Capítulo
XVIII
Os
verdadeiristas são, conseqüentemente, fundamentalistas; eles não
formam ao lado daqueles que levantam cultos em torno de, ou sobre
ritualismos e simulacros, nem por interesses vaidosos, de pseudo
mestres de Doutrina, nem por atender à mais deslavada ignorância,
que obriga o seu portador a se tornar representante da famigerada
ordem dos mistérios, dos enigmas e dos milagres, de tudo isso que é
blasfêmia, porque facilita acobertar todas as formas de engodos,
ludíbrios e hipocrisias.
O
verdadeirista é, como o vemos por aqui (e pairam os seus
representantes nas altas regiões e exercitam as altas funções),
aquele que sabe ser tudo em Deus questão de Leis, Elementos e Fatos,
e, portanto, quando já sabe afirma, quando não sabe diz abertamente
que não sabe, porém não busca desculpas para encobrir o que ignora
nem maquinações sórdidas para explorar a própria ignorância e a
dos semelhantes iguais a ele. Quanto mais se sobe na escala dos
planos espirituais, e mais se vai ao encontro dos grandes em Espírito
e Verdade, tanto mais se compreende a repulsa pelos termos, mistério,
milagre, enigma e correspondentes.
Por
assim ser, isto é, porque a Verdade, o Amor e a Virtude tudo
encerram e fornecem, ninguém irá parar no Grau Crístico tomando a
condução que a ignorância, a covardia e a hipocrisia possam
oferecer. E iremos encontrar, por isso mesmo, nas trevas e nos planos
inferiores do mundo espiritual, os donos de religiões e credos, os
que se acreditam guardas da Verdade Revelada e todos os que se julgam
nascidos para serem juízes e fiscais de seus irmãos, em matéria de
verdades espirituais. Ainda na carne já se encontram nas trevas e
lugares inferiores, porque as marcas são lavradas, no corpo
perispirital, na ocasião dos delitos, e, ao exteriorizar as
duplicatas etéricas, também estas revelam as marcas infelizes.
O
que ninguém irá encontrar, nas trevas e nos lugares inferiores, são
aqueles que exemplificaram a Lei de Deus, que imitaram o Cristo
Modelo o quanto possível e os que fizeram da Revelação o
instrumento de advertência, ilustração e consolo, em termos de
pura irmandade, fora de manias mandonistas, etc.
O
Jesus que mandou Pedro ser chefe dos outros discípulos não existiu,
foi o Jesus forjado no século quatro, por ordem de Constantino, a
fim de transformar Roma e seus homens em donos de consciências e
corpos, sob ferro e fogo. A Doutrina do Caminho da Verdade que Livra
é fundamentada em Moral, Amor, Revelação, Sabedoria e Virtude, e
não tem ninguém, nem na crosta nem no mundo espiritual, que seja
capaz de tirar de cada um, quando encarnado, a responsabilidade e o
direito de endereçar sua Mente na direção que puder, sobre as
verdades espirituais. Deus é o Senhor Total e conferiu liberdades
mentais e emocionais, e depois de voltar ao plano espiritual ou de
partida, o Seu filho responderá pelo uso que das mesmas quis fazer.
O
Jesus que realmente existiu mandou a cada um tomar a cruz dos seus
deveres e segui-Lo na observância das leis fundamentais, como Ele
estava exemplificando.
O
Jesus que realmente existiu mandou todos se portarem com
simplicidade, como irmãos, porque a Lei já era conhecida. Ele mesmo
era o Divino Molde que ficaria e o Batismo de Espírito, a Revelação
Generalizada, ficaria como condutora de toda a humanidade. Os
príncipes, disse Ele, seriam os das coisas do reino do mundo, o que
de modo algum haveria entre os irmãos, sobre a Doutrina da Verdade.
Quando
alguém chega daí, e procura saber dos proprietários de religiões
e de sectarismos, na certa sofrerá abalos mentais e emotivos, e em
muitos casos sentirá horrores, porque as medidas aqui se invertem,
os que se julgavam primeiros virão mesmo a ser os últimos. E não
apenas os últimos, porém com acréscimos de dor e de amargos
programas para os dias vindouros.
