo?
– Consolo e estímulo, – redargüiu o Mensageiro, – para que ele sofra com paciência e estude com entusiasmo. Olhe para aquele livro que está sobre o móvel; é uma  das três jóias que lhe deram de presente, conforme fora programado antes dele reencarnar.
O discípulo, tendo reparado, leu em voz alta o nome do livro, que era “OS GRANDES INICIADOS”. E como fosse obra muito sua conhecida, alegrou-se em extremo, por saber que o enfermo estava ingressando em seara maravilhosa, pelo fato de resumir toda a Sabedoria Antiga, a grande precursora do Cristianismo.
– Além dessa obra, – falou-lhe o Mensageiro, – deram-lhe também um exemplar da “BÍBLIA” e um exemplar de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”. Ora, com esses três livros qualquer pessoa bem intencionada pode preparar-se para os melhores aprendizados. E é, afinal de contas, o que ele está fazendo, pois deverá voltar mais vezes ao plano carnal, a fim de ressarcir as faltas pretéritas e preparar-se para rumar na direção da Pureza e da Sabedoria. Porque, para resumir, a mônada espiritual deve tornar-se Pura e Sábia, tal e qual o Divino Modelo que foi representado por Jesus.
– Bem se vê, – interpôs o discípulo, – que Jesus viveu a Doutrina Integral, a Lição Completa!
O Mensageiro assentiu, com breve aceno de cabeça, esclarecendo:
– Jesus, o Diretor Planetário1, viveu diante dos homens a função de Cristo; e o Cristo é, para todos os efeitos, a própria Doutrina e o próprio Evangelho. Não escreveria, de forma alguma, porque mais tarde seria explicado. Letras podem ser adulteradas e livros podem ser queimados, mas o Cristo nunca poderá ser adulterado nem eliminado, por mais que se ergam os ventos da iniqüidade, por mais que se levantem os brados da contradição. O Cristo é Programa, o Cristo é Modelo e o Cristo é a Meta Final!
Com verdadeira unção, o discípulo aduziu:
– Tenho aprendido, com vocês, que o Cristo representa a mônada espiritual elevada ao grau de Pureza e de Sabedoria, por evolução; pela caminhada através dos reinos e das espécies, por isso mesmo transformando a matéria opaca do Seu corpo astral em verdadeiro foco de luz divinizada...
– Justamente, – interrompeu o Mensageiro; – quando um Cristo é apresentado à Humanidade de um Planeta, é muito anunciado anteriormente, nasce em virtude de fatos mediúnicos transcendentes, vive acontecimentos mediúnicos maravilhosos, tem um corpo físico que obedece aos imperativos do espírito e das faculdades mediúnicas desenvolvidas sem medida, e não encontra barreira na morte, porque dá exemplo vivo e vibrante de ser o Paradigma da evolução e da imortalidade. E resta, ainda, uma outra prerrogativa a ser enunciada; você sabe qual é, discípulo?
O discípulo encarou bem o Mensageiro e fez sinal de não com a cabeça, sem articular palavra; e o Mensageiro emendou, sorridente e feliz:
– É que, apesar do tiroteio da contradição, ninguém consegue escandalizá-Lo! Fica de pé, em Seu posto de honra, como Exemplo de Caminho a ser seguido e de Finalidade a ser atingida! Aqueles que O ignoram, aos poucos O irão conhecendo; aqueles que O negam, aprenderão com a vida a afirmá-Lo; e aqueles que O reconhecem como Divino Modelo, imitando Seus exemplos, vão aos poucos se aproximando da esfera crística, do chamado Oitavo Céu, que é acima de mundos e de formas, que é Universal ou Cósmico!
Premente de alegria estranha, o discípulo repetiu as palavras de Jesus, cheias de profundo sentido, tanto assim que os homens, até mesmo os mais bem intencionados, somente entenderam o modo místico:
– “EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA”! O Cristo Anímico e Cósmico!
O Mensageiro continuou, cheio de gozo espiritual:
– O Caminho, pelo fato de conter a escalada evolutiva através dos mundos, das espécies, das vidas e das formas! A Verdade, porque revela a Vontade de Deus, o processo evolutivo e a obediência total! A Vida, porque somente no grau crístico se encontra exposta, de modo a ser plena em todo o seu divino esplendor!...
E de tal modo o ambiente espiritual fez-se luminoso e brilhante, por causa daquela conversação, que dentro em pouco estava repleto de companheiros do Mensageiro. Crescendo na escala, por estarem todos envolvidos num mesmo tom da gama vibratória, foram atingidos e sentiram a poderosa atração, tendo acorrido aqueles que estavam em liberdade e em condições de atender. Pouca gente sabe, na Terra, o quanto podem as consonâncias vibratórias; e se soubessem, por certo fariam muito melhor uso da oração em conjunto e em horas combinadas, com o fito de atrair as melhores influências astrais. E se alguém quiser ter a prova do que dizemos, note o que conseguem os mais tacanhos e muitas vezes errados institutos religiosos da Terra, organizados em base de clerezias político-econômicas, funcionando como verdadeiros focos de idolatrias e fetichismos, pelo simples fato de se apoiarem em grandes massas crédulas, em poderosas usinas de força mental positiva.
Se a mônada, ainda inconsciente, habitando a pedra, o vegetal ou o animal inferior, pelo fato de ser vida impõe condições, faz a matéria tomar forma e sustentar estado de apresentação forçada, quanto mais não conseguirá dominar, desde que saiba conhecer e aplicar a sua poderosa capacidade vibratória? Se ela, sem ter conhecimento daquilo que é, agindo como partícula viva sem vontade própria e sem objetivo inteligente, faz tudo quanto sabemos que faz, nos planos inferiores da vida, quanto mais não fará, desde que sabendo aplicar o poder mental, ele que é o moto acionante de todas as demais energias do Cosmo?
– Que graças andaram por aqui?! – indagou o primeiro a chegar, atraído por aquela subida vertiginosa na escala das vibrações.
O Mensageiro explicou-lhe:
– Estávamos falando de Jesus, quando foi pelo Pai Divino apresentado como Divino Modelo ou Cristo. Falei sobre a Origem, sobre o Processo Evolutivo e sobre a Sagrada Finalidade, tudo aquilo que o Cristo representa, tendo havido intensificação no campo magnético, de onde surtiu a diferença vibratória que vos atingiu, pelo fato de estarmos irmanados por várias razões, inclusive a ligação simpática, um dos fatores mais importantes de atração que nos é dado conhecer.
O tal companheiro compreendeu e sentiu a grandeza da questão, tendo pronunciado algumas palavras de estímulo:
– Em Deus temos a Origem e as faculdades que devemos desenvolver! Na Lei de Equilíbrio temos a Justiça que nos fará reconhecer o caminho certo, sempre que dele nos afastarmos! No Cristo temos o Modelo a igualar, o Ponto de Referência a ser atingido. Aquela mônada que Se elevou por evolução à divinização, pairando por isso mesmo acima de injunções planetárias, acima de mundos e de formas, constituindo, portanto, para nós, Aquilo que devemos procurar ser. Não admira que, ao se tratar do Cristo, com conhecimento de causa e boas intenções, já se faça estremecer o ambiente magnético ao derredor. E para quantos desejem conhecer e pôr em prática, este fenômeno basta para provar até onde pode um espírito empregar a força moto-mental, com a sua carga imensa de ação sobre a vastidão das energias cósmicas!
Como tivesse feito silêncio, aproveitou o discípulo a oportunidade, fazendo a seguinte pergunta:
– Por isso mesmo, então, é que os Cenáculos Esotéricos não permitiam a qualquer um o conhecimento das leis espirituais e cósmicas?
O tal companheiro apontou o livro que estava sobre o móvel, explicando:
– Sim, por isso mesmo, para que eventualmente não fizessem mau uso de leis e de recursos que merecem todo o respeito. Esse livro que aí está diz muito bem, embora de modo resumido, o que foram as Escolas Iniciáticas antigas. Porém, tendo vindo o Cristo, para significar a Finalidade da centelha ou mônada espiritual, e para tornar a Revelação de alcance generalizado, cada qual deve se armar de senso de responsabilidade, a fim de conhecer e saber usar de tudo, de si próprio e das leis que venha a conhecer. Porque é imprescindível, note bem, que o espírito evolua e entre na esfera das responsabilidades superiores.
O Mensageiro olhou bem para o discípulo, repetindo a palavra do companheiro:
– Note bem, é imprescindível que cada mônada espiritual, por evolvimento se vá tornando suficiente em matéria de conhecimentos e de aplicações.
E o tal companheiro concluiu, antes de partir:
– Até a vinda do Cristo, a Ciência dos Mistérios, como se chamava o Conhecimento da Verdade, devia ser conhecida e falada somente dentro dos Cenáculos Iniciáticos. Com o Cristo, veio o derrame de Revelação sobre toda a carne, devendo essa Graça merecer de todos o máximo respeito. Como o Cristo vive a Lei de Deus, e a Lei de Deus contém três sentidos – a Moral, o Amor e a Revelação, que os cristãos façam questão de corresponder à Graça e à Verdade. Ou julga você, discípulo, que é favor o fato de um filho de Deus cumprir a Lei?
O discípulo não perdeu tempo e respondeu:
– Não é favor algum, pois o resultado da Harmonia é Paz, Luz e Poder! Entretanto, bem vejo que os homens, cá da Terra, e até mesmo alguns dos mais bem intencionados, encaram o Cristo pelo avesso, tomam-No apenas como figura de fachada, a fim de transformarem-No em defesa de suas maquinações mundanas. Lembro que o Cristo, sendo o Exemplo da Lei vivida, para muita gente não passa de um simples derrogador da mesma Lei! Porque essa gente transgride a Lei e faz questão de dizer que o Cristo de tudo Se faz pleno responsável.
O tal companheiro se foi, porque tinha o que fazer, mas antes de  ir disse ao Mensageiro:
– Diga a ele o que ouvimos, da boca do próprio Jesus, quando de uma de Suas manifestações.
De fato, o Mensageiro disse ao discípulo:
– De tempos a tempos, discípulo, o Mestre comparece a alguma grande reunião, a fim de deixar patente a Sua dedicação a todos os tutelandos. E numa delas, por causa de certo discurso, feito por um antigo clérigo, discurso cheio de unção, porém falho de conhecimento de causa, disse o Mestre o seguinte, falando de muito longe, ou parecendo ser de muito longe, para nós que ainda somos tão inferiores na escala evolutiva e não O podemos encarar de perto; assim disse Ele, falando a todos os presentes e com aquela doçura que o caracteriza:
“Fui humilde transmissor e vivedor da Doutrina do Pai, assim como espero que sejais também os seus vivedores. Deixei a Seara e a liberdade, ficando cada qual responsável pelas suas obras. Não sou o responsável pelas vossas liberdades individuais”.
O discípulo comentou, satisfeito:
– Maravilhoso, porque todo Lei e todo Verdade.
O Mensageiro acrescentou, comovido:
– A essência da função crística, pois a Luz Divina jamais poderia ser adquirida de terceiros. A um Cristo cumpre esclarecer sobre a Origem, cumpre ensinar sobre o Processo Evolutivo e cumpre dar mostra da Sagrada Finalidade, retornando como Espírito Emancipado, soberano dominador das leis planetárias, ostentando o carro da alma, aquela matéria fluídica que começou opaca, em estado de luz e de esplendor divinos. Se, porém, fosse dado a alguém suprimir as responsabilidades individuais, toda a Ordem Universal estaria sendo posta de pernas para o ar, toda a Lei e toda a Justiça estariam sendo escandalizadas pelo próprio Deus.
– Todavia, – interveio o discípulo, – o mundo terrícola está cheio de donos de religiões, e de pobres infelizes que lhes dão crédito, que nada entendem de semelhante realidade, incidindo em tremendas faltas, cometendo idolatrias e fetichismos, praticando traições à guisa de atos de fé. Nada mais fazem do que atirar Deus contra Deus, a Lei contra a Lei, a Justiça contra a Justiça, enquanto se julgam bons religiosos, dignos filhos de Deus.
O Mensageiro apontou para o enfermo, que gemia no seu leito, exclamando:
– Eis aí uma prova do que diz. Porque os erros humanos jamais convencerão Deus, a Lei e a Justiça em contrário. Este nosso irmão cometeu três espécies de erro em algumas vidas: primeiro, depois de estar bem harmonizado com a Lei, foi um guerreiro cruzado, um terrível vândalo em nome de Deus e do Cristo; depois, ao reencarnar ainda na Europa, foi um nobre despótico, articulando-se com a Igreja Romana para realizar obras de rapina, através de perseguições e mortes; a seguir, para cúmulo de sua desdita, reencarnou na Espanha e foi grande perseguidor das obras consoladoras, tomando parte na queima de Bíblias, Evangelhos e livros espíritas. Como Deus não é particularista, como a Lei não é religiosa e como a Justiça não tem parentes nem protegidos, primeiro desceu ele aos rincões trevosos, onde sofreu horrores inenarráveis, depois reencarnou para isso... Isto é, começou nesta encarnação um ciclo de duras provas e expiações, para chegar a obter, algum dia, o necessário reequilíbrio.
Fez breve silêncio e detalhou, a seguir:
– Observe que ele não tem más companhias, como quase sempre acontece; mas o seu corpo astral é quase uma nuvem negra! Realmente, seu perispírito está minado pela mancha negra e fosca que os seus criminosos pensares e agires criaram. E embora os médicos julguem ser esta ou aquela outra a causa da doença, embora se apliquem com todo o rigor para sará-lo, a verdade é que ele é um doente de alma, um lesado de espírito, e, por conseguinte, seu grande e real medicamento está no sofrimento, está em compreender as causas e por elas tratar dos efeitos.
– Que lástima! – bramiu um dos companheiros.
E o Mensageiro ressaltou:
– O pior, entendam, é que dores, provas e expiações não constituem aquisição de valores hierárquicos, pelo simples fato de serem dores, provas e expiações. O sofrimento, quando obra de abnegação, de renúncia ou devotamento, pode elevar o espírito imensamente; quando, porém, se sofre por causa de crimes cometidos, o sofrimento é apenas de efeito disciplinar, pode trazer o reequilíbrio, mas nunca será aquisição nos domínios do Amor e da Ciência, a menos que, de permeio, converta o sofredor as provas e expiações em campos de estudo, em oportunidades de sérias observações e aquisições experimentais.
– Poucos sabem discernir assim, – interpôs o discípulo. – No plano carnal, a maioria pensa que sofrimento é, pelo simples fato de ser sofrimento, aquisição de valores hierárquicos. Ora, como pode ser que Deus, sendo em tudo PERFEIÇÃO, venha a distribuir dores e trevas, tormentas e expiações, sem ser por causa de transgressões, de rebeldia contra a Lei de Harmonia Universal? Não está escrito no Velho Testamento, e Jesus o trasladou para o Novo, que Deus quer caridade e não sacrifício?
Feito o seu discurso, o discípulo fitou o Mensageiro com ar indagador e o Mensageiro comentou:
– Dizem os nossos mentores, e a razão o consagra integralmente, que a NECESSIDADE tange o espírito, a mônada espiritual, desde que ela existe; e que vai ela tomando conhecimento disso, ou das leis de meio e necessidade, assim que se vai tornando consciente da Origem, do Processo Evolutivo e da Sagrada Finalidade. É um erro, portanto, confundir entre DOR e NECESSIDADE, somente porque elas quase sempre marcham paralelas na vida do espírito. A necessidade, para se transformar em dor, carece de ser elevada ao máximo grau, precisa de ser desprezada e aviltada. Em condições normais de vida e de movimentação evolutiva, a necessidade obriga a procurar o melhor, por meio do trabalho até mesmo agradável, sem tomar aspecto de sofrimento. E se alguém quiser levar a sério esta verdade, que se não esqueça da Lei de Deus e nem dos ensinos Daquele que a exemplificou; porque onde estiverem a Harmonia e o Amor, jamais a necessidade se elevará à condição de dor.
Como fosse chegada a hora de o Mensageiro ter outro serviço na pauta, uma vez terminada a sua peroração, convidou:
– O tempo que temos ao dispor é agora escasso; vamos transferir para este pobre irmão alguns recursos fluídico-magnéticos. Sintamos por ele verdadeira piedade, para que nossos fluidos se carreguem de elementos amorosos, obrigando-o a meditar profundamente nas coisas do Céu. Porque se ele, da parte da Lei de Equilíbrio, está merecendo obrigações de reequilíbrio, de nossa parte, irmãos em tudo, está merecendo cooperação nos propósitos em que se acha envolvido. Recordemos que ao culpado basta, para ser atormentado e obrigado a ressarcir, o peso de suas próprias culpas, não sendo necessário que outros irmãos, também agravados perante a Lei, venham a carregar ainda mais o pesado fardo. Piedade, muita piedade por todos os sofredores, principalmente por aqueles que se tornam penitentes.
Entramos todos a orar, vindo o ambiente a se transformar em azulino brilhante por causa da preponderância do discípulo, cujos fluidos de encarnado, que sendo muito mais densos, passam a predominar no ambiente. Pouco depois, entregando ao corpo do discípulo o seu agente espiritual, demos por terminado aquele trabalho.


Capítulo II

O Primeiro Estado de Deus é aquele que chamamos Divina Essência; seria de todo impossível definir a Divindade em Sua essencialidade. Nenhuma palavra, nenhum pensamento, nenhuma cogitação! Aquilo que é forma e formal não explica o que é totalmente Divino, em Sua profundidade infinita. Já não se passa o mesmo com o Segundo Estado, que é a Luz Divina, Luz que vem se adensando, até vir a ser matéria densa no extremo da chamada Criação.
É muito importante saber o que acima ficou exposto, porque, se é certo que somos partículas, mônadas ou espíritos, e isso quer dizer elementos de Deus, de Sua Divina Essência, também é certo que, sem transformar a matéria opaca do perispírito em Luz Divina, ninguém jamais atingirá o grau de Cristo.
Resumindo, é isto: a mônada evolui e a evolução significa autodivinização, e a autodivinização implica em converter a matéria opaca do carro da alma em energia brilhante, em Luz Divina, que é o Segundo Estado da Divindade. Antigamente, a receita dos Cenáculos Iniciáticos era esta – “Conhece, realiza e brilha”.
Como a parte de Deus está feita desde a Eternidade, porque Ele tira tudo de Si mesmo e em Si mesmo tudo sustenta e destina, em linhas gerais podemos compreender que tudo se resume, para Seus filhos, em conhecer, realizar e brilhar.
Para fazer isso, ou atingir isso, os Essênios partiam destes três princípios; isto é, a isto resumiam a Excelsa Doutrina:
1 – O espírito deve evoluir até tornar-se Puro e Sábio;
2 – Os caminhos que conduzem a isso são o Amor e a Ciência dos Mistérios;
3 – A Ciência dos Mistérios resume-se em Moral, Amor e Revelação.
Já dissemos, linhas atrás, que o conceito de CIÊNCIA DOS MISTÉRIOS foi traduzido por Jesus para CONHECIMENTO DA VERDADE. Portanto, aquela chave esotérica tomou a feição pública, através da função missionária de Jesus; e vive proclamando agora, em sua fase de restauração, que essa trípode jamais passará, porque ela é o espírito da Lei de Deus.
Todavia, como a ignorância nos obriga a cogitar de tudo, e na maior parte das vezes a cogitar de modo desfavorável ao nosso real interesse, eis que ao invés de trabalhar pela própria melhora, muitas vezes tudo fazemos para perder até mesmo aquilo que já tínhamos conseguido, através de tremendos e dolorosos esforços executados no pretérito. Disto acontece muito mais do que parece! Depois de atingir melhor posição no íntimo, com vistas à divinização total, cai-se terrivelmente e perde-se o brilho do corpo astral. Diminuído o centro, é concomitante a ofuscação periférica.
Leonardo, o socorrido daquela noite, estava comprovando a regra que há tantos milênios é anunciada; isto é, que tão bem fora ensinada pelas doutrinas Védicas e Herméticas, ou através de suas muitíssimas ramificações. E que o Cristianismo, por ser a Síntese das Revelações, consolidou por meio de uma sentença lapidar do Seu Divino Transmissor –  “Pagarás até o último ceitil”.
Tendo ido buscar os três servidores encarnados, o discípulo, a jovem ex-protestante e o jovem sírio, rumamos para o local onde Leonardo morava; e foi estirado no leito que o fomos encontrar, gemendo a sua ferida espiritual, que tinha o seu reflexo no corpo somático, através de uma úlcera estomacal de proporções alarmantes. Tão alarmantes que, se não fosse para ele penar de fato, sustentado em sua dor pelos servidores do mundo espiritual, que lhe reconheciam mais o desejo de ressarcimento do que as culpas a ressarcir, desde muito teria sucumbido. Porque a ferida vinha sendo circunscrita, no corpo físico, à custa de nossos trabalhos contínuos. Caso contrário, se tomasse as proporções da chaga perispirital, tudo fazia crer no apodrecimento repentino de todo o intestino!
Um de nossos médicos, que fizera companhia ao grupo, falando a linguagem compreensível a todos, revelou o que ocorria do ponto de vista clínico; depois, como senhor de conhecimentos doutrinários, esclareceu:
– Eu lhes disse, irmãos, aquilo que meus olhos médicos viram e aquilo que a nossa medicina pode explicar. Como, porém, por aqui vale mais o fim do que o meio, está mais em foco a finalidade da vida do que as conveniências do momento, cumpre-se dizer que este irmão é um grande devedor, tendo necessidade de horríveis sofrimentos, porque foi errado e criminoso com pleno conhecimento de causa. Não é o Céu que está vindo pela dor, como pensam muitas criaturas, pelo fato de estarem militando em falhas doutrinárias; é, pelo contrário, a paga da maldade tal e qual como ele mandou praticar, pois o seu processo de condenação e justiçamento era terrível, redundava em rasgar o ventre e deixar as vítimas em lugar deserto, com as tripas de fora, muitas delas procurando no suicídio o fim dos terríveis padecimentos.
Deu um tempo, a fim de que todos fixassem o relato, continuando após:
– Já o retiramos do corpo, tendo passado o seu caso pela análise psicométrica, de onde ficamos conhecendo grande parte de sua história. E como sucede com grande maioria, a quem o reino do mundo atraiçoa, assim aconteceu com ele, pois as glórias do mundo fizeram-no desprezar os esplendores do Céu. Um fracassado a mais, como vêem, em face de si e da Lei!
Naquela hora, interveio o Mensageiro:
– Permita-me, doutor, dizer algumas palavras a estes companheiros que militam no plano carnal. É que dois deles foram parentes do enfermo em vida remota, o que ora motiva esta aproximação, para efeito de vantagens mútuas.
Volvendo aos três, disse:
– Sabem perfeitamente, irmãos, que a Lei obriga as criaturas a reencontros, por causa do objetivo sagrado da vida. Sabem, também, que o homem procura a Verdade como pode, com as suas possibilidades adquiridas à custa de vidas e de trabalhos, possibilidades que, infelizmente, muitas vezes aplica mal, traído pelas ensanchas do mundo, coagido pelo império das trevas. Para resumir, diremos que o homem procura a Verdade pelo prisma da fraqueza e da mediocridade, conduta essa que jamais poderá ser a mais feliz. Porque ela, seja como for, não cai jamais em contradição, nunca desce pelos despenhadeiros da mentira. Que o homem fale mentira, que o homem cometa erros em nome da Verdade, isso é comum num mundo inferior como a Terra; porém, ninguém pretenda que a Verdade esteja a endossar semelhantes práticas! Cautela, pois, para aqueles que se julgam proprietários da Verdade.
Apontou para o enfermo e disse-lhes, com acentuada gravidade:
– Eis aí um nosso irmão, a quem o mundo atraiçoou, por não ter ouvido a voz do Divino Mestre, que antanho tanto bem lhe fizera, que outrora muita luz espiritual lhe fizera adquirir. Como pobretão e artesão, como simples e humilde servidor público, como humilde pároco e mais tarde como calejado lavrador, muitos foram os seus triunfos espirituais; bastou, entretanto, passar para outra escala, e ei-lo a cometer asneiras e mais asneiras! Ser simples e humilde na grandeza, no poder e nas glórias do mundo, é muito difícil.
E atendendo à expectação geral, relatou:
– Foi um conde muito rico e muito perverso, cometendo crimes hediondos e fazendo-os cometer, porque forçava a terceiros segundo os seus objetivos sinistros, conforme as suas desconfianças mortíferas. Tendo começado a descer na escala, foi chafurdar no lodo e na treva por dois séculos e meio! E quando retornou ao mundo carnal, tentando rearmonizar-se com a Lei, tomou de novo o partido errado, vindo a ser um dos chacinadores da célebre noite de São Bartolomeu. Como sabem, a restauração do Cristianismo teve início em Wicliff e João Huss, dali saltando para a fase em que Lutero devia conseguir liberdade de culto, tradução e divulgação dos Livros Sagrados, com vistas à nova fase, que seria aquela em que Huss de novo reencarnaria na personalidade de Kardec, arrastando consigo a grande eclosão mediúnica do século dezenove, para extrair do novo Batismo de Espírito a codificação doutrinária que lhe cumpria, até onde fosse possível, pois sabia-se que a obra seria assaz trabalhosa, assim como se sabe que não ficou de todo pronta, restando o que fazer em outra vida. Leonardo foi, portanto, uma pedra de tropeço no caminho da restauração! Foi, séculos depois, um novo crucificador do Cristo, pois a verdade é que a obra geral doutrinária pertence ao Diretor Planetário, nada mais sendo os demais servidores desse departamento de trabalho que simples e humildes emissários.
– Ele morrerá desse mal? – perguntou a jovem ex-protestante, condoída ao extremo.
O Mensageiro respondeu-lhe:
– Assim foi a programação feita, antes dele nascer de novo. Ele o quis, compreendendo a gravidade de suas faltas. Ele e a Lei estão de acordo, agora, pois não blasfema, não se revolta. Tem a intuição de que é um errado e deve resgatar seus erros. E por ser assim, aqui estamos, para auxiliá-lo... Chegou o tempo de merecer alguns avisos interessantes, e é para isso que estamos aqui.
– Ó bondoso Pai!... Tende piedade, Senhor, daqueles que erram!... – gemeu a jovem, derramando lágrimas.
O Mensageiro falou-lhe, bondoso e advertencial:
– Querida irmã, nós temos necessidade de lembrar o dever de piedade, mas Deus não, pois Ele é em tudo Absoluto. Se tem certeza de que sofre por causa deste irmão cheio de culpas, tenha também certeza de que a Lei não contém lesão alguma, de que é integral para todos os efeitos. Piedade, portanto, mas no quadro do respeito que devemos à Lei!
Ela murmurou, cabisbaixa:
– Ele me causa estranha piedade!...
O Mensageiro esclareceu:
– Vocês foram pai e filha há muitos séculos, na Arábia. Também o jovem sírio foi parente, porém, mais tarde, na França. Contudo, repito, Deus não é particularista, a Lei não é religiosa e a Justiça não tem parentes. Em conseqüência, quando foi dito que se paga até o último ceitil, também foi dito que se recebe até o último ceitil. Lembre-se de que estamos aqui para beneficiá-lo, pelo que já fez por merecer.
E convidando os três encarnados a porem as mãos sobre a cabeça do enfermo, avisou a todos os presentes:
– Vamos fazê-lo vir para este lado, anestesiando-o com o seu magnetismo de encarnados. Apliquem-lhe as mãos e orem com todo o fervor de que sejam capazes. A força mental e os fluidos eletromagnetizados operarão maravilhosamente e ele virá em boas condições.
De fato, como era esperado, Leonardo veio depressa, puxado pela vontade de todos. E ao ver a luminosidade do meio para o qual viera, quis ajoelhar e agradecer a Deus, mas o Mensageiro falou-lhe:
– Não é na forma que está a vantagem, e sim na essência, irmão Leonardo. Fique de pé e diga ao Pai Divino, que está nos seus e nos nossos fundamentos, aquilo que o seu coração de filho arrependido e sofredor quer dizer. Fale alto ou fale baixo, mas deixe que fale o seu coração!
Leonardo curvou a cabeça e derramou copiosas lágrimas. Estava trêmulo, parecia que iria cair, quando alguma força adventícia o sacudiu, reerguendo-o. E foi então que ele disse, reverente e comovido:
– Meu Deus!... Meu Pai!... Eu não sei o que terei feito, eu não sei de que crimes terei cometido!... Sei, porém, que Tuas leis são perfeitas!... Tenha eu, meu Pai, cometido qualquer forma de erro ou de crime, rogo pela Tua divina paternidade!... Dá-me pelo menos coragem, meu Deus!... Tira de mim a idéia de suicídio!... Varre de mim o pensamento de morte, meu Pai!...
O Mensageiro chamou-o pelo nome, convidando:
– Leonardo, vamos sair um pouco, vamos até um hospital. Chega o que disse, por ora.
Comandou a pequena caravana, e, dentro de segundos, estávamos entrando em hospital muito nosso conhecido, em região bem próxima à crosta. Ali o companheiro médico sabia o que fazer, como o fez, contando ainda com os fluidos e o magnetismo oferecidos pelos companheiros encarnados. Não era para ele sarar, mas era para estacionar o mal, a fim de que ele, que pedira aquele sofrimento necessário, o tivesse por mais algum tempo.
Quando a volta estava pronta, estando todos ao redor do leito, falou o Mensageiro ao enfermo, sobre a necessidade de oração e paciência. Depois, voltando-se para a jovem ex-protestante, disse-lhe:
– Minha querida filha! Eu necessito de sua cooperação... Vá, chame-o de pai e beije as suas faces... Derrame lágrimas, não se importe, que assim é necessário...
Muito amor reinava ali, naquela hora sublime! Seria impossível falar, mas os corações vibravam a impulsos do mais puro sentimento de piedade. E foi sob o guante daquele fremente sentimento de fraternidade que Leonardo foi introduzido no corpo e obrigado a acordar.
Tendo a filha nos braços, a lhe chamar de papai! papai!, Leonardo acordou todo lacrimoso, chamando pela filha, sem saber o que dizia.
– Que tem Leonardo?! – perguntou-lhe a esposa, aflitíssima.
E o pobre homem, ganhando consciência do estado, enxugando as lágrimas murmurava:
– Que sonho maravilhoso!... Nós nunca tivemos uma filha e eu estava com a minha filha nos braços!... Que anjo de bondade... Sim, que luminosidade!... Ó Alzira, ela era um anjo!... Todos eram anjos!... Todos brilhavam!...
A esposa levantou-se, tomou o termômetro e procurou medir a febre do marido; porque, para ela, aquilo seria quando muito um acesso de febre. Como não encontrou febre alguma, abanou a cabeça e ralhou com o marido:
– Leonardo, tenha piedade de mim!... Bastante já é que sofra do estômago, para que me venha agora com perturbações mentais!...
Sem lhe dar atenção, Leonardo balbuciou:
– Minha filha... Muitos anjos...
A esposa, sempre triste, resmungou:
– Durma, homem, que filha nunca tivemos e os anjos devem andar lá pelo Céu, se é que existem o Céu e os anjos!
Deste lado, estando a observar o que se passava, o Mensageiro comentou:
– Eis como pensam aqueles que estão enterrados na carne e que nada sabem das coisas maravilhosas do Consolador. Ou tudo é milagre ou nada existe! Entretanto, da parte de Deus foi-lhes entregue a Doutrina Integral, tendo por fundamento a Moral, o Amor e a Revelação.
O discípulo comentou, entre alegre e triste:
– Que pena causa a Humanidade encarnada! Tendo tantas graças ao redor, parece que vive para a cegueira, parece que foge da luz!...
O jovem sírio aduziu:
– O sal da Terra!... Vós sois o sal da Terra, disse Jesus... Quando será que o sal tenha entrado em toda a Humanidade e que toda ela se haja temperado?
O Mensageiro, que sabia dos trabalhos restantes, convidou:
– Temos ainda dois trabalhos na pauta, para esta noite. Vamos deixar Leonardo colhendo os frutos de sua própria semeadura, que com alguns trabalhos a mais, aprenderá a ficar quieto, quando lhe chamarem de maluco.
E como visse a jovem a enxugar lágrimas, foi dizer-lhe:
– Filha, muito bom foi o seu trabalho, embora tenha sofrido bastante. Creia que lhe estou muito grato e que em face da Lei registrou coisas bonitas a seu favor. Quem muito ama é quem mais pode, porque o Amor é, como lei universal, o maior instrumento de vitória que se conhece.
Ela sorriu, agradecida, afirmando:
– Eu senti, por ele, um amor filial intensíssimo, além de um certo sentimento de culpa, como se eu fosse culpada de alguma coisa. Terei sido, algum dia, alguém que o prejudicou?
O Mensageiro meditou, demorou para falar, e quando falou disse apenas:
– Por ora, filha, convém deixar as coisas assim mesmo. Não creio ser interessante descobrir o que houve entre vocês, embora deva lembrá-la de que nada deve a ele, sem ser o dever de irmã em direitos e deveres. Todos somos pais e filhos ao mesmo tempo! Todos somos tudo quanto é possível ser! Através dos mundos e das vidas os espíritos permutam condições e posições, para se irem auxiliando e completando! Não vamos, portanto, amesquinhar a grandeza da Obra Divina, com a miudeza de nossos parcos conhecimentos!
Com ar ponderoso, a jovem murmurou:
– Todavia, eu sinto que lhe sou filha... Não podendo voar alto, vôo baixo e sinto-me feliz. No amanhã, depois de tanto viver, saberei pairar por essas alturas do pensamento e da vida; por enquanto, bondoso Mensageiro, sou apenas um espírito terrícola... Sou apenas uma filha da Terra, que faz o que pode para algum dia ser uma filha de Deus, um espírito pleno de Luz Divina, uma centelha cristificada!
O Mensageiro fitou-a com paternal ternura, ciciando:
– Sempre sincera, sempre espontânea, sempre grande em sua infantilidade! O Céu que a conserve assim, até o dia em que tenha que deixar o corpo... Naquele dia, nós diremos como Leonardo disse: “Um anjo de bondade!”. E o Céu ganhará um espírito formoso, enquanto a Terra perderá uma grande servidora, alguém que se esqueceu propositalmente da cabeça, porque sentiu em boa hora a vantagem que há nas imensidades do coração.
Os dois amiguinhos encarnados foram para junto dela e beijaram-lhe as mãos. É que ela estava revelando estranha luminosidade, como que recebendo das alturas a recompensa de suas obras. E nós sabíamos que assim era, pois ela vinha de muitos séculos trilhando as veredas do Amor, aplicando todos os esforços no sentido de ser útil ao próximo sofredor. E quem poderia, em face de Deus, menosprezar a quem se entrega de alma inteira aos serviços da pura fraternidade? Que sabedoria conseguiria levantar-se diante do Amor, sem ser a sabedoria e a vivência do próprio Amor?
Segundos após, consoante a pauta de trabalhos, estávamos rente a uma senhora, cujo filhinho havia desencarnado fazia poucos dias. Como era o seu primogênito, como já tivesse três anos e meio, o choque foi tremendo, meteu-a em estado passageiro de alucinação, mesmo que contando com a assistência do plano espiritual.



