COISAS
DA VIDA...
Havia
eu prometido aos tais amigos, mostrar-lhes como praticava o
Consolador, dentro de dez horas. Por isso fomos, eu e meu pai,
buscá-los no momento aprazado. E os conduzimos para o Centro onde,
sabíamos, a tal senhora iria, pois, um amigo havia sido encarregado
de inspirar-lhe tal desejo. Portanto, pelas oito da noite, entrávamos
casa a dentro.
O
salão do Centro comporta pouco mais de cem pessoas encarnadas; mas
para o mundo desencarnado, dadas as disposições de serviço, e da
Suprema Lei em vista disso, as paredes nada representam. E milhares
de seres ali se achavam, os mais responsáveis controlando, os mais
precisantes de um lado, os menos de outro, os endurecidos bem mais
longe, os grandes arredios presos, amarrados etc...
– Eis
um Centro Espírita! – disse-lhes eu, mostrando-lhes o ambiente em
geral.
– Que
coisa interessante! – murmurou um deles, olhando significativamente
para os outros.
– Quem
são esses luminosos seres? – inquiriu um outro, observando os
chefes espirituais da casa.
– São
os guias do Centro, amigos, trabalhadores de nosso plano. São os
demônios,
como vós dizeis.
Riram-se
e o mesmo amigo perguntou de novo:
– Por
que temos aqui gente presa, amarrada etc.?
– São
pobres endurecidos, grandes criminosos etc. Porém, filhos do mesmo
Pai de Amor e Justiça. São seres que já estiveram nos baixios e,
agora, aos poucos, contando com as orações, as prédicas etc., vão
se tornando cada vez mais doutrináveis, como dizem os amigos da
carne.
– Os
encarnados sabem que isto é assim? – perguntou um outro.
– Imaginam
qualquer coisa. Todavia, existem videntes e médiuns, ou profetas, de
faculdades tais, que muito conseguem saber sobre as coisas destas
bandas da vida. Alguns missionários encarnados, durante o repouso do
corpo, dispõem mesmo de grandes franquias por aqui. E outros há,
que conheço, dispondo de faculdades que lhes permitem, em certos
casos, deixar por gosto os corpos e vir agir aqui, no sentido
desejado e preciso.
Todos
ficaram silenciosos, depois dessa conversação, em vista do início
dos trabalhos. Como havia falado aos chefes, foram os quatro situados
em lugar que diríamos preferenciais, para como visitantes que eram,
poderem assistir do melhor modo aos trabalhos.
Notei,
de minha parte, que nenhum deles se dispunha a reparar nos encarnados
ali presentes. É que não alcançavam ver o que deles se desprendia,
nos momentos de mais firme concentração, quando o presidente
convidava à oração, a bem de algum sofredor. Por isso, fui colocar
minha mão sobre a cabeça de um deles, aumentado-lhe o poder de
penetração psíquica. E o homem pareceu estranhar o que se passou
depois disso, tendo-me agradecido.
Depois,
propositalmente, fui colocar a mão sobre a cabeça nevada daquela
que por um deles havia pedido, tendo beneficiado a todos, por ser
tempo, ou por ter ela servido de móvel ao Supremo Poder, que sempre
assim age. E como eles reparavam muito nos meus movimentos, atentaram
bem para a mulher aureolada por tênue coloração verde-claro. E o
tal irmão, pondo bem os olhos na mulher, pareceu perturbar-se. Quis,
bem o notei, vir para junto de mim e dizer-me qualquer coisa. E por
isso o chamei. Ele veio e, chegando-se bem para perto, disse:
– Parece-se
com uma irmã que devo ter deixado no mundo... Devia ter ela uns
trinta e cinco anos quando desencarnei... Seria mesmo?...
– Ela
foi que pediu por vós... Por lembrança dela fui procurá-los...
Dos
seus olhos rolavam fartas e felizes lágrimas. E eu lhe ensinei a por
a mão direita sobre a cabeça da mana encarnada e orar, para que ela
sentisse do melhor modo a sua presença ali. De fato, mal começou
ele um fervoroso Pai Nosso, que bem sentia eu ser essa a oração,
pela emanação inteligente das ondas emitidas, quando ela sacudiu-se
toda, despertando para outra forma de pensar. Dela é que partia,
logo mais, fachos de suave luz para o irmão desencarnado. E os dois
mantiveram, assim, uma eloqüente e surda troca de divinos
pensamentos. Houve momentos em que todos ficaram olhando para tão
belo quadro! É que um amor de irmãos os unia, naquele momento; é
que acima de um puro sentimento de amor, nada parece existir de mais
importante, de mais divinizante!
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