O
ideal é a exemplificação individual, para qualquer efeito e em
todos os sentidos de aplicação da vida, porque a Lei de Deus não
mudará para ninguém, de modo algum e em tempo qualquer, vindo até,
pelo contrário, a pesar mais sobre os que fizeram das coisas do
espírito um mercado de nobiliarquias e comércios idólatras, de
aparatos físicos e de aparências de autoridade.
Os
Cristos administram as humanidades, mas a Lei e a Justiça emanam de
Deus, o Divino Centro Gerador, que Emana, Sustenta e Determina
através de leis eternas, perfeitas e imutáveis. E quando a Suprema
Ordem determina, o Poder dos Cristos é de Lei e de Justiça, porque
nenhuma Autoridade o é, fora da Divina Autoridade do Emanador Único.
Portanto,
uma vez mais afirmamos, no sentido de abandonarem a mania de fazer
coisas erradas em nome de Deus, da Verdade e do Cristo, a fim de
tratarem de realizar coisas dignas, o que só é possível estando em
Harmonia com a Vontade de Deus.
Todos
dizem que Jesus deplorou, várias vezes, o fato de ser grande a Seara
e de serem poucos os trabalhadores; e nós perguntamos se os
trabalhadores a que se referiu eram os sacerdotes levitas, os
clérigos quaisquer, os escribas e fariseus hipócritas, de que o
mundo estava cheio, está cheio e por muito tempo ainda estará,
enquanto a ignorância das gentes for a alavanca das cogitações
espirituais. Porque, quando a noção da Doutrina Verdadeirista,
fundamentada na Lei de Deus, no Cristo Modelo e na Revelação
Generalizada se generalizar, ganhar os extremos da Terra, como Jesus
anunciou no primeiro capítulo do Livro dos Atos, tudo mudará na
Terra, nenhuma simulação tomará o lugar do respeito absoluto que
se deve a Deus e dos atos de fraternidade que se deve aos irmãos.
A
Doutrina Espírita ou verdadeirista, por ser a restauração da
Excelsa Doutrina do Caminho, que Jesus deixou a funcionar do
Pentecostes em diante, é muito mais do que Ciência, Filosofia e
Religião, porque é Verdade, Amor e Virtude. Não é de fabricação
humana e, portanto, não é de conceitos escolásticos terrenos, mas
sim de Base Absolutamente Divina. Sua essência pertence a Deus e,
conseguintemente, seus efeitos constituem a união do espírito filho
com o Espírito Pai. É a Suma Verdade quem manda, não são os
distantes coloridos periféricos.
A
teologia espírita é, por força de sua mesma essencialidade, o
programa de trabalho que conduzirá o filho de Deus ao Seio Divino de
onde partiu, e dois fatores dela ressaltam: Pureza e Sabedoria nas
obras!
É
bem fácil reconhecer quais os trabalhadores que Jesus disse serem
poucos, em virtude de ser vasta a Seara da Verdade que Livra. De
clérigos, fazedores de discursos histéricos e praticantes de
ignorâncias, covardias e hipocrisias, o mundo estava cheio, como
ainda o está. Não foi essa a Nova Ordem que Jesus veio deixar no
mundo, mas sim para acabar com ela, transmitiu a Doutrina do Pai ou
da Verdade, fundamentada na Lei de Deus, na Sua Modelagem e na
Generalização da Revelação, aquele ministério dos Santos
Espíritos, que Moisés desejara para toda a carne, para tirar dela a
orfandade, a ignorância das Leis Divinas.
E
tão Magna é a Sabedoria Divina, em Leis, Elementos e Fatos, que
Jesus pretendeu matar pela raiz, o dogmatismo criminoso, quando disse
que muitas coisas ficariam por serem ditas, e que só o seriam,
veiculadas pela Revelação Ostensiva, pelo trabalho dos espíritos
comunicantes, por aqueles mesmos anjos, espíritos ou almas, que Ele
proclamou que subiam e desciam sobre Ele, para que toda aquela
pletora mediúnica tivesse curso, e não apenas através d’Ele, mas
pelos séculos a fora, até a consumação evolutiva da humanidade.
Quem
lê o Livro dos Atos compreende o porquê de dizer o Apocalipse, que
o testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia. Compreende o porquê
de ordenar Jesus através do Anjo Relator do Apocalipse, para que os
Seus seguidores ouçam o que diz o Espírito às igrejas ou reuniões
de discípulos da Verdade.