Capítulo III

Eram duas horas da madrugada, para os relógios da Terra, quando demos entrada na casa daquela senhora, que, acordada, choramingava a morte de seu filhinho idolatrado.
– Vamos, – convidou o Mensageiro, – colocar as mãos sobre ela, mentalizando a figura meiga e luminosa de Jesus, a fim de lhe ministrar fluidos e magnetismo restauradores. Porque nestes casos, antes de mais nada é necessário substituir os fluidos alterados, para em seguida ir favorecendo a renovação das microcélulas nervosas.
Assim foi feito, por largo período, tendo ela se agitado bastante, sentindo a nossa presença, inclusive. E pudemos ver, a seguir, o nosso médico fazer a sua operação de subtração de fluidos pesados, entre negros e marrons, puxando-os como se fossem cordões muito compridos e finíssimos. Ele operava, entretanto, mais com a força mental conjugada do que mesmo pela possibilidade de manusear os filetes com os dedos.
Ao cabo daquela delicadíssima operação, disse o Mensageiro:
– Façamos, agora, a descarga de fluidos humanos eletromagnetizados. Vocês, os encarnados, que pelo liame fluídico estão ligados à usina física, façam tudo que lhes esteja ao alcance, orando a Jesus com o máximo fervor. Procurem, no seu íntimo, forçar o aumento vibratório, entrar ao máximo na escala de Luz Divina que penetra toda a chamada Criação, e que se acha muitas vezes bem longe dos olhos da Humanidade, quer da encarnada, quer da desencarnada.
Todos entramos em oração, ficando o Mensageiro a guiar os fluidos humanos, que pelos três estavam sendo jorrados sobre a cabeça da senhora enferma; foi um grande ato de amor, foi um espetáculo demonstrativo do que podem conseguir aqueles errados que se vão tornando penitentes e merecedores. A começar da cabeça, foi o chuveiro de luzes policrômicas descendo, penetrando os tecidos, higienizando as partes, os órgãos e os tecidos em geral. Viu-se muito bem a grande função do corpo astral, do perispírito, porque foi ele o natural veiculador de fluidos e de magnetismo.
Chegado o momento, o Mensageiro ordenou-lhes:
– Agora ordenem que durma; façam-no com energia, imponham a sua vontade. E os três companheiros encarnados começaram a repetir as palavras de ordem, a comandar a corrente fluido-magnética naquele sentido. Com isso, minutos depois, a irmã enferma estava do nosso lado, atraída pelo Mensageiro, que a sustentava, segurando-a pelas mãos.
– Está satisfeita, irmã Deolinda? – perguntou-lhe ele, envolvendo-a na sua aura azulino-doirada.
Ela olhou para ele, olhou para todos nós, e erguendo a cabeça para cima, disse com a voz embargada:
– Meu Deus!... Tu sabes o quanto sou grata!...
Virou-se a seguir para nós, respondendo:
– Sim... Sim, eu estou no Céu!... Como estou feliz, meu Deus!...
O Mensageiro recomendou-lhe cautela, prudência e muita confiança em Deus, ao voltar para o seu corpo:
– Veja-o bem, encare-o com profundo respeito! É a máquina de purgação, é o instrumento de redenção e de edificação! Terá ainda cinco filhos, além desse pequenino que está no berço, porque assim está escrito no seu programa da vida presente. E pelo que pode agora observar, irmã Deolinda, Deus não é surdo, a Lei não é cega e a Justiça não é muda! Se está sofrendo, pode estar certa de que é por suas dívidas pretéritas... Não viemos aqui para acusar, e sim para auxiliar, mas temos o dever de agir como servos da Lei de Equilíbrio, através da qual todos os filhos do Pai Divino com Ele entram em contato, para pagar até o último ceitil e para receber também até o último ceitil. Note bem, irmã Deolinda, que tudo no Cosmo é questão de leis e não de aparências, porque Deus a tudo rege das profundezas onde se encontra, movimentando Sua Divina Providência, através dos Cristos Planetários, que por sua vez o fazem através dos escalões hierárquicos.
– Eu sei, meu Santo... Meu Santo!... Que Santo o senhor é?... – foi ela dizendo, fremente de alegria, mergulhada que estava em sua aura brilhante.
O Mensageiro respondeu-lhe, com ternura:
– Filha de Deus, aqui ninguém é Santo ainda, e infelizmente. Somos candidatos à Santidade, mas ainda somos apenas socorristas e servidores da Soberana Vontade. Não espere pelos Santos, por agora, e talvez por muitos séculos ainda, pois nós sabemos que aqueles Santos feitos pelos homens presumidos e blasfemos do mundo, muitos deles se encontram em lugares tristes, sendo que outros passam na carne por duras expiações! Confie em Deus, espere em Jesus e aceita o nosso trabalho de simples servidores da Lei. Cumpre com o seu dever de esposa e de mãe, sem o que estará fracassando, pois a melhor maneira de adorar a Deus e de esperar em Jesus é cumprindo fielmente com o programa escolhido ou imposto pelas necessidades ressarcitivas.
– Sim... Sim, meu senhor, eu tudo farei para cumprir com o meu dever... Peço a sua ajuda, imploro seu amparo!... – exclamou ela, muito feliz.
– Quem tudo rege, irmã, – disse o Mensageiro, – é a conduta do próprio encarnado. Suas ações é que o representam perante a Lei de Harmonia ou de Equilíbrio; e por essa representação é que nós, os servos da Lei, podemos nos aproximar e contribuir com alguns ou com muitos benefícios. Quem nada faz para merecer, em face da Lei de Harmonia, nada poderá conseguir de nossa parte, pois nós somos apenas servos e não senhores da Lei. Lembre-se de Jesus, que proclamou diante do mundo, para todos os tempos, que veio para exemplificar ou cumprir a Lei de Deus e não para derrogá-la. Ela é que contém o Divino Alicerce de todos os Livros Sagrados da Terra! Sem Lei não há Cristo e nem Profeta!
Vibrante e luminoso estava o ambiente; e a senhora, envolvida naquela felicidade celestial, tendo ouvido aquelas palavras, lembrou-se de alguma coisa e rogou:
– Meu senhor! Diga-me sobre os livros que me emprestaram... Olhe ali, cinco livros que dizem conter maravilhosos ensinamentos.
Tudo aquilo já havia sido observado, pois fora mesmo por causa de pessoas amigas da casa que ali fôramos parar pela primeira vez; é que, em virtude de sua dor e de sua tremenda conturbação, vizinhos e amigos procuraram pedir por ela nas casas de oração, tendo alguns oferecido livros doutrinários. Ali estavam cinco livros, um de rezas católicas, dois espíritas, um rosacruz e um teosofista. Eram as ofertas de gente piedosa, eram os corações humanos que ali estavam representados, assim como podiam estar, segundo o poder conceptivo de cada ofertante, pois cada qual encara o problema da Verdade pelo seu ângulo de visão, de acordo com as suas possibilidades evolutivas.
O Mensageiro respondeu-lhe, paternal e ponderoso:
– Por ora, irmã Deolinda, convém não se extremar em tais cogitações; primeiro espere pela sua melhora, que será para muito breve, para depois ir lendo com vagar e profundo respeito tudo quanto for bom.
– Essas leituras me atraem! – exclamou ela, sorridente e feliz.
– Está sendo muito auxiliada, irmã Deolinda; sua casa tem sido muito visitada, quer seja por nós, deste lado, quer seja por pessoas de suas relações de amizade, e, muito mais ainda, pelas orações que muitos estão fazendo em seu benefício. Observe, portanto, o quanto está sendo objeto de felizes envolvimentos. Sobre os livros, entretanto, desejo dizer que os melhores são aqueles que mais aproximam as criaturas da sabedoria da Lei de Deus, de quem o Divino Modelo deu exemplo de ser o Servo Fiel e não o seu senhor. Se puder lembrar, irmã Deolinda, lembre-se dos três sentidos da Lei de Deus, que são:
1 – A Moral absoluta que contém, cuja extensão vai à adoração de Deus em Espírito e Verdade, fato que implica na evolução total da mônada espiritual, ou sua integração no grau crístico ou cósmico, acima de mundos e de formas, pois isso representa ultrapassar a lei de reencarnações ou de sujeição às injunções planetárias;
2 – O Amor que encerra, para todos os efeitos a síntese das conquistas evolutivas, o maior dos instrumentos de edificação, pois começando humano, confinado ou restrito ao mundo de relações humanas, ele irá crescendo, irá se avolumando, até realizar na mônada espiritual a obra de sintonia ou de união com o Pai Divino;
3 – A Revelação que lhe foi o veículo, pois a Lei foi várias vezes transmitida e retransmitida, no curso dos tempos e das raças. Em sua unidade, portanto, a Lei de Deus contém três sentidos inamovíveis, que são a Moral, o Amor e a Revelação. Em matéria de Doutrina, conseguintemente, a mais perfeita será sempre aquela que mais se aproximar da Lei e do Divino Modelo apresentado por Deus, para servir de Caminho, Verdade e Vida.
O médico interveio, dizendo ao Mensageiro:
– Ela nada poderá entender, por ora, de verdades tão simples o quão profundas.
O Mensageiro sorriu, assentiu com breve movimento de cabeça e murmurou:
– Na Terra e por aqui, nos planos erráticos, muita gente que se julga senhora de bons arquivos doutrinários, não sabe disso e ainda não pode conceber a profundidade doutrinária que a Lei de Deus encerra. É fácil a todos os cultivadores de religiões ou de religiosismos, dizer que Jesus, o Cristo Planetário2, veio ao mundo carnal para viver e não para derrogar a Lei. Todavia, nós que vivemos em contato perene com os encarnados, por sermos servidores do Seu Batismo de Espírito, bem sabemos o que podem alcançar, até mesmo aqueles que são realmente os mais capazes, os mais lúcidos...
Silenciou de repente, abanou a cabeça negativamente e perguntou:
– Qual de nós, aqui dos presentes, habitante do mundo espiritual, vivendo em contato com as clarinadas a que já faz jus, pode dizer que vive totalmente os três sentidos da Lei? Somos portadores da Moral perfeita? Vivemos todo aquele Amor que ela proclama? Cultivamos a Revelação integral ou sem medida?
Ninguém respondeu, porque todos ficamos a realizar soleníssimos pensamentos; e foi ele mesmo, o Mensageiro, quem rompeu o silêncio:
– Quando formos tanto mais vizinhos da adoração de Deus em Espírito e Verdade, por termos evoluído até alturas tais, então viveremos melhormente a Moral, o Amor e a Revelação!
Outra vez o silêncio maravilhoso reinou, maravilhoso porque ungido de santíssimas vibrações. E quando foi rompido, foi por ordem do Mensageiro, que disse à irmã Deolinda:
– Que julga você, irmã Deolinda? Pense e fale o que puder e quiser, desde que em plano de sinceridade.
– Nada posso dizer, – foi ela murmurando, – porque tudo isso é divino demais para as minhas ínfimas possibilidades. Se eu pudesse perguntar a Jesus, se por qualquer graça de Deus isso fosse possível, tenho certeza que lhe daria uma resposta absolutamente justa! Mas isso não é para mim, não pode ser para mim, que devo ser ainda muito pecadora, muito pecadora...
Enquanto ela tremia sob o guante de estranha vibração, e derramava lágrimas de maneira incontrolável, o Mensageiro foi a ela e falou-lhe com muita brandura:
– Deolinda, você transmitiu o pensamento de um nosso chefe, muito superior a mim e a todos nós aqui presentes, que se acha oculto a todos, menos a mim e a outro dos presentes, em virtude da função autorizada que estamos desempenhando. É que você é portadora de uma graça mediúnica, uma graça que eu penso que virá a se manifestar, acontecimento que muito poderá fazer por você mesma, pelo bem que poderá causar ao próximo. Ele é que falou, embora você pense que não...
Ela interrompeu, afirmando:
– Não poderia explicar o fenômeno, mas sabia que estava sendo agitada por estranho poder... Um sentimento imenso de paz e de amor, como se fosse o Céu que me estivesse a envolver!...
O nosso chefe superior, ou chefe de outros chefes, reduziu-se e fez-se visível a todos, tendo em primeiro lugar rendido graças a Deus e a Jesus por aquela felicíssima oportunidade de contato com a irmã enferma. A seguir, disse-nos:
– Deolinda foi minha esposa faz muitos séculos, tendo-me feito morrer tristemente, articulada que estava com seu amante e vastas forças contrárias, visando todos atingir vantagens do mundo que me não atraiam. Ela desceu, e com ela muita gente, inclusive quatro de vós que aqui estão agora prestando serviços enobrecedores. Vede, portanto, em tudo isto, antes mais uma lição da Lei de Deus, do que mesmo o nosso caso em particular. A grandeza, queridos irmãos, está sempre com a Lei, está sempre paralela à Lei de Harmonia Universal! É por isso que agora temos de informar a todos, encarnados e desencarnados que vivem nas proximidades da crosta, que a síntese das Revelações está no Cristo, porque Ele resumiu em Sua vida a própria Lei, de modo plenamente vivo, completamente ostensivo diante do mundo.
E passando as vistas por todos nós, um por um, a seguir prosseguiu:
– Bem sabeis, pelas instruções recebidas, que a parte de Deus data de toda a eternidade, porque Ele é o Princípio e o Fim! Isto é, para os filhos que se encontram em processo de cristificação, ou vivem em estado de autofazimento, cogitando de tudo e nada conhecendo integralmente, Ele é Princípio e Fim. Mas não o é para aqueles que já ingressaram no grau crístico, que já se elevaram acima de mundos e de formas, de vidas carnais e de sujeições inferiores. Porque deveis saber, irmãos, que nos planos inferiores, a relatividade impera, prevalece aquele símbolo que a serpente representa, com a cauda estando na frente da cabeça, para significar a retorta da Natureza, a vida inferior em transformação, o eterno rodopiar dos acontecimentos em torno do fator EVOLUÇÃO! Para aqueles, entretanto, que já se plantaram para o grau crístico, para o estado de unidade com o Pai Divino, de quem o Cristo foi na Terra o Divino Exemplo, para esses tais o símbolo terminou, a roda das vidas e dos mundos acabou, porque eles já se fizeram acima de mundos e de formas!
Estacou, fitou a todos e num doce cicio aconselhou:
– Deixai os religiosismos, meus queridos irmãos!... Quem liberta o espírito das leis inferiores do mundo é o Conhecimento da Verdade, desde que o espírito deseje de fato cultivá-la em suas obras sociais!... Jesus deu-nos o Seu exemplo, o Seu trabalho de Celeste Funcionário da Moral, do Amor e da Revelação!
O grande chefe sumiu, desapareceu num divinal incêndio de luz; e o Mensageiro disse à irmã Deolinda:
– Volte ao seu casulo físico, que nós temos o que fazer, por um outro que vive enfrentando os fantasmas que andou criando. Beba da água lustral que o Bom Deus lhe tem enviado e cumpra com o seu dever.
Ela foi como que sugada pelo corpo, dando acordo de si de modo feliz, tão feliz que entrou a orar o Pai Nosso com extremo fervor.
Chegando ao recinto designado na ordem de serviço, fomos deparar com um homem iracundo, distribuidor de xingamentos e de pragas; embora desencarnado, não tinha disso conhecimento, estava muito distante disso, convivendo no meio familiar, no meio do estado de coisas que para si criara pelo exercício ideoplástico, pela capacidade que todos têm de criar em seu próprio campo áurico o mundo imaginado.
– Este é Celestino, – disse o Mensageiro, – um grande religioso a seu modo, um formidando onzenário. Passou a vida entre o templo de sua fé, o empréstimo de dinheiro a bom juro e as pragas sobre aqueles que conseguiam ludibriá-lo. Como não podia ser de menos, deixou o corpo em estado deplorável, que é como se encontra, apesar da grande soma de missas pagas que deixou, como possível preventivo contra as tormentas da morte. Vai para vinte e oito anos que se acha nesse estado, havendo agora ordem de encaminhá-lo ao conhecimento do estado e dos deveres.
– Por que, – indagou a jovem ex-protestante, – vive a brigar com essa gente que não existe?
O Mensageiro elucidou:
– Aqui, agora, entra em cogitação o problema daquilo que é ou deixa de ser, pelo fato de realmente existir ou de existir de modo imaginário, pelo fato de ter sido criado, pensando com tremenda força concretora. Ele imaginou, ele mentalizou anos a fio aqueles que o ludibriaram, desejando-lhes desgraças tremendas, augurando-lhes as piores destruições. Criou, pois, o seu próprio inferno! Ele vê o que criou, ele vive tendo os seus fantasmas pela frente! E se você quiser ver, é fácil mostrá-lo.
A jovem disse que sim e o Mensageiro ordenou aos três encarnados:
– Venham aqui e olhem fixamente para ele, que nós outros os auxiliaremos.
Os três jovens concentraram nele seus olhares e o mundo que o infeliz criara para si próprio, mundo infernal, passou a ser visto por eles. Era como se ele tivesse criado uma nuvem, um estado fluídico, em cujo estado se movimentassem, ele e os seus personagens.
Passado aquilo, indagou a jovem:
– E a vantagem de ter sido religioso, qual é?
Na parede havia um quadro, litografado, onde se via Jesus arcado sob o peso da cruz; foi para aquilo que o Mensageiro olhou e fez todos olharem, dizendo:
– A Lei, o Cristo e o Evangelho, quer tudo dizer uma só e mesma coisa, porque entre si se correspondem. O Cristo veio para executar a Lei, a Lei contém toda a Excelsa Doutrina em seus três sentidos e o Evangelho se constitui de Moral, de Amor e de Revelação representados ao máximo grau. Portanto, saibamos, quem livra é o Conhecimento da Verdade, desde que posto em prática. Já era assim na antigüidade, pois a receita das Escolas Iniciáticas era esta: “Conhece e cultiva a Ciência dos Mistérios, e terás feito a ti próprio o melhor bem possível”.
O discípulo interveio:
– O problema do Reino do Céu é sempre de consciência, é sempre de alma, nunca virá a ser de forma ou de aparência.
O Mensageiro anuiu:
– Justamente, justamente. Infelizmente, porém, quando no lugar da Moral, do Amor e da Revelação os homens colocam as clerezias, os dogmas, os rituais exteriores e os comercialismos em nome de Deus, também em nome de Deus os homens se tornam fingidos e hipócritas. Como, porém, a Deus e a Sua Lei de Harmonia ninguém pode iludir, eis aí uma prova do que acontece.
E como a hora urgia, porque os encarnados deviam retornar a seus respectivos corpos dentro em pouco, providenciou o Mensageiro:
– Façamo-nos visíveis, vamos falar com ele.
Assim foi feito e o homem iracundo pretendeu nos expulsar de sua casa, gritando como um louco, dizendo que também nós queríamos nos apoderar do seu dinheiro. Tanto bastou, entretanto, que o Mensageiro se apresentasse luminoso, o que o fez propositalmente, para que o homem praguento ajoelhasse e começasse a chamá-lo de Santo, de querido Santo.
Passados alguns segundos, falou-lhe o Mensageiro:
– Não somos Santos e sim espíritos socorristas, irmão Celestino... Quanto a você, saiba que já desencarnou faz quase trinta anos... É um espírito sofredor, é uma alma penada, porque suas obras assim o fizeram...
Assustado e rogante, clamou Celestino:
– Pelo amor de Deus!... Mas eu creio em Deus!... Onde está Deus, onde encontrarei Justiça?!...
Fiel à Verdade, o Mensageiro respondeu:
– Celestino, escute-me: de tal modo rege Deus o Cosmo através de leis fundamentais, que a libertação só poderá vir do conhecimento e do cultivo da Verdade. Não adianta que os homens inventem farsas e disfarces, porque a Deus ninguém impõe mudanças de ordem qualquer. Para que os homens, Seus filhos, tivessem desde os primórdios o conhecimento desta realidade, enviou-lhes o Pai Divino, através de Mensageiros categorizados, o maior de todos os documentos, que é a Lei de Deus. E se você quiser a prova disso, procure saber como Jesus disse que Se portaria em face da Lei, Ele que veio para servir de Modelo Divino.
Magoado, murmurou o pobre irmão:
– Eu nunca li o Evangelho!... Nunca!... Eu sou católico!...
Ponderoso, muitíssimo ponderoso, o Mensageiro comentou, afagando-lhe com a mão direita as costas encurvadas:
– Não se iluda, Celestino, que muitos leitores do Evangelho e de muitos outros livros também herdam as trevas, pois o Reino do Céu não é apenas questão de conhecimentos teóricos. Em verdade, Celestino, enquanto no mundo empregarem os credos e os homens a expressão IR PARA O CÉU, tudo andará muito mal, porque o necessário e justo é DESENVOLVER O CÉU NA INTIMIDADE! E quem conseguirá isso, meu irmão, desprezando ou menosprezando os três sentidos da Lei de Deus, aos quais o Divino Mestre deu integral desempenho?
Celestino encolheu os ombros, olhou para todos tristemente e começou a derramar lágrimas; foi então que o Mensageiro disse-lhe, com acento e ralho:
– Não faça isso agora, Celestino, que vem de ser instruído e recolhido!
Ele olhou para todos com o seu semblante desfigurado, indagando:
– Eu?!... Eu serei instruído e recolhido?...
– Sim, – respondeu-lhe o Mensageiro, – você irá parar agora no lugar devido, de onde sairá em melhor estado, em companhia de quem lhe conduzirá ao plano espiritual que lhe cabe de direito. E para não perder tempo, olhe bem para tudo isto que o cerca, porque tão cedo não retornará aqui. Será curado, instruído, educado nos moldes do plano em que irá habitar e posto a trabalhar. Assim está escrito a seu respeito e assim será, até que volte a reencarnar, porque isto também está no seu programa futuro.
Encolheu os ombros e murmurou, com ar devoto:
– Seja feita a Vontade de Deus!...
Como não podia deixar de ser, o Mensageiro respondeu-lhe:
– É da Soberana Vontade de Deus, irmão Celestino, que Seus filhos se tornem conhecedores da Verdade e trabalhem em si mesmos pela própria cristificação. Não o sabe agora, mas virá a sabê-lo, que a Vontade de Deus importa na aplicação correta da vontade de Seus filhos. Porque, para resumir, saiba-o quem tenha vontade de saber, a Luz Divina é impossível de ser obtida de terceiros!
Dada a resposta, apanhou-o pelo braço e dali volitamos para dentro de um Centro Espírita; Celestino ficaria ali, entregue aos espíritos guardiães do Centro, até a primeira sessão a ser feita. Porque ele havia, durante a vida, dito insultos muito violentos contra a Doutrina que tem por fundamento a Moral, o Amor e a Revelação. Devia, portanto, beber ali a sua água lustral, para ter durante muitos anos em que pensar de modo reparador.
Quando fomos dizer-lhe “até breve”, prometeu-nos ele, todo reverente:
– Garanto que me farei um grande estudioso da Verdade!
Encarando-o com bondade extrema, comentou-lhe nos ouvidos o Mensageiro:
– Mesmo porque, Celestino, em que a ignorância e o erro nos poderiam recomendar perante as leis que regem o Cosmo?
Celestino pareceu querer dizer alguma coisa, mas não o fez. De nossa parte, fomos entregar os três encarnados aos respectivos corpos, porque a madrugada andava pelo raiar do dia, tendo eles que ir ganhar o pão de cada dia, para o corpo de carne e osso, do mesmo modo como já haviam feito jus, com respeito ao pão espiritual.


