DIVINA SIMPLICIDADE – A Lei foi entregue à consciência de cada filho de Deus, e somente a Justiça Divina o julgará, em secreto, em tempo certo. O Verbo Modelo deixou o exemplo de tudo que deriva de Deus, seja Espírito ou Matéria, e a Deus um dia retornará, como Espírito e Verdade, e ninguém com Ele poderá jamais discutir, porque Seu advogado chama-se Justiça Divina. Capítulo I DO GÊNESE AO APOCALIPSE

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quinta-feira, 29 de maio de 2014

UM ATEU ALÉM DO TÚMULO - VARIAÇÕES DE TODA ORDEM



VARIAÇÕES DE TODA ORDEM
Que coisa tremendamente importante é a escala hierárquica dos seres! Que coisa sublime é o estudo das diferenciais psíquicas! Como é singular em vida e sensações, um grau estático, embora esteja ele em relação direta com os seus imediatos abaixo e acima, além de ser influenciado por miríades de outros e outros!
Na vida de homem do mundo, já não julgava eu que a vida fosse igual para todos, em suas características emotivas. Cada qual a sente, segundo seu grau de evolução, seu modo de educação, seus gostos mais pessoais. Aqui, como tudo pode se multiplicar ao infinito, para baixo e para cima, para o bem e para o mal, então, o campo torna-se maravilhosamente divinal.
Conheço criaturas, por com elas lidar, de toda ordem relativa, a quem como eu tem de agir em contato com muitos, por ser trabalhador espiritista. De entre os mais elevados mestres do espaço, aos mais abismados elementos que vivem nos planos da carne, diferenças quase totais subsistem! Quase, imaginemos bem, uma vez que todos os graus se ligam por um liame fundamental, cuja profundeza ultrapassa a capacidade de concepção de quantos conheço. Porém, assim é da escola da vida. Toda essa diversidade, uma tal complexidade, nada mais testemunha do que a grandiosidade infinita da Obra Divina, e, os meios utilizados pelo Senhor Supremo, como escola franca a Seus filhos.
Os homens, as mulheres, os moços e as moças, os justos e os injustos, os sábios e os ignorantes, os ricos e os pobres, os crentes e os descrentes, todos irão, a seu turno, bater às portas do Consolador, tal como já funciona na terra. E se encarnados passam como bons os ruins, e como ruins os bons, por lhes faltar os poderes de penetração, outra coisa é o que se dá de nossa parte, o que se passa de nosso lado.
Aqui, também, o Consolador é buscado por falanges de falanges, principalmente pelas de baixo padrão hierárquico, em vista das necessidades prementes de melhora, em todos os sentidos. É Deus, em Sua sabedoria, servindo os espíritos pelo espírito. E como se portam mal umas tantas criaturas! Como são rebeldes certas falanges! Que coisas fariam, caso pudessem! Amigo leitor, quando tu para aqui mudares, com armas e bagagens, terás de sentir o peso ou a leveza das mesmas de um modo tão real, tão simplesmente real, tal como se fora a coisa mais corriqueira da vida cotidiana aí da carne. E por isso mesmo, tu aprenderás a medir tudo, todos os atos, do ponto-de-vista espiritual, sem confundir o espírito com a matéria, mas, também, a solucionar os problemas, segundo o prisma da melhor análise, que é não confundir entre natureza essencial e organização de caráter.
O santo, muitas vezes, está forrado pelo devasso! O filho de Deus, por involução, parece filho da treva! E você terá de ver como procedem os grandes mentores, aqueles nas costas de quem, pesam obrigações administrativas de grande alcance e tremenda responsabilidade. Dir-se-ia, se não estivesse a sociedade astral organizada por partes, por zonas, por graus, por esferas, ser impossível ajuizar sobre a ordem reinante. O emprego da Justiça, para muitos efeitos, é segundo o sistema terrícola, produto de leis sociais organizadas pelos mentores. O que quero dizer, não é que tenha sido inventado aí ou aqui, nem para favorecer a quem quer, daí ou daqui, como o fazem muitos dos que daqui dão notícias aí, empanturrando tudo de um parcialismo cabotino, como se isto fosse viver e aí morrer, como se aqui tivéssemos inteligência e aí negação da mesma.
