ACOMPANHANDO FÁBIO
Era mesmo de se esperar que Fábio,
com suas experiências e conquistas técnicas, fosse indicado a
trabalhos outros, em outros grupos e sob a chefia de mestres no ramo
das aplicações magnéticas. Todos nós, naturalmente somos
receptores e emissores de fluidos; mas, de par com as possibilidades
naturais, coexistem as peculiaridades e aprendizados. Captar e
irradiar é comum. Saber captar e aplicar com maestria é outra
coisa. E ainda resta o fator tônus, a qualidade do que capta, a
elaboração interna a que sujeita e a sapiência na aplicação.
Isso não é coisa para se aprender num mês e nem para se conseguir
numa vida ou duas. É sabido que o simples fato de modificar o pensar
e o sentir faz, imediatamente, se modifique em parte a aura pessoal,
quer seja pela imposição vibratória interna, quer seja pela
sintonia com os outros graus e outras gamas externas, onde então
fará a captação cósmica. Verdadeiramente, todos vivemos, na carne
ou fora dela, de contínuo, a captar e transmitir; o que varia de
acordo com o “modus vivendi” é a intensidade do mecanismo e a
qualidade dos elementos.
Fábio, pois, foi indicado para
serviços de passes e curas. É um subdepartamento do instituto,
composto de uma vintena de trabalhadores, onde se salientam elementos
que agem por delegação, isto é, não só que sabem e podem captar
e transmitir, mas que encerram em si autoridade moral e delegada para
o fazerem.
Estive presente ao ato de admissão
de Fábio, tendo ouvido dizer o chefe de tais serviços, um espírito
de reais valores, no ramo:
— Como você procurou conhecer
durante a encarnação, há correspondência entre sons, cores e
vibrações. Há, também, características próprias e sutis, para
efeito de captações e transmissões, bem assim como está todo o
ser de posse da faculdade de emprestar valores próprios aos fluidos
cósmicos absorvidos. O tônus é conferido pelo ser, sendo que pode
variar muito em virtude de suas flutuações mentais e impulsivas em
geral. Cumpre saber também que cada órgão interno, pela sua
natureza química e ação, possui a sua cor própria, atraindo e
expelindo, dando de si condição ou modo de ser próprio aos
elementos cósmicos que atrai e concentra. Há que atentar, portanto,
para este fato: não é apenas o corpo humano que em unidade se
apresenta como capaz de um padrão receptivo e emissivo, ou de dar de
si um modo de tônus vibratório, que significa som, cor e qualidade.
É que cada órgão por si mesmo faz isso isoladamente, concorrendo
para que o todo se apresente a seu modo, com a sua hierarquia tônica.
E ante o grupo de técnicos, onde
Fábio formava com a sua atenção crivada nas palavras do chefe,
prosseguia este:
— É necessário, pois, pôr toda a
atenção na escala cromática, para um bom serviço. Cada órgão
reclama sua terapêutica. E embora a elevação de pensamentos
concorra para a superioridade, para a elevação do tônus, e
conseqüentemente para os resultados seguros, é de atentar-se para o
fator externo, que é o doente, o passivo, com o seu grau vibratório
problemático, com as suas flutuações, com a sua possível negação
absorsiva. Para um bom paciente, a aplicação generalizada ou
universal basta; porque ele facilitará, sem dúvida, a que cada raio
por si se encaminhe e localize. Mas, ao passivo que não ofereça
campo universal, deve-se ir pelas partes, pelos centros em
particular. Em nossos hospitais contamos conosco e com os elementos
de nosso plano; junto aos encarnados, contamos com os médiuns e os
elementos da atmosfera terrestre, ambos riquíssimos em propriedades
terapêuticas. Os fluidos emanados dos médiuns, quando estes
procuram de fato permanecer em normalidade vibratória, comportam já
as tonalidades devidas; são elementos já preparados. Como, porém,
surgem complexidades a valer, por via do que podemos ou não, das
variantes condições, disposições mediúnicas e diversidades por
parte dos passivos, necessário se faz agir com prudência, muita
prudência para que os serviços não se tornem nulos, em tempo de
emprego e esforços expendidos.