Capítulo IV

Quem quer que pense em termos de verdadeiro cristão, saberá que a Terra virá a ser um mundo feliz, quando a ordem social humana for paralela à Ordem Divina. O pensamento e a esperança dos Grandes Mestres espirituais nunca foram outros. Entretanto, bem sabemos como ainda vivem os homens, como se tratam os irmãos entre si.
Não existe maior ignorância, nem erro tão crasso, como seja desrespeitar, nas obras sociais, aquela realidade que significa a igualdade de todos em face da lei de Origem, Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade. Quem não trabalha para se enquadrar na Unidade Cósmica, por desconhecer que o Sagrado Princípio em Si mesmo tudo Engendra, Sustenta e Determina, por certo cava o seu próprio abismo!
A Unidade é a Lei do Universo!
A Síntese é a Expressão da Harmonia Universal!
A Lei de Deus lembra o dever de respeitar, acima de tudo, a Harmonia!
A Justiça impele a que o façam, aqueles que ignoram e erram!
A Análise demonstra a Unidade Cósmica através das partes!
A Moral Divina revela ao filho a necessidade premente de mútua cooperação!
O Trabalho movimenta todos os valores, tanto negativos como positivos!
A Revelação informa, adverte e consola!
O Amor enfeixa todos os valores do Cosmo na Divina Paternidade!
E, por causa do Amor, nos mundos inferiores os Grandes Iniciados ensinaram sempre a necessidade da Renúncia, tendo o Cristo Planetário, Aquele que recebeu do Pai Divino a maior soma de testemunhos sobre a Terra, feito a entrega da própria vida, qual Cordeiro Imaculado, não só renunciando a tudo, mas ainda por acréscimo perdoando a todos os Seus ofensores e chacinadores!
Os tolos necessitam de uma religião, de um sectarismo, enquanto os Grandes Espíritos estimam conhecer e viver a Verdade!
Foram palavras como essas, que o Mensageiro disse na noite seguinte, aos três encarnados e aos companheiros deste lado, defronte a um irmão aleijado, verdadeiro monstro, que devia ser retirado da carne, depois de quarenta e seis anos de rastejar pela Terra.
– Observem, – salientou ele, – como se passam as coisas, de modo aparentemente contraditório, segundo os conceitos humanos. Porque temos aqui, em Weter, um aleijado cheio de merecimentos, enquanto que, no passado, como poderoso monarca, para si mesmo cavou as trevas da expiação. Foi um guerreiro pela sua fé, pelos seus conceitos, tendo matado e chacinado a valer, pensando estar fazendo trabalho digno de um semideus! Acreditou, naqueles dias, ostentando o cetro real e a convicção do fanático, que por matar e vandalizar em nome do Cristo, com isso estaria se bem pondo em face de Deus. Confiou, como tantos outros estultos o fizeram e como ainda outros vivem a fazer, que o crime praticado em nome da babuja, que a porcaria feita em nome da adulação a Deus, fossem coisas virtuosas e não atos criminosos. Como, porém, a Lei de Harmonia não é religiosa  nem a Justiça tem partidos, eis que a morte o apanhou em delito tremendo, atirando-o no regaço da treva e das futuras expiações!
Tomou fôlego e após prosseguiu, enquanto o servidor encarregado fazia o trabalho de desligamento entre corpo e espírito:
– Depois de penar muito em outras vidas, veio agora como aleijado e viveu de esmolas; mas, como vêm de observar, se muito pedia, também muito procurava distribuir. Pediu a vida inteira e a vida inteira procurou beneficiar; nunca teve mais do que o sustento de cada dia, porque veiculou o ganho para junto daqueles que sabia estarem muito pior do que ele.
E num tom quase patético, exclamou:
– Muitos pobres e enfermos sofrerão com a sua partida!... E o rei todo coberto de crimes, surtirá no mundo espiritual como um andrajoso recuperado, são e aureolado de luz! Vejam, pois, uma vez mais, que a finalidade da verdadeira educação é o Amor, sendo que o Amor é a celeste epifania, é a junção do filho no seio do Pai Divino, é o brado glorioso da Virtude que eclode no âmago da Eternidade!
Feito o desligamento, pelo encarregado de tal serviço, Weter compareceu ao plano espiritual, sorridente e feliz, forte de espírito, porque amparado na força do trabalho amoroso que desenvolvera durante a vida. A Lei de Causa e Efeito ali tinha mais um testemunho a seu favor, testemunho vibrante ao extremo.
Sendo justo que a Doutrina Perfeita é aquela que revela o finito como parcela do Infinito, que envolve todas as vidas no ritmo da Eternidade, ali estava sendo a Grande Lei de Harmonia testemunhada, porque num mundinho obscuro e triste como a Terra, átomo solto na vastidão do Cosmo, um filho de Deus, uma mônada espiritual, depois de viver o erro e a treva pelo mau uso feito de si próprio, vinha de novo a se tornar participante das clarinadas espirituais!
Entre abraços e votos de boas vindas, Weter foi sendo afastado daquele corpo retorcido, daquele sagrado vaso que lhe facilitara trabalhos redentores. E como devia seguir em nossa companhia, ao ser apresentado ao Mensageiro, perguntou:
– Para onde iremos?... Onde é que fica o Céu?...
Diante de tamanha simplicidade, nossas mentes fervilharam e nossos olhos se tornaram rasos de lágrimas. Ele não sabia, por certo, das palavras de Jesus, quando disse que o Reino do Céu está dentro de cada filho de Deus e que não deve vir com mostras exteriores; ele disso nada sabia, pelo visto, mas pelos seus atos durante a vida carnal, edificara em si mesmo aquela grande parte do Reino do Céu, que ali estava nele mesmo a fulgurar!
Por isso mesmo, com singeleza respondeu-lhe o Mensageiro:
– Em verdade, irmão Weter, toda a caminhada do espírito é na direção do Céu Interior, que é a iluminação interna. Porque aquele que a si mesmo se encontra, como dizia e repete sempre a Sabedoria Antiga, que em Cristo teve a total confirmação e complementação; aquele, digo, que a si mesmo se encontra, esse vai direto ao seio do Pai Divino, que é acima de mundos e de formas, porque é sem limites, porque é Cósmico. Nesse rumo, irmão Weter, é que você vem de dar alguns passos, ainda que o não saiba.
E apertando-o contra o peito, comentou-lhe nos ouvidos:
– Não tomaremos jamais conhecimento de lugares nem de formalidades, quando viermos a ser almas totalmente cristificadas. Porque então repetiremos com Jesus, aquelas palavras impassáveis: “Meu Reino não é deste mundo”.
Embora visivelmente conturbado pela festividade que lhe ia ao redor, Weter inquiriu do Mensageiro:
– O senhor é católico ou protestante?...
O Mensageiro sorriu e respondeu-lhe:
– Faço questão de ser conhecedor das leis do Pai, a fim de não ser delas blasfemo; e se quiser saber como faço para ser assim, e para atingir tal objetivo, digo que procuro imitar a Jesus, procurando viver os três sentidos da Lei, que são a Moral, o Amor e a Revelação. Como poderá notar, isso tudo é por Verdade e não por religiosismos inventados por homens.
– Então o senhor é espírita? – volveu Weter a perguntar.
O Mensageiro entressorriu, algo irônico, perguntando-lhe:
– Como fez você para descobri-lo?...
Weter assentiu com a cabeça, confidenciando:
– Eu, como não pudesse entender certas coisas, procurei fazer todo o bem possível... E, pelo visto, dei-me bem!...
– Não é tudo, se quiser pensar bem e responder certo. – observou-lhe o Mensageiro.
– Não compreendo!... – fez Weter, meditativo.
O Mensageiro perguntou-lhe:
– Sabemos que você teve contatos com o espírito de sua progenitora.
– Isso é exato! Muito exato! – respondeu Weter, veemente.
Com acentuada fleuma, considerou o Mensageiro:
– Isso não é Revelação?...
Weter meditou por um pouco, depois murmurou entre dentes:
– Moral, Amor e Revelação... Bem, mesmo sem saber, creio que fui espírita... Entretanto, isso não é Cristianismo?...
O Mensageiro atendeu-o, solícito:
– Nem haveria necessidade de ser outra a realidade, pois o Cristianismo é, em essência, a Doutrina Integral ou Cósmica, por ser aquela Doutrina que a um tempo contém tudo, seja ao tratar da utilidade da matéria, seja ao expor a Origem, o Processo Evolutivo e a Finalidade do espírito. Quando o Cristianismo venha a estar absolutamente exposto, em sua feição restaurada, que é como Espiritismo, todos saberão que ele é modelismo integral. Quem chega a reconhecer no Cristo um espírito UNIDO ao Pai Divino, chega também a reconhecer, na Doutrina que Ele apresentou viva, o instrumento de advertência, ilustração e consolo. Se, porém, quiser alguém ser cristão, sendo avesso à Moral, ao Amor e à Revelação, isso não é possível, porque em Deus e no Cristo nunca haverá lugar para a contradição. Eu sei que por ora você nada entende destas verdades, mas o fato é que a Chave Doutrinária está contida na própria Lei de Deus, à qual o Cristo, por ser Cristo, veio dar  inteiro cumprimento.
Era hora, e, como tal, o Mensageiro conduziu Weter para a região e localidade indicadas na ordem de serviço. Porque, como acontece com todos os recém-desencarnados, importa ficar primeiro em local menos intenso, para efeito de ambientação vibratória. O desencarne é definitivo, não é como a viagem astral dos encarnados, que o amparo dos guias harmoniza, não deixa haver choque; aquele que é desligado do seu corpo, necessita de auto-harmonização e deve realizá-la em si. É por isso que, mesmo no caso dos Grandes Instrutores, importa fazer estágio num plano menos intenso. Ali as células do seu corpo astral se adaptam e ele se apresenta, com isso, para galgar o local de direito.
Existem, ainda, outros fatores de ordem a serem considerados; é comum, por motivo desencarnatório, doença ou desastre, e muitas vezes abalos morais e traumatismos psicológicos, saírem da carne mais ou menos conturbados, até mesmo aqueles que, vamos dizer, podem retornar bem ao terceiro dia. Sempre há uma necessidade de repouso e de reajustes vários.
Uma das razões, por exemplo, até mesmo para aqueles melhormente aquilatados, é  o contraste conceptivo, é a questão religiosa ou doutrinária. Cada um, diremos, dentre cem desencarnados, pode ter ou pertencer a um credo diferente dos outros noventa e nove; e pode imaginar, com todo o fervor possível, que Deus esteja apenas com ele, ou com o seu credo, ao qual julga verdadeiro e completo, desprezando a todos os demais.
Em casos tais, cumpre que cada um vá reconhecendo em Deus e na Verdade, toda a universalidade possível de ser humanamente concebível; cumpre que vá assimilando a infinidade da Verdade, como Existência, Lei, Justiça, Amor e Ciência, e que vá deixando para trás as mesquinharias sectárias, mesmo aquelas que lhe serviram de degraus, de instrumentozinhos de subida hierárquica, conceitozinhos em tudo a par da Terra, mundinho onde bem poucos já conseguem respirar ares acima de egocentrismos e geocentrismos mesquinhos e degradantes.
Nem a todos que merecem recolhimento é dado entrarem na posse de tais revelações, é claro; mas ao menor número, a bem mínima porcentagem, isso já se vai dizendo, porque a Era do Espiritismo não pode ser menos do que início da Era Cósmica. Aqui importa que haja raciocínio, porque entre o verdadeiro Cristianismo e a realidade Cósmica não existe diferença. Nas palavras de Jesus, ao viver a Divina Função de Cristo ou Modelo, tudo está exposto; nas palavras e nos fatos, diremos, estão contidos os conceitos de Luz do Mundo, de pertencer a um Reino que não é do Mundo, etc. Isto é, de representar a Origem, o Processo Evolutivo e a Finalidade, porém tudo já realizado, para ser de fato o Paradigma.
Já diziam os Grandes Iniciados, que foram realmente os Grandes Precursores do Celeste Ungido, que na medida evolutiva do indivíduo estava a marca de sua aproximação ou distância do Grau Crístico. Como as leis de movimento, evolução, responsabilidade, reencarnação, comunicação e habitação universal já eram conhecidas de remotíssimos tempos, estavam eles militando em plena verdade e certeza, ao afirmar que o fim da evolução é a Celeste Conexão, é ficar o espírito a cavaleiro das injunções planetárias, é pairar acima de mundos e de formas.
Por isso que dizemos, podem os irmãos leitores observar que espécie de verdades precisam aprender aqueles desencarnados que a elas fazem jus, para irem aos poucos atingindo outras esferas da vida espiritual. Como é simples notar, em tudo isto vai um mundo de antisectarismo, vai uma avalanche completa de Doutrina Pura, da Doutrina do Espírito da Verdade, que jamais afirmaria qualquer resquício de formalismo, de idolatria ou de fetichismo, embora concorde em que os espíritos, enquanto inferiores em evolução, não possam admitir o ato de fé, a função tida como de grande efeito religioso, sem a usança de tais erros, sem a oferta de tais inferioridades.
Nem poderia ser de menos que assim fosse, pois vindo a mônada do mais pleno estado de inconsciência, embora comportando todo o esplendor espiritual em potencial, para cada matiz de grau evolutivo atingido, por certo terá a sua conduta, em todos os setores de atividade. E assim sendo, normalmente compreendemos que o espírito superior faz coisas superiores, enquanto que o inferior somente pode fazer coisas ou praticar atos inferiores, por mais que sua vontade seja andar bem e certo.
Aqui reside a razão de ser dos perseguidores e matadores de Mestres, Profetas e Cristos, por parte das Humanidades de mundos inferiores. Por isso disse o Divino Modelo aos Apóstolos: “Perseguindo e matando a vós outros, julgarão estar prestando um grande serviço a Deus”.
Já foi dito que, para adorar a Deus em Espírito e Verdade, importa que a mônada espiritual evolua e se eleve à condição de Espírito e Verdade. Enquanto estiver militando nas esferas inferiores da vida, normalmente fará obra de criatura inferior.
Como já devem perceber, não estamos confundindo aqueles que realmente são inferiores, com aqueles verdadeiramente abutres humanos, que por interesses subalternos exploram os menos cautos, inventando clerezias, formalismos, simulações, fetichismos e mil e uma formas de prejudicar a evolução dos semelhantes. Destes tais é que disse o Cristo: “Ai de vós, que ficando nas portas não entrais  nem permitis a entrada aos que poderiam fazê-lo”.
Aos simples encara a Lei como a criaturas simples, mas aos maliciosos fará que venham a responder por tudo, ceitil por ceitil! Se a função do Cristo foi tornar ostensiva a toda a carne o Conhecimento das Verdades que estavam trancadas nos Cenáculos Esotéricos; se o Divino Exemplo consistiu em apresentar o Modelo da mônada espiritual em tudo, na Origem, no Processo Evolutivo e na Sagrada Finalidade, por que teimam os comercialistas da fé, em não permitir a entrada, no Templo da Verdade, àqueles que poderiam fazê-lo?
A obrigação de qualquer princípio de fé, para merecer respeito, é encarar de frente a obrigação e a necessidade do espírito, em sua evolução íntima; é ir fazendo encontrar, como já diziam os Grandes Iniciados, o infinitamente grande no infinitamente pequeno; é demonstrar, como a Excelsa Doutrina o demonstrou através do Cristo, que a centelha tem em si todos os elementos de progresso e vitória, para chegar a ser UNA COM O PAI!
E, por isso mesmo, ai daqueles que se fazem os lesadores da evolução espiritual, por apego aos galardões formalísticos do mundo! Por quererem passar diante do mundo como se fossem ministros de Deus, e por isso irem recebendo as reverências dos próprios ludibriados, quando realmente são representantes das trevas, do mundo e de seus tenebrosos alçapões!
Não é necessário lembrar, que os perseguidores e chacinadores de Mestres, de Profetas e de Cristos, nos mundos inferiores, são sempre os donos de religiões, os manipuladores de fetiches, os que fazem da fé meio de vida. Como a Terra ainda está muito longe de ser um mundo superior, há muita necessidade de cautela, há grande precisão de prudência, pois os representantes das trevas de tudo lançam mão, isolada e conjuntamente, para garantir seus tristes empreendimentos. Impelidos pelo vício da idolatria e acostumados com as regalias mundanas, tudo fazem a fim de garantir a posição.
Feita esta digressão, vamos relatar os dois outros trabalhos da noite levados a termo.
O segundo caso foi atender a uma jovem mãe, porque o seu filhinho sofrera uma queda. Ela clamara ao Céu e o seu clamor fora ouvido, inclusive porque o pequenino era um espírito de escol, fadado a ser excelente servidor na seara consoladora, como de fato virá a ser. O mundo espiritual atendeu-lhe o apelo e continuou a dar-lhe atenção, até que a lesão causada no tombo cessara.
Quando lá chegamos a criança ressonava, porque lhe doía a parte da ferida; e o Mensageiro determinou o trabalho a ser feito:
– Vocês três, encarnados, imponham-lhe as mãos, ordenando a que durma, a fim de trazê-lo para este lado; e uma vez aqui, vamos levá-lo aos aparelhos de aplicação magnético-luminosa, para auxiliar a transubstanciação de células.
Enquanto os encarnados faziam aquilo, um dos companheiros perguntou:
– E se o menino viesse a desencarnar?
O Mensageiro respondeu:
– Bem, disso muito acontece, como vocês sabem. Nem tudo é do programa, pois o plano carnal é cheio de fatores circunstanciais favoráveis e desfavoráveis, e nenhuma prudência é demasiada. Se ele, o espírito, voltasse para este lado por causa do acidente, imediatamente seria obrigado a retornar, porque o tempo urge para ele. Quem ainda não atingiu o Grau Crístico tem que obedecer às leis planetárias, que obrigam a trabalhos através de movimentos cíclicos. Quando a hora de reencarnar chega, tudo envolve a criatura em sintomas de obrigação, fazendo-a entender, mais por emoção do que por inteligência, que chegou a hora de prestar mais um serviço ao movimento planetário. E como é sabido que os departamentos locais funcionam conforme a lei das necessidades, que por sua vez é reflexo da Lei de Harmonia, eis que se conjugam fatores, preparando a reencarnação.
Logo que o espírito veio para o nosso lado, foi apanhado no colo pelo Mensageiro, que imediatamente fez o transporte para o hospital do mundo espiritual. E o pequenino foi sujeito aos cuidados médicos, que implicaram na aplicação de eletricidade e ondas policrômicas, numa intensidade própria para o seu corpozinho astral.
Ao retornar ao plano carnal, foram ocupados os fluidos paternos, como verdadeiras cargas renovadoras, pela identidade dos mesmos. E ao acordar, o bebezinho sorria, porque estava satisfeito e nos via perfeitamente.
A mãe disse, falando ao pai do pequenino:
– Deve estar vendo os anjinhos!...
O Mensageiro comentou, encolhendo os ombros e sorrindo, satisfeito:
– Bem, que vamos dizer? De uma parte, na linguagem bíblica, anjo, espírito e alma são palavras sinônimas. E de outra parte, Deus que lhe recompense pelo bom conceito que nos tem. Afinal de contas, somos filhos de Deus e isso é muito mais do que ser apenas anjos, não acham?... Realmente, somos semideuses!
E lá fomos ao terceiro trabalho da noite, em que deveríamos ocupar os três encarnados.
No terceiro caso nada havia a fazer; era apenas um esclarecimento. Tratava-se de um missionário de certa monta, recém-entrado nos trabalhos teóricos e práticos da Doutrina que se fundamenta na Moral, no Amor e na Revelação.
Que se passava com o jovem missionário?
Nada mais do que choques e mais choques de variada ordem, por causa das contradições que ele vinha encontrando, aqui e ali, nos diferentes locais de trabalho espírita. Cada indivíduo, cada Centro, tinha lá o seu modo, o seu matiz de modo, sendo que de vez em quando lá vinha uma tremenda aberração, por falta de melhores conhecimentos da parte dos dirigentes. E o jovem sofria, porque no seu íntimo crepitava a chama do mais puro idealismo, daquele idealismo que vinha dos dias em que fora um dos mais vibrantes profetas de Israel.
Fomos encontrar o corpo desocupado, mas o Mensageiro agiu e convocou o senhorio, que veio acompanhado de alguns amigos do plano astral, elementos de vasta capacidade e fulgurante esplendor espiritual.
Depois de breve conversação, disse-lhe o Mensageiro:
– Seus amigos poderiam dizer muito mais do que eu, sobre a questão que tanto o preocupa, em virtude da superioridade hierárquica. Entretanto, aqui estou em função de trabalho, para lhe dar a explicação; isto é, para avisá-lo sobre as coisas que irá conhecer, aos poucos, de onde chegará à conclusão de que na Terra tudo é fácil de ser desviado, adulterado e até mesmo corrompido. Infelizmente é assim, por falta de evolução em primeiro lugar, e por falta de melhores esforços educativos em segundo lugar. Quem vem de conhecer a Excelsa Doutrina, e não tem lastro educativo, cede aos imperativos da idolatria e do fetichismo, dos vícios de conduta.
O jovem atendeu, dizendo:
– Aqui eu entendo e pondero, mas estando no corpo chego a ter vontade de dizer coisas bem graves contra aqueles que fazem do culto mediúnico obra de pouca recomendação pelos desvios a que se entregam, saindo fora dos Mandamentos da Lei de Deus, de quem o Divino Modelo foi o mais fiel executor.
Algo entristecido, prosseguiu o Mensageiro:
– Infelizmente, muito infelizmente, os verdadeiros conhecedores e cultores do Batismo do Espírito serão poucos... A Humanidade terrícola é portadora de terrível lastro idólatra, de tremenda carga supersticiosa, atraindo com facilidade a espírito do mesmo jaez, e a eles dando atenção. Todavia, lembre-se, alguém haverá, como tem havido em todos os tempos, capaz de saber, pensar e agir em favor da adoração de Deus em Espírito e Verdade. Porque, ainda uma vez mais aplicando o termo infelizmente, a Verdade é para o menor número, paira no campo da qualidade e não da quantidade.
Fez silêncio por alguns segundos e a seguir avisou:
– Mandam dizer-lhe que a cada um é devido cumprir com o seu dever, segundo a sua capacidade. E que faz obra de verdadeiro cristão, pelo que receberá a recompensa, todo aquele que se fizer, diante da Humanidade, exemplo de boa conduta.
O jovem ouviu, tendo agradecido:
– Muito obrigado pelo aviso; quero contar com a sua cooperação. Quanto às contradições, ou pelo menos aos fetichismos e o emprego de usos realmente fora da Lei de Deus, erros praticados como se fossem necessários, prometo que tudo farei para não os admitir em meus trabalhos e conceitos.
Na despedida, aconselhou o Mensageiro:
– A regra feliz é para a frente e para o alto! Entretanto, os escândalos terão ainda largo tempo de curso na história da Terra. E mesmo quando não seja feito com o intuito de escandalizar, nem por isso será menos perigoso e comprometedor, pois redundará sempre, pelo menos em obra de triste exemplificação. E como é sabido, bem mal se recomenda aquele que serve de pedra de tropeço no caminho evolutivo de seus irmãos! Faça, portanto, questão de cultivar o Espiritismo assim como ele o é; isto é, sendo a um tempo Moral, Amor e Revelação, que é o próprio espírito da Lei, que é a vida de Jesus em perfeito prolongamento sobre a Terra!
Tendo partido, fomos entregar os encarnados a seus respectivos corpos. Antes de separá-los, em conversa amiga, disse-lhe o Mensageiro:
– Quanto eu deploro ter que defrontar semelhante questão! Não posso compreender muitos irmãos encarnados, tendo tanto em que se instruir sobre o cultivo da Revelação, vivem e agem à margem da Lei de Deus, entregando-se a práticas muito e por vezes até de todo condenáveis. O que porém me consola, é saber que poucos se entregam a descambos, por ouvirem a espíritos medíocres, por atenderem a convites menos dignos da Verdade, da Grande Lei de Harmonia.


Capítulo V

O discípulo estava pleno de Consciência da Unidade; sabia que em Deus tudo é existente, tudo se movimenta e tudo atinge por evolução a finalidade. Estava em estado de epifania mental, pelo que sabia estar sempre ligado ao Pai Divino, em virtude do que vinha de aprender, sobre estar o Primeiro Estado, a Divina Essência, nos fundamentos ou atrás de tudo aquilo que existe, no Universo Infinito.
Jesus lhe era o Cristo Planetário, o Espírito Cósmico, acima de mundos e de formas, porque vitorioso sobre as leis planetárias; e que a Sua Autoridade também era Onipresente no Planeta, por lhe ser o Diretor, assim como acontece com os outros planetas, que têm os seus respectivos Cristos.
E que as duas Autoridades, a de Deus e a do Cristo Planetário, se filtram pelos escalões hierárquicos, pelas hierarquias espirituais, que estão distribuídas pelas sete esferas celestiais, que envolvem a crosta terrícola em forma concêntrica e superposta; sete Céus que se subdividem em muitos outros, porque a elevação, para o exterior, é muito lenta, é progressivamente gradativa, a fim de que a cada matiz de grau caiba o justo local de estada e ocupação.
Ler era, entretanto, a sua predileção terrena; e tinha uma dezena de livros aos quais devotava maior estima, porque eles lhe faziam sempre sentir mais a presença do mundo espiritual, aquilo que os Antigos Iniciados diziam ser a Providência Divina, pois eles sabiam que a Providência era representada pelos guias espirituais da Humanidade e das criaturas.
Como fosse domingo, pela tarde, estirou-se o discípulo no leito, apanhando o livro de Édouard Schuré; e tendo-o aberto, lia o seguinte trecho, com muita atenção, como sempre o fazia, em se tratando de tais assuntos:
“Uma teologia verdadeira deverá fornecer os princípios de todas as ciências. Ela não será Ciência de Deus, se não mostrar a unidade e o encadeamento das ciências da natureza; ela não merece o nome que tem, se não satisfizer a condição de constituir o órgão e a síntese de todas as outras...”
Foi naquela hora que nós chegamos, inclusive o Mensageiro, com o fito de tomá-lo para o nosso lado, caso estivesse com disposição e desocupado, ou pronto para vir. E foi coisa de segundos, porque o Mensageiro lhe meteu a mão na cabeça, fazendo-se notar presente. O rapaz colocou o livro sobre o móvel e prontificou-se a sair, o que logo aconteceu, com grande alegria para todos.
– Trechozinho bem inteligente aquele, pois não? – comentou o Mensageiro, ao falar-lhe.
O discípulo emitiu a sua opinião:
– Um grande livro, embora muito falho com referência ao Cristo, pois não pôde o seu Autor penetrar na intimidade de Sua função, a fim de poder explicá-Lo de melhor maneira. Nem compreendeu a função missionária de Jesus, como cumpridor da promessa antiga ou do Derrame de Espírito sobre a carne toda, e nem conseguiu divisar o Cristo como sendo a Síntese da Verdade, ou como exposição da Origem, do Processo Evolutivo e da Sagrada Finalidade do espírito.
O Mensageiro anuiu, acrescentando:
– Muito bem, muito bem. Se Édouard Schuré tivesse penetrado na realidade do Cristo, como batizador em Espírito e como síntese geral, ou como símbolo vivo do Caminho, da Verdade e da Vida, por certo teria vislumbrado no Cristo a verdadeira teologia, a demonstração viva da evolução total, material e espiritual, como até hoje ainda ninguém o fez. Por isso mesmo, ficou no Cristo místico e mítico, apresentando muito mal o Cristo histórico, além de nada fazer pela demonstração do Cristo Cósmico, ou do Exemplo Universal, que tão perfeitamente Ele viveu.
– Foi uma pena! – gemeu o discípulo.
O Mensageiro riu-se, afirmando em tom conselheiro:
– Não convém, discípulo, que penses e ajas com precipitação. Tudo virá a tempo. Não é certo que a marcha evolutiva do planeta é muito lenta? E de que adiantaria alguns andarem tão depressa, tão na dianteira, quando a grande parte caminha a passos de tartaruga? Para que tanto empenho em mostrar o Reino do Céu exterior, os altos padrões exteriores, quando a Humanidade vive cega para com aquele Reino do Céu que traz no íntimo, aquele Céu que, em verdade, é o bilhete de entrada nos Céus exteriores?
Um dos companheiros interveio, um tanto magoado:
– Você não vê, discípulo, que a grande maioria, dentre os freqüentadores de sessões, tudo faz em caráter de pedincharia? Não deve desconhecer que o maior número faz muita questão de águas fluidificadas, de imposição de mãos, de tudo quanto seja exterior e subalterno. E que ínfimo é o número dos que procuram conhecer e melhorar; enfim, estar preparado para avanços maiores no porvir. Isto quer dizer, portanto, que as sementes ainda continuam caindo em terras sáfaras, não é mesmo? E observe bem, que não falo daqueles que representam as pedras, onde as sementes caem e o sol as estorrica!... Porque muitos são aqueles que chegam para junto da Excelsa Doutrina reposta no lugar, e por nada terem de conhecimentos fundamentais, por nada entenderem de Moral, de Amor e de Revelação, lá se vão e ainda por cima blasfemando, dizendo mal da Doutrina!
O discípulo emendou, com uma pontinha de ironia:
– Pudera!... Existem Centros Espíritas, onde tudo existe, menos Espiritismo!... Quando nada sabem aqueles que se metem a ensinar, que hão de aprender, saber e praticar os que lá vão para colher alguma coisa de útil?
Aquele mesmo companheiro, que antes falara, murmurou:
– É mesmo penoso, que, muitas vezes, aqueles que se querem apresentar como sendo o sal da terra, de fato deixem de salgar... Agem como insossos e acabam fazendo outros tantos insossos, não é verdade?
A conversa teria ido por aí em fora, não fosse o Mensageiro convidar:
– Vamos tratar de ser úteis, meus amigos?
E como todos concordassem, dali nos fomos, tomando o rumo de uma fazenda; em lá chegando, estavam já muitos irmãos preparados para uma sessão. E foi um dos guias da casa que nos avisou:
– Já trataram do assunto magno, que é a fundação de um Sanatório. Agora vão realizar uma sessão espírita, com o fito de ouvir alguém, deste lado, que lhes diga alguma coisa sobre o acontecimento. Ali está o patrono do novel Sanatório, o médico por eles invocado.
De fato, atrás de uma veneranda senhora, aureolada de azul e ouro, estava a muito conhecida personalidade, cujo nome fora indicado para designar o Sanatório a ser construído. E o ambiente estava deveras sublimado, porque havia uma causa superior em jogo, e tratada com verdadeiro senso cristão.
Depois de saudar a todos, ao invés de fazer algum longo discurso laudatório, disse apenas o médico:
– Espíritas! Primeiramente agradeço a vossa lembrança, pela escolha do meu apagado nome, a servir de patrono do Sanatório. E como palavras de estímulo, faço ciência de que Espiritismo é trabalho social, é serviço de elevação em todos os sentidos de aplicação coletiva, partindo sempre, entretanto, da certeza de cada célula, da integração de cada filho do Pai Divino na Ordem Universal! Quem mais auxilia, pelo fato de conhecer e aplicar a Lei Geral do Cosmo, esse virá a ser mais auxiliado! Para todos os efeitos, quem se une à Lei Geral será unido, e quem se afasta será afastado! Evolução é integração do filho na Ordem Suprema do Pai, que se filtra pela solidariedade, que se expõe pelo gosto de ser útil, que procura amenizar a dor, enxugar a lágrima, pensar a ferida, e, acima de tudo, educar no sentido espiritual!
E rematou em breves palavras:
– O Céu ouviu e atendeu ao vosso apelo; cumpri, agora, com os vossos deveres, que almas bastante superiores a mim estão ao vosso lado! Espargi os frutos de vosso amor por sobre aqueles que têm menos, e o Céu ofertar-vos-á maiores oportunidades no porvir! Eu necessito de trabalho! Todos necessitamos de trabalho! É hora, portanto, de compreendermos que Cristianismo é programa de edificação interna e não amontoado de bajulações ritualistas!
Despediu-se o médico, e ao estar do nosso lado, vimo-lo colocar junto à senhora médium, um pobre irmão desencarnado, todo torto e gemente. Era um irmão que estava precisando de Cristianismo, naquelas condições e segundo a modalidade ali possível de ser levada a termo.
Saindo aquele, todo cheio de graça e feliz, colocou ali o médico uma senhora, que havendo mentalizado a falta de uma perna, vinha se arrastando e deixando as marcas de sangue pelo chão. Fora acidentada de trem e não sabia de sua desencarnação; estava clamando por socorro, com medo de morrer, mesmo depois de haver deixado o seu corpo físico. Também ela foi encaminhada, e com as pernas em perfeito estado, graças ao trabalho mediúnico.
Eles, os encarnados, encerraram a sessão; e deste lado começaram, ali dentro mesmo, alguns serviços de cooperação, pois cada um dos presentes foi registrado minuciosamente, a fim de ser focalizado pelo mundo espiritual, para efeito de assistência, no intuito de levar avante o programa humanitário. É que o mundo espiritual, acompanhando como soe acompanhar, a todos os movimentos humanos, mandava o seu socorro, criando uma falange de servidores invisíveis.
Dali saindo, fomos procurar a jovem ex-protestante; ela estava concentrada e fazia oração. O Mensageiro atuou sobre a sua mão, mas não pode movimentá-la, tendo atuado então sobre a mente, obrigando-a cair em transe. Ele escreveu e, entre outras coisas, disse que o discípulo ali estava, em espírito. Quando ela voltou a si, perguntou:
– O discípulo não pode escrever algumas palavras?
O Mensageiro atuou de novo e disse que iria auxiliá-lo. De fato, colocou o rapaz na posição de escrever, dizendo que o fizesse, como se ele mesmo estivesse escrevendo.
– Faça de conta que a cabeça dela e o braço sejam seus. – disse ele.
– Que devo dizer? – perguntou o discípulo.
– Isso é consigo. – respondeu o Mensageiro.
E o discípulo, atuando sobre ela através da mente, escreveu:
– Estou presente, gentil companheira, para notar o quanto você é nobre e aureolada de luz! Vista daqui, parece um anjo feito prisioneiro da carne, amarrado e tolhido. Porém, um anjo muito bonito, cheio de graça e de verdade.
Fomos embora, fomos procurar o jovem sírio. Ele estava fazendo refeição, motivo por que o deixamos, sem tocá-lo.
E foi assim que lidamos, naquele domingo formoso, cheio de sol e de esplendor espiritual. Antes de mais nada, um pontinho no tempo, uma fração infinitesimal da marcha evolutiva do Planeta. Porque, para nós, o que tudo vale é a finalidade, é o natural objetivo do mundo e de suas chamadas criaturas. E no dia em que os encarnados, em sua maioria, reconhecerem que a ordem social humana só será feliz, tanto quanto puder assimilar e viver paralela à Ordem Divina, nesse dia haverá mais fartura para os corpos e mais luz para os espíritos!


