OS DONS MEDIÚNICOS
“O desabrochar interno é o avançar
rumo à Verdade. Por isso mesmo é que não se consegue tanto e com
facilidade. Pelo despertar interno oferecemos pólos de contato, ou
mediunidades, que variam ao infinito em tons e matizes. E um poder de
contato com o plano astral, intenso contato, nunca poderia se dar em
qualquer época da história. Como os seres encarnados são vindos
das regiões etéreas as mais diversas, sempre houve bons médiuns na
Terra, agentes de ligação com o Plano Superior. Do contrário,
houvesse liberdade de colóquio em qualquer tempo, para qualquer povo
e à vontade, viríamos a ter coisas horríveis por tragar.”
“A
promessa do achego astral, mais amiúde, coincidiu com um tempo de
mais elucidação sobre as coisas do espírito e em geral. Haverá
sempre a intervenção de uma simbiose, de uma coligação de
fatores, para qualquer efeito fenomênico de alcance mais coletivo. E
na hora, então, surgiram os vultos imprescindíveis. Paulo preencheu
uma lacuna, não só dizendo que a promessa era para todos, mas
especificando o que era a promessa em si, no que consistia, o quanto
pode. Pedro disse que receberiam ao Espírito Santo; Paulo entrou em
especificações, disseminando o conhecimento de nove faculdades
fundamentais. Para chamar a atenção sobre os dons, diz:”
“E
sobre os dons espirituais, não quero,
irmãos, que vivais em
ignorância.
Sabeis que, quando éreis
gentios,
concorríeis aos simulacros
mudos,
conforme éreis levados.”
“Esse capítulo doze, da primeira epístola aos Corintos, por tratar como nenhum outro texto das questões do Batismo de Espírito, encerra em si tanto valor quanto todos os demais textos juntos, por ser o único que expõe o que o Espírito Santo seja, no entender do Apóstolo dos Gentios. Teremos em outros dizeres, partidos de outros Apóstolos, outras concepções; em todo caso, uns queriam fosse o Espírito Santo agente comunicante, enquanto outros queriam fosse o dom intermediário, a mediunidade. Para ser um agente comunicante, tinha de ser excelentemente coletivo, como o provam o fenômeno do Pentecostes e aquele outro Batismo de Espírito, dos dias de Moisés, citado no livro de Números, capítulo onze. Todavia, o Apóstolo dos Gentios, foi quem ficou encarregado de dar especificação mais correta: Eis como fala do Espírito Santo em manifestação na carne:”
“Há
pois repartição de graças, mas um mesmo é o Espírito.
E os ministérios são diversos,
mas um mesmo é o Senhor.
Também as operações são
diversas, mas um mesmo Deus
é o que obra tudo em todos.
E a cada um é dada a
manifestação do Espírito para proveito.
Porque a um, pelo Espírito, é
dada a palavra de sabedoria; a outro porém a palavra da ciência,
segundo o mesmo Espírito; a outro a fé pelo mesmo espírito; a
outro a graça de curar as doenças, em um mesmo Espírito; a outro a
operação de milagres; a outro a profecia; a outro o discernimento
dos espíritos; a outro a variedade de línguas, a outro a
interpretação de palavras. Mas, todas estas coisas obra só um, é
o mesmo Espírito repartindo a cada um como quer.”
“Bem se entende que o Apóstolo
trata das faculdades, quando fala do Espírito Santo, e não dos
agentes comunicantes, que devem passar pelo crivo do discernimento,
uma das mais sublimes faculdades, pois o problema, da identificação
do agente comunicante, será por muito tempo um problema difícil,
realmente problemático.”
