Capítulo
XIX
O
espírito passa por três fases distintas durante o processo
autocristificador: a fase de embrião, quando vive por conta dos
automatismos inconscientes e dos instintos; a fase intermediária,
que vai dos instintos até a fase de consciência individual
precária, quando faz das superstições, das idolatrias, dos
enigmas, dogmas, mistérios e panacéias ritualistas o seu programa
de conduta espiritual; e a fase de superação da mediocridade,
quando começa a compreender que o Pai Divino é Espírito e Verdade,
e que ele, o filho, a isso deve chegar.
Enigmas,
mistérios e dogmas são as armas dos infantes que se presumem
adultos muito bem desenvolvidos; sem aparências enfáticas nada
conseguem ser e fazer, porque essa é a fase dos rótulos e das
petulâncias. Em todos os séculos anteriores a Jesus, e depois da
corrupção romana da Excelsa Doutrina do Caminho, as panacéias
simuladoras, os rótulos de variada ordem tomaram conta do mercado
das atividades ditas religiosas. Os cenáculos iniciáticos, de
portas muito fechadas ao povo, sabiam que só a Moral e o Amor
vividos eram os cultos inteiramente edificantes, antes do Cristo. E
mesmo eles, depois, foram cedendo ao mundanismo, aos engodos e
paramentos exteriores, perdendo a Força da Moral e do Amor
Praticados.
Ensinar
ao discípulo que conservasse o mistério, porque se o mistério
deixasse de ser, ele também perderia a sua força, é simplesmente
monstruoso, e crime confesso contra a Moral e o Amor. É o
comportamento do jovem que, por mera petulância, pretende ostentar a
sabedoria acumulada do ancião. É, enfim, a prova de que ouviu falar
em Espírito e Verdade, como Medida Certa, porém não sabe o que
isso é, como é, para o que é. O passado, a tradição, o vício
das manias formais lhe não permitem a libertação, e, portanto,
procura substituir alguns rótulos por outros, algumas idolatrias por
outras, e vive seus vazios de alma com aparências de fartura. É só
casca, não tem cerne, porque é tudo enigmático e misterioso para
ele. E quando a Realidade Espiritual demonstra um fato, um
acontecimento mediúnico ou profético, por viver ele fora das Leis,
dos Elementos e dos Fatos, qualifica de milagre, de coisa
sobrenatural.
Onde
e quando vamos encontrar a prova real, a prova de fato das falsas
conceituações? Quando é que os enigmáticos, os misteriosos e os
milagreiros caem por terra e deixam os seus crentes em situação
ridícula? Essa prova surge da morte física e do comparecimento no
mundo espiritual, porque as figuras de fachada por aqui não valem
como medidas edificantes. Aparências de Moral e de Amor ficam bem na
crosta, diante dos olhos turvos da ignorância.
Naqueles
dias de grandes aprendizados, quando as comitivas eram formadas e as
viagens traduziam acúmulos experimentais maravilhosos, Vicentina
convidou-me para uma descida à crosta, a fim de recolher uma nossa
irmã, cuja romagem carnal findava.
– Será
mais uma lição – disse ela – que muito irá valer algum dia,
quando tiver que realizar um trabalho informativo, pois quem ajudou a
corromper a Doutrina Consoladora, estribada na Lei de Deus, no Cristo
Modelo e na Revelação Generalizada, terá que ajudar a repô-la no
devido lugar.
Nada
disse eu, porque vivia somando fatores e confiando no Céu.
E
no devido tempo, fomos parar no seio de uma família, onde uma mulher
de idade bem avançada estava de partida do mundo, e em condições
tais de vantagem espiritual, que embora estando ainda presa ao corpo,
suas radiações maravilhavam nossos olhos e ungiam nossos corações
com o bálsamo celestial.
Vicentina
informou-me, depois de fazer algumas apresentações, dentre elas a
de um irmão desencarnado, de quem disse:
– Este
irmão fora seu marido e ostentara, no mapa das movimentações
espirituais, alguns títulos respeitáveis... Ela, entretanto, foi
uma esposa e mãe a quem não sobrou tempo para cultivar devoções
tabeladas ou sistemáticas...