Digo e afirmo que, bom ou mau caráter, sabedoria ou ignorância, nunca foram privilégio de quem quer, daí ou daqui. Medram aí vultos nobres, belas celebrações, sentimentos celestializados, ao lado de tantas mazelas, tal como aqui, tomando-se os planos em conjunto. E para gáudio dos encarnados, afirmo sem o menor receio, que aqui não há um só bem-aventurado, que não tivesse forjado tal estado no plano da carne! Eis o valor da vida na matéria. Prezai-vos, pois, porque tal é a disposição divina para convosco. Respeitai vossas belas condições, já que ninguém aí está, que tenha ido sem graves compromissos! Não vos confundais, amigos meus, porque a confusão traz o inferno interior, a treva mais dolorosa!
Um dia destes recebemos ordem de abandonar um Centro Espírita, pelo simples fato de terem os seus dirigentes, aceito o alvitre de um espírito fetichista, desses que se dizem “pai” isto e “pai” aquilo, recomendando práticas tais e quais, coisas pouco evangélicas e sempre medíocres, tais como formalismos advindos com ele, dos inferiorismos clericais e fetichistas aí da carne, e aqui muito cultivados nas zonas inferiores. Os dirigentes, que foram provados, ao invés de instruírem ao pobre irmão, negando-se a obedecê-lo, prontificaram-se a seguir-lhe o conselho. Como resultado, recebemos ordem de retirada para que os mesmos fiquem com os que escolheram por achar melhor.
Nisso, houve prova para muitos, e um dia, haverá recompensa justa. Assim é o programa de instrução. Dado isso, previno a quantos tenham inteligência de entender, pois nem tudo o que vem em nome do Senhor, é mesmo do Senhor. Quase todos os grandes crimes da história, foram praticados em nome do Senhor, isso o sabeis muito bem. E o fato de terdes hoje, à vontade, o Consolador por cultivar, não significa que vos tenhais identificado cabalmente com sua melhor expressão, em conhecimentos e em emprego de valores. Homens de todos os matizes, daqui e daí, exercitam o culto do mediunismo; isto quer dizer, sem dúvida, que os méritos do exercício, variam ao infinito. Nada, porém, temos ainda de totalmente perfeito!
Não, quero dizer, de modo algum, sejam tais mentalidades, desencarnadas, ruins ou francamente perversas, destituídas de boas qualidades. Quero dizer que, ao lado do que podem ensinar, muito falta para bons aprendizados. E se os encarnados agissem com um pouco mais de prudência, haveria melhores possibilidades para todos, principalmente para tais pretensos “pais”, que vivem em ambientes doutrinariamente frouxos, forçando consciências, fazendo estrepolias, à custa do emprego de elementos, de leis, de meios, pouco evangélicos. Não quero tirar a ninguém o direito de liberdade de ação; mas afirmo que muitos de tais “pais”, nada mais são do que filhos impudicos, ainda, Daquele Senhor que para outros fins conferiu virtudes. E que muitos dos seus seguidores, deste lado, vieram a se achar mal, sendo que muitos, apesar de cultores do mediunismo, perderam na parada, ao invés de ganhar. Tudo, pois, no mundo das relatividades, deve obedecer ao ideal de progressividade, rumo ao melhor, custe o que custar.
Vejam pois, bem intencionados do mundo, um espetáculo como este: homens titulados, médicos, engenheiros, altos funcionários; moças, moços, matronas e homens encanecidos, em pleno bacanal candomblista, pedindo serviços que tais a que tais espíritos em troca de fumo, doces, bebidas, de que os mesmo se apoderam por meio da interpenetração dos corpos fluídicos, tudo em meio a danças sensuais, meneios menos dignos, fumaças e fluídos repelentes. Esse, amigos, o Espiritismo apresentado pelo Cristo no Pentecoste, ou aquele exposto na Codificação?
