Capítulo
XVI
A
Lei representa a Verdade, o Cristo representa o Amor, e a Revelação
representa a Virtude. E como a Verdade é mais do que a Ciência, o
Amor é mais do que a Filosofia e a Virtude é mais do que a
Religião, cumpre a todos os homens de santas vontades o dever de
trilhar a via dos bons trabalhos, para evitar a renovação de atos
criminosos contra a Verdade, o Amor e a Virtude, como tanto já
aconteceu em outros tempos e, infelizmente, ainda acontece muito.
O
Reino do Céu é inverso ao reino do mundo, porque este serve apenas
de ferramenta, para que o espírito trabalhe e atinja aquele.
Todavia, por causa das falsas instruções dadas aos homens, por
aqueles que deveriam dar apenas e simplesmente as boas, grande número
de irmãos se encaminha às trevas, e, infelizmente, o faz em nome da
Verdade que livra. Seria bom separar, sempre, entre fazer alguma
coisa em nome de Deus ou fazê-la, realmente, conforme a Vontade de
Deus. Porque em nome de Deus os mais tremendos crimes já foram e
ainda são perpetrados, enquanto conforme a Vontade de Deus isso
nunca seria feito.
Quando
se trata de cultivo do Batismo de Espírito, que Jesus deixou como
Selo Consolador, importa saber como se o faz e para que se o faz, a
fim de evitar enganos terríveis, crimes monstruosos, por cujos
veículos muitos cultivadores descem por séculos e milênios aos
abismos da subcrosta. E nenhuma observância é mais digna de
respeito, do que o discernimento dos espíritos comunicantes, pois o
que comumente vemos é realmente constrangedor, porque conselhos
absolutamente marginais à Lei de Deus são postos em prática, sob o
pretexto de que as porcarias estão sendo feitas em nome de Jesus e
de espíritos cujos nomes formam no rol dos santos e mártires da
história.
Infelizmente,
por falta de melhores conhecimentos e abuso do direito de ativar a
relativa liberdade de ação, muitos cultivadores da mediunidade
sujeitam-se aos ditames de espíritos que, verdadeiramente, deveriam
ser ensinados em termos de Lei e de modelagem cristã. E como isso
não ocorre, porque os encarnados dessa ordem e misteres afinam com
tais elementos deste lado, temos na subcrosta uma região onde se
aglomeram, por fim, mandantes e mandatários.
Para
quem pensa de modo superficial, surgem dúvidas sobre o comportamento
da Justiça Divina, concedendo oportunidades a tais elementos deste
lado, bem assim como aos encarnados que atravessam anos praticando
malefícios; mas para quem sabe que os mundos infantis são escolas e
que os alunos registram marcas cármicas a serem desfeitas, torna-se
fácil compreender que a Justiça Divina deve contar com fartos
instrumentos de teste. Como sujeitar a teste quem errou em tal ou
qual sentido, sem ter à disposição o elemento necessário? E qual
o elemento necessário de fato, sem ser aquele mesmo em que criou
carma negativo?
Como
tivesse eu visto, no Salão dos Mapas Diagramáticos, que os
aglomerados de espíritos são por ordem de tônus vibratórios, e
como por motivos diretamente ligados a trabalhos informativos
posteriores, tivesse vontade de conhecer o assunto mais a fundo, pedi
que me tornassem acessíveis as descidas a tais regiões, e que
alguém, mestre no assunto, fizesse o favor de me instruir o quanto
possível.
– Muito
bem – respondeu-me o assistente Cândido – você terá as
oportunidades de estudo. Há mesmo, para com você, uma ordem de
facilitar conhecimentos, porque algumas vezes, na sua história,
falhou na função de servir a Verdade, e deve vir a enfrentar, mais
tarde, os mesmos testes. Portanto, observe bem, registre os fatos com
elevação de sentimentos, para que no porvir, quando reencarnar,
tenha esses registros funcionando em termos intuitivos, ou como voz
interior, segundo outros costumam dizer.
Mostrei-me
ao mesmo tempo alegre e apreensivo, e Cândido perguntou-me:
– Por
que se entristece?
– Quero
conhecer os erros alheios, para ensinar a não errar tanto, e eu
mesmo arrasto comigo, talvez, erros muito maiores!