Naquele
momento dava entrada no recinto uma comitiva esplendente e Vicentina
apresentou-me à funcionária que devia cortar a ligação, para que
a nobre irmã desse entrada, e muito gloriosa, no mundo onde o ranço
e a ferrugem não formam, sem ser nos lugares de pranto ou ranger dos
dentes, ou nas regiões inferiores, onde os dramas de consciência
medram a valer, ofuscando as alegrias.
E
minutos depois, as mãos autorizadas da funcionária se impunham e a
irmã era suspensa num como dossel feito de luzes e melodias suaves.
A consternação dos encarnados contrastava com as alegrias do nosso
plano, porque um espírito, um filho de Deus, que não teve tempo
para gastar com as lantejoulas do religiosismo, subia aos planos
superiores guindado pelas forças da Moral e do Amor que aplicara nos
dias de romagem carnal.
– Venha
ver – convidou-me Vicentina.
E
fomos ver a farta biblioteca do esposo, daquele espírito que, frente
à esposa, parecia uma vela diante do sol, tal a disparidade
vibratória.
– Olhe
para o pergaminho – apontou Vicentina, logo mais.
E
lá estava um título honorífico pomposo, muito ricamente
emoldurado, enquanto o seu dono se encontrava, infelizmente, muito
pobremente iluminado. Bem se via que, entre o Olho Divino que dá
segundo as obras, e o olho humano que recomenda e encarece as
aparências, a diferença é muito grande.
– Pois
é! – fez minha irmã, olhando bem para mim.
– Pois
é o quê? – perguntei, sequioso de sua opinião simples e direta.
– Jesus,
o Divino Molde, não trocou todos os rótulos pelo simples dar dignos
frutos pelo exemplo?
Calei-me,
porque um sentimento profundo me impôs derramar duas lágrimas.
– Está
disposto a observar – convidou ela – mais uma demonstração de
como as coisas se passam de modo diferente, entre os visos de Deus e
os visos humanos?
Refeito,
respondi que muito tinha para agradecer a Deus, e que muito mais
ainda tinha vontade de agradecer pelos ensinos que com profundo
respeito receberia. Dito isso, minha irmã comentou:
– Lembre-se
de que nós vemos de fora da carne para dentro dela, e que os
encarnados muito mal vêem de dentro para fora da carne; lembre-se de
que a encarnação é limitação imposta, para que o espírito
prove, pelo emprego do seu livre arbítrio, que é capaz de vencer e
galgar melhores postos na hierarquia espiritual.
– Mas
– ponderei – tendo o encarnado por instrumentos de uso a Lei de
Deus, a Modelagem do Cristo e a Revelação Generalizada, com suas
advertências, ilustrações e consolações. Ora, Vicentina, isso
tudo é quase o Céu aberto ao dispor de um encarnado inteligente e
honesto.
– Sim
– retorquiu ela – para quem assim entender; mas o que fez você,
um homem culto, depois de conhecer o Espiritismo, a Doutrina do
Caminho restaurada?
– Para
mim – respondi – fui uma vítima do comodismo religiosista e do
juramento à igreja romana.
– Por
que, meu irmão, não compreendeu que a Verdade, o Amor e a Virtude,
representam mais do que comodismos e juramentos para com tabelinhas
inventadas por homens?
– Talvez
o passado, a imposição do carma... – fui dizendo.
Ela
me interrompeu, para afirmar:
– Vamos
compreender, Bento, que passados e carmas envolvem a todos os filhos
de Deus ainda em processo evolutivo, e que todas as medidas de
precaução podem falhar, desde que orgulhos, ciúmes e vaidades
fiquem de fora. E como tudo nos é fácil observar e entender, por
aqui, contando com as oportunidades que o Pai Divino nos concede,
vamos tratar de aprender o quanto possível, para dar os melhores
exemplos. Quanto ao mais, como tem observado, cada um que volta da
viagem carnal, é alguém que teve de enfrentar seus testes, e que
nem sempre passou bem por eles, o que constitui responsabilidade
própria, em face do que mereceu ou deixou de merecer, com vistas ao
Grau Crístico, pois o problema do espírito é ser cristificado e
não apenas ser cristão.