Capítulo VI

A uma idéia chave chegaram todos os Grandes Iniciados da antigüidade: que Deus em Si é ESTÁTICO, enquanto que, como na chamada Criação, Se apresenta DINÂMICO. E que deste dialetismo, desta ambivalência, surte todo o movimento, toda a evolução do que se chama Criação ou relatividade. Ele, o Primeiro Estado, engendra e confere valores em potencial; aquilo que é Emanação, ou que foi por Ele e n’Ele mesmo engendrado, tem por obrigação evoluir. A matéria obedece ao plano do espírito, é obrigada a ser e a servir passivamente; mas o espírito, a mônada espiritual, desde que surja na esfera da razão, do conhecimento de si e da finalidade que lhe cumpre atingir, tem por obrigação conduzir o seu próprio destino.
Portanto, acima de discussões teológicas, importa reconhecer que o livre arbítrio humano, nem pode deixar de ser relativo nem pode deixar de ser usado. É imprescindível conhecer e pôr em uso ambas as realidades, para se chegar o quanto antes ao ponto final da escalada, que é o grau crístico.
Esta idéia chave data do Védico-Hermetismo, tendo encontrado em Pitágoras o seu maior expoente. E se o Cristianismo não tivesse sido corrompido pelo Império Romano no quarto século, por certo o cultivo da Moral, do Amor e da Revelação teria feito o seu imenso e natural trabalho de harmonização, complementação e extensão sobre toda a Humanidade.
Porque o Céu nada fez jamais por acaso, e sim levou sempre e levará o movimento do Cosmo, à vida dos mundos e das humanidades, através de programas absolutamente ordenados e coordenados.
Reconhecendo esta realidade, porque foram sempre os Grandes Reveladores grandes espíritos e grandes médiuns, chegaram à conclusão que, vindo a centelha a se conhecer perfeitamente, por certo teria que se tornar conhecedora do Programa Universal. Viria a dizer, como disse Hermes, que em essência tudo é igual, tanto o interior como o exterior!
E o Cristo, o Modelo Total, tanto da matéria evoluída como do espírito divinizado, veio referendar o que já era realmente VERDADE CONHECIDA, acrescentando ainda os dois fatos mais importantes da história planetária – resumir em Si mesmo o Programa Total e tornar o Conhecimento da Verdade o mais generalizado possível.
Antes do Cristo, prevalecia um pensamento-chave: “CONHECE-TE A TI MESMO E CONHECERÁS O UNIVERSO E OS DEUSES”.
Fica entendido que, por deuses, eram tidos os espíritos Condutores ou Mestres e não outras tantas Divindades; porque o Védico-Hermetismo foi e é absolutamente monista! O que não for, não é Védico-Hermetismo, é invenção de homens! E quanto a Pitágoras, também foi absolutamente monista.
Com o Cristo e depois do Cristo, o pensamento-chave é este: “ELE MESMO, O CRISTO, REPRESENTA O COMEÇO E O FIM; A ORIGEM, O PROCESSO EVOLUTIVO E A FINALIDADE”.
Portanto, conhecer a significação do Cristo é conhecer o Universo e os deuses, de modo o mais perfeito possível. Porque os outros, anteriores a Ele, falaram da VERDADE; mas Ele a viveu e diante do mundo mostrou-Se como sendo a própria VERDADE.
Daqui deriva, da inteligência desta questão, discernir entre o que é vir a conhecer o Cristianismo e aquilo que os homens andaram inventando, em nome do Cristo, para impor como se fosse Cristianismo. Ninguém faça confusão, porque diante da Lei não existe coisa alguma que justifique aquilo que não é realidade, que é mistifório, que é obra de conchavismos humanos.
Pelo Divino Exemplo, oferecido pelo Pai Divino, através do Seu Ungido, cada um pode saber que é um Cristo em elaboração; pelo menos, deve reconhecer que o Cristianismo é um programa, que traz dentro de si e ao qual deve intransferível obrigação. Poderá adiar, retardar, mas não poderá jamais transferir de si o programa de autocristificação!
Quem leu e entendeu o que temos dito, compreenderá perfeitamente o fato seguinte, a história de um filho de Deus, aqui da Terra.
Teonildo foi um bispo romano e viveu como homem bom, depois de ter sido  bom conselheiro de um rei, em vida anterior. Porque, lá para trás, nada havia feito, ainda, digno de registração superior. E digo, para seu governo, que chamamos de registração superior ao trabalho individual que mais encerre responsabilidade coletiva.
Fica bem explicado, portanto, que muito mais terá a ganhar ou a perder, todo aquele que tanto mais venha a desempenhar função coletiva. Se fizer tudo conforme a Ordem Divina, receberá a recompensa de grande colaborador do Plano Superior; e se fizer o contrário, receberá a recompensa de grande errado!
Vejam, pois, como o uso do livre arbítrio é obrigatório, sendo conseqüente a responsabilidade. E a conclusão é lógica, pois daí resulta conhecer e reconhecer que temos, em nós mesmos, pela Vontade de Deus, o direito de construir nosso destino.
Teonildo vivera para o seu trabalho clerical e para as suas obras de homem dedicado ao bem do próximo. Como aprendesse conforme a Igreja Romana, aquilo resumia para ele a verdade cristã. Nada mais sabia nem queria saber, porque o mais tudo eram erros humanos.
E saiu do mundo com as suas roupas de bispo e a sua carga feliz de homem devotado ao bem do próximo. E, também, com os seus conceitos e preconceitos.
Fora recolhido nos portais da morte e fora encaminhado ao local devido, onde faria a sua necessária ambientação. E na hora certa fizera a leitura do seu relatório, vindo a saber que a vida humana é registrada, pelos funcionários do plano espiritual, saibam ou não os encarnados, gostem ou não, estejam ou não de acordo. Ficou sabendo, portanto, que as opiniões humanas, favoráveis ou desfavoráveis, nada podem contra as leis fundamentais do Universo!
Dias depois, sempre na trilha informativa, foi-lhe dado conhecer o diagrama do Planeta, através do que ficou ele sabendo que a crosta é envolvida de faixas ou Céus superpostos e em forma concêntrica. Ficou sabendo, também, que ele estava habitando o terceiro Céu, numa de suas subdivisões.
E foi, então, que começaram a se movimentar as suas idéias, vindo ele a se inquietar, a se indispor com a Ordem Divina, pelo fato de não herdar pelo menos o sétimo Céu, o último na escala planetária, pois o oitavo, ou chamado de mais um, já não pertence ao Planeta, já é Céu Crístico, já está fora das injunções planetárias, já não faz parte do reino deste mundo.
Digamos, entretanto, que os chefes estavam de olho, esperando que ele mesmo falasse, para lhe darem as devidas explicações. E como ele dera a entender isso, de modo bastante político, ou indiretamente, falou-lhe o assistente do chefe geral, com inteira liberalidade:
– Teonildo, por aqui franqueza é virtude, é galardão, porque reflete o grau de simplicidade da criatura. E para lembrar-lhe uma das lições do Cristo, simplicidade é para os evoluídos; é, realmente, a soma das conquistas íntimas, o penhor de todo o trabalho evolutivo, porque para ser simples e humilde ao máximo, cumpre ser evoluído ao máximo. Fale, portanto, mais com o coração e menos com o intelecto, tendo por certo que aqui estamos para lhe dar as instruções que estejam ao nosso alcance.
Foi então que Teonildo confidenciou-lhe:
– Confesso, bondoso instrutor, que estou confuso... Li tudo sobre as minhas vidas e sou obrigado a reconhecer a lei da reencarnação... Da responsabilidade e da evolução...
O instrutor completou:
– Estas são as leis mínimas – existência, movimentação, evolução, responsabilidade, reencarnação, comunicação e habitação universal.
– E as máximas? – interrogou o bispo.
O instrutor respondeu-lhe, atencioso:
– Origem, Processo Evolutivo e Finalidade. E, se quiser entender, no Cristo o programa está implícito.
O bispo ficou quieto, por não entender a linguagem da máxima síntese; e o instrutor perguntou-lhe, amigável:
– Por que não fala do que deseja, realmente? Eu sei que outro é o problema que o magoa.
O bispo constrangeu-se, fez um esgar e queixou-se:
– Eu pensava que iria para lugar bem mais elevado... Estou no terceiro Céu, apesar de ter sido um sacerdote e de não ter feito muitas coisas que outros bispos fazem...
O instrutor falou-lhe, magnânimo:
– Teonildo, para aqui vêm filhos de Deus que esposam as mais diversas crenças, que se confiam aos mais controversos conceitos de fé. A Lei, porém, não se importa com as crenças nem com os conceitos de fé, mas sim com a quantidade de AMOR e de SABEDORIA com que o filho de Deus por aqui aporte. Se quiser levar em conta esta verdade básica, e o fizer pelo viso do Processo Evolutivo, há de ver que nada há para ser discutido, porque tudo está DIVINAMENTE CERTO.
Como todos plantam para o mundo espiritual, certos de que sua fé é a única verdadeira e salvadora, ele também fez como os outros, também achou que estava em situação de preferência, alvitrando:
– Mas eu fui sacerdote cristão!... O Cristo é o Divino Mestre!...
Sorriu o instrutor, havendo repetido:
– O Cristo é o Divino Exemplo da existência, da movimentação, da evolução, da responsabilidade, da reencarnação, da comunicação e da habitabilidade universal; e se bem quiser entender, em Cristo o sacerdócio é à base de Moral, de Amor e de Revelação, nada tendo que ver com clerezias inventadas por homens. A carne toda foi, em Cristo, feita um só rebanho!
Algum tanto irritado, perguntou o bispo:
– E a minha vida, toda ela devotada ao bem do próximo?...
Deu-lhe o instrutor a resposta:
– Por isso mesmo veio parar aqui; do contrário, iria parar onde estão outros bispos, em lugares bem menos interessantes. Além do mais, todos devem ter em que aplicar a vida; e o irmão teve o seu meio de vida, bem farto e garantido, bastante festejado pelo mundo. Não se queixe, antes dê-se por feliz, por ter sido um homem bom, que de sua fartura extraiu um pouco de bem para o seu próximo, que de sua autoridade e galardões do mundo não se prevaleceu para fazer mal a alguém. É justo o que tem, irmão, de nada devendo queixar-se. Trate de evoluir, procure retornar ao mundo carnal para executar, não para blasfemar contra as leis do Emanador. Tenha em mente que o Cristianismo é Moral, Amor e Revelação, e que o irmão pertenceu a uma escola religiosa bastante errada, verdadeiramente aquela que constitui a corrupção do Cristianismo, a abolição do Batismo de Espírito.
– Eu pensava de outro modo!... – gemeu o bispo, tristemente.
O instrutor falou-lhe, simplesmente:
– Muitos são os que aqui aportam nas mesmas condições... Cada qual, infelizmente, pensa que tem razão para ser mais do que o seu próximo, pelo fato de ter o seu sectarismo. Entretanto, como já lhe disse, perante Deus é mais aquele que mais ama e que de fato mais sabe, porque sem Amor e sem Conhecimento não pode haver Autoridade. O Amor e o Conhecimento fazem compreender a necessidade de trabalho bom em todo e qualquer setor de atividade. Porque todo e qualquer setor de atividade, quando atendido em harmonia com a Grande Lei de Harmonia, é sacerdócio cristão, é serviço celestial.
O bispo arregalou os olhos e perguntou:
– Para que servem os cleros, então?...
O instrutor respondeu, espirituoso:
– Bispo, eu não lhe responderei diretamente, para lhe permitir o devido discernimento, que muito importa, pois os filhos de Deus devem chegar a conhecer e a praticar as leis. Porquanto, vá procurando entender, os filhos devem vir a ser os agentes do Pai Divino, os movimentadores das leis, em harmonia com a Lei Geral de Equilíbrio, de quem os Dez Mandamentos são o reflexo intelectual. E, assim sendo, onde estiverem os três sentidos da Lei de Deus, que são a Moral, o Amor e a Revelação, ali não devem existir os que fazem da fé meio de vida, e, muito menos ainda, os que obram simulações, fingimentos, ritualismos, idolatrias, etc. É isso, aquilo que o Espiritismo torna a ensinar, como Doutrina Integral que é, por ser a reposição das coisas no lugar, consoante a promessa de Jesus.
Havendo feito um lapso, dele se valeu o bispo, para dizer:
– O problema é muito vasto e fundamental!
E o instrutor completou a resposta:
– Para ir ao plano carnal e fundar mais uma clerezia idólatra e comercialista, não seria necessário ser o Cristo Planetário... De coisas erradas e ridículas o mundo terráqueo já estava cheio, não acha?
O bispo calou-se com ar patético, perguntando:
– Então, bondoso instrutor, é preciso recomeçar de novo?!...
O instrutor respondeu-lhe:
– O Espiritismo já é o restabelecimento do Caminho do Senhor, tendo base, como já mencionei, nos três sentidos da Lei de Deus, de quem o Cristo foi o cumpridor integral. Todavia, importa esperar que se complete, pois o trabalho de restauração, que começou com Wicliff, Huss, Lutero e Giordano Bruno, teve sua fase de codificação com a volta de Huss na personalidade de Kardec, que por sua vez não deixou a obra completa, devendo voltar de novo, para levá-la a termo.
Abanando a cabeça, murmurou o bispo:
– E o Vaticano os julgou a todos, heréticos!...
O instrutor sentenciou, prontamente:
– E não foram os padres levitas, os que massacraram os Profetas, tendo por fim crucificado o Cristo? Quando a idolatria mercenarizada se eleva à condição de clerezia organizada e oficializada, por certo dali partem todos os crimes imagináveis. Roma criou a antítese da Moral, do Amor e da Revelação, ao liquidar no tempo de Constantino com o Caminho do Senhor.
O bispo encolheu os ombros, tendo balbuciado:
– Afinal, não estou mal... Se assim é, estou até bastante bem!...
E a seguir perguntou, aproveitando o silêncio oferecido pelo instrutor:
– E a Humanidade pode compreender uma Doutrina Integral?
O instrutor deu-lhe a resposta:
– Para a Diretoria Planetária, o problema é fornecer os elementos informativos; e para os filhos de Deus lotados na Terra, o problema é ir realizando o Céu Interior, pelo uso dos elementos fornecidos pela Diretoria Planetária. Porque em todos os tempos e mundos, Deus tudo oferece em estado potencial, ficando a obrigação realizadora a cargo de cada filho. A Doutrina Integral é apenas escola, é fonte instrutiva e que adverte e consola; porém quanto a realizar, isso cumpre a cada qual, pois aquele que despreza a sua cruz é como quem despreza o Reino do Céu.
– Que maravilhosa expressão! – exclamou o bispo, satisfeito.
E o instrutor completou:
– É a escola da vida, tal e qual como Jesus a demonstrou; porque Ele foi apenas o Modelo Divino apresentado pelo Pai, mas não inventor ou criador de coisa alguma. Deu o devido exemplo, derramou do Espírito sobre a carne e convidou cada qual no sentido de tomar a cruz do seu dever evolutivo. Ele não inventou a Doutrina, Ele não é o responsável pelas liberdades individuais de Seus tutelados. A cada um cumpre o dever de se responsabilizar pelos seus atos. E se alguém não o quiser fazer, isso não modifica a Ordem Divina, isso não altera o Programa Cósmico; esse alguém entrará na linha à custa de sofrimentos!
– Programa Cósmico! Programa Cósmico! – balbuciou o bispo, enigmático.
O instrutor informou-o:
– Não há Cristo sem Lei; e a Lei é Universal ou Cósmica. O Modelo, portanto, é acima do Reino dos mundos, é superior às formas, porque ao espírito cumpre ser uno com o Pai, ou Espírito e Verdade. E o Espiritismo atingirá a condição de Doutrina Integral ou Cósmica, porque é a Doutrina do Espírito da Verdade, que é acima de relativismos. Entenda, portanto, que estamos trabalhando no meio, mas com as vistas voltadas para o glorioso fim do espírito, que é a entrada no grau crístico, que é a libertação total e final!
Quase basbaque, perguntou o bispo:
– E os espíritas compreendem assim?!...
– Por que pergunta isso? – disse-lhe o instrutor.
O bispo encolheu os ombros, franziu o cenho e monologou:
– Conheci... Conheci muitos... Não reparei bem... Eu duvido, duvido...
O instrutor falou-lhe, reconfortante:
– A Humanidade é caravana em marcha  no seio do processo evolutivo, cumprindo reconhecer que é toda cheia de altos e baixos, quando focalizada através de seus componentes individuais. Podem fracassar os indivíduos, mas não fracassará jamais a Humanidade!
– Isso é indiscutível! – exclamou o bispo.
O instrutor sorriu e comentou:
– Já diziam os Grandes Iniciados, os grandes precursores do Cristo, que ao conhecer alguém a Ciência dos Mistérios, que assim se chamava o Conhecimento da Revelação, importava isso em conhecer a Origem, o Processo Evolutivo e a Finalidade da vida. Observe, portanto, que frutos há de produzir no mundo, a restauração do Caminho do Senhor, quando tenha sido estendida sobre Jerusalém, e por toda a Judéia e Samaria, e até aos extremos da Terra!
O bispo fitou-o com indagação, mas nada falou; e o instrutor prosseguiu:
– A Humanidade irá conhecer e cultivar a Doutrina transmitida pelo Cristo; e ela, que tem fundamento nos três sentidos da Lei de Deus, fará conhecer o Cristo. E teremos, assim, a teologia perfeita, sintetizada no Divino Modelo, que é a expressão do espírito divinizado e da matéria sublimada. O meu bondoso irmão fará um curso de aprendizados, conforme a Excelsa Doutrina, e após irá trabalhar junto aos encarnados, até chegar a hora de reencarnar e cumprir devidamente o mandato. Lembre-se, pois, que do perfeito discípulo sai o digno mestre.
E ao sair, disse ao bispo, rematando a conversação:
– Aprenda a viver em termos de infinidade, para saber dispor do que é particularidade! Exista no Plano Cósmico, para bem agir no plano terráqueo! Faça o seu pacto com a Eternidade, para usufruir todos os benefícios que os segundos podem comportar! Enriqueça o cérebro e o coração, porque o Reino do Céu é questão de Amor e de Sabedoria, nunca porém de rótulos e de aparências!


Capítulo VII

Do discípulo sai o mestre, assim como do pequenino sai o adulto; pouca gente, entretanto, sabe aquilatar a importância do devido preparo. Há na Terra, para falar em termos de particularidade, muito desprezo pelas mais prementes necessidades, dentre as quais se encontram a criança e o ensino da Verdade.
As religiões clericais forjam fregueses para mais tarde, quando lidam com a massa amolgável que é a criança. E como os pais foram já filhos do vício idólatra, escravos da compra e da venda de simulacros, assim acham que seus filhos devem vir a ser. É a inconsciência em seu tremendo e voraz círculo vicioso!
Disse Jesus aos clérigos, Seus contemporâneos, que eles lutavam para fazer prosélitos, para terem a quem encaminhar aos infernos! É o crime da aparência, é o suborno do rótulo, é o vício elevado à categoria de virtude!
Já foi dito que as falsas crenças valem por alimentos deteriorados, que aparentando nutrir, nada mais fazem do que envenenar. E é muito fácil reconhecer isso, quando se observa daqui, aquilo que vem daí, todos os dias e em grande escala. Porque chegam dezenas de milhares, armados de coroas alguns e desprovidos de tudo outros tantos.
Todos foram filhos, todos foram pequeninos, todos aprenderam alguma coisa. E o resultado da colheita representa a espécie de atenção havida na hora da semeadura. Ressalvando os casos cármicos, os desvios por força de lastros e alguns poucos acontecimentos anômalos, o mais tudo, em matéria de materialismos, animalismos e brutalidades, deriva da má educação recebida desde o berço.
Perguntando aos pais, se a educação espiritual dos filhos está sendo conforme a Lei de Deus, eles dirão, talvez, que não conhecem a Lei de Deus. E se perguntarmos da religião que pretendem ter, dizem que de fato têm religião. E com isso fica explicado que as religiões andam fora da Lei de Deus, assim obrigando a que vivam os seus crentes.
Não se irá dizer que o homem-padrão possa viver ou executar integralmente a Lei de Deus; sabemos que uma vez, na história da Terra, veio Aquele que afirmou, iria dar-lhe integral cumprimento. Portanto, vivê-la integralmente é para quem tenha tamanho hierárquico para fazê-lo. Haja, pois, consideração pela fraqueza humana! Haja, pois, contemplação pelos desvios de certa monta!
Mas, perguntemos, é lícito que religiões organizadas ensinem a trair a Lei? É justo que, em nome da fé, aliem-se a Estados corruptos e façam-se empreiteiras de programas idólatras e blasfemos?
Em um mundo inferior como a Terra, os erros podem ser organizados, oficializados e garantidos pelos governos naturalmente inferiores, isto é, montados por homens inferiores. Tudo isso é normal, porque o trabalho evolutivo deve representar o instrumento de progresso; é vivendo e consertando erros que se termina um dia entrando no oitavo Céu!
Todavia, é muito penoso ver que as religiões nada entendem da Lei de Deus, ao pretenderem ensinar os filhos de Deus, por medidas sectárias, ou através de programas formais, absolutamente exteriores ao conhecimento e à prática das leis regentes do Cosmo. Esquecem que perante a Lei, que é o Verdadeiro Evangelho, não existem religiões nem sectarismos recomendados! Que ela concita à Moral social, como instrumento de equilíbrio e harmonização; que ela concita ao Amor, como instrumento de divinização; e que concita à Revelação, como instrumento de advertência, ilustração e consolo.
E nós vemos, aqui, que a Lei continua integral, tanto quanto vemos que as religiões vivem em pleno regime de fracasso!
Porque os bondosos herdam os lugares de paz e de bem, independentemente de suas crenças ou descrenças! Porque os maldosos herdam os lugares de trevas e de dor, mesmo que apresentando aqui os títulos religiosos do mundo!
E que significa isso? Não poderia significar outra coisa, sem ser que a Lei de Deus é acima de paixões mundanas, mesmo que elas tomem o aspecto de religião. Significa, sim, senhores, que se algum outro Cristo tiver que um dia reviver na Terra tamanha apoteose, terá que reviver aquela afirmativa: “Da Lei nem um só ceitil passará, sem que tudo se cumpra”.
Enquanto isso, Moral, Amor e Revelação, ficam para serem vividos por aqueles que são tidos como heréticos!...
Enquanto isso, nós vamos por aqui trazendo todos, enquanto a Lei vai separando, selecionando!...
Enquanto isso, aqueles que se acreditam primeiros ficam por último e aqueles que se julgam últimos, marcham na dianteira nos rumos da paz e do bem!...
Sim, é assim que vive a ocorrer, desde quando a Lei de Deus foi pela primeira vez transmitida, nos longes dias da história humana. E sabe Deus até quando assim será, dado que os homens gostam muito de suas próprias invenções, tanto quando desprezam os mandamentos de Deus.
E na retorta dos tempos, surge o renovo, retorna o Divino Mestre através da Excelsa Doutrina. Que acontece, então? Acontece, apenas, que a Doutrina afirma e confirma o Cristo, enquanto que o Cristo será a eterna confirmação da Lei!
Homens, filhos do Pai Divino! Terrícolas, irmãos da imensidade cósmica! É simples a Lei para ser entendida, assim como é manso, meigo e humilde o Mestre a ser imitado! Abandonem os conchavos sinédricos, deixem de parte os rituais formalistas de todas as súcias levíticas, não se deixem enganar pelos rótulos nem pelas tiaras de qualquer programa de homens! Pelo contrário, atendam à Lei, que na Lei estarão assimilando o Cristo, que na assimilação do Cristo estarão a engendrar o seu próprio Cristo interno!
Tal foi o discurso feito, mais ou menos, pelo Mensageiro, ao ocupar uma grande oportunidade. É que havia sido morto um jovem de vinte e um anos, filho de uma senhora viúva, ao entrar para dentro de uma residência, para roubar. E como fora ordenado, durante a noite de vigília do cadáver, deviam ser feitas algumas perorações, com a presença de muitos espíritos recém-desencarnados, além de centenas de aprendizes da Excelsa Doutrina.
Os departamentos trabalharam e a casa foi cheia algumas dezenas de vezes; e para cada turma um instrutor fez preleção, lembrando várias facetas da Lei de Deus e os muitos modos que os homens aplicam, para não cumpri-las. O nosso pregador foi o Mensageiro, porque a sua turma é sempre a mais adiantada, aquela que mais perto se encontra do conceito unitário, da realidade monística, já conseguindo assimilar o Cristo como Divino Modelo Cósmico, acima de mundos e de formas.
Vamos, então, encarar o acontecimento, porém enquadrado na cosmicidade; vamos ver como nasceu e viveu o pobre e infeliz irmão, ao rés do chão terrícola, porém jamais fora do concerto universal, porque sempre universal será a Grande Lei de Harmonia.
Por incrível que pareça, o seu nome era e é Jesuíno! Nascera de uma união adulterina e fora um dia raptado pelo pai, tomando paradeiro de todos ignorado; e ao completar nove anos, tendo morrido o marido da mãe infiel, veio ele com o seu pai e formaram família.
Sucede, porém, que o pai era homem de maus costumes, dizendo que roubava para cobrar da sociedade o que ela lhe devia. Ele sabia como explicar a coisa, assim como todos os errados sabem pretender fazê-lo. Apenas, jamais a Lei perguntará a quem quer que seja, sobre o seu ponto de vista! Com a Lei ninguém poderá discutir e nem terçar luta judiciária!
A mãe, que já não andava bem desde muito, com aquilo tudo dera para trilhar o caminho do roubo, que antes não o fazia. E o menino, crescendo em tal ambiente, é claro que tendeu para o mesmo triste caminho.
Uma idéia neles vingava, que julgavam ser pelo menos em parte dirimente, senão de todo salvadora – eram religiosos a seu modo e gosto. Ofereciam suas quitandas diante dos altares, distribuíam esmolas a alguns pobres e nas festas concorriam com o que achavam de concorrer. Tudo bastante terrícola, tudo cristão à maneira do Cristianismo que os homens inventaram, para solaparem o do Cristo!
Eis que vai descendo por uma corda, para abrir a porta da casa a ser roubada, a fim de que seu pai e mais um colega entrassem, quando um tiro ecoou e um corpo tombou pesadamente no solo! Era Jesuíno, que tinha ali o seu modo particular de entrar em contato com a lei geral da desencarnação.
O mundo fechou em parte o seu capítulo, enquanto que o plano astral teve o seu novo capítulo a fornecer. Jesuíno morreu! Jesuíno continuou a viver!
E a Lei, acionando a Justiça, fê-lo mergulhar na treva e na dor, além de marcá-lo para dias de expiação e de provas no porvir. Porque a Força Equilibradora age de dentro para fora, não faz perguntas e nem se importa com possíveis discussões teóricas. Isso foi ensinado desde remotos dias, quando os Grandes Iniciados preparavam condições, no seio da Humanidade, para Aquele que viria a Se constituir o Modelo Integral, a Iniciação Completa!
Quem, entretanto, está disposto a conhecer a Verdade? Quem, todavia, deseja penetrar a inteligência do Cristo? Não é certo que, até mesmo os portadores de melhor boa vontade, por causa do muito pouco que sabem e da muita ignorância que carreiam, transformam a Doutrina Integral, o Cristianismo do Cristo, em medida de idolatrias, de fanatismos, de perseguições e de morte?
E quando o corpo de Jesuíno errava caminho a fim de ser enterrado, fomos todos dali a fora, somente ficando aqueles que deviam cumprir a ordem, pois o Céu não falta com o seu dever, pelo fato de cometerem os homens os seus erros. E lá, bem distante dos complexos humanos, perguntou alguém ao Mensageiro:
– Em um só acontecimento trágico, encontraram os mentores elementos de sobra, para evidenciar a transgressão de todos os Mandamentos da Lei de Deus. Isto para nós, porquanto aos encarnados nada foi dito. Como seria possível fazer, para que eles também tivessem os mesmos ensinos, em face dos acontecimentos funestos?
O Mensageiro abanou a cabeça e respondeu:
– O senhor desconhece o trabalho do Consolador?
O tal irmão alegou:
– Eu era indiferente aos credos religiosos...
– Eu também sou indiferente aos credos religiosos, mas não sou indiferente à Verdade! Vim da carne como cultivador da Moral, do Amor e da Revelação, que são os bastiões da Excelsa Doutrina entregue pelo Cristo aos homens em geral. Se isso foi possível a mim, não pode ser impossível aos demais filhos de Deus, porque eu não fui e não sou especial. Tome, pois, a trilha da Verdade, a fim de abandonar as trilhas supersticiosas que os homens inventaram; porque a libertação não virá com mostras exteriores, conforme ficou dito pelo Cristo.
O tal irmão calou-se e nós fomos a caminho de um outro serviço. Entre nós houve conversação, tendo dito o Mensageiro:
– Os pais, na Terra, pensam que tudo implica em dar aos filhos aqueles elementos indispensáveis à vida física; abandonam os filhos, como eles mesmos foram abandonados pelos seus pais, ao crivo da ignorância espiritual. E quando pensam que criaram um homem de verdade, nada mais fizeram do que uma vítima das trevas! A roupagem do espírito é desprezada! O pão do Céu não é lembrado! A liberdade da alma, no após morte, fica em regime de esquecimento!
Um companheiro disse, entristecido:
– Muita gente continua a morrer gorda por fora e tísica por dentro!...
E enquanto a caravana marchava, a conversação demandava os mais interessantes ângulos da vida e das responsabilidades humanas. Chegando a hora de servir a mais um irmão, fomos saber que ele se metera em uma das facções protestantes, vindo a se fanatizar primeiro e a se esquizofrenar em seguida. Elemento sem base cultural de espécie alguma, enveredara pela idéia fixa, até perder a razão e ser recolhido a um manicômio, onde viera a falecer, onde ficara a exclamar:
– Jesus é o único Salvador!... Quem não for por Jesus, não irá por mais ninguém!... Viva Jesus!... Aleluia!... Aleluia!...
O Mensageiro comentou, tristemente:
– Como é complexo o homem, por sua capacidade de fanatismo! Isto é, por sua falta de senso analítico. Lá atrás, tendo Jesus escolhido primeiramente doze homens, dentre eles um traiu por injunção política, outro negou na hora do perigo e ainda outro precisou apalpá-Lo, a fim de acreditar na ressurreição do espírito! A seguir, em nome de Deus, da Verdade e do Cristo que a simboliza, deram os homens fim ao Caminho do Senhor, inventando o catolicismo, que foi em todos os tempos a maior fábrica de erros, desmandos e crimes! A seguir, chegando a hora da reposição das coisas no lugar, e devendo obedecer a processo evolutivo, foram os homens ficando nas etapas, foram estagnando nos degraus, dando em fanatismos, não sabendo que Wicliff, Huss, Lutero, Giordano Bruno, Kardec, etc, foram fazendo evoluir a restauração, trabalharam em linha reta a bem do retorno do Batismo de Espírito ao seio da Humanidade, não estando o programa ainda completo, porque Kardec deixou a Codificação para ser completada, conforme a ordem da Diretoria Planetária, que lhe fora transmitida.
E depois de observar o rapaz, acrescentou:
– Que pena! Uns ficam dementes por causa do mundo, outros ficam dementes por causa do Céu! E vamos dizer a essa gente que a Lei não admite desequilíbrios, a pretexto qualquer, por motivo algum, porque a Verdade é por si mesma Verdade, não necessitando de fanatismos quaisquer!
A seguir, indo ao rapaz, o Mensageiro falou-lhe:
– Joel, vamos sair daqui? Vamos para um lugar melhor?
Joel respondeu, consoante a sua fixidez mental:
– O senhor está com Jesus?!...
– Estou! – respondeu-lhe o Mensageiro, inteligente.
Joel abraçou-o, beijou-o, fez-lhe muita festa. E olhando para nós outros, cinco outros componentes da caravana, perguntou desconfiado:
– Vocês são do mundo?... Estão com Satanás?...
O Mensageiro disse que éramos companheiros e o homem veio nos abraçar e beijar. E dali partimos, entregando-o num dos nossos hospitais, onde imediatamente foi sujeito a profundo sono, por força de medicação apropriada.
Joel foi zelosamente tratado, vindo a merecer, noites a fio, cargas de fluidos curadores, fornecidos pelos três jovens encarnados. Fora preciso fazer a permuta de fluidos, a troca de elementos eletromagnéticos, em estado de dormência, até poder ser acordado, até vir a reconhecer o estado.
Quando acordado, e depois de alguns dias de descanso, foi-lhe dito que estava num dos Céus da Terra, porque havia falecido no mundo carnal. E como o ambiente era bastante feliz, embora sendo uma das faixas mais próximas da crosta, o rapaz aceitou de pronto a palavra do Mensageiro, dizendo:
– Não sei do que tenha acontecido, mas sei que me sinto muito feliz... Lembro-me, também, que eu era crente...
E olhando ao redor com admiração, perguntou:
– Isto é o Céu?... Onde está Jesus?...
O Mensageiro, que tinha nas mãos o diagrama do Planeta, passou o livro e disse-lhe:
– Vá lendo isto, vá observando os desenhos... Dentro de cinco dias voltaremos, para conversar de novo. Todavia, Joel, tenha em mente que a Verdade Total é bem mais vasta do que você pensa! Portanto, se se tem em conta de sábio, desconfie da sua sabedoria; e se se tem em conta de santo, desconfie da sua santidade. É capaz de compreender o que lhe estou a dizer?
Joel disse que sim, mas nada falou comentando, embora tivesse passado pela sua mente uma forte vontade de arrazoar, de afirmar qualquer coisa.
Ao cabo de cinco dias, tudo lhe foi revelado, inclusive que se fizera esquizofrênico, vindo a falecer num manicômio, Também lhe disseram dos três jovens encarnados que lhe forneceram fluidos humanos eletromagnetizados, ou curadores, a fim de ele, Joel, recuperar mais depressa o equilíbrio, a sanidade mental.
– São crentes?... – perguntou Joel, algo duvidoso.
O Mensageiro respondeu:
– Cultivadores da Moral, do Amor e da Revelação, sem o que não se poderá jamais ser verdadeiro cristão. O Cristo é, como Divino Modelo, a expressão viva de tudo isso. E se você puder entender, isso tudo resume a Excelsa Doutrina transmitida pelo Cristo, para todos os tempos, até que a Terra venha a ser transformar, por evolução, naquela Jerusalém sem portas de que fala o Apocalipse.
Ele ficou a meditar, e o Mensageiro acrescentou, paternalmente:
– O Cristo de fora é Modelo, o Cristo de dentro é que deve ser modelado. Eu não sei quando a Humanidade irá reconhecer e procurar realizar isso, mas afirmo, por Ordem Divina, que vem por intermédio da Diretoria Planetária, que é assim a realidade, que dessa trilha ninguém poderá escapar, seja na Terra ou onde quer que seja! Porque Um é Deus, porque uma é a chamada Criação e porque uma é a Lei Fundamental que rege o Infinito.
A palavra do Mensageiro fazia estremecer o ambiente; e o rapaz, fitando-o com espanto, perguntou-lhe:
– Quem é o senhor?!... Algum anjo de Deus?!...
O Mensageiro falou-lhe, dizendo:
– Nós todos somos irmãos, nós todos somos anjos, porque os termos anjo, alma e espírito são equivalentes, na linguagem bíblica. O que devemos vir a ser, lembre-se, é outros tantos irmãos de Cristo, em estado de cristificação, de unos com o Pai Divino. Essa é a finalidade da vida, à qual se chega por evolução.
– Isso é muito complicado! – exclamou o rapaz.
E o Mensageiro respondeu-lhe:
– Também disseram isso a Jesus, tendo Ele respondido que para Deus nada existe de complicado. E assim o disse, porque sabia das leis que obrigam à evolução gradativa. Num repente ninguém aprenderia; mas através do Espaço, do Tempo e das vidas, todos virão a entender. Não tenha pressa, Joel, que o Bom Deus não é apressado.
Satisfeito, Joel balbuciou, estreme de agradecimento:
– Gosto muito de tudo isso!... Gosto muito dos senhores todos!...
O Mensageiro sorriu, comoveu-se todo, derramou uma lágrima e murmurou:
– A Sabedoria pode falhar, mas o Amor nunca falha... Joel, ainda não é possível, a você, conhecer outros rincões da Verdade; mas vá cultivando o quanto possa, desses nobres sentimentos, que o caminho se fará muito mais fácil.
Ali terminou a nossa tarefa, sendo Joel entregue a quem de direito, a fim de cursar aprendizados, a fim de forçar em si mesmo o processo evolutivo, para vir um dia a ser Puro e Sábio, uno ao Pai Divino, assim mesmo como o estamos nós fazendo, pois uma é a Lei que rege o Cosmo.