“Outra questão por resolver, é o
caso de conceituar aos dons como adventícios, como vindos de fora,
por graça, por favor, milagre ou mistério. Nada disso. Tudo é
intrínseco ao ser, e o razoável é que a manifestação se dá por
desabrochamento, pelo despertar interno, como muito já se repetiu. O
fato de haver carência de épocas, tempos e desfechos, para os
grandes cometimentos de ordem coletiva, isso diz respeito ao plano
administrativo, que para tudo aguarda oportunidade, com o fito de
chamar atenção para o princípio de governadoria planetária. Não
basta que certas coisas sejam em si justas; preciso se faz que todos
a reconheçam, pela pujança das manifestações combinadas. É
elementar que entre o plano orientador e o orientado, apareça o
fator determinístico. E este fator reclamará sempre, como é fácil
calcular, um acontecimento de ordem cíclica e um homem-símbolo.
Porque sempre serão precisos os missionários encarnados, para que o
mecanismo se complete por pólos de contato. Assim, quem tiver
inteligência, julgue da vinda à carne dos Vedas, dos Budas, dos
Ramas, dos Crisnas, dos Moisés, dos profetas, etc. Sem tais pólos
de contato, portanto, o plano superior ficaria impossibilitado de
administrar. E assim sendo, os homens-símbolo valem por épocas, por
gerações, por convulsões cíclicas...”
“Sem o fator Espírito Santo, ou
mediunidade, no conceito de Paulo de Tarso, jamais haveria
possibilidade de Revelação, de homens-símbolo, de anunciação de
renovos cíclicos; porque para ele Espírito Santo é o elo sagrado,
inconfundível patrimônio natural de todo o ser, em quem se acha
sempre em estado latente. O que deve ser despertado e acariciado com
todas as forças do coração e do entendimento. Bem sabemos das
recomendações de Jesus, para não blasfemarmos jamais contra o
Espírito Santo.”
“De resto tenho a dizer que cada um
compreendia como podia, tendo havido as divergências concepcionais
mais avançadas, não só em torno do fator Espírito Santo, como
também de todos os ensinos do Cristo. O reino do céu, por exemplo,
apesar de repetir Jesus de contínuo, ser de ordem interna a cada um,
era aguardado por muitos para daí a dias, por meio da vinda de
Jesus, ou por intermediário de um tremendo cataclismo que acabaria
com o planeta. E Jesus jamais disse coisa que se parecesse com tais
extremos de ficção.”
“Quem quiser ficar com Paulo,
fique; quem quiser ficar com outros Apóstolos, fique. Não haverá
jamais revelação de interplanos, porém, sem que haja espíritos
desencarnados, mediunidades e espíritos encarnados. Por Um Espírito
Santo que seja pessoal, terça parte de Deus, ninguém espere, porque
disso não há com Deus. Deus é em Si Uno, havendo de Si tudo
manifesto, sem trindade alguma, principalmente de ordem especial,
para favorecer peçonhas clericais, que sempre surgiram no mundo, à
revelia dos fundamentos revelados.”
“E ficou nisso o grande Apóstolo?
Não. Havendo especificado as faculdades, disse em seguida do modo de
reunir para cultivá-las. Com o Batismo de Espírito Santo reformado,
foi por Jesus Cristo o conteúdo espiritualista do mundo, que até
então prevalecia em base idólatra, ritualística, em ofertas de
carnes, de uma pagodeira sem fim e repugnante. Pelo Cristo, convidado
foi o homem para a sabedoria em Espírito e Verdade; e não para a
crença em superstições, em adorações através de assassinatos de
inofensivos animais. Também o falso, o imundo conceito de privilégio
racial foi pelo Cristo posto de pernas para o ar. Cristo veio, com o
Seu Amor e a Sua Sabedoria Universal, estabelecer no mundo das formas
densas, por meio do mediunismo, o curso de conhecimento do ser. E não
adianta digam os fanáticos de crenças estas ou aquelas, ou aqueles
que pretendem tomar revelações intermediárias como sendo toda a
Verdade Revelada, que o Cristo tenha sido apenas mais um revelador,
sem mais autoridade que qualquer outro antes vindo. Isso prova,
apenas, desconhecimento do que seja a Organização Diretora do
Planeta. E prova, também, que essa gente só tem contato com seres
astrais de ínfima categoria hierárquica, seres que da carne
partiram fanatizados, e que nas esferas inferiores do astral,
continuam no mesmo inferiorismo, a propalar os mesmos divisionismos,
as mesmas mediocridades, os mesmos erros. Não basta, pois, que se
tenha contato com agentes do mundo astral; preciso se faz buscar
sempre o melhor. Os espaços sempre estiveram cheios de espíritos;
como, porém, não há promiscuidade, mas sim planos inferiores,
intermediários e superiores, que ligados são pelas leis de relação
e progressividade, o notável é se procure, pela melhoria
vibratória, manter contato com os melhores planos.”