Cândido
ficou a meditar por um pouco, depois disse, ponderoso:
– Com
todos nós acontece o mesmo, variando os fatos apenas de grau, no
concernente às responsabilidades. E como o seu intento é sondar os
arcanos da feitiçaria, ou das leis mediúnicas mal aplicadas, vamos
dizer desde já que nos fundamentos tudo é a mesma coisa, pois ou se
fica com a Lei de Deus e com o Cristo Modelo, ou se fica contra e se
tem que enfrentar a Justiça Divina.
– Então
– objetei – tanto se pode conhecer muito na prática, para saber
como fazem, e o quanto serão mais responsáveis os que mais tiverem
conhecimento de causa, como se pode tomar a linha-mestra de ordem
moral, para dizer que, uma vez havendo o erro, fatalmente terá que
haver a punição.
– Justamente
– retorquiu ele – e você irá ver, em maior ou em menor grau, os
errados menores ou maiores, usufruindo as trevas e as torturas a que
fizeram jus. Uns mais para dentro das trevas e das dores, outros mais
para fora, ou nos lugares de menos trevas e menos dores, tal como a
Justiça Divina determinou que fosse. E como deve saber que a Justiça
Divina funciona de dentro para fora, porque não há onde não
esteja, tudo se torna fácil de compreensão. Isto é, quem cresce no
Bem aumenta as próprias medidas vibratórias, e quem cresce no Mal
diminui suas mesmas medidas vibratórias. É a lei do peso
específico, do tônus vibratório, e se quiser traduzir isso pelas
leis da policromia, pode dizer que o branco opalino está em cima, e
o preto opaco está em baixo, e que aquele que pelas obras crescer,
em qualquer deles, com eles terá que se entender. Tudo, porém, em
termos de autoregistração, de juizado em causa própria.
E
foi muito bom o que Cândido me ensinou, porque sabendo o que a Linha
Moral determina, o mais tudo é questão de pormenores. E com isso,
ao penetrar algumas vezes nas regiões da subcrosta, e duas vezes nos
umbrais, tudo o que vimos foi o Mal ali representado, em vários tons
ou em variantes graus, nada mais. E podemos generalizar, porque no
rumo do Céu Crístico, como teor vibratório individual ou como zona
vibratória, tudo obedece à mesma Lei Moral.
Muito
mais interessante, sob o aspecto instrutivo, foi o que vimos na
crosta, nos ambientes da macumbaria, porque ali havia leis e
elementos sendo postos em prática, para que fatos surgissem como
conseqüência. Embora de ordem maléfica, os fatos derivavam de
ações, de leis e de elementos aplicados, e do ponto de vista
instrutivo todos os acontecimentos são dignos de respeito. Quanto ao
lado Moral, ou quanto ao que tais pessoas estavam registrando contra
elas mesmas, isso é da conta delas mesmas, que assim usavam da
própria vontade e dos recursos naturais, e perante a Lei Cármica,
simplesmente ficaram e ficam marcadas, para sofrer as conseqüências,
nos devidos tempos e consoante o montante dos crimes praticados.
Uma
questão levantada foi a dos pretextos, e a resposta certa é que a
Lei de Deus não abre precedentes: ninguém jamais passará por cima
da Lei!
Outro
motivo de atenção surgiu da falta de conhecimento de causa de uns,
e da maldade de outros, ou dos que movimentam a macumbaria por
dinheiro: e a resposta certa é que, fora da Lei e do Cristo ninguém
tem razão!
– Agora
– considerou Cândido, que tinha função também nos serviços
psicométricos – a questão deve ser encarada através do estudo
psicométrico, pois demanda fortes ingerências de ordem Moral e em
grau bastante elevado, pelo fato de a feitiçaria arrastar imenso
contingente de traição e de covardia, ou por agenciar armas de
ataque desconhecidas da vítima, na maioria dos casos, e também por
usar faculdades mediúnicas, preciosos dons de Deus, que para fins
ilustrativos e piedosos são conferidos.
– Então
– aduzi – ficaremos de novo com o apóstolo Paulo, ao afirmar que
muito nos é possível, mas nem tudo nos convém?
– E
não prova – disse ele – a palavra de Paulo, que o Senhor Deus
concede a vida, os ambientes, os elementos de uso, as faculdades
intelectivas, o senso de responsabilidade, a Lei Moral, a Modelagem
do Cristo, as faculdades mediúnicas e o direito de relativo livre
arbítrio, e de tudo isso o espírito deve fazer o melhor uso
possível? Quem não compreende que, para ser bem usado e não mal, é
que Deus oferece tudo quanto a chamada Criação material contém?