Capítulo VIII

Formoso pensamento este, que bem define o iniciado Platão: “Os homens chamaram Eros ao amor, por ele ter asas; os deuses denominaram-no Ptéros, pela virtude de que ele tem, de no-las dar”.
Por dois motivos registramos o pensamento platônico – o primeiro, porque cada homem representa um matiz de grau, na escala evolutiva da Humanidade inteira; e o segundo, porque os deuses ou espíritos, em suas manifestações, formavam a chave dos Mistérios, que era como os Grandes Iniciados chamavam aos ensinos da Revelação.
Já dissemos que, para haver o comparecimento no mundo, da Excelsa Doutrina assim exposta, em forma de Doutrina Codificada, estiveram reunidos o Cristo Planetário e os maiores Reveladores da Verdade que a Terra tem conhecido, havendo da parte do Divino Instrutor partido a ordem de fazê-lo. E assim ficou assegurado, que até estarem todos os informes em estado de medida completa, haveria sempre que necessário novos conclaves, a fim de serem tomadas as medidas de ordem, para irem sendo transmitidas as informações consecutivas.
Sendo assim, qualquer mente pode conceber que o Espiritismo Codificado por Kardec, conforme as informações dos Mentores que obedeciam ao Espírito da Verdade, sempre foi o Divino Instrumento de advertência, ilustração e consolo; sempre foi, embora se apresentando, ou sendo apresentado com outros nomes, o veículo de todos os informes, o transmissor da Lei de Deus e de todos os demais documentos instrutores da Humanidade.
É hábito, infelizmente, darem os homens feição exclusiva, caráter original e valor singular, a todas as facetas, a todos os trabalhos de reinformação, advindas no curso das eras, no seio das raças e dos povos. É que, bairristas ou nacionalistas, racistas ou sectaristas inveterados, nunca puderam admitir que fossem criaturas como todas as demais, simples filhos de Deus, iguais em Origem, Processo Evolutivo e Finalidade, a todos os habitantes do Cosmo. Pelo contrário, quiseram sempre ser especiais, principais, eleitos, etc. Um mundo, enfim, de presunçosos, julgando ter Deus por sua própria conta, açambarcado, controlado, mantido sob sete chaves.
O Espiritismo não é a Doutrina Integral pelo fato de ter sido apresentado em forma codificada; ele é a Doutrina Integral pelo fato de conter todos os elementos informativos na essência de si mesmo, na alma que encerra, na Revelação que lhe deu causa, no instrumento informativo de todos os tempos!
Começando com a grande reunião, onde Jesus ordenara haver início da restauração, veio subindo, veio evolvendo através de Wicliff, Huss, Lutero, Giordano Bruno, Kardec, etc. Cada qual fez o que fez, como engrenagem do mecanismo total, e o Espiritismo, a Síntese das Revelações, foi tomando a feição que ora apresenta, em meados do século vinte3, sem estar completo ainda.
Em virtude de ser a Síntese das Revelações, a soma de todos os ensinos vindos no curso das eras, e principalmente por ser a restauração do Cristianismo, devia ser bem mais estudado pelos homens em geral, e, também, muito menos sectarizado por aqueles que se acreditam bastante espíritas. De modo geral, um espírita não pode ser um ignorante de tudo aquilo que houve antes do Espiritismo existir; não tem cabimento algum de sê-lo, porque seus alicerces estão nos Grandes Iniciados, nas Grandes Revelações da antigüidade, além de estarem aqueles mesmos Grandes Mestres, na base de sua estrutura, na inteligência que lhe deu a condição de Doutrina Codificada.
Sabemos perfeitamente que os homens olham de baixo para cima, perdendo de vista, pelo brilho da realidade, a medida das justas proporções; mas sabemos, também, que nós olhamos de cima para baixo, tendo a visão do problema de modo integral, sem perder um ceitil da realidade.
Para os espíritas menos cultos, para aqueles que vivem na casca da Excelsa Doutrina, Espiritismo é um sectarismo a mais, apenas uma religião como outra qualquer, tendo um homem como fundador e meia dúzia de livros por alicerce. Graças a Deus, porém, nem todos os espíritas são do mesmo naipe, conseguindo ver na Doutrina Codificada o mesmo Caminho do Senhor, e, neste, o esplendor da Verdade, a essência da UNIDADE SAGRADA, a marca impassável do que é, porque sempre foi e jamais deixará de ser!
Nas alturas do mundo espiritual, bem longe do burburinho terrícola, acima, muito acima do seu sectarismo estreito e prejudicial, estuam as grandes almas que no painel da Humanidade semearam as Grandes Revelações, pelo fato de estar sendo feito o trabalho de síntese, a apresentação global da Verdade em forma de Doutrina Integral. São elas mesmas que trabalham, sob a direção do Homem-Deus, Daquele que representou a todas numa obra de conjunto, numa demonstração plena do mecanismo cósmico, contendo em si a Origem, o Processo Evolutivo e a Finalidade!
As doutrinas sempre andaram muito na frente da Humanidade, não é fato reconhecível a qualquer inteligência?
Não é fácil, igualmente, reconhecer que a Humanidade se movimenta lenta e pesadamente, no rumo do estado crístico?
Pois se assim tem sido, ninguém está aguardando, nestas paragens, que agora dê ela uma prova em contrário, agarrando a Excelsa Doutrina e metendo-a no cérebro e no coração, a fim de apressar a melhora do planeta. Sabemos nós, e muito bem, o que deve ocorrer, pois todos os mundos habitados têm, em suas respectivas Humanidades, aqueles poucos que marcham na vanguarda, o maior número que forma a massa central e aquele número que constitui a retaguarda. É impossível deixar de ser assim, pois a intercalação é necessária, para que uns forcem o trabalho evolutivo de outros.
E no seio da própria Doutrina, também se formam as três partes, na unidade do escalão. Os da vanguarda encaram de modo amplo e universal, tendo mesmo a idéia cósmica do movimento restaurador; o grande número fica no ramerrão sectário e um outro tanto fica entre o sim e o não, sem ter certeza do que é, sem saber de onde vem, onde está e para onde marcha, e, muito menos ainda, sem reconhecer que a Doutrina se fundamenta no Plano Cósmico, para onde fará questão de trasladar os filhos de Deus, situando-os acima do reino do mundo.
Foram os três jovens avisados, um dia, no sentido de se prepararem para uma grande imersão no Plano Superior. A ordem foi para que não comessem carne, para que não dissessem palavras menos convenientes, para que vivessem uns trinta dias em grande forma cristã, fazendo aos outros todo o bem possível, sem de leve imaginar que pudessem estar fazendo algum favor, alguma caridade.
E quando o tempo chegou, completados os dias, foram avisados na véspera, para que suas respectivas mentes pudessem ir trabalhando no sentido de assimilação, de sintonização vibratória, dispondo as microcélulas do corpo astral, sublimando a parte mais grosseira e, de modo geral, diafanizando o corpo astral pela intensificação mental.
Na noite seguinte, as duas grandes manifestações tiveram execução; a primeira foi uma demonstração da evolução da mônada espiritual, desde que começa, muito antes de habitar, por milhões de anos, a matéria inorgânica. Ela foi vista, através da aparelhagem, a se movimentar no seio do Cosmo, atravessando estados, fases, tempos, espaços, condições e situações. Ela foi vista como escrava da matéria, e, aos poucos, tornando-se senhora absoluta, até ser apresentada na figura do Homem-Deus, com a presença de Jesus, todo Luz, todo Poder, todo Glória!
Foi uma exposição muito singela, muito simples, de como inicia o espírito a sua marcha, e até onde deverá atingir, na esfera crística; entretanto, para dar a idéia do que foi a maravilhosa demonstração, nenhuma palavra poderia existir, nem conjunto algum de palavras. Cada qual saberá, quando atingir tal estado, ou quando puder antevê-lo, através de fenômeno idêntico. Não diremos coisa alguma sobre isto, porque não fomos postos aqui para julgar a quem quer que seja e sim para relatar os fatos. O caminho é livre, embora a caminhada deva ser feita por esforço próprio. Tome cada qual a sua cruz evolutiva e procure atingir o píncaro, ainda mesmo que lhe custe alguma possível crucificação. Sem conhecimento de causa e trabalho íntimo, por certo ninguém lá chegará. Entretanto, quem poderá desmanchar a Ordem Divina? Quem fará a vida parar?
De caminho a outra região, foram vistos todos os Grandes Mestres da antiguidade, que ora militam conjuntamente, para que a Excelsa Doutrina venha o mais breve a atingir toda a Terra, a fim de tentar a renovação da Humanidade, sem o concurso do tremendo cataclismo que está por vir.
Chegando ao local, de si mesmo tão divinizado que seria impossível revelar as condições, fomos avisados no sentido de ouvir a música celestial e ir mentalizando a LUZ DIVINA, o BRILHO DE DEUS, para aos poucos, irmo-nos tornando sintônicos, a ponto de virmos a penetrar na DIVINA UBIQÜIDADE, ou viver em uníssono com DEUS, pelo menos por alguns segundos.
E assim foi sendo feito. A mente procurava o Pai Divino, já naquela esfera de si mesma imensamente gloriosa, enquanto sons divinais auxiliavam a intensificação vibratória, aumentavam o poder de penetração íntima, a fim de irmos entrando em Deus, de sermos por Deus penetrados. A melhor forma de dizer é essa, pois não poderá jamais haver união, divina conexão, sem ser pelo íntimo da criatura, sem ser pela integração profunda, que é muito acima da simples visão íntima.
O êxtase, a visão íntima, é olhar de fora, é partilhar pela aproximação, mas a interpenetração entre o Pai Divino e o filho é o ideal, porque é a convivência, porque é aquilo que Jesus representou e representa, como UNIÃO por equidade vibratória, e, antes de mais nada, como Divino Modelo, como expressão daquilo que todos os filhos deverão vir a ser, através do processo evolutivo.
Naquele estado, tudo era Onipresente, sendo que a Onipresença continha em Si mesma a Onisciência e a Onipotência. Não existia o longe e o perto, o alto e o baixo, o espaço e o tempo. Tudo era DIVINAMENTE UNO, integralmente presente, UM DIVINO PRINCÍPIO contendo em Si o essencial e o relativo e em Si mesmo operando a movimentação, engendrando, sustentando e determinando.
Teologias e teodicéias, monoteísmos e monismos, tudo quanto é grande, tudo quanto é glorioso no conceito humano, tudo por aquelas divinas alturas era como luz de vela, era como obscuridade!
Nem é possível que se diga do nosso estado, como ficamos dias a fio, pairando num supremo êxtase, vivendo num delírio de celestialidade!
Se foi para conhecermos o Pai Divino, que é a ESSÊNCIA ORIGINÁRIA, ficamos conhecendo, até onde nos foi possível penetrar.
Se foi para reconhecer no Cristo a Medida Integral, revelada na expressão do Homem-Deus, ponto a que todos os filhos deverão chegar, isso temos certeza que o fizemos.
E se foi para compreendermos o Espiritismo como Doutrina Integral, Síntese de todas as Revelações, porque tendo o Cristo como expressão de sua integralidade, isso também conseguimos assimilar; nem poderia ser de menos que assim fosse, dada a divina manifestação fenomênica, a influência do fator mediúnico, a lei que, intervindo, facilitou o glorioso, o divino acontecimento!
Seria desnecessário prosseguir, se tudo fosse apenas UNIDADE DIVINA; entretanto, como existe a realidade relativa, como existem os mundos e as humanidades, as formas e as vidas que no seio delas desabrocham, vamos adiante, vamos focalizar alguns ângulos da vida em movimento, ângulos que se revelam através de filhos de Deus, de mônadas que fazem no seio do Cosmo a sua marcha na direção do Reino do Céu, que é interior e não virá com mostras exteriores.
O que importa assinalar, porém, é que tudo isto concita o homem terrícola no sentido de vibrar na direção do Cosmo, deixar os egocentrismos e os geocentrismos; é para que se sinta realmente no TODO, porque vivente no ESPÍRITO DIVINO, que é acima de formas e de limitações, para onde normal e naturalmente convoca o filho, através das leis regentes, através das leis que forçam à evolução.
E se aparecem os duvidosos, lembramos apenas o seguinte – não podemos dar passes mágicos e fazer distribuições de galardões celestiais, mas também jamais seremos forçados a modificar a exposição feita, por causa dos juízos do mundo!
Aquilo que em Deus foi colhido, pelas graças de Jesus, o Cristo Planetário, isso mesmo é que foi exposto. Ninguém está querendo passar por um Novo Revelador, mas apenas por um simples e humilde expositor, daquelas gloriosas verdades de que o Divino Modelo já há dois mil anos fizera vibrante demonstração, por vir ao plano carnal cheio de GRAÇA e de VERDADE, isto é, UNGIDO para tanto.


Capítulo IX

O trabalho cristão é lidar para fazer Cristos. É descer, apanhar aqueles que se encontram nos caminhos da treva e da morte e recolocá-los na trilha da Verdade que liberta. Nem é mais nem é menos, porque é apenas isso.
Ficar nas alturas, sem olhar e trabalhar para levantar os que se encontram em baixo, isso não é recomendável. Todavia, nenhum trabalho é profícuo, sem que seja harmônico, sem que venha a refletir obediência para com a Lei de Harmonia Universal. A Lei e a Justiça não existem por acaso.
Submergir na treva é arrancar dela aqueles que se encontram prisioneiros; e o cântico libertador, o trabalho das legiões que servem à Doutrina, vinha em linguagem simples e não velada, desde muito antes de João Evangelista figurar a Jerusalém sem portas, a Humanidade liberada a viver num mundo de Luz, de Paz e de Poder! João viu a Jerusalém brilhante, como Pitágoras viu a Grécia imortal:
“Quem é Apolo? O Verbo do Deus Único, que eternamente se manifesta no mundo. A Verdade é alma de Deus, a Luz é o seu corpo.
Se os sábios, os videntes, os profetas, o vêem; os homens não vêem mais que a sua sombra. Os espíritos glorificados, que nós chamamos de heróis e semideuses, habitam essa Luz, às legiões, em esferas inumeráveis.
Eis o verdadeiro corpo de Apolo, o sol dos iniciados, e, sem o calor dos seus raios, nada de grande se faz sobre a terra. Como o ímã atrai o ferro, assim nós atraímos pelo pensamento, pela oração, pelas nossas ações, a inspiração divina.
Cabe a vós transmitirdes à Grécia o Verbo de Apolo, e a Grécia resplandecerá duma Luz eterna”.
Esse um dos hinos libertadores, essa uma proclamação evolucionista, pois que outras muitas existiram antes, em datas remotíssimas, a fim de preparar, aqui e acolá, a sementeira para o Cristo Planetário, para a Divina Demonstração, a fim de que todos tivessem em Quem se amolgar.
As tradições cantam, em seus hinos de sabedoria e de fé, muitas encarnações do Verbo de Deus, no curso das etapas terrícolas; Apolo é um dos avatares cantados; mas o certo, que se pode afirmar, é que na Divina Função de Cristo, somente veio uma vez, para fazer três revelações:
1 – Levar para a praça pública o Conhecimento dos Mistérios, tornando todos os filhos do Pai Divino herdeiros da Graça e da Verdade;
2 – Derramar do Espírito sobre toda a carne, numa demonstração de após morte, de ressurreição, e que jamais fora visto antes, e demonstração que foi o Pentecostes, o modelo das sessões espíritas;
3 – Revelar em Si mesmo a medida integral, a Origem, o Processo Evolutivo e a Finalidade do espírito, pelo fato de expressar o espírito divinizado, a comandar a matéria, por tê-la sublimado através do Seu corpo astral cristicamente brilhante.
A Verdade pode ser vista, pelos homens, como dizia Pitágoras, em forma de sombra; mas, repita-se, não é sombra nem jamais poderá ser modificada pelo homem! O que se passa, o que não poderá deixar de se passar, é que ela desce para o homem, na razão direta em que o homem pode subir para ela.
Quem entra na Terra vê-se limitadíssimo; quem sobe para o rés da Terra pode vê-la como se fosse plana; e quem se afasta da Terra, e tanto mais vai se afastando, perdê-la-á de vista, como pequeníssima estrela que desaparece na profundeza do Cosmo!
Na ordem inversa acontece, para aquele que vai penetrando na Verdade, que se deixa por ela penetrar; aos poucos vai se elevando, vai se infusando, vai se tornando Verdade!
E para que os homens possam ir subindo, em si mesmos se integrando na Verdade, importa que mestres, profetas e arautos façam o seu trabalho, entreguem a eles a mensagem verdadeira, indiquem o caminho a seguir, o objetivo a ser atingido.
Onde estão os homens? Em que paragens, em que condições se encontram os homens? Que fazem os homens? Por que o fazem?
Certamente que nos mundos, no espaço e no tempo, visto como habitam o plano relativo, pois a marcha é de baixo para cima que deverá ser feita.
Lotados na Terra, na Terra trabalhamos. E os homens da Terra se encontram na carne ou fora da carne, mais para cima ou mais para baixo. Sempre mônadas espirituais em processo evolutivo, sejam melhores ou piores, vivam nas trevas do erro e do crime ou brilhem nas esferas de Luz!
Foi para baixo que nós fomos, recolher a quem se achava numa região da subcrosta, agrilhoado aos erros e às tormentas que para si engendrara. Como já devem ter lido, cada qual se traslada, ao desencarnar, por especificação vibratória; e Justino, em que pese o nome, estava bem desajustado perante a Lei de Harmonia.
Os três foram preparados para descer, assim como na ordem inversa haviam sido preparados para subir. Para cada meio o seu instrumental específico, a sua armadura fluido-vibratória, por disposição mental.
E na hora certa fomos descendo, penetrando nos abismos da subcrosta, enveredando na direção dos muitos prantos e ranger dos dentes... Gritos, lamentos, fedores, blasfêmias, evocações terrificantes!... Tudo de permeio, tudo de mistura, assim como no pólo oposto se mesclam, se misturam as Graças, as Luzes e as Glórias!... Em matéria de Céu ou de tormenta, quem define é a ordem vibratória, é a lei das intensidades... Entendendo a lei das intensidades, pode-se dizer que estão entendidas as demais. Porque entre a treva e a Luz a diferença é, em essência, de ordem intensiva. A treva deprime e a Luz acelera!
Justino foi apanhado e conduzido ao local apropriado a ser auscultado; e como estivesse deformado em parte, em seu corpo astral, foi preciso tratá-lo de modo também específico.
Um dos companheiros alvitrou:
– Vamos perguntar-lhe se quer admitir a Verdade; se ele quiser, podemos conduzi-lo a um Centro, cujos elementos são próprios a tais aplicações.
E a pergunta foi feita:
– Justino, você quer admitir a Verdade? Lembre-se de que foi terrível feiticeiro, tendo usado mal de certos poderes, elementos e virtudes, por isso mesmo caindo nos abismos da subcrosta. Aceite a Verdade e tudo faremos para beneficiá-lo.
Justino perguntou, entre despeitado e lastimoso:
– Qual Verdade?... Qual?... Tudo não é Verdade?!...
Ele, que vivera para a verdade relativa e em sua feição criminosa, quando muito poderia dela falar; e como os tolos sempre pretendem que são espertos, ele fazia o seu papel, julgando que com isso teria a lucrar, talvez pensando que iria modificar a Ordem Divina. O companheiro, que estava cursando para ser instrutor, respondeu-lhe:
– Justino, a Verdade é a escola, é o instrumento de discernimento; por ela vai o filho no encalço do Pai Divino. Por isso mesmo, a Verdade se apresenta com as duas facetas, sempre revela os dois pólos, a natural ambivalência que os conceitos de Bem e Mal demonstram. Através da Verdade, lembre-se, o filho vai descobrindo tudo quanto existe, e, pelo Conhecimento, pela Ciência, decide tomar a estrada certa, o caminho que conduz à divinização.
Justino encarou-o enigmático, com aquela cara bastante deformada, mais parecendo um lobo do que um homem, e resmungou:
– Como é isso?... A Verdade não é tudo, o Bem e o Mal, sem ter mais o que ser, sem ter a quem dar satisfação?!...
Manso e amigo, falou-lhe o companheiro:
– Se você quiser vir conosco, pelo fato de aceitar a Verdade, pelos caminhos da Verdade nós o faremos ir ao encontro do Pai Divino, que está nos fundamentos de tudo e de todos. A Verdade ensina, e pelos ensinos faz ir ao encontro de Deus, que é o Céu, que está no íntimo de cada um.
Encolhendo os ombros nus e pelados, Justino murmurou:
– Não sabia dessa versão sobre a Verdade!...
O companheiro disse-lhe:
– Em Deus a Verdade é integralmente Luz, Glória e Poder; mas na Emanação ela se apresenta ambivalente ou bipolar. É pela força dos contrários que a providência faz os espíritos conhecerem o caminho do Céu. Se você conhecesse filosofias, eu diria como disse Platão: “O que é verdadeiro, bom e belo, conduz ao que é Divino.”
Justino meditou e perguntou:
– Então existe o que é verdadeiro e o que não presta?...
Houve riso nos semblantes, porque passou pelas mentes um pensamento irônico; é que um homem que se julgou sabido por muitos títulos, jogando com certas leis, ativando determinados recursos, nem sequer sabia que no plano relativo a Verdade é dialética ou bipolar, tanto contém o Bem como o Mal, porque a sua função é ir demonstrando o rumo certo a ser tomado pelo filho de Deus.
O companheiro explicou-lhe:
– Justino, saiba isto – nos domínios relativos, a Verdade é reveladora da lei dos contrários. Isso já era conhecido desde remotos dias, muito antes da vinda do Cristo ao plano carnal. Por isso mesmo, observe que tomando pouca água se mata a sede, enquanto que muita água mata por afogamento; que, usando bem um pouco de arsênico se tem nele poderoso fortificante, enquanto o muito arsênico envenena; que o fogo tanto serve para cozinhar e aquecer, como serve para devastar e causar os maiores prejuízos. Tudo é bom ou mau, Justino, segundo o uso que se der, no plano relativo. Importa, conseguintemente, saber discernir para saber usar.
Justino cismou, abanou a cabeça e balbuciou:
– Jesus não respondeu a Pilatos, quando este lhe fez a pergunta... Aquilo me intrigou muito... Cheguei a pensar coisas feias, a descrer de tudo!...
Aproveitou o companheiro a ocasião e rebateu em cheio:
– Aos que se julgam sabidos, deixa-se que a própria vida os ensine! Jesus está a cavaleiro do Reino do Mundo, está esperando Pilatos em Sua Luz, Glória e Poder, enquanto os Pilatos estão marchando para Jesus com muita lentidão, respondendo pelo crime de presunção, de onde surtem outros muitos crimes. Não se iluda, Justino, que contra a Ordem Divina é impossível lutar e vencer. Se quiser discutir com os homens, faça-o; mas não se iluda, pensando altercar com o Pai Divino.
Justino desmanchou-se em pranto, colhido que foi pelas próprias emoções; e nós fizemos a nossa parte, conduzindo-o a um Centro, porém de Umbanda. Isto é, de verdadeira Umbanda, onde somente pontos cantados havia, sem haver idolatria alguma, sem haver o uso de fetiches.
Entregamos Justino ao grande chefe, ao tutelar do Centro, ao mestre dos caboclos, daqueles pretos velhos que com tanta simplicidade sabiam e sabem amar a Deus e a Jesus, como ainda não sabem fazê-lo, muitos daqueles que se julgam donos da Excelsa Doutrina...
Ademais, a escala evolutiva é vastíssima; e para cada matiz de grau, há lá o modo de poder servir, dentro da Lei de Harmonia. E Justino, que fizera muita coisa feia, usando leis boas, teria ali o meio próprio, onde ir aplicando bem as boas leis, para se rearmonizar com a Grande Lei de Harmonia. A medicação fora justa. Fica aqui o nosso preito de estímulo aos pretos velhos, que tendo os corações voltados para o Bem, vão aplicando seus trabalhos conforme suas possibilidades. Lá temos visto, brancos opacos e pretos brilhantes, altos dignitários clericais sendo comandados por humildes e luminosos ex-escravos!...
Deus seja louvado, sempre e sempre, porque Suas leis não reconhecem rótulos nem aparências, desejando de Seus filhos acima de tudo Amor, muito Amor!...