“Como Paulo de Tarso ensinou a
cultivar os dons, cumpre dizer o que se disse, para evitar que o
mediunismo se dê culto degradante. Como ensinou ele, assim faziam os
do Colégio Apostolar, pois houve Apóstolos que em seguida à
crucificação do Mestre, volveram ao estado de trabalho e práticas
religiosas semi-cristãs, semi-levíticas. Cumpre salientar também
que até a corrupção, vinda depois da vitória de Constantino, o
Cristianismo assim não se chamava, e sim “Caminho do Senhor”.
Foi no quarto século que a corrupção ocorreu e também a troca de
nome ou designação.”
“Não vou citar o texto, através
do qual o Apóstolo Paulo ensina como realizar o culto do mediunismo;
quem quiser saber, busque ler com atenção o que escreveu então, no
capítulo quatorze da mesma primeira carta aos Corintos, versos de
vinte e dois a trinta e três (I Ep. Corintos, cap. 14, vs. 22 a
33).”
“E nesse modo de culto, amigos
meus, permaneceu a Igreja de Jesus-Cristo, por três séculos e
pouco, contando de Seu nascimento. Do dia do Batismo de Espírito,
porém, há que contar somente uns duzentos e noventa anos, depois do
que, conforme as previsões do Divino Mestre, surgiria a corrupção
doutrinária. Com a vitória de Constantino, inverteram-se os termos
— observando-se os nomes do Deus de Moisés, que o Cristo
endossara, havendo sido criada uma mística litúrgica, que seria uma
rememoração da vida de Jesus e dos Seus feitos. O grande mal foi
terem perseguido o Batismo do Espírito, o culto do mediunismo, o
prosseguimento daquele fenômeno do Pentecostes. E isso fizeram,
naturalmente, porque o culto mediúnico tendia a fazer com que todos
os do “Caminho do Senhor” dissessem — “nosso reino não é
deste mundo”, — coisa que às sanhas do Império Romano não
convinha. Queria ele, isso sim, homens espiritualistas, mas
materializados, em lugar de espiritualistas espiritualizados. O
Império precisava de guerreiros, coisa que o mediunismo sempre
condenaria, pois sua lição será sempre de Amor e Concórdia, entre
os filhos do Único Pai. Constantino e alguns foram, pois, os
corruptores do “Caminho do Senhor”, do verdadeiro Cristianismo.
Aquele modo de culto mediúnico ensinado por Paulo de Tarso, banido
foi do conhecimento popular. O fenômeno do Pentecostes, Batismo de
Espírito Santo, para o qual desiderato Cristo veio ao plano da
carne, para tornar a mesma carne herdeira de tal manifestação, foi
convertido num meio de conchavismo clerical, de justificativa de
suborno.”
“E assim permaneceu a corrupção,
pelo tempo que o Apocalipse prescreveu, no seu intrincado simbólico.
Mas, porventura, teria Jesus Cristo deixado de informar sobre a
reposição das coisas no lugar? O cão volveria ao vômito, e a
porca lavada de novo tornaria ao lodaçal, conforme previra Pedro...
Mas, faltaria água, lustral nos páramos superiores da Diretoria
Planetária?”
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