E aprendia eu que nos céus também
não existem milagres. Há, sim, leis e regras para tudo, técnicas a
serem seguidas, esforços a serem empregados, sacrifícios à cata de
obreiros carentes de progresso.
Preparava-me para sair, por ter
deveres a cumprir em horas certas, quando o mentor dizia:
—
Relatividade é composição. Há que atentar, portanto, para as
razões complementares que se possam apresentar, no curso do
desempenho funcional. Para agir bem em nossos planos inferiores,
curando corpos menos densos e caracteres corruptos, é necessário
intervenha todo o quociente técnico possível. Para atender àqueles
do lado de lá do limiar etéreo, muito mais cuidado se faz preciso;
a densidade dos corpos, a recalcitrância nos hábitos menos
edificantes, os vícios funcionais e com eles as taras secreativas,
tudo impede a eficiência dos melhores esforços. O homem vive em
função dos supremos desígnios e age em função das estultícies
que lhe formam o patrimônio tradicional. Precisamos conhecer, ter
firme desejo de servir, amar ao ato de dar o possível.
Já ia longe no corredor, e ainda o
ouvi dizer:
— Devemos lembrar sempre, porém,
que não contamos apenas com recursos técnicos... Pois a coroa de
assistência superior há de sempre envolver àqueles que de coração
superiorizado derem-se ao afã de lutar pelos irmãos... É que,
assim como procuramos atender a uns, preferindo a sombra do anonimato
fraterno, assim é que outros, mais bem situados do que nós, também
através das leis sublimes da natureza, procuram infiltrar bênçãos
valorosas em nossos serviços.
E perdi de ouvir, pesaroso, aquilo
que bem gostaria aproveitar.
No dia seguinte, pelas quatro e meia
da manhã, fui procurado por Fábio, que, como tinha ficado
combinado, iria ao seu primeiro serviço de assistência. Pus-me de
pé num momento, uma vez que advertiu:
— Temos que estar junto ao doente
em menos de dez minutos. Precisamos aproveitar as últimas horas de
repouso matinal. Quanto mais descansados os órgãos, mais relaxados
os músculos, menos febril o cérebro e bem diminuídos os vapores de
sangue, tanto melhor.
— É encarnado o doente?
— É. A dor o está encaminhando à
Verdade...
— Então, tenho razão de achar que
a necessidade de dor prova a insuficiência de conhecimento e amor...
— quis eu interrompê-lo.
— Mas, calemos, que precisamos
partir — advertiu, novamente.
— Vamos sós?
— Não. Três acompanhantes
aguardam-nos aí fora... Eu nem saberia ir sozinho à crosta... Dizem
que há necessidade de tomar certos cuidados, em determinadas regiões
intermediárias.
Tudo pronto, partimos. Éramos cinco
homens a rumar para a atmosfera densa do globo sólido, onde um irmão
nos aguardava os recursos, por terem por ele feito pedido, em um
Centro da localidade. A viagem, porém, não transcorreu por sobre os
trâmites mais dificultosos, passando pelas regiões perigosas;
valendo-nos dos recursos e vontade daqueles três outros amigos,
bifurcamos pelas camadas menos densas do fluido universal, vindo
assim a escapar de possíveis dificuldades, ou demoras, pelo contato
com gamas menos felizes, sintonizantes com legiões de seres
sofríveis, às vezes perseguidores implacáveis.
Quando na crosta, a neblina
constituía, para a visão, zeloso sudário. Dormia a natureza
terrícola entre os braços de tépida madrugada. Nada de aragens;
ruído algum a perturbar a quietude, o repouso das coisas e dos
homens. Cinco homens, ou invisíveis forças da manifestação
divinal, transpunham, lentos, mas falando alto e bom som, os caminhos
solitários daquele interior. E chegamos ao domicílio em vista,
casinha pobre erguida ao lado de bambual gotejante. Mas ruído faria
um cãozinho que além dormia, se nos visse. Mas nosso plano
vibratório era outro.
— Entremos — convidou um daqueles
três amigos.
— Farei o possível — foi o meu
remate.
ÍNICIO - CAPA
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