O CÉU MARAVILHOSO
Capítulo
II
O
que sucedeu a seguir? Ora, se quem é ou existe é obrigado a estar
em algum lugar, de algum modo, fazendo alguma coisa e para algum fim,
que aconteceria com mais um espírito, padre ou não padre, ao
desencarnar? Não teria que comparecer a si mesmo, como desencarnado,
apenas num plano vibratório diferente, num meio melhor ou pior,
segundo seus merecimentos e não segundo o sectarismo praticado na
fase encarnada? E se o fiel da balança é o merecimento, pelas
obras, como perfeitamente explica o capítulo final do Apocalipse,
como pretender o contrário e com teimas, se a Divina Justiça é
acima de injunções quaisquer?
Disso
tinha eu muita certeza, pois lera muitas obras espíritas,
principalmente as que diziam respeito à vida nos planos erráticos,
e assim conhecendo, tudo fiz para entregar-me à Divina Vontade,
fosse qual fosse o meu destino. E foi aí que a Divina Vontade
interveio, sempre através de alguém, e esse alguém era uma mulher,
uma irmã de semblante feliz, cujo sorriso envolvia e penetrava,
porque tinha um toque espiritual inconfundível.
– Graças
a Deus, pois não? – disse ela, encantadoramente.
– Graças!...
Mil graças a Deus!... – exclamei, felizmente excitado, pois sua
presença era para mim um verdadeiro convite celestial.
E
como eu quisesse agradecer a sua presença, com palavras que pareciam
custar a sair, embaraçado que estava, ela apanhou-me pela mão e
disse:
– Não
se importe, irmão Bento, com agradecimentos quaisquer, deixe isso
para mais tarde, quando puder compreender que o verdadeiro
agradecimento é passar o Bem adiante, é fazer o Bem a outros filhos
de Deus. Por ora venha, para o lugar que de direito lhe toca, no
mundo espiritual.
Nada
respondi, cedendo à sua vontade, e tudo foi um estremecimento, um
como deslocar repentino, sem saber eu como nem para onde. O fato é
que me vi num lugar parecido com a Terra, com o chão terreno, apenas
impregnado de um sentimento de paz e de amor, como não se pode
explicar ao certo, porque esse sentimento parece estar em toda a
parte, dentro e fora de tudo, sem que a razão consiga descobrir
como.
– Lá
fica o núcleo central do Departamento – disse ela apontando para a
direita.
Olhei
e vi uma cidade grande, como se estivesse vendo uma cidade terrena,
com a diferença que se fazia notória, de ser muito ajardinada e
florida. Devo dizer e faço-o já, que nos planos erráticos, quanto
mais superiores, tanto mais ricos em jardins, águas e flores.
– E
ali é o retiro que deve habitar, por algum tempo – disse ela,
apontando para frente, onde uma cadeia de montanhas se estendia.
– É
um lugar muito bonito! – disse eu, que sempre gostara muito da
natureza.
– Essas
montanhas estão semeadas de construções que servem de abrigo,
escola e tudo quanto se imagine, em matéria de recuperações e
divertimentos. Esta região é muito ligada à crosta terrena, é
pouco distante dos umbrais, e, por isso, desempenha a função de
hospital, escola, berçário, etc. Está muito longe dos Planos
Superiores, muito mais longe ainda do Plano Crístico, mas é como é,
e a função que desempenha é a necessária.
Olhou-me
bem, como a medir-me de algum modo, para sorrindo continuar:
– Bem
sabemos que andou lendo reportagens mediúnicas sobre a vida nos
planos espirituais. Isso foi muito bom, embora fosse ruim o ficar
calado, o não dizer a todos, quando possível, das verdades de Deus
e da sua Emanação, do progresso lento dos espíritos e de muitas
outras verdadezinhas mais.
Achei
que devia dizer:
– Mas
eu dou graças a Deus de estar aqui!...