A
comitiva de aprendizes observou, ao redor da Terra, por um tempo que
na crosta valeu por vinte e cinco dias, a todos os cultos ditos
religiosos, e na grandíssima parte, ficou estarrecida com a falta de
espiritualidade dos mesmos. Muito ou quase tudo de formal, de
periférico, de comercialismo idólatra, com a ingerência de legiões
de errados destes lados, de verdadeiros duendes das trevas. Vimos uma
sociedade formada de encarnados e desencarnados, falhos em
conhecimentos e obras, por serem falhos em Lei de Deus, em Modelagem
Cristã e em cultivos mediúnicos sadios, prolongando sobre a Terra
aquelas porcarias religiosistas que Jesus veio combater, e combater
com tamanha veemência, em palavras e atos, que os representantes da
porcaria passaram a vida a persegui-Lo, culminando em assassiná-Lo.
Porém,
como a Mensagem Crística era e é do Céu e não da Terra, do
Espírito e não da matéria, o Cristo Espírito voltou ao convívio
humano, disse do Batismo de Revelação ou Espírito que deixaria a
seguir, e, dando tempo, o tempo de alguns dias, deixou um Pentecostes
Vivo, uma Doutrina que é Viva na própria comunicabilidade dos
homens que passam as divisas tumulares, que vão ser iguais aos
anjos, como Ele ensinou, porque Deus é de vivos e não de mortos, é
do espírito que continua a escalada cristificadora e não do corpo
que volta ao laboratório da Natureza.
A
humanidade está distribuída pelos diferentes fanatismos sectários,
fanatismos que se filtram por homens e livros. E se há um processo
de conduta que possa atrapalhar a evolução do espírito, esse é o
ideal. Cada fanático, com o seu homem na mente estreita e o seu
livro na mão, vale por um soldado da mediocridade em luta perene
contra a sua mesma autocristificação. Ele não pensa e não sente
as verdades que resta conhecer, porque é um doente, é um mórbido,
é um viciado mental.
Corre
por aqui, nos planos superiores, o ditado que diz ser a Verdade, por
natureza, de Deus, e por herança, dos filhos de Deus. Mas essa
Divina Herança, vamos considerar, deve aos poucos ser herdada, por
constituir uma fundamental realização íntima, e não como medida
de graça ou de precedentes da Justiça Divina. E o dogmatismo
religiosista é o maior entrave a essa realização interior.
Numa
igreja ou reunião de calvinistas, vimos um pastor esgoelar-se para
dizer aos seus ouvintes que o sangue de Jesus, aceito como tal, tinha
o poder de lavar os pecados milagrosamente. Entretanto, ele estava
sendo coagido por um seu colega desencarnado, muito mal encarado e em
estado de ignorância do estado, que a ele se ligara por afinidade.
Bem se via que o mal não derivava do modo de entender a Escritura,
mas sim de outras faltas por ele cometidas. Todavia, mesmo que
estivesse bem e consciente, aquilo representaria tudo quanto tinha
ele para conseguir, em espiritualidade? De onde vinha? Onde se
encontrava, na escala hierárquica? Que outros níveis tinha para
atingir? Entretanto, ignorava tudo e negava as Leis Divinas, por ser
escravo de seu fanatismo sectário.
O
antigo incrédulo, sempre a pingar o seu preventivo tradicional,
comentou:
– Esse
deve ter sido quem ensinou o Emanador a fazer tudo quanto fez!...
Essa é a gente que libertará o mundo da ignorância e do pecado!...
Esses é que são os inspirados pelo Espírito Santo!...
Como
antigo clérigo, fiquei envergonhado, porque aquelas palavras saíam
de um antigo incrédulo. Nós não éramos melhores do que ele,
embora ele não fosse melhor do que nós. Entretanto, nós tínhamos
praticado muitos erros em nome de Deus, e ele tinha praticado boas
obras com as graças de Deus, sem saber e sem esperar pelas
recompensas futuras! Nossas ginásticas religiosistas de nada nos
valeram, e as boas obras, dele e nossas, garantiram o pouco de Céu
que chegamos a ter. E quando irão os donos de religiões entender a
Lição que a Lei de Deus ensina, que o Cristo testemunhara e
testemunha, e que a Revelação continua a passar adiante?
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