– É
realmente fácil compreender – acentuei – que fazer bom uso de
tudo quanto Deus nos concede, é o caminho da autocristificação. E
aqui, de novo, ficamos a imaginar nos simulacros religiosistas e nas
suas infelizes aplicações, pois aqueles que passam a acreditar no
uso das simulações religiosistas, passam conseguintemente a
desprezar a Religião da Verdade, do Amor a Deus e aos semelhantes. E
a feitiçaria, então, é muito mais criminosa, porque faz o mau uso
de dons espirituais.
Cândido
encolheu os ombros, como a significar que tudo em Deus é simples, e
com sentimento, concluiu:
– A
parte de Deus é acima de discussões, porque Emana e faz tudo
obedecer a leis reguladoras. Quanto à parte dos Seus filhos que se
vão tornando conscientes, a discussão deve girar em torno das
aplicações de si mesmos e de tudo quanto Deus oferecer. E para
ajuizar com acerto, o mesmo Deus nos enviou a Lei Moral e a Modelagem
do Cristo. Repitamos ao mundo, pois, que fora da Lei de Deus e do
Cristo Modelo ninguém tem razão!
E
fomos em busca de outros aprendizes, para formar uma comitiva e
podermos aproveitar muito mais os estudos psicométricos que iriam
ser feitos.
Quando
já no recinto próprio, fomos topando casos e mais casos, e também
fomos ouvindo o mentor dizer, para que sentíssemos o fator genérico,
a linha-geral na base das particularidades, a fim de não acharmos
coisa alguma complicada. E com isso, ou por causa dessas observações,
fomos notando que as faltas, com serem de maior ou menor porte, são
desarmonias íntimas, são manchas no perispírito, constituem as
gravações cármicas, que um dia terão que ser desfeitas à custa
de sofrimentos e novos possíveis fracassos. E isso, como vimos bem,
em qualquer campo de atividade, pois a dialética Bem e Mal está em
toda parte, quando se trata de um mundo como a Terra, ainda de
expiações.
Os
cinco casos mais graves ali apresentados, no espelho psicométrico,
foram diferentes na aparência, mas foram iguais na base ou perante a
Lei de Harmonia. Os errados vieram dos diferentes distritos de
atividade, mas a Lei infringida foi a mesma. As nuances variavam, mas
a Lei infringida era sempre a mesma. Cada qual deles estava marcado
com marcas maiores ou menores, mas todos tinham marcado em si
próprios as marcas criminosas. E, portanto, mais tarde ou mais cedo,
com mais ou com menos dores, todos teriam que se harmonizar.
– Eis
aí – disse o mentor-chefe – que nas bases a Lei é uma só,
embora nas partes pareçam diversas. E com isso, há muita
importância em conhecer a Síntese da Emanação, Sustentação e
Destinação, pois a inteligência humana que chegou a esse ponto,
resolveu para si um grande ou total problema, qual seja o de
reconhecer a Lei Moral que rege a Emanação e a Divina Modelagem do
Cristo, que quer dizer o Caminho a seguir, para atingir a Sagrada
Finalidade o mais depressa possível.
– E
com isso – comentou Cândido – todos reconheçam em Jesus o
Instrutor Divino, o Caminho a seguir, e nunca o Cristo-lavadeira dos
ignorantismos religiosistas. E nos respectivos graus, cada irmão se
reconheça o devedor, aos seus irmãos, de exemplos edificantes,
porém jamais o realizador de seus problemas fundamentais, ou
perdoador de pecados, ou vendedor do Céu a peso e a retalho, essa
vergonheira que medra solta e oficializada no mundo terrícola, desde
remotíssimos milênios.
É
justo que, em face da Lei Moral que é uma, e dos conceitos humanos
que são diversos, quem tem que mudar são os conceitos humanos. Era
no que eu pensava, por estarem ali presentes clérigos e crentes de
vários credos, e até um antigo ateu, e não haver para com quem
quer que fosse, um precedente da Lei Moral, um favor da Justiça
Divina. E por isso, num turbilhonar tremendo, assaltaram-me à mente
as sentenças de Jesus, e principalmente uma delas, aquela que manda
não fazer aos outros o que não queremos para nós, em lugar de
mandar praticar atos ditos de fé, o sujeitar-se o filho de Deus, que
é espírito, a idolatrias ou ritualismos quaisquer, sob pretextos
quaisquer, com fitos salvacionistas.