Tudo é passível de aprimoramento ou corrupção, por parte do homem e no setor que lhe seja afeto, pelo cunho de relatividade. Neste caso, amigos, cumpre-vos policiar o exercício mediúnico. Conhecer, até mesmo todas as verdades fundamentais ou essenciais, nada representa como valor de fato; o mérito vem da melhor prática. Em tudo, de qualquer forma, devem prevalecer o ser, a simplicidade e a produtibilidade. A primeira condição independe de nós; mas para ser simples e produtivos, temos de lançar mãos dos inconfundíveis valores íntimos. Eles são por conhecer, por sentir, por viver. E a conseqüência lógica, é responsabilidade definida perante a Suprema Lei, que do mais profundo do eu se manifesta.
Assim foi que comigo se deu; assim é que sei se passa com outros, ressalvadas as variantes formas e modalidades de purgação. Na essência, porém, ninguém toma do espírito, pela mão ou pela orelha, para conduzi-lo ao lugar de suplício. É o próprio espírito, em verdade, quem se prepara para toda e qualquer finalidade. E é por isso, mais uma vez, que quero protestar contra toda essa saraivada de louvaminhas melosas, nauseantes, que os clericalismos do mundo ensinam, e com as quais pretendem alcançar os favores de Cristo, dos mestres e líderes de todos os tempos, lugares e matizes.
Cada qual é um templo da Verdade que livra; basta se torne um templo limpo, para ser por si mesmo livre, sem o favor de ninguém, mas com o direito de solidariedade de todos os corações nobres. Nem favor faz quem cultivando o Bem e a Ciência se libera, nem tampouco o faz quem, como superior, ensina o que é de sua obrigação.
As religiões mandam adorar, por formalismos e cantilenas laudatórias; a Suprema Justiça pede obras decentes, cumprimento do dever, solidariedade humana! E para quando quereis deixar o abrir os olhos e enxergar por vós mesmos? Até onde quereis ir, falando nos mais puros e cultivando a impureza? Quando deixareis de exaltar tanto a uns e outros, para dedicar-vos mais ao culto dos sagrados patrimônios internos? Por que viveis cuidando tanto da iluminação dos templos exteriores, por atos formais, por gabações a feitos alheios, por louvaminhas a uns e a outros, deixando às escuras, sem brilho, sem cultivo, os vossos próprios valores? Quem possui, amigos, por natureza, mais dons que vós, que nós? E se a diferença é cultivar ou não, por que andais levantando louvores aos ditos santos, aos chamados bons, enquanto deixais vossos altares íntimos sem luz, sem confiança própria, sem práticas divinais? De que valem louvores a estes ou àqueles? Por acaso, amigos, isso vos desculpará perante a Lei?
Se louvaminhas valessem, Cristo não teria abraçado a necessidade de sacrifício próprio! Se exaltações libertassem, não teria dito o toma a tua cruz e segue-me! Se cantilenas fizessem tais prodígios libertadores, não teria prostrado os que adoram com a boca! Enfim, amigos, ninguém encara, por aqui, com respeito, vossas curvações, vossas laudatórias, vossos rituais, vossas sebosas e falsas adorações! Eis a verdade, ainda que vos não calhe bem; estais por ingressar em grau cíclico superior, e, outra conta vos será pedida. É uma conta que abandona exteriorismos e adorações falazes, por prezar o culto do amor fraterno. O tempo, pois, que haveria de gastar em louvar aos vossos santos de todos os matizes, gastai-o em amar-vos uns aos outros, por vos sentirdes a todos como filhos da Vida, do Amor e da Justiça! Quem precisa, de fato, das vossas adorações sinceras, sois vós mesmos, uns para com os outros.
Da parte de Deus, do Cristo, dos santos, não penseis senão isto – que não se moverão, à custa de vossos formalismos vãos, de vossas louvaminhas teóricas! Abandonai, o quanto antes, o vício triste da falsa adoração, que vindes de trazer de outros credos. Amai-vos como a filhos de um só Senhor; amparai-vos sempre; compreendei-vos como partícipes de uma mesma origem, como sujeitos a um mesmo Plano, como votados a um mesmo glorioso Fim!