Capítulo X

Existem menos de vinte palavras que, conhecidas em seu espírito, bastariam para dizer, alto e bom som – tudo está revelado! Elas seriam estas, elas seriam a chave fundamental – Emanador, Emanação, Lei, Justiça, Verdade, Amor, Belo, Bom, Virtude, Perfeito, Moral, Revelação, Espírito, Matéria, Luz, Graça, Evolução, Reencarnação, Comunicação e Poder.
Essas palavras não são, não existem e não vigoram por causa de sectarismos e de religiões, de estatutos e de institutos inventados e postos a funcionar pelos homens; elas independem dos conceitos humanos, elas pairam acima dos conchavismos de gabinetes, elas estão a cavaleiro dos manobrismos organizados por aqueles que, falando na Ordem Divina, tudo fazem para explorar a ordem humana.
Pecam tremendamente aqueles que lhes afirmam que nos mundos superiores à Terra as religiões não se chocam e sim se harmonizam; porque os homens superiores não se iludem com as religiões, não escravizam a Essência ao coscorão, não confundem a Verdade Fundamental com as figuras de fachada que servem aos mercadores da fé. Os medíocres buscam o simulacro, necessitam de rótulos, empenham-se para obter formalismos, tudo isso de que foge o espírito superior, aquele que sabe ter dentro de si o Reino do Céu, o Emanador, e Emanador que não poderá jamais ser iludido ou envolvido pelos engodos inventados pelos homens.
Porque todos os dogmas ou decretos humanos fazem com que a Luz da Verdade ali estaque, em benefício daqueles que os exploram, que os transformam em meio de vida. Enfim, armam de recursos aqueles que ficam nas portas, que não entram e que não deixam entrar aos que poderiam fazê-lo. E isto, saiba-se, somente pode vingar em mundos como a Terra, não em mundos superiores. Na Terra vingam os idólatras em caráter particular, e nas horas de conturbação, nos fins de ciclo, até se organizam e se apresentam conjuntamente, fazendo todos festança aos próprios erros, cantando em conjunto loas aos manobrismos retrógrados. Fazem certas aflições o trabalho ridículo de manobrar os homens, de fazê-los pensar que muitas mediocridades juntas possam valer por alguma Virtude! Erram, porém, porque a obra da Virtude não será levada a termo pelo agrupamento de vícios, de túmulos caiados por fora e podres por dentro!
Tivesse o Cristo aceitado qualquer convite do Sinédrio e nunca teria sido encravado numa cruz!
Não tivesse o Judas, o negativo do Cristo, aceitado o alvitre do Sinédrio ou do conchavismo humano, e nunca passaria à história como sendo o mais errado dos homens!
E se quiserem procurar nos atos humanos, na conduta do homem, a demonstração de como ele falha em face da Verdade Fundamental, que é a que livra quando assimilada, ainda encontrarão Pedro negando e se recompondo, ainda encontrarão Tomé duvidando e se arrependendo em face da evidência da Verdade Total!
No plano oposto, porém sempre no quadro das realidades humanas, irão encontrar a Madalena, irão encontrar Raquel, irão encontrar o Centurião romano, aquele que, ouvindo menos o cérebro, muito mais ganhara ouvindo o coração!
A Ciência pode falhar e de fato falha, porque o homem pretende até poder fazer a Ciência se afastar de Deus, da Origem de tudo e de todos; mas o Amor é, acima de tudo, o grande instrumento de edificação! Quando um filho de Deus se encosta na Lei, se integra na Lei, e dá cumprimento à Lei, por certo faz obra de um Cristo!
Belo discurso feito, aquele que o Mensageiro fez à beira de um túmulo, para os vivos deste lado, aproveitando o ensejo que a vida ofertava. Como de hábito, trabalhando na preparação de instrutores, valia-se ele e vale-se, daqueles acontecimentos que a rotina da vida oferece, para ensinar aos discípulos da Verdade, para lhes falar mais ao coração do que ao cérebro.
Havia falecido perante o mundo um homem sábio, porém portador de um título religioso. De par com a sua sapiência do mundo, andara de braços com os conchavos que os homens inventam em nome de Deus, e em nome de Deus sustentam, como se de fato fosse Deus o autor e o sustentador daquilo!
Lidando no campo científico, fez ele uso de sua sabedoria, e, com isso, aplicou o livre arbítrio de modo contrário à Lei de Deus. Lidou nos laboratórios da Ciência, como incurso no Sexto Mandamento, pelo menos. Ali fora totalmente prático, excelentemente direto, integralmente eficiente, embora no sentido inverso à Ordem Divina, embora de modo criminoso!
Quanto ao seu credo, ao título religioso de que era portador, tudo redundou em fracasso, porque a Lei não é contraditória. Os homens podem escolher o material com que fazer o ídolo; os homens podem medir os ingredientes que entram na composição dos cheiros a queimar diante dos altares; os homens podem procurar a dedo o lugar onde fazer os altares; os homens podem combinar, entre si, como levar a termo os vastos programas simulatórios. Entretanto, não pretendam que Deus tenha parte em seus manobrismos, em seus dispositivos formais. Porque onde estiverem as contradições perante a Lei, onde faltarem a Moral e o Amor, não adianta procurar ali a sanção de Deus!
Gritar “Senhor!, Senhor!”, isso é permitido a todos; mas para ser atendido, isso é coisa muito diferente! O mais tenebroso coração, o mais aviltante cérebro, por certo são capazes de, articulados convenientemente, pronunciar o mais encantador discurso. O que resta saber, entretanto, é se aquele discurso que convence os homens, consegue também convencer Deus!
O sabidão enterrado naquele dia conseguira convencer os homens, fora capaz de encontrar o Reino do mundo; mas ficara devendo tremendas explicações ao Reino do Céu! E como é sabido, explicações que ele terá que dá-las, no curso de muitas e muitas vidas, pois é tremenda a responsabilidade daqueles que agem mal na esfera coletiva, que têm influência sobre as coletividades, que exemplificam mal, que servem de falsos mestres aos que sabem e podem menos!
Há um campo de atividade em que a Ciência nunca falha; é aquele em que ela se revela a construtora do inamovível templo do Amor!
Onde estão os apóstolos da alfabetização?
Por que grassa a fome, num mundo que dá de tudo e de sobra?
Quem é que faz o crente em Deus não ser bom ao seu irmão em tudo?
Quantos procuram consolar os aflitos?
Quem deseja dar-se a enxugar os rios de lágrimas?
Sobram na Terra os que fundam e sustentam obras de solidariedade?
Querem construir a paz, pelo menos a paz humana, aqueles que só falam em paz, em Humanidade e na Confraternização dos Povos?
São muitos os que lutam, dentro de si mesmos, contra o orgulho, a inveja, a vaidade, o ciúme, a calúnia, a mentira, a idolatria, a blasfêmia, o jogo, a embriaguez, etc, etc?
Quantos são os que se dispensam de ódios e de prevenções, pelo fato de procurarem a Verdade pelo gosto da Verdade, acima de injunções particularistas?
Quem é, enfim, que procura conhecer de fato o Cristo, para amolgar o Cristo Interno, segundo a Luz, a Glória e o Poder do Cristo Externo?
Poucos são, bem o sabemos, embora todos vivam a exclamar “Senhor! Senhor!”
E foi por isso que, logo em seguida ao benzimento do bispo, disse o Mensageiro aos alunos do dia:
– Vejam como o mundo engana... Para ele o defunto é um ilustre, cheio dos galardões do mundo e das graças da fé, enquanto que nós o estamos vendo em plena e tremenda luta, contra as legiões sombrias! Ei-lo que é atacado pelos fantasmas que representam as mães, os filhos, os noivos, as noivas, os loucos que fabricara!... Ei-lo que o devora o monstro da contradição!... Por que não o salva o laboratório onde engendrara instrumentos de morte?!... Por que não o livra o título religioso que ostentava orgulhoso?!...
Debandaram os encarnados, alguns convencidos de terem enterrado um grande homem, alguns descrentes de tudo e outros metidos em grande confusão. Todavia, ali no meio estava um jovem psicômetra, que de olhar pasmo, de alma contrita, observava o drama tétrico que ia tendo curso, pouco aquém das vistas do mundo. E foi bem rentinho a ele que o Mensageiro foi ter, para lhe segredar nos ouvidos:
– Cuidado com os alçapões do mundo! Muito cuidado, porque eles se fantasiam também de religiosos!... Muita prudência, porque de Sinédrio o mundo sempre andou e ainda anda bastante farto!...
Foi para nós estranho, porque ouvimos o jovem dizer, simples que era, quase infantil:
– Santo Deus!... Por que o Cristo não volta a este mundo cheio de erros?!...
Ele talvez não tenha compreendido, mas o Mensageiro esclareceu-o:
– Se o Cristo retornasse ao mundo um bilhão de vezes, um bilhão de vezes repetiria que veio para dar cumprimento à Lei de Deus, que em si mesma é Moral, Amor e Revelação. E que todo aquele filho de Deus  que se dê a cultivá-la em seus três sentidos, não poderá cair em contradição, não cometerá desarmonia, não se tornará presa das trevas.
De volta aos nossos meios, em caminho, durante a viagem propositalmente feita lentamente, a fim de responder algumas perguntas que pudessem vir a ser articuladas pelos alunos, apenas um perguntou ao Mensageiro:
– O senhor não se sente abalado, de tanto observar acontecimentos assim?
O Mensageiro elucidou-o:
– Não, meu irmão, eu não me sinto abalado. Ademais, se é infinito o exterior, o Cosmo, também é infinito o mundo interior que cada filho de Deus traz em si mesmo, no seio do qual vive, bem ou mal, porque assim o tenha preparado. E considerando que devemos tanto respeito à Lei de Harmonia, o quanto devemos auxílio ao nosso próximo, aí temos, nas duas máximas obrigações, o instrumento de trabalho e de triunfo, o centro de gravidade onde se cruzam o Direito e o Dever.
O aluno murmurou:
– Em suas lições práticas, a vida apenas demonstra a realidade das lições teóricas que temos recebido. É pena que, durante a vida carnal, a gente não leve bem a sério o dever de conhecer melhor a Verdade Fundamental, a antiga Ciência dos Mistérios, aquilo que Jesus chamou de Conhecimento da Verdade que livra, para extrair melhores proveitos das grandes oportunidades que a mesma vida oferece.
O Mensageiro, que em vidas passadas fora iniciado órfico, recitara:
– “Ó aspirantes aos Mistérios, eis-vos no átrio de Prosérpina! Tudo quanto ides ver vos surpreenderá. Aprendereis que a vossa vida presente não passa duma teia de sonhos mentirosos e confusos. O sono que vos envolve, qual muralha de trevas, absorve ao seu fluxo as vossas aspirações, os vossos sonhos e os vossos dias, como névoas flutuantes que se desvanecem diante do olhar. Entretanto há, mais além, uma zona de luz eterna! Que Perséfona seja propícia a vós todos, que ela mesma vos ensine a franquear o rio das trevas e a chegar até junto da Deméter celestial!”
– Muito simples de entender, apesar do simbolismo. – comentou o aluno.
O Mensageiro assentiu, com breve sinal de cabeça, tendo balbuciado:
– Em qualquer mundo inferior, saibam todos, antes que o Cristo Planetário dê a Revelação Integral, a Medida Perfeita, muitos Grandes Mestres vivem antes, preparando a seara. A Terra teve, no curso das Eras, Grandes Mestres que andaram aprontando as sementeiras. Contudo, como o Cristianismo do Cristo foi corrompido, e formalismos errados foram impostos como se fossem a Excelsa Doutrina, também os Grandes Mestres foram banidos, até mesmo tachados de errados e heréticos, por aqueles que tinham interesse em vender suas idolatrias, em preservar o seu Império sanguinário e despótico.
E com acento grave na voz, completou o pensamento:
– Muitos são os que se enganam a si próprios, porque incapazes de ver e de entender bem; para estes não haverá muito rigor. Ai daqueles, entretanto, que se fazem mestres propositais do erro! Que apresentam a mentira como se fosse a própria Verdade, enveredando as almas no rumo das trevas! Que no lugar da Moral, do Amor e da Revelação colocam as simulações e as idolatrias, fazendo chafurdar as almas na ignorância, de onde surtem, em conseqüência, o materialismo e o animalismo depravantes!
O aluno disse, comovido:
– Gostaria de voltar ao mundo carnal, para ser um trabalhador da Excelsa Doutrina! É fácil ser apóstolo do Cristo, quando se descobre a Verdade.
O Mensageiro fitou-o bem, mediu-o por dentro e por fora, muito mais por dentro do que por fora, tendo observado:
– Prudência, muita prudência, meu irmão! Bastantes são aqueles que lá foram e que por lá estão, vivendo em pleno regime de fracasso, depois de terem feito aqui as mesmas promessas. E não são poucos os que fazem alguma coisa, porém julgando que estão fazendo favor a Deus e ao próximo; sendo apenas grandes devedores em trabalhos de recuperação, portam-se como se fossem grandes missionários, vivem cheios de si, sem reconhecer que, uma vez faltando a graça da faculdade, a ferramenta de trabalho, de tudo estariam desprovidos!
O aluno ficou estático ao fitá-lo, e o Mensageiro disse-lhe, em tom paternal:
– Para renascer no mundo é fácil, porque os vasos maternos não faltam. Há que considerar, porém, que a Humanidade ainda está entregue ao regime de desmandos, principalmente em matéria religiosa. E que, por isso mesmo, bem poucos são os pais que zelam pelo destino espiritual dos filhos. A maioria pensa que viver na Terra é mero ato de acaso, que ter filhos é função apenas animal, que ensinar alguma coisa sobre bolso, estômago, sexo, orgulhos e vaidades constitua o programa ideal. Por conseguinte, pense bem antes de pretender retornar ao mundo carnal. É conveniente tratar de merecer o renascimento em ambiente familiar educado em moldes consoladores, onde os pais tenham aprendido com Jesus a dar cumprimento aos Mandamentos da Lei. Caso contrário, renascendo em meio onde impera o vício da idolatria, onde se compram simulacros inventados por homens e onde ninguém faz caso da Lei de Deus, tudo pode redundar em novo fracasso.
Pensativo, respondeu o aluno:
– É verdade... Vim bem mal, realmente fracassado, ficando muito tempo, sem o saber, rente aos encarnados. E não gostaria de repetir o fracasso.
O Mensageiro comentou, depois de meditar um pouco:
– A Terra é uma verdadeira ilha de degradados!... Quando um mundo recebe os elementos despejados de outro mundo, por causa de suas rebeldias, acaba tendo de tudo em matéria de erros e desmandos, de terríveis recalques viciosos. Por isso é que vemos, depois de tantas Grandes Revelações, depois da Revelação Integral do Cristo, contendo tudo para tudo advertir, ilustrar e consolar, por ter fundamento na Moral, no Amor e na Revelação, ainda assim haver corrupções, desvios tenebrosos, descidas violentas no rumo das movimentações sanguinárias e das invenções idólatras e fetichistas, que são outras tantas válvulas por onde o crime e a culpa conseguem penetrar nas almas.
O aluno aproveitou o lapso e acrescentou:
– E nada ficando sem ser considerado, quando estará a Humanidade Terrícola em estado de equidade com a Lei de Harmonia?
O Mensageiro lembrou a frase do Cristo:
– “Não sairás dali, antes que tenhas pago até o último ceitil”.
– Apenas Justiça Perfeita. – anuiu o aluno.
– Verdade pregada desde remotos dias, – comentou o Mensageiro – verdade que Jesus confirmou absolutamente. Afinal de contas, a evolução poderia ser feita sem atritos, sem esbarros violentos na Lei de Harmonia, que cada qual trás dentro de si próprio, e que do íntimo obriga a rearmonizar, custe mais ou custe menos, de acordo com a montanha das obras levadas a termo. Hermes e Pitágoras, dois dos maiores precursores do Cristo, que a corrupção nascida em Roma fez questão cerrada de serem banidos, de serem esquecidos, expuseram brilhantemente essas leis, a lei de evolução, presidida integralmente pela lei de Causa e Efeito.
E com profunda mágoa na voz, completou:
– Que se vai esperar de um mundo, onde as organizações ditas religiosas se encarregam de tripudiar sobre as verdades fundamentais? Que se pode esperar de uma Humanidade, que abandona a Lei de Deus, a qual o Cristo viveu integralmente, a fim de constituir o Modelo Divino, para se entregar de corpo e de alma aos corruptores, aos mercenários da idolatria? Poderá haver triunfo de alma, glória de espírito, onde começam os credos ditos religiosos por se indispor com os três sentidos inderrogáveis da Lei de Deus?
O aluno perguntou-lhe, por ter-se lembrado de determinado assunto:
– Quem sabe se, com o advento do terceiro milênio, como estão dizendo muitos de nossos irmãos encarnados, haverá alguma modificação para melhor? Porque eles afirmam que os cabritos serão apartados e as ovelhas herdarão a Terra do porvir, consoante as palavras do Cristo.
O Mensageiro explicou-lhe:
– As migrações interplanetárias são coisa comum, são lei geral; sempre teve e, é de se saber, que sempre terão curso no Cosmo. Entretanto, justamente porque o Cristianismo deve entrar de ora em avante na alçada Cósmica, importa saber que a migração dos cabritos não resolve a questão dos mesmos cabritos, pois eles deverão fazer, seja onde for, mais tarde ou mais cedo, a sua recuperação, o seu ressarcimento. O que importa, a todos, é tratar a sério do problema fundamental, que é a realização da harmonia interior. Caso contrário, uns pecarão desejando a saída e a condenação de outros irmãos, enquanto que outros terão que responder pelo crime de rebeldia, por cujo motivo terão que migrar para mundo inferior. Lembro, por isso, que é melhor trabalhar pela redenção dos irmãos, do que desejar que sejam banidos da Terra aqueles que se tenham feitos grandes rebeldes. E isto é tanto mais ponderável, quanto se sabe que os ditos credos religiosos, por causa de seus interesses subalternos, ou por forma de imperialismos mundanos, andaram indispondo os filhos de Deus para com a Lei de Deus.
Fez breve silêncio e completou:
– Eu pertenço, por trabalhar no departamento informativo, ao número dos que devem alertar as almas em geral, sem perguntar quais venham a ser de um ou de outro lado. Cabritos ou ovelhas, todos são filhos do mesmo Pai Divino e vivem para as leis cósmicas. Para onde a Terra marcha, para lá indico o caminho aos meus irmãos, por ordem daqueles que filtram os pensamentos diretores do Planeta. E esse serviço muito me agrada, porque me coloca acima de intenções menos fraternas. Eu faço a minha parte, sem desejar prejuízo a quem quer que seja. Se alguém não me quiser ouvir, por sua conta e risco o estará fazendo.
O aluno sorriu, satisfeito, aludindo:
– O senhor está fazendo a vez de Elias, que devia anunciar o Cristo, sem ter nada a ver com a aceitação ou a negação dos homens?
O Mensageiro também sorriu, respondendo:
– Com a diferença que, dentro em pouco, os Elias serão contados aos milhões, porque a Excelsa Doutrina, como for sendo completada, irá ganhando o mundo, irá atingindo os extremos da Terra, conforme está escrito no primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos. Nem poderia ser de menos, porque a Doutrina Espírita é o mesmo Cristianismo reposto no lugar, é Moral, é Amor e é Revelação. E contra ela levantar-se-ão, certamente, apenas aqueles que estão viciados nos erros idólatras. Porque, como já foi dito, ninguém poderá ser cristão, desde que seja inimigo dos três sentidos da Lei de Deus, os quais recebemos ordem de anunciar, conjuntamente com a exposição do Cristo Cósmico, da verdadeira Divina Mensagem que o Cristo Planetário veio trazer aos homens, faz quase dois mil anos. E como você teve a idéia de lembrar Elias, saiba que outro não é quem tem trabalhado na orientação do movimento restaurador, sob a tutela do Divino Mestre. E para ficar bem nos quadros proféticos, digamos que tudo é questão de seguir a linha das palavras do Cristo, pois isso tudo foi por Ele anunciado.
Chegados ao local devido, houve a dispersão dos alunos; quando algum outro caso houvesse, digno de saliência doutrinária, seriam convocados.


Capítulo XI

Para os Essênios, ou Escola de Profetas de Israel, a divisa era esta: “Tudo pelo interior, nada pelo exterior”.
E o Cristo, a Síntese do Profetismo de todas as Eras e Povos, também salientou que os erros e os crimes surgem da consciência, da conduta íntima dos filhos de Deus.
Entretanto, quando os homens vão perdendo o domínio da consciência, vão esquecendo a Lei em suas obras, concomitantemente vão inventando substitutivos para a consciência, vão inventando simulacros e dogmatismos.
De quando em quando, aqui e ali, repontam vultos que superam o meio viciado e se afastam de credos e de sectarismos, fazendo questão de não ter religiosismos, a fim de poderem ficar bem com a Verdade Fundamental.
Não é por acaso que assim acontece; é que são almas de eleição, espíritos temperados no curso das vidas, filhos de Deus que já aprenderam antes a respeitar o Reino do Céu, em detrimento ao Reino do mundo! Isto é, aprenderam a não acreditar nos donos de credos, por terem aprendido a confiar na Lei, que é a trilha que conduz a Deus, de acordo com o Divino Programa ensinado pelo Cristo.
E nós, que estamos informando sobre a Vontade do Cristo, para que venham todos a constituir unidade com Ele, no Divino Regaço Paterno, ficamos maravilhados quando temos de atender a uma destas desencarnações, a uma destas largadas do mundo; a nós, repito, é sublime observar tais acontecimentos, porque isso nos lembra, de perto e em cheio, as antigas iniciações, onde o coração e o cérebro eram postos adiante, como responsáveis absolutos pelo destino da mônada espiritual, da centelha divina, cujo brilho deverá despontar, mais cedo ou mais tarde.
Conforme o Cristo, que vale dizer conforme a Lei, e que por sua vez equivale a dizer conforme a Vontade de Deus, quanto mais a centelha olha para fora, tanto menos progride!
A Doutrina de Deus, transmitida viva pelo Cristo, pede caridade e não sacrifício, pede essência e não rótulo; mas o Reino do mundo, exterior que é, negativo que é, logo trata de fazer de tudo obra de negação e comércio. E surgem, então, os escravos do mundo, fantasiados de ministros de Deus ou de cordeiros, levantando barricadas contra a Lei, à custa de criarem, de inventarem manobrismos simulatórios em nome de Deus, da Verdade, da Lei, da Justiça e do Cristo; acima de tudo do Cristo, porque Este é sempre, em qualquer mundo, a representação da Verdade Integral, da Unidade de todas as Virtudes.
Para entender o Cristo Cósmico, basta entender esta chave – o Pai, o Filho, a Lei e a Virtude, tudo isso em unidade inseparável! Porque ninguém jamais conseguirá separar os quatro fatores básicos, que são representados pelo Emanador, pela Emanação, pela Lei e pelos Santos Espíritos. Aí estão a Origem Divina, o Espírito e a Matéria, o Movimento e a Evolução!
Para bem entender a Lei como trilha infalível e o Cristo como Modelo Integral, basta focalizar em cheio a Finalidade do filho de Deus. Porque na Finalidade do espírito está contida a sua Origem Divina. E o Processo Evolutivo é apenas uma simples decorrência da Origem e da Finalidade. O Cristo é a súmula de tudo, quer da Origem, quer do Processo Evolutivo, quer da Sagrada Finalidade.
Poderão estranhar esta realidade, mas ela é simplesmente real – a Verdade ensina os caminhos da Verdade, porque ensina a discernir, tanto quanto as religiões e os sectarismos, o que dá no mesmo, têm ensinado a divergir da Verdade.
É que na frente e atrás da Verdade está Deus, tanto quanto atrás e na frente das seitas e das religiões estão os conchavismos clericais, ou interesses de grupos, a pança, o bolso, o orgulho e a vaidade de certos homens.
E não se diga que tudo isso acontece por falta de melhores informes; que os sectarismos tenham aparecido como conseqüência da falta de informes verídicos e profundos. Não, pois as iniciações antigas, que se consubstanciam no Védico-Hermetismo, de onde Pitágoras extraiu aquele monumental edifício iniciático, contendo vastíssimos informes sobre a origem da matéria e do espírito, contendo a marcha de ambos, pois tudo evolui, cada um ao seu campo; contendo, repito, informes profundos sobre o Macro e sobre o Microcosmo, por aí andavam, como por aí andam, para serem aprendidos por quem quer que tenha vontade de conhecer.
O Divino Monismo, que alguns autores modernos procuram infundir como coisa nova, nada mais é do que velharia, gloriosa e impassável velharia, no mapa formidável deixado pelos Grandes Iniciados. Eles sabiam, por sondarem nas profundezas do Cosmo, com os seus recursos mediúnicos atiladíssimos, imensas verdades sobre o Emanador e sobre a Emanação. E se essas fontes de Luz Divina se apagaram, a ponto de em pleno meado do século vinte4 parecerem novidades, é porque os homens deram, nos últimos milênios, para afrontar a tudo quanto de Verdadeiro, de Bom e de Belo a Revelação tem dado ao mundo, desde os mais remotos dias.
Afora o caráter oculto, afora a condição esotérica de cultivo da Verdade, que os Cenáculos Iniciáticos impunham, o restante é para se dizer que o Espiritismo de hoje em nada avançou sobre o de ontem, sem ser em amplidão; e isso mesmo, como é sabido, pelo fato de ter vindo o Cristo Planetário, para abrir as portas dos Templos Esotéricos para todos os filhos de Deus, para fundir todas as iniciações em uma só Divina Iniciação, pelo fato de conter em si tudo quanto se queira em Moral, Amor e Revelação.
Nisto ficamos de inteiro acordo – que o Espiritismo surgiu, na hora precisa, por dois motivos principais: o primeiro, para que ideais materialistas não fizessem a Humanidade trilhar caminhos ainda mais trevosos do que já desde muito vinha trilhando; e o segundo, porque era tempo de repor o Cristianismo do Cristo, a consoladora medida que o Pai Divino por Ele enviara, para transformar todos os homens em herdeiros da Verdade, pois a Excelsa Doutrina é acima de conceitos, de preconceitos, de castas, de cores, de longitudes e de latitudes de ordem humana. Ela é cósmica, fala aos filhos do Pai a linguagem daquele Reino que não é de mundos materiais e formais. Porque a finalidade do espírito é atingir aquele ponto, aquele grau evolutivo que importa estar acima de todas as barreiras planetárias.
E para quem deseje  saber, repetimos – para conhecer a profundeza dos ensinos antigos, basta ter vontade de procurar; e para saber qual tenha sido o objetivo do Pai Divino, enviando ao mundo carnal o Seu Ungido deste Planeta, para legar a palavra de Ordem Cósmica, basta esperar, basta ir vivendo até atingir o grau crístico. E como todos lá teremos de chegar, porque as leis fundamentais não serão de modo algum derrogadas, todos um dia diremos que as palavras de Jesus foram e são espírito e vida.
Poderão afirmar, aqui e ali, que Jesus tenha vivido na Terra, em outros dias, como contraditor da Lei de Deus, ou como sangüinário.
Poderão afirmar, que não tenha sido homem de carne e osso.
Poderão afirmar, que não tenha tido, por não precisar, da escola do mundo.
Poderão afirmar, que Seus feitos mediúnicos tenham sido invenção posterior.
Poderão afirmar, que não morreu na cruz.
Poderão afirmar, que Seu corpo fora roubado durante a noite, não passando a ressurreição de uma farsa bem urdida.
Poderão afirmar, que não tenha reaparecido aos Apóstolos, em carne e ossos.
O que nunca poderão garantir, pelo que sabemos, é que Suas palavras passem, é que a Sua condição de Diretor Planetário5 não seja um fato.
A contradição irá atirando pedras e mais pedras, mas sem atingir o ALVO! Porque Ele está, como foi exposto pelo Pai Divino, em Sua função de Caminho, Verdade e Vida! Ali está, como Divino Ponto de Referência, acima das leis inferiores dos mundos físicos, aguardando a chegada de Seus tutelados, conjuntamente com Aqueles outros que, também por evolução, pertencem ao mesmo grau e agem da mesma forma, filtrando a Divina Vontade, criando, sustentando e conduzindo mundos e humanidades.
Rente ao caixão onde o corpo de Lisandro se encontrava, o Mensageiro fizera o seu discurso, cumprindo sua obrigação de instrutor. O vaso físico estava inerte, desgastado e frio, enquanto que o Lisandro imortal estava a poucos passos dali, recolhido a um leito, dormindo o sono angélico, cercado de vibrações amorosas, envolvido pela teia de muitíssimas simpatias.
E quando, três dias depois, fomos encontrá-lo no local para onde o levaram, a fim de ser preparado para subir ao plano de real merecimento, foi com a alma escampa, foi com toda a simplicidade que nos falara, afirmando que deviam estar enganados, que ele era por demais insignificante, para merecer tanto amor da parte de todos, mormente dos altos emissários que o foram aguardar nos portais do túmulo.
Nós sabíamos, todavia, que ele tinha raízes profundas na iniciação antiga, estava ligado por muitas vidas aos remotos dias da Humanidade, tendo sido, inclusive, um dos maiores vultos da Kabala, muitos séculos antes de Moisés existir. E que sua encarnação última, por causa dos planos articulados no mundo espiritual, deveria não ter expressão alguma de caráter exterior ou mundano, a fim de vir a cumprir elevada missão no mesmo plano espiritual; seria, como o foi, uma dessas funções sublimes e ocultas, um grande ou maravilhoso mensageiro encarnado, intensivo pólo de contato entre os Altos Planos e os planos inferiores do mundo espiritual. Ele mesmo, que sentia vibrar gloriosamente o Céu dentro de si, por causa do esquecimento em que caía, ao retornar ao corpo, não tinha conhecimento algum de sua nobríssima função mediúnica.
Realmente, será sempre muito difícil aos homens, descobrir entre os que poderão ou não ser os primeiros ou os últimos; porque o véu do mundo encobre fatores, tanto os negativos como os positivos!
Mas assim que o casulo deixa de ter significação, então o agente vivo se revela e é revelado por inteiro. Caem todas as aparências, rompem-se todos os rótulos, falecem todos os títulos do mundo! E não adianta chorar o tempo perdido, se assim calha de ser, porque somente outras oportunidades, uma vez bem aproveitadas, é que podem ofertar campo de recuperação.
O mundo espiritual fornece, todos os minutos, novos elementos de oportunidade aos espíritos; dá-lhes novas imersões na carne, corpos sadios e faculdades apropriadas. E o mundo carnal fornece, todos os minutos, muitos fracassados e poucos vitoriosos ao mundo espiritual.
Por que tantos fracassos?!
Não há dificuldade alguma para responder; mas, para que fazê-lo, se o Divino Modelo pronunciou um dia aquela peça imortal, o Sermão da Montanha?
Foi a última palavra do Mensageiro aos alunos – foi dizer-lhes que olhassem para Lisandro e meditassem no Sermão da Montanha. Eu já estava acostumado a todas as prédicas, desde muito que acompanhava as lições como colaborador; mas diante daquele espetáculo celestial, fui me recolher para meditar também. Pude lembrar a mim mesmo, que se tinha muitas liberdades com relação aos planos inferiores, o certo é que muito mais ainda tinha para cima, na direção do grau crístico, para onde somente os trabalhos amorosos me poderiam conduzir.


