Capítulo
IX
Sendo
a Terra um mundo novo, do ponto de vista evolutivo, é casa cósmica
também nova, habitação de espíritos embrionários em evolução.
Isto, quanto aos normalmente do padrão, pois há os superiores, e
até muito superiores, além do Cristo e dos Seus imediatos, que
formam uma corte destacada e altamente administrativa.
No
Salão dos Mapas Diagramáticos há de tudo para se aprender, isto é,
que revelam como as coisas são, mas não que resolvam problemas para
quem quer que seja, ou que desabrochem o Reino de Deus no imo de
alguém, por graça ou favor. Tudo é teoria, nada mais do que
teoria, e muito já é, porque antes assim não era, não havia
chegado a hora de assim ser ensinado, porque a grande hora transitiva
ainda pairava longe dos horizontes da humanidade terrestre.
Todos
sabem, em virtude daquilo que é ensinado, através dos mapas, que em
Deus não existem particularidades nem precedentes. E se esta
realidade fundamental fosse conhecida e posta em prática na Terra,
de uma vez por todas cessariam todos os clericalismos, todas as
formas de exploração religiosista, tudo quanto é
figura-de-fachada, tudo quanto é máscara.
Assim
dizia um servo do Salão de Mapas, a um grupo de visitantes,
precisamente no momento em que eu chegava, em companhia de dois
companheiros de aprendizados, naqueles primeiros dias de chegada aos
planos espirituais. E por ouvi-lo falar assim, desejei aproximar-me,
para absorver o que ele dizia.
– Dentro
de segundos – disse ele – aqui estará Celestino, acompanhado de
alguns irmãos nossos, que foram, no dizer deles, ministros de Deus
na crosta, e que, no entretanto, por falta de Verdade, Amor e Virtude
neles mesmos, não só passaram longos tempos nos lugares de pranto e
ranger dos dentes, como ainda vivem por aqui, onde trabalham junto
aos socorridos de última hora, aguardando a hora de reencarnar, para
tentar reabilitações e progressos comuns.
E
mal acabara ele de dizer aquilo, uns quarenta irmãos davam entrada
no salão e encaminhavam-se para o seu lado. Assim que chegaram, o
servidor avisou a todos da presença de Celestino, anunciando que ele
trazia um encargo e que iria falar.
– Venho
– disse ele – como é comum, para convidar alguns irmãos, os que
desejarem, a uma visita à crosta. Alguns devem ir, precisam ir, está
no programa de instruções e benefícios, mas outros poderão ir de
livre e espontânea vontade, sem compromisso qualquer. Lembro,
entretanto, que não é para visitar os respectivos lares, mas sim
para estudos, pois vamos a uma sessão espírita, uma reunião de
profetas, como diriam nos tempos antigos e nos dias de pós
Pentecostes.
Achei
esquisito, pois um impulso fez-me levantar a mão imediatamente, para
ir visitar a crosta, ver uma sessão de cá para aí, já que tantas
tinha visto, daí para cá, e dentre todos aqueles que por ali
estavam, apenas quatro aceitaram o convite, porque os outros se
mostraram indiferentes ou mesmo do contra.
Celestino
falou-me com bondosa linguagem, sem se mostrar ressentido com a falta
de boa-vontade daquela gente toda. E por ter-lhe eu perguntado do
porquê daquela má vontade, respondeu-me:
– Se
fossem grandes espíritos não estariam aqui e não fariam isso; mas
como são o que são, fracassados e endividados até, temem a si
mesmos. Mal sabem quantas vezes terão que reencarnar, para resgatar
faltas e para irem realizando o Cristo interno, e em que condições,
sabe-o Deus! Enfim, vamos fazendo a nossa parte e dando tempo ao
tempo, que Juiz é Deus, e Divino Juiz que atua com fatos, sem jamais
perguntar coisa alguma a quem quer que seja, porque não é
particularista e não abre precedentes.
– Bem
diferente – acrescentei – do Deus que é pregado pelos
comercialismos religiosistas do mundo!
Ele
comentou, pesaroso, lembrando ações próprias comprometedoras:
– Eu
sei... E sei muito bem, quanto se fala no Deus da Verdade, do Amor e
da Virtude, para depois converter tudo em conceitos estúpidos e em
comercialismos idólatras, só porque é necessário forrar a pança
e a vaidade de muitos homens que não sabem arranjar um ofício ou um
ganha-pão mais decente.