Ela
abanou a linda cabeça e respondeu:
– Isso
já disse muitas outras vezes, irmão Bento. Acaba de chegar mais uma
vez, está ainda sob o guante da novidade, sente-se feliz por estar
num lugar de paz e de amor relativos... Tudo isso é comum, fique
sabendo, e não é ruim de todo, mas também não é vantagem...
– Céus!...
Por quê ?!... – exclamei, assustado.
Ainda
abanando a cabeça, prosseguiu:
– Deixe
as admirações para outros casos e escute-me com atenção. O
espírito deve atingir o Grau Crístico, ou de Unidade Vibratória
com o Divino Centro Gerador, Sustentador e Destinador de tudo e de
todos. Importa evoluir até lá e para isso conta com a lei das
encarnações sucessivas e tudo quanto ela oferece de leis, elementos
e meios. Entretanto, depois de encarnar, a maioria fica escravizada
aos fanatismos religiosistas, aos interesses criados, a tudo quanto
dificulta o despertar interno.
– Compreendo...
– Sim,
mais uma vez compreende, depois de voltar da peregrinação carnal...
A questão é, irmão Bento, que nada fez para compreender e agir
melhor, lá no bendito banco escolar que é a carne. E por isso
voltou para esta região, onde irá trabalhar junto a outros tantos
iguais ou piores um pouco, até reencarnar de novo, a fim de tentar
nova escalada aos elevados planos.
– Que
me diz, irmã?!...
Ela
encolheu os ombros, fez um ar de pena e balbuciou:
– Vamos,
que sua mãe carnal aguarda a sua chegada...
– Ela
também vive nesta região?
– Vive
e trabalha aqui, é a chefe do Departamento, mas é superior e
poderia estar em planos muito mais elevados. Muitos espíritos assim
agem, para conquistarem méritos, para mais poderem escolher
determinados recursos, nas próximas encarnações. Vá procurando
compreender, mais uma vez, irmão Bento, que o melhor veículo de
progresso é fazer o possível pela cristificação do próximo.
Estávamos
chegando a uma extensa mansão, e ela observou:
– Procure
compreender que muitas vezes já foi e voltou do plano carnal, vindo
ao reencontro de irmãos queridos. Faça tudo para não se abalar,
pois isso de nada vale, nada edifica e até prejudica.
Entramos
porta adentro e fomos topar com a diretora daquele local; e era minha
mãe, a última que tivera na carne, e nada fácil fora encontrá-la
de novo, ainda que fazendo grande esforço para não me abalar.
Choramos abraçados, e convimos que tudo é vida, que em Deus nada
morre, e que ao espírito cumpre evoluir, crescer em si mesmo, unir
com o Princípio Originário.
Depois
de tudo refeito, disse minha mãe:
– Vicentina
virá amanhã, sabe?
– Minha
irmã?
– Sim,
sua irmã ou minha filha. Dois eram e dois já aqui estão, querendo
dizer isto que voltarei à carne dentro de algum tempo. Espero que
vocês também voltem, no devido tempo, no círculo familiar, e que
consigam progredir, não ficando a marcar passos no cultivo de manias
sectárias e falatórios fanáticos.
– Estou
ansioso para rever Vicentina, mamãe!
– Compreendo,
perfeitamente... E quantas vezes já esteve assim ansioso, meu filho?
– Bem,
rever as pessoas do coração já é muito de celestial, não é?
– É...
Sem dúvida que é... Mas poderia ser em planos outros, pois não?...
E no entanto, ainda o é por aqui, bem perto da crosta e dos
umbrais...
E
foi no seio daquele envolvimento acabrunhador, que saí com a jovem
socorrista que para lá me conduzira, pois minha mãe assim
determinara, dizendo que devia eu dormir algumas horas. A jovem me
conduzira e me entregara no pavilhão designado, e ali fiquei
aguardando o funcionário que veio em seguida, aplicando-me passes e
fazendo com que caísse em sono profundo.
CAPÍTULO III
CAPÍTULO III
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