PREPARANDO UMA SORTIDA
Estareis fartos de instruções como
estas, graças ao que outros já fizeram, de ordem superior, isto é,
por mandato da Diretoria Planetária, segundo os canais competentes;
mas, minha vida é muito para o meu universo pessoal. E quero fazer
de mim aquilo que posso. Ofereceram-me oportunidade? Eu a
aproveitarei.
Recebi, e Fábio também recebeu, uma
cartilha. Um livrinho que versa sobre tudo um pouco, contendo
ilustrações sobre a Terra e seus planos etéreos, a começar do seu
centro. É fácil de ser lido, e também entendido, de modo geral. É
o diagrama da Terra total.
Com a leitura desse livrinho, os
pensamentos sublimaram e a restauração da saúde se processou
rapidamente. Também com relação à família a coisa mudou, pois o
livrinho ensina a usar o pensamento, como dínamo transmissor de
ondas. Basta se pense com inteligência e amor, pois o mais é enviar
mensagens, mentalizando a pessoa ou ambiente em geral. Também para a
captação ou absorção dos elementos cósmicos, dos fluidos
superiores, deve-se proceder do mesmo modo, ensina o livrinho. O
pensar é o poder de reunir o fluxo e o refluxo, num só propósito,
que relativamente ao espírito, ou para tudo o mais que entre na
composição da vida, de ordem moral, mental, intelectual ou
material. O ser é um centro dinâmico e o cérebro é sua estação
para captar e transmitir. Como se pode saber e sentir, do melhor ao
pior, assim se pode servir ou prejudicar. Apenas, ensina o livrinho,
é lei da vida, antes de arruinar a outrem, quem mal sabe e mal age,
a si mesmo em primeiro lugar se prejudica, revestindo-se de aura e
elementos perniciosos. É certo, pois, que pelo pensar cada qual se
coroa de modo próprio. E sabe-se que uma coroa infecta não será
destruída assim à toa. Perdão não existe; o que por obra se fez,
por obra se terá que desfazer. O resto é falso. E não se diga que
a dor seja um ramalhete de flores, por isso pode ser dito por quem
esteja em paz, em gozo, para efeito de retórica ou ênfase
literária. A realidade é que a dor é um monstro que se levanta do
crime, do erro, da corrupção, havendo só uma arma para vencê-la —
o uso do bom senso! O bom senso é conhecimento e amor. Flor, ou
ramalhete delas, só a paz e o gozo o podem ser; o mais é falso, a
prática ensina-o muito bem. De resto, faça cada qual a sua análise,
quando esteja nos abismos infernais, ou com a tremenda dor, de ordem
seja qual for. Isso digo do mais profundo de mim mesmo, com a
sinceridade máxima, por querer a paz e detestar a tormenta, seja de
que aspecto for.
A dor, como fenômeno mecânico deve
ser estudada e eliminada, pela base. Nunca poderia ser mais que
conseqüência de maus feitos, de desequilíbrio. Logo, nunca será
flor e nem brinde do céu. É apenas o testemunho da falta. Cumpre,
pelo sintoma, ir à causa e repará-la. O bonito está no agir com
inteligência, com esmero, no sentido de liquidá-la o mais pronto.
Tecer-lhe elogios, levantar-lhe pedestal, cantar-lhe odes, isso nunca
farei. Revivi tristes e dolorosos cometimentos, sofri os tremendos
horrores. Singrei o chão lamacento e esfacelei as carnes nos
pedregais infindos. Quero que aqueles de meus irmãos, que me vierem
a ler, pensem da dor o que eu penso — que é um monstro que
precisamos eliminar, o mais ligeiro possível, usando de todos os
recursos da razão e do caráter em geral. Deus não nos quer
sofrendo.
Para a glória é que somos voltados,
não para o pranto e ranger de dentes. E não se diga que à dor
cumpre encaminhar ao bem; vi legiões de tremendos e horripilantes
seres, que, afogando-se nos limbais e pútridos abismos, nem assim
ostentavam outra atitude em face da Justiça Suprema, que não fosse
de ódio e rebeldia.
Antes da dor, que é famigerada filha
da mazela, a quem devemos apelar são às ações nobilitantes,
inteligentes, produtos das divinais virtudes despertas. Punição é
para os teimosos, para os delinqüentes. Uma vez estudada a dor, em
suas origens, devemos tudo fazer por liquidá-la. O resto é
louvaminheira gratuita, de gente que de medo, pensa fazer-se
recatada. E dirijo-me seja a quem for, porque penso e sinto assim,
estribado em Jesus Cristo, que não falou em pranto e ranger dos
dentes, pensando em flores ou ramalhete delas...
Usemos, pois, o poder mental, para
criar liberdade e céu.
Certo dia, quando passeava por uma
avenida da região, em companhia de Fábio e uma senhora
convalescente, surgiu-nos Mesquita pela frente, trazendo no semblante
feliz, a boa nova:
— Iremos, hoje à noite, à crosta.
Estejam prontos às sete horas.
— Eu também? — quis saber a
senhora.
— E por que não? — tornou
Mesquita — Já está muito melhorada. Além do mais, como ireis
ver, os fluidos emanados dos encarnados são revigorantes e
curativos. Há casos em que, em virtude de faculdades, para efeito de
cumprimento de missão, seres encarnados, oferecem elementos
fluídicos maravilhosos. Valem por cadinho renovadores.
— Agradeço a oferta, senhor
Mesquita — disse a senhora.
— Agradeço a Deus a oportunidade
de servir, e aos amigos em geral o consentimento, para que meus
planos de solidariedade se concretizem. Tenho em vista um programa de
trabalhos. E sem findar um período preparatório, como encetar o
complementar? Eis, portanto, que sou eu quem carece de vossa boa
vontade.
— Nem sei o que pensar... nem sei o
que dizer — murmurou Fábio, ante aquela torrente de fraternidade,
em que Mesquita se revelava.
ÍNICIO - CAPA