Perguntei,
em face da indiferença e da má-vontade daquelas pessoas:
– E
poderão ficar assim, indefinidamente, desprezando essas
oportunidades?
Celestino
respondeu:
– Não.
E devo dizer que já estão sendo contados os pontos, pois a
boa-vontade é fator de muita importância, desde que o indivíduo
aqui aporta e se vai tornando consciente da situação.
– Em
que sentido haverá imposição da Administração?
– Em
muitos sentidos, pois as comissões julgam e tomam providências, mas
a parte mais importante é o registro que cada um opera em si
próprio.
– Isso
é muito significativo! – exclamei.
Celestino
assentiu com breve movimento de cabeça, acrescentando:
– Lembre-se,
de uma vez para sempre, que o Cristo interno jamais será
desabrochado por segundos ou terceiros. O Pai Divino oferece campos
de atividade, condições e situações, instrutores, profetas e
Cristos Modelos, mas quanto às realizações celestiais íntimas,
isso compete a cada um.
Dentre
os presentes adiantou-se um pastor protestante, que comentou:
– Reconhecendo
os erros de conceito que no mundo são cultivados, e até impostos
com fanatismo, devo dizer que muitos séculos se passarão, até que
os homens consigam admitir certas verdades, ou aquelas verdades, como
disse Jesus, que são de mais difícil assimilação. Eu, durante a
vida carnal, jamais poderia admitir semelhantes verdades. E confesso
que era sincero, que de fato não podia admitir semelhante coisa.
– Eu
também, mas pelo fato de seguir pensamentos alheios – disse um
outro.
Celestino
sorriu, encolheu os ombros e comentou:
– Bem,
já sabem do letreiro que está colocado no Templo de Oração: “De
modo algum os ignorantes, covardes e hipócritas herdarão o Reino do
Céu”. Ora, o Reino do Puro Espírito é o Crístico ou de Unidade
Vibratória com o Princípio Sagrado. Portanto, vamos acabar com os
conceitos errados do religiosismo rançoso, e vamos procurar conhecer
e viver a Verdade, o Amor e a Virtude, a fim de irmos aumentando em
nós os pontos no sentido da autocristificação. Quem já tiver dez
por cento do Cristo realizado, faça por atingir os vinte, quem tiver
vinte queira atingir os trinta, e, assim por diante, até chegar aos
cem por cento.
O
pastor, ou que ainda estava vestido com tais roupagens, opinou:
– E
seria bom dizer, lá no mundo, que não existe religião boa, porque
boa só a Verdade o é!
– Mas
que Verdade?!...– interferiu um frade, com ares rabugentos.
Todos
ficaram a olhar para ele, e foi ele mesmo quem disse:
– A
Verdade toma aspectos os mais variáveis, de indivíduo para
indivíduo, de tempos a tempos, e ninguém consegue igualar os
conceitos, nem o Cristo!...
Celestino
perguntou-lhe, com brandura, pois o velho frade demonstrava falar com
inteira sinceridade:
– O
irmão procurou ler alguma coisa, no mundo, sobre as Iniciações
Antigas?
Ele
respondeu, prontamente:
– Não,
senhor... Fui um sincero filho da igreja romana...
Celestino
ficou a meditar algum tempo, fitou-o bem, e depois aconselhou-o:
– Não
fique a pensar nisso, de agora em diante, pois muito lhe
prejudicaria. Deixe o tempo agir em função da Verdade e dos filhos
de Deus, pois foi também à custa de empregar mal o tempo que os
homens corromperam a Doutrina do Caminho, que nada mais era nem é,
do que o Profetismo Hebreu generalizado. Aquilo, ou aquele ministério
da Revelação, que no Velho Testamento era cultivado de modo oculto
ou esotérico, isso mesmo é que, no Novo Testamento, Jesus derramou
sobre toda a carne. Vá lendo o Livro dos Atos, compreende?
O
velho frade ficou mais à vontade, esboçou um sorriso e disse:
– Sim,
sim... Quem tem que mudar são os homens, não a Verdade!
Celestino
convocou os que deviam visitar a crosta, e mais os que quisessem de
boa-vontade fazê-lo, e disse que estava na hora da partida.
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