Capítulo XII

Tanto Pitágoras como Jesus foram unânimes, quanto a dizer que Deus exerce a Divina Providência através dos Santos Espíritos; realmente, estando Deus no imo de tudo e de todos, como Emanador, Sustentador e Destinador, é pela organização que rege a tudo e todos. E, no ápice da organização, estão os Cristos ou Aqueles filhos que já se fizeram assim através do processo evolutivo.
E daquela ordem espiritual, ou hierárquica assim qualificada, vem a Divina Providência observando perfeito regime de fracionamento, de escalonamento, até que atinge aquele cidadão cósmico que poderia ser chamado de último. Quem poderia ditar ordens em contrário? A quem seria dado demandar contra a ordem cósmica estabelecida?
Bem alto e absolutamente, fala aquela alegoria, aquela parábola que está contida no capítulo quatorze de Isaías! Poderia algum anjo, alma ou espírito, centelha ou mônada, tentar contra a Ordem Divina; mas quem poderia vencer contra o Princípio Sagrado?
Todavia, por causa dos erros de concepção, por causa das culpas dogmáticas, o religiosismo terrícola está cheio de elementos que se julgam acima da ordem cósmica, acima da organização estabelecida, muito acima do processo comum de evolução.
Vivem de entender como podem, mas pensam que podem até contra a Vontade de Deus, pelo fato de viverem, através de gestos e de palavras, em regime de perfeita adulação a Deus. Pensam que maneirismos, que ofertas ritualísticas, possam inverter o sentido cósmico do Universo, relegando a plano inferior, ou até mesmo banindo, os fatores inalienáveis chamados Moral, Amor e Revelação, aqueles que fazem saber que são imprescindíveis o Amor e a Ciência, a fim de que, gradativamente, vá o espírito se tornando Puro e Sábio, isto é, cristificado.
Enormíssimo é o número daqueles que aqui aportam, em todos os minutos, pensando que Deus e o Cristo, com o acompanhamento das legiões angélicas, os estejam esperando, sob o mais rigoroso cerimonial. Isto acontece mais, muito mais entre os donos de religiões, entre os que possuem títulos nobiliárquicos, entre aqueles que vivem fartamente festejados pelo mundo, simplesmente porque se enchem a si próprios de rótulos e mais rótulos, de bugigangas e trabisongas.
Aos que pensam que somos inveterados adversários dos formalismos e dos decretos de homens, pelo fato de sermos absolutamente fiéis ao Código Divino, fazemos lembrança disto – não é somente por isso, o que já seria mais do que suficiente, mais do que justo, mais do que obrigatório! Estando na função de apontar aos irmãos o Cristo Cósmico, o Divino Ponto de Chegada, estamos conseqüentemente na obrigação de lembrar a necessidade suprema, o dever máximo, que é adorar a Deus em Espírito e Verdade.
Enquanto viciados, idólatras e fraudulentos, ninguém lá chegará!
Entretanto, aqueles de que falamos, apenas como exemplo ou motivo de lição, já que o Céu sempre ensina através dos mundos, das vidas e dos fatores circunstanciais; aqueles de que falamos, repito, a si mesmos se julgam acima de tudo e de todos, chegando a exigir que se lhes cumpra a vontade, a triste e criminosa vontade. E quando percebem, e quando descobrem que a Ordem Cósmica é inviolável, é rigorosamente acima de conceitos e de presunções humanas, paira muito acima dos tratos conchavistas de que os homens se fazem exímios fautores, então se revoltam, tramam desordens, caem nos baixios e comandam legiões trevosas, muitas vezes levando de vencida criaturas menos avisadas, passando adiante erros e fraudes, encaminhando filhos de Deus aos rincões da desarmonia e dos futuros prantos e ranger dos dentes.
A Excelsa Doutrina fundamenta-se na Lei de Deus, no exemplo vivo do Cristo e na ação dos Santos Espíritos, que realmente são a Providência Divina; Paulo de Tarso enumera, entre as faculdades mediúnicas, aquela que se chama de discernimento dos espíritos comunicantes; e João Evangelista, em sua primeira carta, alerta sobre a necessidade de não crer em todos os espíritos. Todavia, não é apenas no quadro da ação mediúnica que os maus espíritos agenciam suas faltas, seus crimes, espontâneos ou propositais. Criaturas encarnadas, que de mediunismo nada sabem, nem sequer gostariam de ouvir falar, vivem sob o guante maldoso de entidades perversas.
A grande regra seria de fato orar e vigiar... Mas, quanta gente há que se esforça para isso? Embora pareça ironia, a verdade é que a pior conduta parte daqueles que lembram aos outros a necessidade de orar e vigiar! Bradam assim todos os escravos da idolatria, dos formalismos, da fé cega e comercializada; todos quantos ficam nas portas do Templo da Verdade, não entram e não permitem a entrada aos que poderiam fazê-lo.
Bem disse alguém, aí da Terra, que o diabo é tanto mais perigoso, quanto mais se fantasia de religioso... E disso o mundo está cheio, porque a grande maioria só consegue encarar o Reino do Céu pelo prisma do bolso, do estômago, do sexo, do orgulho, da vaidade, etc.
Como o diabo sempre foi o símbolo do Mal, eis que é fácil descobrir até onde vive ele a manobrar com os homens, mormente os donos de religiões, aqueles que se presumem, por isso mesmo, ser os senhores da consciência alheia, depois, é claro, de se julgarem os conselheiros de Deus e do Cristo!
Quanto aos diabólicos, aos maldosos de outros campos de atividades, esses têm menos culpa, porque eles praticam diabolismos sem apelar para os nomes de Deus e do Cristo... Eles não rotulam falsamente as contradições que lavram contra a Lei de Deus... Eles traficam a mentira em nome da mentira, o que muito os dirime, enquanto não chegam a conhecer mais. Ninguém deve olvidar o que disse Jesus contra os elementos do Sinédrio, comparando-os com as mulheres de má vida, perante as quais eles estavam francamente inferiorizados...
A quem fomos encontrar, por atender a um rogo materno, e rogo feito em dolorosas condições? A quem vimos, qual monstro infernal, atirado sobre um menino de onze anos e pouco, a lhe apertar a cabeça entre os braços? Que filho de Deus era aquele, que vinha paralisando e aleijando assim a aquele menino?
Entretanto, quem era aquele menino? Em que tremendos delitos se metera, em dias pretéritos? E aqueles pais? Quem eram eles? Por que gemiam debaixo daquela dor, vendo o filho assim, todo torto, cada vez mais paralisado e mais torto?
Há muita gente que se importa com os Planos Divinos, que vive a querer destrinçar a Ordem Cósmica, de todo fora de tempo, antes de cuidar bem, de zelar meticulosamente pela ordem interna, pela harmonia íntima. Esquecem que a parte de Deus nunca falta, nunca falha, enquanto a ordem humana vive em regime de débito, muitas vezes marcha com tremendos atrasos!
Da mesma forma, há muita gente que pretende conduzir a vida alheia, consertar fora a tudo e a todos, enquanto que se esquece do mundo interior, enquanto nada faz para harmonizar o próprio íntimo. Pensam alto, ou pensam que o fazem, em matéria de tudo quanto diz respeito aos outros; mas para si mesmos, para a própria conduta, vivem ao rés do chão, quando não se dão a cometer tremendos delitos, quando não se entregam a praticar obras que constituirão pesado carma, dura trama a ser desfeita nas vindas porvindouras.
Não nos convidaram a falar em nome dos sete Céus terrícolas, ou que envolvem a crosta, onde vivem todos aqueles que ainda não desabrocharam o Cristo Interno, onde me encontro eu mesmo, pois trabalho para me despertar, auxilio para ser auxiliado, tudo faço para ir atingindo aos poucos aquele Céu que é o mais um, que seria o oitavo, que é o Céu Crístico, que paira acima das injunções planetárias. O que nos disseram foi para falar, uma vez mais, em nome da Lei de Deus, do programa fundamental, que lembra a todos o fim da evolução, a adoração de Deus em Espírito e Verdade.
Que a Humanidade, na totalidade de seus elementos, transcorrerá sobre muitos milênios, antes que venha a fazer isso, disso temos absoluta certeza; mas nunca faltarão os vanguardeiros, aqueles que irão realizando o Cristo Interno, dando assim entrada naquele Céu Cósmico, acima de influências terrícolas. A lembrança deve ser feita e está sendo feita. Quem quiser aproveitar, que pense bem e que meta as mãos no arado, mais para realizar dentro e menos para querer consertar os outros, antes de se haver consertado a si próprio.
Porque, como já proclamava Pitágoras, alicerçado no Védico-Hermetismo, nenhum espetáculo é maior do que aquele oferecido pela mônada espiritual, que vindo das profundezas da inconsciência, vai ganhando individuação, vai realizando a consciência, vai semeando as vias do Amor e da Ciência, vai penetrando no Céu Total, na Iluminação Integral, ultrapassando as leis planetárias que a viviam comprimindo a múltiplas necessidades!
E ninguém poderia contestar, porque Deus é acima de cogitações e a matéria nunca será mais do que serva do espírito. Subir, subir sempre, tal é a lei da mônada, pois assim determinou desde a eternidade o Emanador. E subir para quê, senão para ser enfim livre, senão para tomar parte na legião sem fim e sem conta das almas que filtram a Vontade de Deus, que constituem a Divina Providência?
Tenham os homens, portanto, muito zelo pelas suas obrigações interiores. Não é por acaso que lhes estamos falando, uma vez que os tempos se cumprem, uma vez que as eras vão passando, uma vez que novos compromissos vão batendo às portas do filho de Deus lotado na Terra. Uma vida, um espírito, que coisa representa em face do Infinito? Em que proporção se encontra perante o Cosmo?
Eis que, apesar de parecer uma mônada, qualquer coisinha infinitesimal, talvez não importante para fornecer termo de comparação, nem por isso deixa de ser um mundo inteiro, uma estrela, aquilo que virá a refletir a Luz Divina! Começando de modo tão ínfimo, tão apagado, eis que surgirá um dia nos horizontes do Infinito, a brilhar como se fosse mil sóis, pois o seu brilho será espiritual, será Divino, jamais poderá ser comparado ao brilho material dos sóis!
É preciso muito que se lembre Deus aos espíritos imersos na treva carnal; mas é muito mais necessário, que se lhes lembre o brilho Divino que trazem em si próprios, ao qual devem toda a atenção, todo o trabalho de exposição. É realmente, a evolução da centelha espiritual, o maior espetáculo do Universo; mas é um espetáculo que, de tão glorioso, de tão maravilhoso, jamais deixará de ser todo individual, todo interior!
Formidável o último capítulo do Apocalipse, ao focalizar o problema da responsabilidade individual, em face das leis evolutivas!
Deus é Espírito e Verdade e quer que assim venham a ser Seus filhos. Nunca mais alguém repetirá frase mais importante sobre a Terra, pois essa, devida a Jesus, o Cristo Planetário, o representante terrícola do Céu Crístico, contém tudo em si mesma, para ser a linguagem da Origem Divina, do Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade! É o programa da centelha, que saindo de Deus, infinitesimal, de tudo insignificante, opaca a mais não poder, migra de meio para meio, caminha de tempos para tempos, de reino para reino, de espécie para espécie, até chegar no Ser Divino que lhe deu origem e passar a refletir o Seu Brilho!
Maravilhoso o trabalho de dois espíritos, de duas mônadas, elevadas ao píncaro da inteligência e da representação! Pitágoras entendeu e revelou a história da psique, da alma, sintetizando todas as iniciações anteriores; e o Cristo Planetário apresentou, como Divino Ungido, ou Modelo Perfeito, a centelha trabalhada, o espírito que atingiu o Céu Crístico, aquela zona celestial que já não pertence ao império dos mundos sólidos!
Quem por lá der, com a sua trajetória evolutiva, dirá como Jesus disse, que não tinha na Terra onde reclinar a cabeça... Mas os Seus ouvintes entenderão de outro modo, darão interpretação material à Sua celestial afirmativa... Os ouvidos brutos a tudo costumam brutalizar! A ignorância costuma negar o que é sublime, o que é glorioso, porque só sabe entender e viver a própria inferioridade! Como a minhoca não poderia entender a vida do condor, assim a Terra e o seu tipo humano comum, o homem padrão, jamais poderiam entender o Reino do Céu!
Singelas e profundas palavras, aquelas que perfazem os três primeiros versos, do primeiro capítulo do Evangelho segundo João! Ainda hoje, quase dois mil anos passados, que de entendimento apresentariam os homens, em face do Cristo, se de novo aparecesse? Como é que o Verbo, a Palavra Divina, seria ouvida pelos homens, principalmente pelos donos de seitas e de rótulos pomposos?
Não é possível, irmãos, fugir a tais considerações, diante de quadros tremendos, na presença de espetáculos dolorosos. E se o Bom Pai, através do Seu Ungido deste mundinho, nos colocou diante de tão dolorosos casos, foi para que, através da narrativa, pudéssemos lembrar a todos o que convém e não convém fazer. Isto é, quando se usa bem e quando se usa mal ao relativo mas sagrado direito de livre arbítrio.
É que aqueles irmãos, tanto o terrível perseguidor, quanto o menino e os seus pais, vinham de longos dias, traziam e ainda trazem, com eles, as marcas evidentes da clerezia, os vincos da inquisição. Em nome da Lei, cometeram todos os crimes condenados pela Lei!
E a roda da vida colocou-os face a face, para se suportarem no sofrimento, para se purgarem aos poucos; assim como juntos tramaram perseguições, roubos e mortes, assim estão vivendo, assim viverão outras vidas, até que se tenham feito harmônicos, na intimidade profunda, com a Lei de Harmonia Universal.
Imensa a lição de todos os tempos! Poucos, entretanto, lhe prestam a devida atenção. Antes do Cristo vieram os expositores de leis; o Cristo trouxe a realidade evolutiva já feita, para servir de Modelo Divino, ao mesmo tempo que legou a toda a carne o direito de Conhecimento da Verdade, através da Revelação tornada pública. E ao Espiritismo cumpre reeditar todas as lições, apresentando-as em caráter de Síntese Integral.
Queiram ou não aceitar os homens, aos quais falamos em nome de Deus e do Cristo Inconfundível, mas a realidade é que, por detrás do movimento renovador que o Espiritismo opera no mundo, estão todos os Grandes Iniciados, todos aqueles que no curso dos séculos e dos milênios pretéritos, viveram no meio das raças e dos povos, transmitindo suas maravilhosas lições. Trabalhadores na seara espiritual, também eles deixarão o gládio do Amor e da Ciência, no dia em que a Terra e os seus habitantes se tenham elevado à sublimação e à divinização. Naquele dia, tudo será UNIDADE PERFEITA, não havendo necessidade de descer aos particularismos, de focalizar o problema da relatividade.
Aqueles que se vão tornando UNOS, ou cristificados, ou cósmicos; aqueles que vão realizando em si a entrada na Divina Ubiqüidade, por certo passarão a constituir a falange do Verbo Divino, os Divinos Representantes do Pai, junto aos infindos mundos e às inúmeras humanidades. O Pai os constituiu, em Organismo Divino, para serem, como são, a Divina Providência.


Capítulo XIII

A ordem recebida foi a de falar à centelha, sobre a sua Origem, Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade, porque esse é o seu absoluto, o seu integral interesse. Se durante a caminhada, tiver ela que se apegar aos rudimentos do mundo, sendo forçada a utilizá-los, que isso não lhe faça esquecer a Sagrada Finalidade, o dever de vir um dia a ser UNA COM O PAI, que é ESPÍRITO E VERDADE. O Modelo Divino é Aquele que conhecem como Jesus, o Cristo; assim como Ele veio do Plano ou do Céu Crístico, assim nos quer ter a Seu lado, o mais breve possível. Para se ir ao Reino que é acima de mundos e de formas, é preciso que se vá aos poucos abandonando o mundo e as formas, não é isso mesmo?



Capítulo XIV

O grande fenômeno que se apresenta à mônada, no seu curso evolutivo, é o discernimento entre o BEM e o MAL, entre o negativo e o positivo. A lei dos contrários estará sempre presente, jamais abandonará a vida pessoal e social da mônada, até o dia em que ela se tenha posto a cavaleiro do mundo das formas; até o dia em que tenha vencido a lei das reencarnações obrigatórias. Portanto, quando aparecem contradições à Lei de Deus e ao Cristo, muito cuidado em aceitá-las, porque aquele Organismo chamado Providência Divina, através dos contrários, da contradição, estará pondo em prova aqueles que se presumem sábios, competentes e mestres. Da capacidade de discernimento de cada um, surtirá a melhor conduta; e da conduta surtirá a devida recompensa. Assim como falou às reuniões de crentes o Anjo do Apocalipse, convidando a discernir e a proceder com acerto, pelo fato de saber escolher entre o joio e o trigo, assim afirmamos que convém fazer. Não é possível dar de graça a Luz Divina, porque a sua obtenção é obrigatória através do discernimento e do esforço próprios.
Eis que lhes entregamos a mensagem informativa, salientando que os deixamos no mundo com a obrigação de estudar, analisar, comparar e classificar. De um lado têm a Lei de Deus e o Cristo; de outro lado têm a contradição da Lei de Deus e do Cristo. No meio estão, filhos de Deus, em processo evolutivo; isto é, com a obrigação de tomar o verdadeiro caminho do triunfo. Se souber tomar o Caminho, a Verdade e a Vida por Modelo, estarão fazendo bem. Caso contrário, se tomarem a via contraditória, bem mal virão a estar. Nenhum erro tem o condão de eliminar a eternidade da vida; mas a Lei e a Justiça têm a função de obrigar a retomar o caminho certo.


Capítulo XV

Em face da lei dos contrários, da bipolaridade, tanto pode surgir um Homem-Luz como pode surgir um Homem-Treva nos refolhos da História, no círculo dos eventos humanos. Porque, infelizmente, uns podem tender para o Bem e outros para o Mal, quando no uso do relativo livre alvedrio. Houve um tempo, por exemplo, em que um homem forçou a outro que escrevesse o seguinte:
“Justo é dizer que cada um compreendia estas coisas, segundo o grau de sua cultura e conforme a sua capacidade intelectual, porque, como diz Platão, e isto é exato para todos os tempos, há muitos homens que usam o tirso e a varinha e poucos inspirados.
Após a época de Alexandre, os eleusianos foram de certo modo atingidos pela decadência pagã, mas o seu fundo sublime subsistiu e salvou-os da decadência que feriu os outros templos.
Pela profundeza da sua doutrina sagrada, pelo esplendor do seu cenário, os Mistérios mantiveram-se durante três séculos em face do Cristianismo engrandecente. Eles reuniam então essa elite, que, sem negar que Jesus fosse uma manifestação de ordem heróica e divina, não queria esquecer, como já o faziam a Igreja de então, a velha ciência e a doutrina sagrada.
Foi preciso um édito de Constantino, mandando derribar o templo de Elêusis, para por fim a esse culto augusto, em que a magia da arte grega soube incorporar as mais altas doutrinas de Orfeu, de Pitágoras e de Platão.
Hoje o asilo da antiga Deméter desapareceu, sem deixar vestígios na baía silenciosa de Elêusis, e só a borboleta, o inseto de Psique, atravessando o golfo azul nos dias de Primavera, recorda que, outrora, a grande Exilada, a Alma Humana, evocava ali os deuses e reconhecia a sua pátria eterna.” (Os Grandes Iniciados)
Como porém, ninguém jamais poderá deter a Vontade de Deus, eis que, não só a Excelsa Doutrina dos deuses ou espíritos retornou ao convívio humano, como ainda o fez atingindo toda a carne, através do Consolador que retorna ao seu posto, em virtude do trabalho dos mesmos Grandes Arautos de todos os tempos. Constantino, em favor de um Império humano, déspota e sanguinário, destroçou tudo quanto tinha o seu fundamento na Moral, no Amor e na Revelação. Mas o Cristo, movimentando Suas legiões angélicas, recolocou o Conhecimento da Verdade no seu lugar, para advertir, ilustrar e consolar Seus tutelados. Isto é, para lhes lembrar que Deus é Espírito e Verdade, assim desejando que venham a ser os Seus filhos. E de tal modo os tempos chegaram, como medida cíclico-histórica, que o Espírito da Verdade proclamou, alto e bom som, que a Excelsa Doutrina triunfará com os homens, apesar dos homens e contra os homens, se for necessário.
Aqui reside, para todos os efeitos, o galardão máximo do Espiritismo, do Caminho do Senhor reposto no lugar; e reside nele, assim como residiu no trabalho heróico e divino de Jesus, não só por ser Doutrina Excelsa, mas principalmente por ir ao encalço do homem comum, daquele que sempre fora o esquecido das Escolas Iniciáticas e das sinecuras clericais político-econômicas. Em Jesus, Aquele que veio com o Espírito sem medida, e que por isso tais coisas fez, grandes e profundas a ponto de Lhe negarem a veracidade, um dos traços maiores foi deixar o aconchego dos Templos Iniciáticos para, entrando no meio do povo, da massa obscurecida, entregar-lhe a Mensagem do Céu, dizer-lhe que o Pai Divino jamais fora responsável pelos preconceitos humanos, de cor, de raça, de pátria, de casta ou quaisquer outros!
Portador do derrame de Espírito para toda a carne, nasceu sem pompas e sem casa estável, para render a alma no alto de um monte, encravado num lenho infamante, desprezado e xingado pelos representantes de governos e religiões. Pior do que isso, pois foram estes que Lhe aprontaram as perseguições e a lapidação!
O maior trabalho feito por um Mensageiro do Céu fora aquele registrado na História, pelo Único de quem foi dito, que Lhe não daria Deus o Espírito de dons e de graça por medida. É duvidoso que os homens já entendam de Espírito sem medida, de graça e de dons espirituais assim intensivos; por isso mesmo é que, falando em Seu nome, afirmando a Doutrina de quem foi o humilde vivedor e transmissor, ainda Lhe negam a Luz, a Glória e o Poder de que viera revestido!
A contradição continua atirando pedras; mas na alma dos povos ficará sempre lembrada a Figura Inconfundível, a Divina Silhueta que foi sofrer e chorar com os pequeninos do mundo, enquanto que, como jamais acontecera na História da Terra, lhes fizera fremer em face das maravilhosas manifestações do Céu!
De tão singular, por ter sido tão acima dos Antigos Reveladores, até Lhe querem negar a existência. E quando não pretendem isso, porque se acreditam Seus arautos, negam-lhe o Divino Esplendor! Para os morcegos, ou a luz não existe ou é insuportável...
E como o Espiritismo não é mais nem menos do que a restauração do Caminho do Senhor, sua grandeza reside em entrar no seio da massa, do povo, de todo aquele filho do Pai Divino que tenha um pouco de boa vontade. Se é certo que de Jesus para cá, é crime de lesa-Verdade e de lesa-Humanidade pretender fazer esoterismo ou ocultismo, mais certo é, ainda, que o Espiritismo tem sua grandeza no fato de não sustentar semelhantes presunções.
Com o Pai no coração, com o Cristo no exemplo, com a mediunidade por graça e com os santos espíritos por companhia, vivem a fazer maravilhas por esse mundo a fora, as mais simples e humildes criaturas. Nisto é que Kardec foi maior do que muitos outros também grandes – entregou a todos os homens de boa vontade a oportunidade de se tornarem Profetas e Apóstolos. E isto, simplesmente pelo fato de ter sido um fiel servidor de Jesus, do Cristo Planetário, Daquele que fora levar advertência, ilustração e consolo de porta em porta.