Como
a sessão psicométrica tivesse encerramento naquele instante, e como
era de hábito ficarem trocando idéias sobre os diferentes assuntos,
depois das demonstrações instrutivas, procurei sair do recinto o
mais depressa possível, tangido por aquela carga meditativa, que me
obrigava a focalizar as sentenças proferidas por Jesus Cristo. E foi
assim que fui saindo, sem ouvir conversas, e fui postar-me debaixo de
frondosa árvore, no amplo jardim daquele imenso edifício. Precisava
meditar, ficar só, entregar-me àquelas meditações e ver no que
daria aquilo, pois tinha um caráter que me surpreendia, pela
vibrante persistência.
Estava
olhando, sem ver, o lago cristalino, porque a mente estava distante,
nos dias em que Jesus peregrinara a carne. Entretanto, aos poucos,
fui obrigado a fixar um ponto, no meio do lago, ponto esse que
formava, aos poucos, um foco brilhante, cada vez mais brilhante, até
que sua fulgurância me fez baixar a vista e quase cair de joelhos.
– Levanta
a cabeça, irmão meu, porque sou eu – disse alguém que se postara
à minha frente.
Levantei,
vi e exclamei, surpreso:
– Jesus!...
Ó Divino Mestre!... Não sou digno, Senhor!...
Sorriu
e conversou simplesmente:
– Desde
quando deixaste de ser uma partícula de Deus, assim como sou eu e
como são todos os espíritos? Não sabes, já, que uma é a Origem,
um é o Processo Evolutivo e uma é a Sagrada Finalidade? Por que,
então, achas que é me exaltando que me respeitas como teu Divino
Mestre?
Meus
olhos ardiam e minha boca silenciava, por mais que quisesse ficar à
vontade, na Sua presença divinamente simples, igual em tudo, no
corpo e nas vestes tal como se fosse um cidadão da região. E foi
Ele quem disse, sempre igual, humilde e conselheiro:
– Não
sou eu que te embaraça, mas sim tu mesmo. Porque eu, sendo uno,
coopero para a crescente união de todos os meus irmãos e tutelados.
Entre nós existe, apenas, a diferença de grau evolutivo e de cargo
funcional; quanto ao cargo, ele não perde de importância, em
qualquer circunstância, porque assim o quer o Nosso Pai Comum. Porém
quanto ao grau evolutivo, esse eu o faço não aparecer, porque
desejo que assim seja, para falar com quem quero, para o fim que
tenho em vista. E assim querendo eu, procurarás tu querer também,
para que venhas a realizar a obra que o Pai Divino quer que seja
realizada. E fica entre nós combinado que em tempo faremos o que
devemos fazer, como o Nosso Deus determina que seja feito.
– Mestre!...
Mestre!... – consegui balbuciar, caindo em pranto.
Senti
a Sua mão quentíssima pousar na minha cabeça, inundar-me de
celestial alegria e tonificar-me de modo inenarrável. Depois a mão
foi retirada, ficando eu naquele Êxtase Divino por algum tempo. E
ouvi que disse, convidativo e doce, como se a Sua voz fosse feita de
mel celestial:
– Eu
quero Amor, porque o Nosso Pai é Amor... Eu quero Verdade, porque o
Nosso Pai é a Verdade Total... Eu quero Virtude, porque o Nosso Pai
é a Infinita Virtude... Eu quero que sejamos todos unos, porque Um
Só é o Sagrado Princípio que nos Emanou e que nos quer ver
realizados em Espírito e Verdade...
Feito
um silêncio profundo, como se o Infinito Emanado tivesse deixado de
existir, fui abrindo os olhos, para ver o Senhor Jesus. Entretanto,
forçado a olhar para as alturas, vi que Ele estava no centro de
multidões de irmãos gloriosos. E aos poucos, tudo foi indo, indo,
até sumir no azul puríssimo e brilhante. Fui para casa e nada disse
a ninguém, aguardando os acontecimentos e sentindo no mais profundo
de mim mesmo um deslumbramento celestial.
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