– Eis
aí – disse eu – uma verdade que todos deveriam compreender de
uma vez para sempre: não ser apenas cristão, mas sim atingir a
cristificação. Uma vez compreendido que Jesus foi apresentado, pelo
Emanador, como Divino Molde, o dever de cada qual é procurar a
imitação, não através de panacéias litúrgicas ou discursozinhos
histéricos, e sim através de obras.
– Sim,
Jesus mandou dar dignos frutos pelo exemplo, e o capítulo final do
Apocalipse resume toda a Moral de todas as Bíblias já transmitidas
à humanidade. Mas você ainda terá muito para ver, a fim de
compreender o quanto é difícil ao espírito vencer o orgulho, o
ciúme e a vaidade, pelo fato de fracassar na luta contra o
famigerado egoísmo.
Fez
um sinal, convidando-me a segui-la, e volitamos até outra cidade
terrena, bem para dentro de uma casa espírita, onde se movimentavam
muitíssimos irmãos encarnados e desencarnados.
– Lembre-se
bem – advertiu ela – de duas verdades básicas: uma, que estamos
no seio da Excelsa Doutrina do Caminho reposta no lugar, com as
pessoas tendo, por isso mesmo, assumido mais responsabilidade; duas,
que cumpre não confundir a Doutrina com as pessoas, pois enquanto a
Doutrina deriva de Deus, a conduta humana deriva dos seres humanos,
cada qual com o seu grau evolutivo e os seus altos e baixos.
– Muito
bem! – respondi.
– Então
– retomou ela a conversa – vá observando as pessoas em
particular, mas faça-o com o máximo de sua capacidade de
penetração, para ver além da carne, indo até o histórico da
pessoa, que está gravado, sempre, na própria pessoa.
Apelei
para o máximo de minhas possibilidades e observei que o todo se foi
dividindo, cada qual se revelando na intimidade, distinguindo
maravilhosamente a personalidade construída através do processo
evolutivo. O todo humano, ali exposto, tornou-se uma exposição de
características cármicas individuais, revelando as diferenças
evolutivas, as tendências e tudo o mais, até aos mínimos detalhes.
– E
então? – perguntou minha irmã, depois de um bom tempo.
– É
maravilhoso!... Mas quanta porcaria ainda temos conosco!...
Minha
irmã sorriu, satisfeita, para repetir:
– Quanta
porcaria ainda lastreamos, não é verdade?
– Sim,
minha querida irmã, ainda estamos longe do Grau Crístico!
Tornou
a sorrir, apontou a todos e perguntou de novo:
– Entretanto,
observe, todos para lá estão marchando... Uns mais adiantados,
outros mais atrasados, mas a chegada é o Grau Crístico!
Reparei
que o mundo espiritual descia, que o ambiente se enchia de multidões
de irmãos destes lados, porém carecidos de amparo, mal ajambrados,
aleijados e sofridos de variada ordem. Vinham trazidos pelos
trabalhadores de diferentes postos de socorro, que os colocavam em
seus devidos lugares, tudo obedecendo a uma celestial disciplina.
– Está
na hora de começar a sessão de passes e irradiações, a mais
preciosa para nós, os que trabalhamos juntos aos desencarnados
desajustados de variada ordem. É por isso que os comandados de Maria
os trazem... Desprezaram o sagrado banco escolar que é a encarnação
e, por isso, voltam para junto dos encarnados e com eles aprendem e
curam-se... É uma lição de Deus, que ensina através de fatos...
Encantado
com a perspectiva de rever a Mãe querida, esqueci de tudo; e
Vicentina, olhando-me com ternura, falou-me que ela viria, pois onde
se encontram os necessitados de amparo e os que realmente querem
ajudar os seus irmãos sofridos de diferentes males, ali estão a
Vontade de Deus, o Cristo Modelo e todos os trabalhadores do Bem.