Faz uns três meses que meu pai me acompanha, em trabalhos que pratico, como guia de dois médiuns aí da carne. Como tal, espírito intelectualmente cultivado, apanha ele com facilidade, todos os ensinos. Sobe bem e depressa, para o plano hierárquico em que se achava antes de reencarnar. E se falhou, mais deveu isso ao passado por expiar, do que mesmo por incompreensão no presente. Afinal, eu e ele, tivemos agravos no culto dos exteriorismos religiosistas e nos exclusivismos sectários. Tal como truncamos a evolução nos outros, assim nos impôs a Lei de Equilíbrio Universal!
E vamos ao caso. Uma senhora, assistente do Centro Espírita onde trabalhamos duas vezes por semana, pediu por alguém de suas relações, já desencarnado há bem tempo. Um pedido de informe, desses tão comuns e louváveis. Mas que, em verdade, muita vez, termina para pedinte daí, continuando-se em programas aqui, onde nada deixamos, e nem podemos deixar, de lado, desde que contando com o beneplácito da Lei.
Eu e meu pai, fomos localizar o tal irmão, três dias depois, em lugar bem interessante, do ponto de vista do mecanismo da Lei de causa e efeito. Estava ele em vastíssima planície, sem fim, parecia, mas toda inçada de grotas e rochas, pedras e pedreiras, areais e sol escaldante. Com ele, estavam mais três, e, tudo o de que tratavam era fugir àquele lugar infernal!
Suarentos, cansadíssimos, enferidados, barbudos, famintos, desalentados, saltavam e ressaltavam as mesmas pedras, davam voltas em torno às mesmas grotas, repetiam os mesmos caminhos, elaboravam os mesmos planos. Nunca, porém, saíam do mesmo sítio. Ali, sempre ali, como que atados por invisíveis mas tremendos liames de variada ordem!
E dizem que o Dante sonhou!... – murmurou meu pai, profundamente compungido.
O senhor sabe como fazemos para que o encarnado pense a nosso gosto, embora se julgue dono das idéias. Um dia, os encarnados compreenderão que, o panorama mediúnico é muito mais vasto do que imaginam. Ouso dizer, mesmo, que muitos inspirados e intuídos da carne, servem-nos com muito mais precisão do que aqueles que nos emprestam seus corpos. Isto, porque uns nos oferecem o seu campo mental em certo ângulo de sentido, enquanto outros, fornecendo seus corpos, ou o mecanismo vocal, fazem-nos sofrer a falta de adaptação mental, o choque de fluídos, a natureza das radiações, as divergências de ordem moral etc. Os chamados gênios; os grandes artistas, os predestinados de qualquer matiz, são médiuns em grau mais sublimado, embora falhos ainda, possivelmente, em outros ângulos da organização...
E iria além em minhas divagações de caráter pessoal, não fosse tal irmão penoso, ter um repente nos ouvidos.
Quem está falando aí?... – indagou ele, volvendo o rosto trágico para o nosso lado, sem nos ver.
Quem vos quer auxiliar! – gritei-lhe.
Onde está escondido?...
Em parte alguma... Sou um invisível...
Assombração!... Assombração!... – disseram os outros, procurando fugir do local.
Parem! Parem!... – bradou-lhes ele, firmemente.
Volvidos os outros, tornou ele a nos indagar:
Que quereis de nós? Como podereis nos auxiliar?
Somos espíritos benfazejos... Uma vossa parenta, ainda encarnada, pediu em vosso auxílio e, como há da parte da Lei disposição em vosso favor, eis que viemos vos procurar. Quereis nosso amparo, irmãos?
A misericórdia de Deus baixou sobre nós? – disse ele, iluminando os olhos embaciados, por um momento.
Sim e não, – respondi-lhe, dadas as minhas novas concepções.
Então... Então... – fez ele, duvidoso.
Deus não é desaforento e nem favorista, caros amigos; basta de apelar para Seus favores e temer Seus desaforos. Tudo quanto se passar com Seus filhos já conscientes, representará e nada mais, o produto de disposições internas. É assim que age a Suprema Lei. Não vem de fora, mas sim, representa apenas o fiel do equilíbrio. Quem discrepa em si o faz, bem como quem com ela coordenar, internamente o fará. Negativa ou positivamente, todo e qualquer acontecimento de ordem moral, de ordem interna sempre o será. Logo, nada há para subir ou descer na Justiça Suprema.