Capítulo XVI

Desde que se conhece a história humana se sabe dos ensinos advindos pela Revelação. Os deuses, como eram chamados os espíritos tutelares das raças e dos povos, jamais deixaram de ser os porta-vozes do Senhor Planetário, através dos escalões hierárquicos. Em toda a antigüidade, os anjos, almas ou espíritos eram designados deuses ou mensageiros de Deus. Todo o Velho Testamento está cheio de anjos ou deuses que se comunicam e instruem os Patriarcas e Profetas.
E quantas podem ser as variantes mediúnicas? Por quantos modos o Céu pode enviar mensagens aos encarnados?
Pouco importam os números que os homens possam determinar, pois em Deus tudo é UM e se manifesta no plano relativo em caracteres de infinidade. De dentro da lei una, partem leis e fenômenos incontáveis, em todos os campos da vida, em todos os sentidos da movimentação.
Os respiros de Deus, como diz a Sabedoria Antiga, são infinitos através de Sua Manifestação, de Sua Emanação. Perante Deus, contar centenas de metagaláxias é o mesmo que uma criança contar grãos de areia... Entretanto, cada centelha tem em si o seu mundo para organizar, para divinizar, para cosmonizar, isto é, para conduzir àquele grau que é acima de mundos e de formas – o Grau Crístico!
O Grau Crístico, notemos bem, é a resultante do Supremo Grau Anímico, da máxima intensidade psíquica, da plenitude espiritual conseguida. Depois que a centelha se tornou UNA com o PAI, depois que a PARTE se uniu com o TODO por evolução, que quer dizer sintonia vibratória, então é Centelha Cósmica, entra a ser parte daquela organização chamada comumente de Providência Divina, Diretora de mundos e de Humanidades.
Os Cristos Cósmicos são os mesmos espíritos que se elevaram ao grau de Cristos Anímicos ou Perfeitos. A função corresponde à gradação hierárquica e vice-versa.
E todos os filhos do Pai Divino devem lá chegar, porque perante Deus ninguém jamais foi especial! Evoluir, tal é a lei!
E por falar em leis, temos que nos reportar sempre ao Princípio de Unidade; é o que vamos fazer, porque assim mandaram de mais alto, muito mais alto.
Haviam combinado, o discípulo, o jovem sírio e a jovem ex-protestante, uma reunião para o domingo próximo. Eles pensavam por eles mesmo, ou assim julgavam, sem perceber que deste lado haviam ordenado assim dirigi-los. E a reunião se fez, naquele domingo úmido e frio, pelas três horas da tarde.
Deste lado tudo estava preparado. A ordem fora cumprida a rigor. E como tal, falou-lhes o pequeno Mensageiro, anunciando que deviam desdobrar, porque em certa região espiritual iria haver uma grande manifestação, à qual convinha que os três estivessem presentes.
Cederam eles e dentro em pouco estavam conosco, muito alegres, muito felizes, realmente iluminados. E conosco estava também o grande Mensageiro, com a ordem de conduzi-los ao local da grande manifestação.
Tomando rumo, fomos parar em gloriosa região, num vale formosíssimo, com muito de certa região da Palestina, onde Jesus trabalhara como Celeste Ungido, convidando Seus tutelados a se irem transformando em Cristos. Havia muitos milhares de almas ali, inclusive desencarnadas, almas que, naturalmente, viviam na Terra com os olhos voltados para o Céu. Porque aquela manifestação não era universal, tinha caráter de revelação por merecimento. Somente os trabalhadores mais suficientes e eficientes é que ali poderiam ser admitidos.
Quando chegou a hora da realização, soaram trombetas nos ares. O espaço encheu-se de luzes, cores e sons maviosos. Legiões de seres angélicos entoaram belíssimo hino, antes de virem pousar no solo, na encosta fronteiriça, ficando bem de frente para todos aqueles milhares de espíritos convocados à reunião.
Houve, logo após, um grande, um profundíssimo silêncio! Parecia nunca ter havido ruído algum no Universo, tal a profundidade daquele silêncio. E antes que algum ruído se ouvisse, o grande acontecimento que se operou, foi a encosta vir ao nosso encontro, chegar bem pertinho de nós, a ponto de podermos observar com perfeição os mínimos traços daqueles gloriosos irmãos.
A expectativa era intensíssima, embora tudo aquilo já fosse deslumbrantemente divino. E não era por acaso, pois nos ares pairava pruridos ainda muito mais deslumbrantes, muito mais intensos.
Quando se esperava que das alturas viesse mais alguém, para aquele ambiente de todo preparado, pois os nossos olhos estavam voltados para cima, eis que se ouviu uma voz suave, meiga e penetrante a mais não poder ser. Foi um choque, foi um tremendo abalo, coisa de fazer sentir que dentro do peito ainda vibra um coração, apesar de estarmos há muitos anos distanciados da carne!
Jesus foi surgindo daquele meio glorioso, assim como vivera no mundo; vestido com a Sua túnica opalina tendo Seu manto carmesim atravessado em diagonal, trazendo os cabelos à nazirena e não tendo os pés calçados. Era a reprodução do Homem-Deus, tal e qual vivera no mundo, como Celeste Ungido, a fim de ficar simplesmente como Divino Modelo, para todos os dias terrícolas.
Depois da saudação, falou com simplicidade, como se fosse um ser humano, como se ainda estivesse encarnado:
– Quero contar-vos uma parábola. Atendei ao seu espírito.
E passou a dizer, com a Sua voz suave, profunda e penetrante:
– Havia em certa cidade, um homem, que desejando estabelecer casa de pasto, e tendo de lhe por um nome, pôs-lhe este: “A Melhor Comida do Bairro”. Tendo vindo um outro, seu vizinho, a montar casa de pasto, considerando o nome do primeiro estabelecimento, colocou-lhe este: “A Melhor Comida da Cidade”. Um terceiro, tendo resolvido dedicar-se ao mesmo ramo de negócio, observando os dois primeiros títulos, anunciou-se assim: “A Melhor Comida do País”. Vindo o quarto, também ali a se instalar no mesmo comércio, escreveu: “A Melhor Comida do Continente”. E por sua vez, o quinto, apelou para o seguinte nome para a sua casa de pasto: “A Melhor Comida do Mundo”.
Jesus silenciou, passou os meigos olhos pela vastidão de ouvintes, tendo continuado:
– Eis que vindo um outro, apenas mais esperto, pelo fato de ser mais simples, escreveu no frontispício de sua casa de pasto: “A Melhor Comida Desta Rua”. E veio assim a suplantar a todos, porque realmente foi humilde, simples e sincero.
Novo silêncio do Divino Mestre e nova expectativa geral. De fato, revelando no semblante augusto o fulgor dos Espíritos Perfeitos, explicou o Símbolo da Verdade:
– A Lei de Deus é a Melhor Comida; foi dela que extraí elementos de ensino, toda vez que o Pai Divino ordenou-me enviar Mensageiros aos seus filhos da Terra. Foi dela, também, que me servi, em cumprimento da Vontade do Pai Divino, quando estive entre vós, para vos tornar herdeiros da Graça da Revelação generalizada. A Lei de Deus é a Matriz dos Livros Sagrados; fora da Lei de Deus ninguém poderá ser triunfador. Ela contém tudo em Moral, contém tudo em Amor e contém tudo em Revelação. Os Dez Mandamentos ensinam tudo sobre a conduta humana. E todo aquele que fizer por vivê-la, por dar-lhe cumprimento, virá a amar a Deus em Espírito e Verdade, que é o fim da jornada evolutiva, que é o fim da escalada biológica. Porque a Lei ensina, em sua rigorosa síntese, todo o programa evolutivo da alma.
Tendo Ele feito silêncio, reinou de novo aquela imensidão silenciosa, como se o Universo Infinito não existisse. A encosta se foi afastando lentamente, Jesus foi sumindo no meio daquela multidão gloriosa, tendo por fim toda ela se elevado aos altos, onde as trombetas voltaram a soar, onde outra vez o hino foi cantado.
Estas manifestações não poderiam jamais ser relatadas, assim como são divinamente gloriosas. A linguagem humana fica devendo tudo, porque não tem com que expor o que se passa em grau ultra, em escala divina.
Rente à mesa de trabalhos, mostrando-lhes os respectivos corpos, disse-lhes o grande Mensageiro:
– Como já nos havia dito Ele, eis que temos dentro de nós mesmos o Reino do Céu, e Céu que não virá com mostras exteriores. Se Ele teve a Lei de Deus por Estrada Celestial, procuremos nós também fazer o mesmo, para segui-Lo. Porque Aquele que foi pelo Pai Divino colocado diante da Humanidade terrícola como Divino Modelo, nunca terá Suas palavras contraditadas. Ele pronunciou palavras de vida eterna, porque a Moral, o Amor e a Revelação jamais passarão, ainda que passem os mundos físicos.
Depois de fazê-los acordar, fomos embora, em busca de santos trabalhos.
E sobre o trabalho imediato, disse-nos o Mensageiro, o menor, o seguinte:
– Vamos recolher um pobre irmão, na zona sombria? Podemos fazê-lo já, e podemos adiá-lo, porque o infeliz paira em condições alternadas, ora tendo-se como feliz, ora julgando-se o homem mais sofredor do mundo.
Antes de responder, passou-me pela mente a Lei da Unidade, a Lei Chave, aquela que nos mostra sempre a Causa Originária, seja por motivo de Emanação, seja por razão de leis regentes, seja por questão de justiçamentos. Ela para todos os efeitos contém e demonstra a Origem e os Efeitos; ainda que o homem, encarnado ou desencarnado, ignore os porquês, há sempre lei a explicar motivos e efeitos.
E, como tal, considerei que era mais um irmão, mais uma centelha em processo evolutivo, que em tal ou qual grau da espiral hierárquica, se comportava de modo infeliz, ou sofria pelo mau comportamento já levado a termo. Nada mais poderia ser, encarando a questão em conjunto. E o Mensageiro, apanhando-me o pensamento, informou:
– Justamente isso, quanto ao plano geral; porém, nos detalhes está a grandeza que explica a divindade da Origem e a glória da Finalidade. E tanto mais devemos atenção especial a todos os pormenores, porquanto temos de levar oito estudantes conosco, irmãos que devem aprender pelo menos o que nós já sabemos, para virem a servir, pelo menos o que nós já servimos.
– Sem dúvida. – concordei, considerando a observação.
E o Mensageiro adiantou:
– Antes do Cristo, a sentença mais sábia e profunda era aquela que mandava o homem conhecer-se a si próprio, a fim de através de si mesmo conhecer o Universo e os deuses. Depois do Cristo,  ou do Modelo Anímico e Cósmico, podemos e devemos tomá-Lo como ponto de referência. E tanto mais cumpre fazê-lo já, antes que a Nova Era surja, para que os habitantes da Terra, encarnados ou destas plagas, vão considerando com severidade a questão evolutiva. Não haverá nenhuma Nova Era milagrosa, pois o homem, de lá ou de cá, irá muito lentamente enfrentando os problemas íntimos, os problemas de consciência, de ciclo em ciclo, até chegar ao ponto culminante, no Grau Crístico, que é o Cristo Anímico, de onde surte o Cristo Cósmico, o Divino Funcionário.
Intercalei:
– Perfeitamente. Atingido o Grau Anímico Perfeito, dá o espírito entrada na Organização chamada na antigüidade “Providência Divina”. E Cristo Anímico vem a dizer Cristo Cósmico, uma vez que é impossível ser Autoridade antes de ser perfeito. Portanto, a escala é simples, é normal, começa do marco zero e atinge o ponto final, que é ingressar na esfera da Organização Providencial ou Cósmica.
O Mensageiro sorriu, inteligente, murmurando:
– A teoria sempre marcha muitíssimo na frente da prática. Nós, que conhecemos em teoria o programa crístico, ainda estamos longe, muito longe do ponto final. Que fariam aqueles que ainda não o conhecem, se ninguém lhes dissesse?
Respondi:
– O mesmo que nós, se ninguém nos tivesse informado. É lei da vida, que todos devemos uns aos outros os trabalhos informativos e cooperadores.
– Então, – disse ele, – vamos levar a turma de aprendizes, para que os nossos mentores também tenham prazer em nos ensinar. Por mais que pareça um ato rotineiro, quanto ao plano geral, do ponto de vista individual e particular é uma necessidade. Isto é, são duas necessidades, pois juntam-se ambas, a nossa obrigação de ensinar e a necessidade deles de irem aprendendo.
– E o irmão sofredor? – perguntei, mais para efeito de conversação.
Como sempre, esclareceu o Mensageiro:
– A engrenagem da vida, para efeito evolutivo em geral, apresenta a lição, o mestre e o discípulo em conjunto. O irmão sofredor, sem saber servirá de tese, enquanto que nós seremos os mestres e os outros os aprendizes. E nunca deixará de ser assim, porque Deus sempre serve a uns pelos outros, jamais servindo diretamente. Quem despreza as leis regentes despreza a Deus, assim como quem desprezar o seu próximo despreza as leis regentes. Na ordem cósmica tudo é por encadeamento, porque assim o é na ordem anímica, que lhe é diretora. Tudo vem do TODO, e tudo ao TODO retorna; apenas, como é normal que aconteça, tudo começa no embrião e termina na perfeição. A matéria sublima-se e o espírito diviniza-se.
Fomos buscar o grupo de aprendizes e lá aportamos, junto ao irmão sofredor, em uma zona sombria, não de todo trevosa. Ele caminhava sozinho, abandonado, tendo às vezes a certeza de ser muito feliz, pelo fato de estar sozinho, enquanto que em outras vezes caía em estado de angústia profunda, por se ver abandonado.
Fora um homem como tantos outros, que por notar a complexidade universal, tanto anímica quanto cósmica, dera em querer saber de tudo, em investigar tudo, e caindo por fim em estado de desconfiança total. Em certos momentos, julgava saber mais do que os outros; em outros momentos, desacreditava de si próprio e de tudo quanto havia concebido. E de modo algum chegava a acreditar nos outros. E foi assim, vazio e desconfiado, que veio a desencarnar. A morte e o nascimento, como nada mais fazem do que trasladar de um plano para o outro, nada lhe deram de especial, como nunca o darão a ninguém. Ele formou o seu juízo e com ele viveu, até vir para cá, nas mesmas condições, é claro.
Outro fator imperioso, que não tinha a seu favor, era o das boas obras; nada fizera a mais, sem ser viver para si mesmo. Ruim não fora; mas também nunca tivera feito para considerar as obras de fraternidade, o auxílio fraterno, fosse em caráter particular ou através de organizações coletivas.
– Silvestre! – chamou o Mensageiro, vendo-o sentado e a meditar, debaixo de uma árvore ressequida, parte integrante de uma coreografia bastante sofrível.
Silvestre levantou os olhos, revelou desconfiança e perguntou:
– Quem são os senhores?
O Mensageiro perguntou:
– Que pensa de nós? Em que conta nos tem, Silvestre?
Ele encarou-nos bem, muito bem, até encolher os ombros e dizer:
– Desiludidos como eu!... Andantes do mundo!... Procurando o que não existe, o que talvez exista... Quem sabe se existe?... Quem sabe se não existe?...
Aproveitando o ensejo, falou-lhe o Mensageiro:
– Se o exterior existe, certamente existe o interior, não é exato?
Ele tornou a olhar bem para todos nós, perguntando:
– Em que sentido o senhor pergunta?
O Mensageiro respondeu-lhe:
– No sentido geral. Se o homem carnal existe, o espiritual não pode deixar de existir. Se o Universo formal existe, o Universo Essencial existe em primeiro lugar. Primeiro o que é interior, depois o que é exterior.
– É uma filosofia... Simplesmente uma filosofia... – respondeu ele, quase em tom de indiferença.
O Mensageiro perguntou-lhe:
– É capaz de iluminar a ti próprio?
Silvestre levantou-se, encarou-nos como quem encara loucos e perguntou:
– De onde os senhores saíram?!... De algum manicômio?!...
O Mensageiro acionou a vontade, modificou-se, iluminou-se. E o pobre Silvestre, que primeiro quis fugir, aos poucos foi caindo em si, até que veio e se propôs a ajoelhar em sua frente.
– Levante-se, Silvestre! Ergua-se filho de Deus! – bradou-lhe o Mensageiro, com energia, porém com evidente piedade no tom de voz.
E Silvestre ficou estático, absorto, sem fala. Todavia, estava expectante, revelava no semblante a alegria de que estava tomado.
O Mensageiro falou-lhe, convidando-o a pensar melhor:
– Silvestre, que tamanho tem a Verdade Integral?
O pobre homem baixou os olhos, para baixinho responder:
– Meu senhor, não me pergunte semelhante coisa... Eu nada sei...
– Por que então julga com tanto rigor? – perguntou-lhe o Mensageiro.
Sempre de cabeça baixa, respondeu:
– Ignorância, muita ignorância... Eu me arrependo... Sei que devo ter morrido...
Condoído, murmurou o Mensageiro:
– A unidade revela a diversidade, assim como a simplicidade revela a complexidade, e vice-versa. Não devia ter sido assim tão desconfiado... Pelo menos poderia ter acreditado nas obras amorosas, nos trabalhos de solidariedade. O que não pode fazer a Ciência, por ser ainda incipiente, pode realizá-lo o Amor, porque é sensível, porque sente e faz sentir, mesmo sem investigar e sem saber. A razão é fria, mas a emoção tem tudo para não sê-lo, porque pode trilhar a senda intuitiva. Ademais, todos sofrem necessidades nos planos inferiores da vida, motivo por que todos podem sentir as necessidades alheias. Para conhecer as razões da necessidade é preciso investigar; mas para sofrer, ou para curti-la, basta ser vivo e ser sensível. Se não pôde compreender Deus, por que não foi bom para com os semelhantes, para aqueles que precisavam de boas palavras e de ações solidárias? Que ganhou com a sua descrença de Deus, e com o seu afastamento dos semelhantes, pelo fato de julgá-los menos conscientes e até mesmo tolos?
Silvestre ergueu a cabeça e simplesmente perguntou:
– Estou, senhor, no mundo dos mortos?
Abanando a cabeça, o Mensageiro falou-lhe:
– Estás, Silvestre, no mundo onde a vida é tanto mais intensa... O mundo espiritual revela tudo, tanto o Bem como o Mal, tanto a Paz como a Tormenta, em tom bastante mais intenso, precisamente por ser menos denso, menos pesado e vagaroso.
Silvestre rogou, de modo a causar piedade:
– Senhor, eu me arrependo!... Que Deus me perdoe!...
Deu-lhe o Mensageiro a resposta:
– Nunca é caso de condenação ou de perdão vindos do exterior, porque sempre é caso de normalização e realização interiores. Quem em si mesmo errou, em si mesmo terá que reparar; e quem não se santificou, em si mesmo terá que se santificar. Portanto, considere que perdeu grandes oportunidades, ao mesmo tempo em que deve considerar as oportunidades futuras.
– Agradeço a Deus por tudo isso! – exclamou Silvestre, satisfeito.
E o Mensageiro explicou-lhe:
Deus, o que quer de nós, é conhecimento de causa e boas realizações. Quanto ao mais, ninguém modificará lei alguma, por agradecer ou por não respeitar. É bom saber, para todos os efeitos, que as leis menores são o reflexo da Lei Maior, assim como funcionam dentro de nós, que somos o Microcosmo, aquelas mesmas leis que regem o Macrocosmo. Isto é, que repercutem na PARTE as leis regentes do TODO, saiba ou não, goste ou não a PARTE. Em vista desta realidade fundamental, não se preocupe em tecer agradecimentos; compenetre-se de que deve servir, se quiser vir a ser servido. O problema do Céu é de trabalho, não é de contemplação.
Silvestre ficou sem saber o que falar, porque nada conhecia, ele que se julgava muito mais sábio do que os outros, durante a vida carnal. E foi o Mensageiro que, prosseguindo, convidou-o:
– Silvestre, quer começar tudo de novo, em matéria de convicções?
– Quero! – respondeu ele, prontamente.
E foi convidado a seguir-nos e a imitar-nos:
– Venha, então, em nossa companhia. Aprenderá que a parte de Deus está pronta desde sempre, porque Ele tem tudo em Si próprio, para todos os efeitos e tempos, enquanto que a nossa está por ser feita e a nós compete fazê-la.
Depois, volvendo o Mensageiro aos aprendizes, disse-lhes:
– Desejam fazer alguma pergunta?
O mais adiantado, ou mais experiente, respondeu pelos outros, depois de tê-los indagado:
– Não desejamos perguntar nada, bondoso instrutor; queremos é meditar no caso, pois parece que todos nós, componentes deste grupo, andamos julgando muito a obra de Deus, enquanto andamos esquecidos de nossos mais prementes deveres. Cada um de nós é um outro irmão Silvestre, pelo que andou fazendo.
O Mensageiro disse-lhes:
– Bem sei disso, meus irmãos. E saliento que todos  devemos amar e aprender; que todos devemos conhecer e aplicar. Não é justo, porém, que vivamos a desprezar o próximo, por ele ser portador daqueles mesmos defeitos que são os nossos. Quando mais não seja, usemos pelo menos o coração, a bondade, porque Aquele que é o Infinito em todos os sentidos, nada nos mandou fazer, em matéria de leis e de criações. Ele quer que sejamos sábios no uso de nós mesmos, antes de mais nada e acima de tudo.
E a caravana seguiu, no rumo indicado pela necessidade daquele irmão e de todos nós; necessidade, fica bem entendido, de realizar o Reino do Céu interior, e não de discutir Deus e Suas leis. Afinal de contas, qualquer criatura sensata pode considerar estultice o fato de querer alguém julgar a parte de Deus, enquanto que ignora e despreza a sua parte, aquela que lhe é essencial e indispensável, absolutamente intransferível.
Uma pontinha de psicologia, aplicada no sentido de iniciação, vale mais do que uma tonelada de teodicéia. Que adianta querer sondar a origem de Deus? Que lucra alguém, em querer investigar se Deus é de fato Onipresente, Onisciente e Onipotente? O Deus Manifesto, que é impropriamente chamado Criação, que está dentro e fora de nós, já atinge a infinidade, pois nenhum espírito, que tenha falado, nunca disse ter conhecimento, nem de si mesmo como natureza essencial e nem tão pouco da extensão da Emanação. Os grandes Mensageiros revelam-se realmente semideuses, ostentam brilho, manifestam poderes, refletem poderosíssimos fluxos amorosos! Porém nunca soube de um que por acaso tivesse pretendido dizer o que é o espírito em sua essência.
Com a subida hierárquica, dá-se a integração sintônica, a penetração naquilo que é a Divina Ubiqüidade, um dos infinitos sentidos de Deus, da Divina Essência que a tudo origina, sustenta e determina. Porém, os que lá vão chegando, os que se vão tornando realmente semideuses, vão manifestando Luz, Glória e Poder, e de tal modo, e com tal profusão celestial, que nenhuma palavra, que a soma de todas as palavras nada poderia significar. Enquanto a centelha está envolvida de forma; enquanto expressa tudo através de formalismos; enquanto, repito, se manifesta como forma, absorve forma, respira e transpira ao que é formal, está muito longe de poder conceber ao que É acima de forma, em Sua Divina Essência.
E para se ir tornando Luz, Glória e Poder, ou para se apresentar um dia como semideus, Cristo Anímico, a fim de vir a funcionar como Cristo Cósmico, importa que seja capaz de amar e de saber a tais alturas. Chegando a isso, não mais discute, porque sua existência é como a sua essência. Os Cristos Planetários nunca se apresentam discutindo sobre o Pai Divino; Eles trazem consigo mesmos o sentido de sintonia. Eles vibram nas alturas da Divina Ubiqüidade. É por isso que os Cristos são Inconfundíveis! É por isso que renunciam a tudo! É por isso que, do abismo do martírio, Se elevam ao píncaro da renúncia e do perdão!
Muito naturalmente, assim como vão os espíritos subindo na Escalada Crística, assim mesmo vão se revelando capazes de renúncia e de perdão. É por isso que muitos estudiosos, os mais bem intencionados mesmo, costumam confundir personagens, vendo o Cristo Planetário aqui e além, na personalidade potentíssima deste e daquele Grande Iniciado ou Grande Revelador. De tal modo são marginais ao mundo, às formas, ao que é rudimentar, que têm contra Si, funcionando normalmente, a pedra contraditória.
Também por isso, bem sabemos que convém trabalhar no íntimo, para lá ir chegando. Os caminhos são o Amor e a Ciência, sendo que o Amor é acima de tudo. Aqueles que vão aprendendo a confiar no Amor, certamente discutem menos e realizam mais.


Capítulo XVII

Desde que não tenham caráter de clerezia e comércio, de organização político-econômica; mesmo que tenham seus erros, seus claros doutrinários, suas falhas de caráter conceptivo; desde que, repito, haja intento puro e são de atingir a Perfeição, pelos caminhos do que é Verdadeiro, Bom e Belo, os agrupamentos humanos de sentido espiritualista se fazem dignos de atenção e respeito. Os dois maiores agravos são aquele apontado acima e o sectarismo arraigado.
O primeiro faz da fé meio de vida e ponto de partida para obtenções radicalmente escusas; faz com que seus donos usem e abusem de erros e crimes, a ponto de se fazerem contraditores da Lei de Deus, vindo assim a cometer tremendos erros de base e reflexão. Em nome de Deus, falando de Deus, procuram subverter até mesmo a Ordem Divina, abrindo caminhos, pelo mau exemplo, para que os menos avisados desçam pelos abismos tenebrosos. E o segundo, o sectarismo arraigado, comete a tremenda falta que é truncar toda e qualquer possibilidade evolutiva. Para os sectários, a Verdade chega a ser a mentira que eles conhecem, consomem e recomendam; para eles a mediocridade representa toda a Sabedoria.
Temos visto muito disso tudo, entrando casas a dentro, penetrando no pensamento de legiões de irmãos. E por vezes é chocante observar, pois elementos de grande capacidade em outros setores de atividade, em outros ramos de conhecimento, revelam-se oclusos, obtusos, estreitos, misoneístas, quando se trata de encarar de frente o problema da Verdade. Eles, que parecem desejar a Verdade, e de fato a desejam a seu modo e gosto, o que realmente fazem, nada mais representa do que estabelecer o mais ferrenho programa de mediocridade. Pensando que defrontam a Verdade, tudo quanto fazem é visualizá-la pelo ângulo mais deformador, menos recomendável.
Entrando em uma pequena casa espírita, a fim de servir a alguém que nos pedira socorro através de oração, fomos topar uma briga entre concepções opostas. O homem convidado a falar, bastante instruído sobre o Espiritismo, conhecedor de muitos Livros Sagrados e nada escravo de sectarismos, antes de tecer comentários, leu o seguinte trecho de Crisna, com o fito de lembrar uma verdadezinha simples, conhecida e reconhecida desde remotos dias:
“Escutai, pois, diz Crisna, um enorme e profundíssimo segredo, o ministério soberano, sublime e puro. Para se chegar à perfeição, é mister conquistar a Ciência da Unidade, que está acima da sabedoria; é mister elevarmo-nos até o Ser Divino, que está acima da alma, mais alto mesmo que a inteligência. Ora, esse Ser Divino, esse Amigo Sublime, existe em nós próprios, está dentro de cada um de nós. Porque Deus reside no interior de cada homem, mas poucos sabem encontrá-Lo.
Ora, eis o verdadeiro caminho da salvação. Uma vez que vos tenhais apercebido do Ser Supremo, que está acima do mundo e que está em vós mesmos, decidi-vos a abandonar o inimigo que se disfarça sob a forma do desejo. Dominai as vossas paixões. Os gozos que os sentidos procuram são como que a fonte dos desgostos futuros.”
E o discurso do orador seguiu-se, maravilhoso, formidando, porque ele filtrara perfeitamente o ensino, demonstrara o programa cristificador, pelos caminhos do Amor e da Ciência, pela renúncia do Reino do Mundo.
Todavia, para o presidente do Centro, espírito obtuso, curto de cultura e de entendimento, a coisa andara muito fora dos quadrantes espíritas; para ele, aquele irmão estava a se transviar, porque o Espiritismo era aquilo, somente aquilo que ele conhecia e praticava, que mal conhecia e piormente praticava.
E foi com profunda dor na alma, que na secretaria ouvimos o presidente fazer a sua queixa, chegando a dizer ao orador, que se fosse para dizer tais coisas, mais convinha que nada dissesse.
O Mensageiro, consciente do Programa Planetário, sabendo perfeitamente que o Espiritismo terá que vir a ser completado, a fim de ser a Síntese Total das Revelações, porque Kardec não o terminou do ponto de vista informativo, assim como não o começou com a Codificação, porque os primeiros passos foram dados no tempo em que ele, Kardec, vivera a personalidade de João Huss, foi dizendo:
– A ignorância é, de fato, a mãe de todos os erros e crimes. Já não quero falar dos antigos, transformando as Grandes Revelações em obra de clerezias e quitandismos político-econômicos. Lembro, apenas, o que andaram fazendo com os trabalhadores da restauração, chamados de reformistas ou protestantes. Como os transformaram em sectários, criando em torno de suas respectivas informações, e informações totalmente incompletas, verdadeiros tabus sectários, verdadeiras hostes religiosistas, perfeitas legiões fanatizadas. Quando será que irão entender que o Espiritismo representa a súmula de todas as Revelações, e que para estendê-lo sobre toda a carne, estão trabalhando todos aqueles que, antes da vinda do Cristo, pelas eras passadas andaram instruindo as raças e os povos?
Alguém que estava ao lado, pesaroso por ouvir e ver aquilo, acrescentou:
– O Espiritismo, para muita gente, ainda não é a Excelsa Doutrina que se fundamenta nos três sentidos da Lei de Deus, que é o Documento dos Cristos Planetários; para muita gente ele é apenas mais uma seita, mais uma religião, sem ter nada com a Moral que harmoniza e dignifica, com o Amor que sublima e diviniza e com a Revelação que adverte, ilustra e consola. Infelizmente, meus amigos, essa é a realidade, porque ele mesmo, o Espiritismo, não pode forçar ninguém a compreender, de uma vez e para sempre, de um golpe e radicalmente, qual seja a extensão da Verdade Total. Portanto, a Verdade estará sempre à espera daqueles que forem desejando se tornar verdadeiros, enquanto que muitos pretensos verdadeiros nada mais poderão fazer, por ora, do que manejar a boca da contradição.


Capítulo XVIII

Estamos no ano de mil e novecentos e cinqüenta e sete; oficialmente, pois há um pequeno erro de calendário. Estamos, pois, nas comemorações do primeiro centenário do Espiritismo Codificado; até certo ponto, entregue à Humanidade em caracteres fenomênicos e informativos e, de certo ponto em diante, carecendo de continuação, de complementação.
Sabedores de que as Grandes Almas, que foram os Grandes Iniciados, estiveram e estão tomando parte na sua divulgação, sob a égide do Cristo Planetário; sabedores de que o Livro dos Espíritos contém os elementos essenciais informativos, segundo o grau de capacidade assimilativa da época; e reconhecidos pelo que tem o Espiritismo produzido, aqui e aí, muito mais aqui do que aí, porque comoveu tremendamente as regiões mais próximas, desejamos findar este relato, erguendo um louvor a todos quantos têm cooperado na vastíssima obra de renovação, por tomar parte na Falange Gloriosa do Espírito da Verdade, organismo que tem como representante um dos grandes vultos da História Religiosa do Planeta. Animando corpos e personalidades que sempre timbraram em batalhar pela Verdade, único caminho que conduz à união com o Pai Divino, bem se credenciou a vir como restaurador, cercado de multidões servidoras do que é Verdadeiro, Bom e Belo, além de ter, nos altos planos da vida, a vibrante cooperação daquelas Grandes Almas.
A evolução é lei, e os dois planos da vida terão que se ir unindo, crescendo em conexão, até vir a ser, um dia, realmente, uma só Humanidade e conduzida por um só Divino Pastor. A todos que fizerem pelo seu melhor andamento no seio da Humanidade, auguramos as bênçãos do Pai Divino, através do organismo que se chama de Providência Divina, organismo que atua, por sua vez, sobre as legiões servidoras, entregando advertências, ilustrações e consolações, assim como o fez Jesus, de casa em casa e de porta em porta.
Visto destas plagas, o Espiritismo é a Doutrina Integral, é a Sabedoria Iniciática tornada pública, ostensiva, pelo esforço das Grandes Almas que em todos os tempos transmitiram informes e conduziram a Humanidade no rumo do Cristo interno, ao encontro íntimo com o Pai Divino. Quem souber procurar, encontrará nele tudo quanto há de profundo e simples na Verdade. Encontrará todos os vultos, desde Rama, atravessando os trinta e tantos Budas, os Vedas, Hermes, Apolo, Zoroastro, Orfeu, Crisna, Moisés, Pitágoras, etc. É a Divina Iniciação posta ao alcance de todos, sem mistérios e sem milagres, sem rodeios e aparências, sem enigmas e sem segredos. Nele não têm o menor cabimento, a menor entrada, aqueles silêncios impostos pelas antigas Escolas Iniciáticas, silêncios que faziam parecer sábios até mesmo os mais tacanhos indivíduos. Sem rituais, sem enigmas, falando alto e de cima dos telhados, o Espiritismo é o Cristo em função no seio da Humanidade!


Capítulo XIX

Quem mais sabe é mais responsável. Portanto, como medida de prudência, ninguém se esqueça de que a Grande Sabedoria está no Grande Amor. O maior é aquele que de fato mais ama, através de seus trabalhos sociais. Quanto à Ciência Oficial, é departamento investigador, que, com ou sem religião, irá avançando; chegará um dia, embora pelo caminho mais longo, ao reconhecimento da Unidade Originária. Os mais simples e puros chegarão primeiro ao termo crístico, à união íntima. Foi o que mandaram dizer, Aqueles que sempre fizeram por dizer o melhor possível, sob a tutela do Cristo Planetário.
Quanto ao CRISTO INCONFUNDÍVEL, Aquele que veio, como fora anunciado, com o Espírito de dons e sinais sem medida, saibam que nasceu, cresceu, produziu Suas obras messiânicas, morreu na cruz e ressurgiu dos mortos, tudo em virtude daquele mesmo Espírito mediúnico sem medida. Quem vinha, como veio, para derramar do Espírito sobre toda a carne, transformando-a em herdeira da Revelação, para todos os efeitos jogou com a GRAÇA e com a VERDADE, de modo muito superior ao que presumem os Seus julgadores precipitados, aqueles que, encarnados ou desencarnados, por falta de conhecimento de causa vivem a cair em tremendas contradições, ora dizendo SIM, ora proclamando NÃO, sempre porém falhos de realidade. Quando venham a estar paralelos ao CRISTO, então saberão com que forças joga o CRISTO, Ele que tem por obrigação testemunhar a finalidade do espírito, Ele que é Divino Modelo, CRISTO ANÍMICO e CRISTO CÓSMICO, o PONTO FINAL da escala evolutiva.
Enquanto, pois, a Humanidade for inferior, seus elementos irão caindo em contradição, irão atirando a pedra contraditória. O MÁXIMO irá sendo julgado pelo MÍNIMO, e, como pode ser simplesmente calculado, o vai-e-vem será imenso! Quem tiver um pouco mais de noção do que seja um Celeste Ungido, um Divino Modelo, deve observar a melhor linha de conduta, tendo os olhos voltados para as faculdades de Quem as traz SEM MEDIDA.
Finalmente, cumpre que se pergunte: estaria a confusão, a contradição, em Deus e no Cristo? Por ventura um Celeste Ungido é um fingido? Por acaso envia Deus um Modelo Divino, com a função de ser simulador ou fazedor de manobrismos?
Nunca! Entretanto, saibamos, um Cristo Anímico é um Senhor do Cosmo. Ele comanda a matéria, não é comandado por ela. Assim sendo, atuando com os Seus poderes mediúnicos sem medida, revelou o que todos chegaremos a poder, quando tivermos realizado toda a evolução interior.


Capítulo XX

Eis a grande questão, a evolução interior, a realização do Céu que não virá de modo algum com mostras exteriores. Por isso mesmo, desde a mais remota Grande Revelação, a védica, que foi por Manu apresentada em forma de codificação, e que mais tarde foi por Hermes e Pitágoras apresentada em base de consolidação, vem a questão da iluminação interna sendo tratada de maneira fundamental, isto é, intransferível.
E como o Cristo representa a Medida Integral, a Origem, o Processo Evolutivo e a Sagrada Finalidade, temos nos ensinos de Jesus a Súmula Doutrinária, com viso ao Reino do Céu, a inversão do reino do mundo, a contraposição do que é dos mundos e das formas, do que é planetário e transitório. Para o Cristo a Verdade que importa é a do retorno ao Seio Divino, jamais poderia ser a outra, aquela que representa a descida, o mergulho da centelha no abismo da matéria densa.
Ora, como devem saber, poucas palavras podem explicar muitas leis, quando a centelha chega a compreender a UNIDADE, o movimento, portanto, da Emanação, dentro ou no âmago da ESSÊNCIA DIVINA. O Divino Monismo, que assim se chama o verdadeiro conceito sobre a Verdade, vem por isso mesmo sendo anunciado desde os primórdios da Humanidade, desde que tem havido Revelações.
E para fazer apenas um resumo de apresentação doutrinária, demos alguns pontos. Quem mais tiver elementos de assimilação, tanto mais atingirá o âmago da questão iniciática. Porque estas verdades, aliás muito simples, na antigüidade se tornavam difíceis, por causa do caráter esotérico das exposições.

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A SAGRADA E ETERNA SÍNTESE

PRINCÍPIO OU DEUS – Essência Divina Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo origina, sustenta e destina, e cujo destino é a Reintegração Total. O Espírito e a Matéria, os Mundos e as Humanidades, e as Leis Relativas, retornarão à Unidade Essencial, ou Espírito e Verdade. Se deixasse de Emanar, Manifestar ou Criar, nada haveria sem ser Ele, Princípio Onipresente. Como o Princípio é Integral, não crescendo nem diminuindo, tudo gira em torno de ser Manifestador e Manifestação, tudo Manifestando e tudo Reintegrando. Eis o Divino Monismo.

ESPÍRITO FILHO – As centelhas emanadas, não criadas, contêm TODAS AS VIRTUDES DIVINAS EM POTENCIAL, devendo desabrochá-las no seio dos Mundos, das encarnações e desencarnações, até retornarem ao Seio Divino, como Unas ou Espírito e Verdade. Ninguém será eternamente filho de Deus, tudo voltará a ser Deus em Deus. Esta sabedoria foi ensinada por Hermes, Crisna e Pitágoras. Jesus viveu o Personagem Inconfundível de VERBO EXEMPLAR, de tudo que deriva do UM ESSENCIAL e a Ele retorna como UNO TOTAL. O Túmulo Vazio é mais do que a Manjedoura. (Entendam bem).

CARRO DA ALMA OU PERISPÍRITO – Ele se forma para o espírito filho ter meios de agir no Cosmos, ou Matéria. Com a autodivinização do espírito, ao atingir a União Divina, ou Reintegração, finda a tarefa do perispírito. Lentíssima é a autodivinização, isto é, o desabrochamento das Latentes Virtudes Divinas. Tudo vai aumentando em Luz e Glória, até vir a ser Divindade Total, União Total, isto é, perdendo em RELATIVIDADE, para ganhar em DIVINDADE.

MATÉRIA OU COSMO – A Matéria é Essência Divina, Luz Divina, Energia, Éter, Substância, Gás, Vapor, Líquido, Sólido. Em qualquer nível de apresentação é ferramenta do espírito filho de Deus. (É muito infeliz quem não procura entender isso).

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