O
presidente fez soar a campainha e anunciou que era chegada a hora dos
passes individuais, o que motivou grande deslocamento de irmãos de
ambos os lados. Cada médium passista foi para o seu lugar e atrás
dele foi ter um servidor deste plano. As pessoas sentavam, recebiam
um jorro de elementos fluido-eletromagnéticos e tornavam ao seu
lugar na assistência.
Quando
todos haviam recebido a imposição de mãos conforme as práticas
ensinadas por Jesus, o presidente leu e comentou um trecho do
Evangelho, por uns vinte minutos, se a tanto chegou. E com isso o
ambiente psíquico subiu muito no teor vibratório.
Foi
então que o presidente anunciou o trabalho médico do mundo
espiritual, lembrando a personalidade de Bezerra de Menezes, a última
encarnação do Apóstolo médico que fora Lucas, no comando dos
mesmos serviços médicos. E o trabalho foi de portentosos efeitos
perispiritais. Como o momento era propício, tudo se ampliou e vimos,
então, os corpos dos encarnados mostrarem tudo, inclusive os porquês
cármicos, e os médicos e enfermeiros do mundo espiritual fazerem o
que era permitido pela Justiça Divina.
Seguindo,
disse o presidente que era a hora dos desencarnados precisantes. Foi
um deslumbramento, um Céu a se derramar sobre multidões
escalonadas. Havia distribuição por ordem de males e de
merecimentos, com legiões de servidores a trabalhar, e nas alturas
pairava glorioso o Cristo Modelo, transformado numa Divina Fonte de
Luz, que descia e se desdobrava, passando por Maria e seus
comandados, e indo atingir os precisados, mas tudo muito filtrado,
distribuído com uma técnica de causar pasmo.
Quando
aquela parte findou, o presidente lembrou os hospitais da carne, os
doentes em geral, e a trabalheira mudou de rumo. Encarnados e
desencarnados formaram um centro de energias e luzes, e verdadeiros
canais estenderam-se, indo parar nas mais distantes casas de dor e de
recuperação. Vimos o quanto vale a oração, e o que por seu
intermédio fazem os socorristas espirituais, aplicando sabedorias e
técnicas que os encarnados estão muito longe de compreender.
Entretanto, a oração dos encarnados auxiliava de modo celestial,
para que tudo aquilo fosse feito.
Ao
término da oração de encerramento, subimos ao nosso plano,
satisfeitos de ter auxiliado um pouco, porém muito mais ainda, pelo
quanto aprendemos. Realmente, é só dando que se recebe e só amando
que se é amado.
Já
em nosso campo normal de vida e movimentações, porque naqueles dias
de aprendizados tudo era questão de acumular conhecimentos, porém
sem a menor sujeição a programações rigorosas, fiquei de ter
contato com minha mãe assim que ela pudesse me atender, com bastante
tempo ao dispor, para trocar idéias à vontade. É que, nestes
planos da vida, tanto quanto as Verdades Matrizes oferecem
oportunidades infindas de sondagem, por causa das profundidades
inerentes, também os pormenores, as particularidades, crescem
imensamente, para todos os lados, toda vez que um fato ocorra,
contendo em seu bojo elementos de contato com a crosta ou com os
planos superiores.
Para
cima vamos no rumo da Síntese Geral, da Verdade que se concentra
cada vez mais, onde a Moral e o Amor comandam tudo, pois sem esses
dois fatores essenciais ninguém jamais atingirá o Grau Crístico; e
para baixo vamos no rumo da diversidade de leis, elementos e fatos,
onde a Moral e o Amor diminuem de intensidade, precisamente para que
o espírito, procurando conhecer e lutando para vencer, revele o
Cristo Interno o mais breve possível. Quem, partindo de planos
superiores, mergulha na crosta, para entrar em contato com os
encarnados, tem que se limitar, é obrigado a se restringir ou perder
muito em suas virtudes expansionais. Quanto ao encarnado, sujeito às
leis de meio, goza das mesmas e está plenamente no seu elemento. Se
não sofrer dor e não for constrangido moralmente, a vida carnal é
para ele uma dádiva celestial, por usufruir dos bens do mundo e por
constituir o mundo a ferramenta ideal de progresso.