E como viemos parar nestes sítios?... Nossa fé em Cristo estava acima de todas as cogitações!...
Levei em conta que deveria lhes falar; mas que deveriam ver-nos. Sabia que a Lei com eles já estava, para um tal efeito e, por isso, disse-lhes:
Responder-lhes-ei, amigos, com provas de fato; mas agora procuremos ver-nos uns aos outros.
Como fazer?!... – disse um deles, um homem magro e assustadiço.
E fizemo-nos visíveis, num lance de vontade, eu e meu pai. Isso bastou para que viessem a nós, precipitadamente. Nossos aspectos não poderiam jamais os tornar duvidosos de nossos caracteres.
Eis como fazer! – disse eu ao tal homem, abraçando-o fraternalmente.
Sois uns anjos de Deus! – disse ele, comovido.
Sabeis o caminho para sair daqui? – falou um outro, em cujos olhos brilhavam lágrimas de contentamento.
E o tal homem, móvel de nossa ida a tal local, por via do pedido daquela irmã já citada, interrompeu toda e qualquer conversação, dizendo:
Gostaria, amigo, que nos dissesse qualquer coisa sobre nossa vinda para este lugar penoso. Disse que nos daria provas de fato...
E não tendes a prova no fato? – interpelei-o.
Sendo desencarnados e estando aqui, deveis saber que Deus, por disposição natural vinculada ao filho, assim dispôs. Do contrário, amigos, seria erro da parte do próprio Deus. E nem vos creio capazes de tal imaginar.
E a nossa fé em Jesus?... – argumentou um outro, vivamente.
Tudo é relativo... E a fé sem obras é morta, meu irmão. Disse que tudo é relativo, porque o valor da fé, em sua relatividade, não poderá ser negado; porém, um fator é apenas um fator e não todos os fatores...
Que fizemos de crime, então? Apenas aquilo que todo e qualquer cidadão do mundo poderá fazer. De resto, senhor, pregamos a Jesus como único Salvador, em nossas palavras e em nossos atos!
Então, – objetei – a Justiça Divina cometeu o seu primeiro erro, ao tratar de vosso caso, ela que age do interior para o exterior?
O homem fez um gesto de dúvida, moveu os lábios e disse baixinho:
Não digo isso... Mas...
Bem, – prossegui então; – bem, digo-vos que sei de vós o suficiente para falar com conhecimento de causa. Antes de vir buscá-los, sondei-lhes os documentos em vossos planos de vida, antes de encarnardes. Li de vossas vidas, de vossa condutas etc.
Então, – atalhou um outro, que ainda não havia dito coisa; – sabe que fizemos muito pela Reforma luteranista?
Sei, – respondi resolutamente, – que lutaram muito pelo sectarismo luterano; sei que muito fizeram por vossas mesmas convicções. E sei que, por isso mesmo, o erro apareceu em vossos feitos.
Estou basbaque! – balbuciou um dos presentes, entre dentes.
E fui prosseguindo, na consciência do que sabia, por lhes ter lido uma espécie de folha de corrimento, nas devidas regiões correspondentes:
Pregastes a Jesus como único Salvador; mas Jesus ensinou que cada qual será o seu próprio Salvador, pelas obras que praticar para com o próximo. Dissestes aos homens, que se não vos aceitassem as afirmações, que estariam perdidos eternamente. E por um desses complexos da alma inferior em evolução, chegastes a sentir prazer na perdição de muitos de vossos irmãos... Quereis dizer que estou exorbitando ou que a Suprema Lei tenha se enganado?...
Os quatro baixaram suas cabeças. E procurei animá-los, pois eram irmãos, eram lutadores, eram idealistas. Tinham errado num campo onde trilhões de trilhões já erram, onde errarão, onde eu mesmo tinha chafurdado tristemente.
Levantai vossos ânimos! Sois filhos da Luz! Um grande dia vos espera!
