REGRESSANDO
Com
o término de uma sessão dá-se uma debandada no setor dos
encarnados, embora um certo número fique, muitas vezes, comentando
este ou aquele feito, esta ou aquela expressão. No setor espiritual,
no entanto, tudo cresce de monta, por ser o número de presentes,
muito acima do calculado pelos encarnados.
Como
tal, com o terminar dos trabalhos, reunimo-nos os seis, de novo, eu e
meu pai, e os quatro protestantes. E um deles, quando eu menos
esperava, disse:
– Pois
estive o tempo todo fazendo um confronto!
– Que
confronto?
– Um
confronto entre o que via e o grande acontecimento de que trata o
segundo capítulo do Livro dos Atos. Somava tudo, para repor o
grandioso feito; queria saber o que estaria ocorrendo, no momento, no
mundo espiritual, enquanto os espíritos falavam, pela boca dos
Apóstolos, em diferentes línguas, a todos os estrangeiros ali
presentes, como diz o texto.
– Não
esqueçam que o número não era de onze médiuns; muita gente mais
foi tomada de espírito. De muitos corpos mais se valeram os
emissários do Divino Mestre, para poderem falar aos encarnados.
– Uma
vez compreendido o espírito do feito, que importa o número? Hoje,
suponho, milhões de homens e mulheres emprestam seus corpos para que
os espíritos falem aos encarnados, segundo promessa do Cristo. No
entanto, outros milhões de homens e de mulheres, que fazem?...
– Julgam
sem saber, afastam-se por inconsciência do dever, maldizem por
despeito sectário, desconhecem por incúria etc. Isso, nada mais do
que isso, – foi a emenda de meu pai.
– Mas
com o concurso do tempo... – disse alguém, que não sei bem quem
fosse.
E
havendo-nos despedido dos chefes espirituais da casa, partirmos,
tendo eu prometido ao tal irmão daquela velhinha bem
espiritualizada, um encontro com ela fora da carne, para dias depois.
Em
verdade, mais o fiz por ela do que por ele. Eu já sabia que ela
deixava o corpo bem disposta espiritualmente, pois nutria grandes
convicções espirituais e a matéria havia cedido campo aos melhores
impulsos do espírito enobrecido. Por isso, fui buscar somente ao tal
irmão, tendo deixado os outros, que lhe eram bem menos avançados em
hierarquia. De fato, este irmão, pelos valores acumulados em outros
tempos, logo despertaria para grandes alturas.
– Vamos,
pois do contrário outros a irão buscar para auxiliar em certos
trabalhos, – disse-lhe eu, assim chegado à região onde os havia
abrigado, de ordem superior.
E
num piscar de olhos, ali estávamos, ante um corpo sem dono. Onde
teria ido? Todavia, colocando a mão sobre a testa enrugada,
convoquei-lhe a presença. E ela apresentou-se, tendo eu lhe dito que
não tomasse conta do corpo, pois alguém ali presente desejava
falar-lhe.
– Pois
que fale. Tinha ido ao recinto do Centro onde sabe que sempre
trabalhamos.
– Sei
disso, adorável amiga; mas este cavalheiro deseja falar-lhe.
Atenda-o com brevidade, que de amores por si, esta quase a
desmaiar...
– Oh!...
Deus!... – foram as primeiras exclamações, assim que os dois
irmãos se reconheceram.
Um,
sustentava ainda os traços vinculados pelas dolorosas provas,
naqueles sítios onde o fôramos buscar. A outra, mantinha no corpo
astral a forma do mui gasto físico que ainda carreava pelo mundo. No
entanto, as radiações da velhinha deixavam-no longe em profundidade
hierárquica. E eu os deixei a sós; aqueles dois irmãos, já estava
traçado em certo plano da vida, muito teriam em futuro próximo por
fazer. Eram dois grandes trabalhadores do passado, envoltos nos
meandros evolutivos do planeta; de séculos que vinham semeando e
colhendo, ora melhor, ora pior, mas sempre avançando nos campos do
saber, sempre iluminados por uma chama ardente, por uma força
íntima, que lhes norteava os passos rumo ao ideal perfeito.
Pela
madrugada, voltei para levar comigo ao tal irmão. Despediram-se os
dois espíritos, alegres ao extremo, convictos da grandeza do ideal
esposado. Tendo-o deixado em seu plano de habitação, singrei o éter
rumo à minha região, onde meu pai devia estar à minha espera, a
fim de dar cabo de certos afazeres.
Assim
é, pois, amigos, a vida de um ex-ateu; gozo a espiritualidade sadia,
o prazer divinal, fazendo o que faço. Por determinação Suprema,
que me vem pelos chefes superiores, preparo campo para o reencontro
entre os filhos e o Pai Supremo, entre amigos e amigos! E agora,
permitam-me dizer, a esse Pai de Verdade:
– Que
mais, meu Pai, meu Alicerce, poderia desejar um filho que Te negou?
Ao amigo da morte, apresentaste a Vida. Ao amigo do nada, deste o
Todo por casa. Ao que espargia a prostração moral, deste o
esplendor dos nobres ideais! A quem imaginava um fim, presenteaste um
eterno começo! Deixa-me, pois, dizer aos peregrinos da carne, e aos
trevosos que pairam nos abismos erráticos, que a Verdade que És Tu,
paira acima do cogitar dos homens insensatos!
E
a vos outros, amigos e confrades da carne, apelo no sentido de culto
o mais moralizado e científico possível. Nada de fetichismos, de
idolatrias religiosistas!
Fazei
a Religião Pura! O Espiritismo, que é o Consolador restaurado, não
deve andar em justaposta condição com as mediocridades religiosas
do mundo! Ele foi mui caramente pago pelo Divino Mestre!... Para que
houvesse um batismo de Espírito, foi preciso que uma cruz se
banhasse em sangue inocente! Prezai o custo de vossa herança!...
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