E
todos poderão, com um mínimo de inteligência, compreender a
diferença que os dois planos oferecem, quando seus elementos
penetram o campo contrário. Nós sofremos restrições por causa da
materialidade do vosso meio e vós por aqui sofreis restrições por
causa do aumento do teor vibratório. E quanto mais penetrarem os
elementos pelo campo contrário, tanto mais as limitações se irão
acentuando. Para nós atrapalha o aumento de densidade, para vós o
aumento de luz vibrante.
Por
exemplo, na hora em que o presidente pediu para os encarnados
presentes, o jorro de Luz Divina que partia do Cristo, pois Ele era a
Fonte Divina, ou quem filtrava o que Deus mandava aos necessitados,
vimos que, atravessando Maria e suas legiões imediatas, passava por
outras escamas ou ordens vibratórias, e descia sobre os encarnados
como Luz Divina materializada, diminuída, ofuscada, e com bem
acentuadas diferenças de indivíduo para indivíduo.
O
mesmo ocorreu quando as atenções se voltaram para as legiões de
espíritos sofredores, pois os escalões estavam distintamente
dispostos e cada um recebeu o jorro de Luz Divina de modo diferente,
ou segundo como seus perispíritos podiam assimilar. Tudo, enfim,
vinha de Deus pelo Cristo Planetário, atravessava gamas vibratórias
descendentes e atingia os precisados segundo as suas possibilidades
de assimilação.
Quando
eu, Vicentina e a nossa mãe, longe da cidade conversávamos sobre o
assunto, disse-nos ela que não pode ser de outro modo, porque se a
caminhada do espírito é para cima, e só com muita luta conquista o
galardão crístico, ao ter que enfrentar um espírito o mundo
material, tem que respeitar a mesma lei. E assim é nos planos
espirituais, pois visitar os de mais baixo nível vibratório impõe
uma espécie de restrições, enquanto visitar os mais de cima obriga
a adquirir as ajudas vibratórias indispensáveis.
– E
com isso, meus filhos – disse minha mãe – temos a prova simples
de como o nosso Pai Divino legislou, desde sempre, para que cada um
chegue a ter o que em si mesmo fez por merecer. E que o conquistado,
por esforço próprio, é distinto, ninguém poderá jamais tirar ou
discutir, sem ser o próprio indivíduo, cujo direito de livre
arbítrio é eternamente assegurado pelo mesmo Pai Divino.
– Tudo
demonstra – interveio Vicentina – que as grandes conquistas são
as que se revelam de dentro para fora, e não as que se consegue de
fora para dentro, como falsamente fazem crer os mercantilismos
religiosistas e os fanatismos piegas que o protestantismo esparrama
pelos seus prosélitos. O espírito deve crescer e vir a ser uma
Potência Divina, e não alguém salvo apenas, conforme o tacanhismo
das escolas sectárias do mundo.
Naquele
momento, olhando pela colina abaixo, vimos que três mulheres vinham
subindo, e que pareciam três camponesas, vestidas com trajes muito
lindos e características de diferentes locais da Terra. Ao chegarem
a nós, embora os trajes e as aparências apresentadas fizessem-nas
diminuídas, bem se via que eram habitantes de planos muito
superiores. Seus olhos continham muito do Reino de Deus, para que se
não visse prontamente de onde teriam vindo. E minha mãe, que
penetrava muito mais do que Vicentina e eu, primeiro fitou-as com
atenção e depois fez uma reverência em que se notava, a um tempo,
profundo amor e respeito hierárquico.