E o principal deles, para nós, tendo levantado levemente o rosto, olhou-nos com algum pesar, para logo dizer:
Verdadeiramente... Mas, creio, esse crime vive sendo repetido por séculos, por gerações e gerações... Jesus não disse tudo, não poderia dizê-lo de modo algum em tal tempo, e deixou dito que deveríamos amar a Deus de todo o coração e com toda a inteligência... Onde estará o homem capaz disso, no mundo de homens de carne e ossos?...
Meu pai soltou gostosíssimas gargalhadas, tendo ido pela primeira vez falar a um deles. E disse em seguida:
Se soubessem que de coisas existem aquém da morte!... Que de tremendos abismos concepcionais! Que de torturantes lacunas!...
Que faremos?... – perguntou-me o homem, duvidoso de si mesmo, descrente de seus merecimentos.
Não vos disse que tudo é relativo? Pois se recebestes o prêmio do erro, como não receber a recompensa das virtudes exercitadas? Por acaso só serão contados os ceitis negativos?
Então...
Demo-nos as mãos, amigos... Isso!... Agora, pensemos em Cristo...
Dentro de segundos estávamos bem longe daqueles sítios angustiosos. Fiz questão de levá-los a pé, pelos arredores da cidadezinha onde começariam a trilhar a vida melhor. Atravessamos pomares e jardins, onde o aroma dos frutos e o perfume das flores, embriagam de suave espiritualidade.
Parece a terra divinizada! – disse um deles.
Quem diria que o céu seria assim? – considerou outro.
E quem disse que podeis falar em nome do que esteja para baixo e para cima? – interveio meu pai.
Já haviam eles comido dos frutos do local; já haviam aspirado o perfume enlevante das flores; já haviam observado a plumagem das aves esbeltas e felizes. E ao depararem com uma fonte, quiseram beber de sua límpida água. Todo caso, alguém tinha ali fincado uma cruz, em cujo braço havia esta legenda:
Símbolo da necessidade de sacrifício próprio”
E um dos protestantes quis orar, pondo-se de joelhos. Os outros os seguiram. Eu e meu pai nos conservamos de pé, pois somos dos que crêem mais nas ações nobres em memória do Senhor, do que daqueles que se dobram muito, mas fisicamente, para o Senhor.
E seja lá como for, ainda estando eles a adorar segundo modo e gosto próprios, uma voz forte como um trovão se fez ouvir, dizendo:
Benditos os que adoram em obras de amor!”
E tendo todos nós volvido os olhos para o lado de onde veio a voz, vimos que uma como estrela muito brilhante se formava, tendo o centro cristalino, e de tal modo intenso, que não se lhe podia encarar. Depois, desfazia-se em belíssimas cores, prolongado-se o brilho e a influência. Por fim, foi subindo, subindo, subindo... E sumiu-se nas aparentes alturas siderais...
Os quatro protestantes, então, perguntaram-me, quase que simultaneamente, como se alguém lhes tivesse imposto a idéia:
Qual seu credo?
Por cultivo, o Consolador... Por Religião, o Amor... Por Ciência, a investigação sem prevenção... Por Filosofia, cogitar de tudo tendo por base a melhor e mais pura consciência da paternidade de Deus... Por Moral, respeitar o mais possível o direito alheio... Por Justiça, o respeito pelas necessidades fundamentais e inalienáveis...
Como cultiva o Consolador?... – interrompeu-me um deles.
Dentro de dez horas mostrar-vos-ei; quero conduzi-los a uma sessão de Espiritismo. Ali, então, lembrai-vos do Pentecostes, daquele batismo de Espírito, para o qual cumprir foi à carne o Cristo, e por cuja solvência mereceu dos irmãos menores tudo aquilo de que já sois conhecedores, sem dúvida.
E eu que fui tão avesso ao Espiritismo! ... – comentou um deles.
Não vos preocupe com isso... Eu fui um dos crucificadores de Cristo... Tinha a Moisés na conta de tudo, de completo, e...
Mas Moisés profetizou sobre Jesus!... – atalhou um deles, vitorioso.
E Jesus foi crucificado por legar um Consolador! – emendou meu pai.
E outra vez uma voz se ouviu, dizendo:
E será o confraternizador das gentes, na terra e nos planos erráticos!”
Desta feita, porém, vimos a quem falou; era aquele mesmo alemão batalhador, que amava a melhor verdade que conhecia, e que no século dezesseis, avançando sobre o que já haviam feito Joana D’arc, Wicliff, João Huss, conquistou para milhões de irmãos, o direito de pensar melhor e livremente, sobre as verdades ensinadas pelo Cristo, preparando caminho para novos surtos no porvir próximo, quando a grande eclosão mediúnica, revolveria de modo violento o pensamento humano.
Os quatro protestantes olharam com carinho invulgar para aquele vulto simpático e aureolado em luz. Aproximaram-se dele e falaram-lhe com liberdade. E ele falou com simplicidade, tendo dito mais ou menos:
Somos falanges de seres que trabalhamos por concretizar no mundo as profecias do Senhor. Muito ainda resta a fazer, principalmente no campo da Religião, que é um dos que mais separam os homens irmãos entre si. Como lamento que em nome de um Pai de Amor e Justiça, tantos crimes sejam perpetrados no mundo, quer lá na terra, quer aqui, onde nas zonas inferiores, coisas incalculáveis se passam!
Minutos depois, a simpática figura despedia-se e partia rumo aos seus afazeres de grande chefe de serviços.
E nós rumamos para o departamento competente, onde os quatro novos irmãos ficariam inscritos, para fim de serviços. Depois disso, despedimo-nos, eu e meu pai deles, tendo partido para novos rumos, sempre dentro desse imenso plano geral, tão mal compreendido pelos homens, que tudo querem particularizar, e particularizando entregam-se à dor.

Afinal, até quando viverão os homens, encarnados ou desencarnados, separando-se no que não deviam, por questões subalternas? Que coisas são os convencionalismos humanos? Por que trair o superior em benefício do medíocre e infernal? Onde a razão para, em nome da cor, da raça, da crença, da posse etc. investir como feras contra os ditames da mais terna e pura fraternidade?




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A SAGRADA E ETERNA SÍNTESE

PRINCÍPIO OU DEUS – Essência Divina Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo origina, sustenta e destina, e cujo destino é a Reintegração Total. O Espírito e a Matéria, os Mundos e as Humanidades, e as Leis Relativas, retornarão à Unidade Essencial, ou Espírito e Verdade. Se deixasse de Emanar, Manifestar ou Criar, nada haveria sem ser Ele, Princípio Onipresente. Como o Princípio é Integral, não crescendo nem diminuindo, tudo gira em torno de ser Manifestador e Manifestação, tudo Manifestando e tudo Reintegrando. Eis o Divino Monismo.

ESPÍRITO FILHO – As centelhas emanadas, não criadas, contêm TODAS AS VIRTUDES DIVINAS EM POTENCIAL, devendo desabrochá-las no seio dos Mundos, das encarnações e desencarnações, até retornarem ao Seio Divino, como Unas ou Espírito e Verdade. Ninguém será eternamente filho de Deus, tudo voltará a ser Deus em Deus. Esta sabedoria foi ensinada por Hermes, Crisna e Pitágoras. Jesus viveu o Personagem Inconfundível de VERBO EXEMPLAR, de tudo que deriva do UM ESSENCIAL e a Ele retorna como UNO TOTAL. O Túmulo Vazio é mais do que a Manjedoura. (Entendam bem).

CARRO DA ALMA OU PERISPÍRITO – Ele se forma para o espírito filho ter meios de agir no Cosmos, ou Matéria. Com a autodivinização do espírito, ao atingir a União Divina, ou Reintegração, finda a tarefa do perispírito. Lentíssima é a autodivinização, isto é, o desabrochamento das Latentes Virtudes Divinas. Tudo vai aumentando em Luz e Glória, até vir a ser Divindade Total, União Total, isto é, perdendo em RELATIVIDADE, para ganhar em DIVINDADE.

MATÉRIA OU COSMO – A Matéria é Essência Divina, Luz Divina, Energia, Éter, Substância, Gás, Vapor, Líquido, Sólido. Em qualquer nível de apresentação é ferramenta do espírito filho de Deus. (É muito infeliz quem não procura entender isso).

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