E a
conversa tomou conta de todos nós, fazendo-se notar o fato de que
elas sabiam tudo sobre nós e nossas vidas e problemas. Quando
cheguei a dizer que tinha em mente algo que deveria vir a fazer, uma
delas prontamente asseverou que tudo estava programado, e que
contasse com o auxílio devido, pois minhas faltas estavam
diretamente ligadas aos assuntos centrais da Excelsa Doutrina
transmitida por Jesus, e que, depois de muitos séculos e por haver
já resgatado muito, iria ter oportunidades várias, que
constituiriam testes e meios de firmar posição, a fim de
constituir, tudo isso, tentos a contar com vistas às próximas
encarnações.
– Então
– comentei – devo agradecer o Céu, por me envolver assim com tão
apreciáveis cuidados, com graças que, tenho certeza, não mereço.
– Abigail
tem o seu roteiro pronto – continuou ela – e pode estar certo de
que em tudo entram alguns merecimentos e algumas graças... Nosso Pai
é pródigo, sempre que em Seus filhos aflore, de fato, a vontade de
trabalhar pelo bem das coletividades. No seu caso, tudo converge para
a documentação doutrinária. E como estamos na hora
cíclico-histórica das grandes movimentações transitivas, importa
que tenha oportunidade de trabalho na Seara do Caminho.
Olhando
para as três detidamente, tive vontade de perguntar muito mais, ou
de esvaziar a alma de tanto perguntar; mas a terceira, que nada havia
dito ainda a respeito de meus futuros trabalhos, aconselhou e com um
carinho maternal por demais evidente:
– Filho
querido, confia no Pai, no Cristo e em todos nós... Lembra-te sempre
do querido Apóstolo Amado, porque em suas mãos está a direção do
Espírito da Verdade, que agora designamos chamar Mensageiria Divina.
Tangido
por forte emoção, mal pude responder:
– Eu
sei o quanto merecem confiança... Eu desconfio é de mim...
– É
um bom sinal – aduziu ela – pois quem não cuida bem da
autocrítica é capaz de cometer erros tremendos. Entretanto, se
procurar sempre estar embasado na Lei, no Cristo e no cultivo sadio
da Revelação, tudo terá em mãos para sair bem.
Aquela
em cujos olhos havia mais Céu, ou que revelava mais elevação,
envolveu minha mãe pela cintura, com o braço direito, e convidou:
– Vamos
para o seu gabinete de trabalho, que devo entregar-lhe um recado.
Minha
mãe beijou-lhe a face linda e murmurou:
– Senhora
Eleita, seja sempre como tu quiseres.
Eu
tinha certeza de que ali estavam Maria, a Madalena e Abigail, e
quando elas se foram, subindo, depois de tudo quanto foi feito e
dito, suas vestes mudaram, fizeram-se estrelas cintilantes. Bem do
alto, quando suas luzes divinas contrastavam com o azul puríssimo,
enviaram palavras carinhosas e irmãs, dizendo que estariam sempre
conosco, porque em evolução éramos diferentes, mas em Origem e
Finalidade éramos iguais.
E o
programa foi cumprido em parte, e em parte será ainda, porque em
breve estarei na carne, cumprindo uma tarefa que, com a ajuda dos
maiorais da espiritualidade, saindo vitorioso, muito significará
para mim. Cada um de nós é um Cristo em elaboração, é uma
consciência em processo de expansão divinal, e para bem se servir,
importa que sirva os seus irmãos. Quem ajuda a cristificação dos
irmãos, a si mesmo se ajuda, no mesmo sentido. E quem prejudica o
processo de cristificação de seus irmãos, a si mesmo se prejudica.
Parem
de dizer que Jesus disse isto e mais aquilo, e vivam a Moral e o Amor
que Jesus viveu, durante o Seu processo evolutivo, até chegar a ser
o que é. Porque Divino Molde o é, e deve ser igualado por evolução,
nunca porém exaltado através de ritualismos e de discursozinhos
piegas. Amor, muito amor nas obras, eis a medida que cristifica, pois
o Reino de Deus, como Jesus bem advertiu, não virá com mostras
exteriores. Na Terra ou em outros mundos, antes ou depois, sofrendo
severas punições se for necessário, mas o Reino de Deus, que cada
um tem dentro de si mesmo, pelos seus esforços terá que ser
evidenciado.
Em
nenhuma parte e em tempo qualquer deixarão de ser indispensáveis a
Lei de Deus, a Divina Modelagem de um filho Verbo e o Ministério da
Revelação que adverte, ilustra e consola. Se derem a esse triângulo
as devidas atenções, em obras, muito facilitarão o despertar do
Cristo Interno, consoante a Divina Modelagem do Cristo Externo. Caso
contrário, chorem sobre seus mesmos erros, porque de agora em diante
se cumprirão as profecias que estão no Apocalipse, do capítulo
quatorze em diante, quando marca a entrada na fase de maturidade, o
que motivará a separação entre cabritos e ovelhas.
Discernir
entre o Bem e o Mal é a chave da sabedoria cristificadora. Se de
Jesus rezava e reza o Velho Testamento, que comeria leite e mel até
saber discernir entre o Bem e o Mal, como de fato aconteceu, isso
também é normal na vida de todos os filhos de Deus, observando-se,
é justo, as proporções evolutivas e funcionais. Se para Jesus o
meio de discernir era viver a Lei de Deus, pois ela manda fazer todo
o Bem e jamais fazer o Mal, também assim o é para os filhos de Deus
em geral. O espírito da tese está na sentença vivida, não apenas
falada, por Jesus, aquela que manda não fazer a outrem o que não
gostaríamos que nos fizessem.
De
todo e qualquer modo, sabendo o que diz a caudal de literatura
mediúnica ou não, pois o mundo enche-se de muitas e muitas
palavras, o fato é que o homem está postado entre o Bem e o Mal, é
obrigado a viver lutando, e ninguém veio jamais para lhe tirar a
responsabilidade das obras praticadas nem virá. Perante a Justiça
Divina é que vive o homem sobre a Terra, sendo obrigado a ser
social, a ter contato com os seus semelhantes, contato que lhe
facilitará, queira ou não queira, a exercitar o Bem ou o Mal,
ficando diretamente responsável pelo que fizer.
O
excesso de palavrórios, escritos e falados, por certo avassala a
humanidade. Milhares contam-se, como bem vemos por todas as partes,
que procuram mensagens e mais mensagens, para se encherem apenas de
literaturas superficiais, porque nenhuma mensagem, em tempo algum e
em mundo qualquer, vem a ser maior do que a Lei de Deus e a Divina
Modelagem do Cristo Planetário. A Lei representa a Vontade de Deus e
o Cristo Modelo representa o Caminho a Seguir. A Revelação é o
instrumento que lembra e confirma as duas testemunhas, além de fazer
compreender os pormenores da Lei e do Cristo.
Ai
daquele que, por se esquecer da Lei de Deus e do Cristo Caminho,
perder a noção de contenda entre o Bem e o Mal, e se fizer um mau
exemplificador entre os seus irmãos. Porque a Justiça Divina jamais
aceitará pretextos religiosistas ou sectários, como medidas
desculposas. Aí no mundo podem pensar segundo as escravizações
religiosistas, mas aqui tudo se passa de modo totalmente diferente.
Quem não amou em obras, acima de preconceitos humanos quaisquer,
terá que sofrer nos lugares de pranto e ranger dos dentes, até
resgatar o último ceitil, para depois continuar a caminhada em busca
da Verdade, do Amor e da Virtude.
A
Lei de Deus e o Cristo ensinam!
A
Justiça Divina obriga a respeitar, através de Fatos, no Espaço e
no Tempo!
A
Revelação Generalizada por Jesus, corrompida pela Roma pagã e
restaurada pelo Profeta Elias, com o nome de Espiritismo, nada mais
faz do que advertir, ilustrar e consolar. Portanto, aos sôfregos
buscadores de mensagens superficiais, dizemos que se voltem para
dentro de si mesmos, onde está o Reino de Deus que não virá com
mostras exteriores, e à custa de viver de modo decente, procurem
despertá-lo. Porque, sem ser assim, jamais o terão!
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