PALESTRANDO COM FÁBIO
Estava palestrando com Fábio, dias
depois, sobre o acontecido na noite em que Mesquita e ele foram ao
tal Centro, onde se realizavam as operações espirituais, de maneira
assaz inferior. Dizia-me ele, então, das dúvidas que alimentava
sobre a adoção, por parte dos guias, das emendas transmitidas por
Mesquita.
— Não aceitarão, tenho certeza,
sendo essa mesma opinião de Mesquita. Aqueles guias estão longe do
melhor entendimento, por involução. Dois espíritos médicos que lá
atuam, em que pese os sãos desejos que os animam, também são
psiquicamente inferiores, estando presos a círculos inferiores do
astral.
— Então, falaram somente aos
guias?
— Por enquanto, sim. Caso algum
guia queira, dentro em breve falaremos aos encarnados, em sessão
adequada. Por ora, pelo menos, ficou por haver resposta da parte dos
guias. Quando Mesquita lá for, um dia destes, saberemos se aceitaram
ou não a idéia de reforma.
— Eu pensava que tivessem logrado
mais vantagens.
— Não, pois fomos por ordem. São
inferiores, ou são como são, como diz Mesquita, mas são
bem-intencionados. A tradição achata o homem, mesmo por aqui.
— Se de fato são
bem-intencionados!... — atalhei, julgando ao fator boa intenção a
meu modo, que é avançar no bem, sempre que possível, sem
prevenções e com todas as forças ponderáveis.
— Nossas boas intenções, sobre os
céus superiores, ou zonas mais eterizadas, plantar-nos-iam nelas, de
momento? Boa intenção é ótima premissa, não há dúvida, para
epílogos próximos ou remotos. Contudo, quando se é escravo de
vício mental, ambiente formado, principalmente quando se saturou as
células cerebrais de convencionalismos, de recalques mecânicos,
como se vai abandonar um modo de agir ou crer, pensar e querer? Esses
irmãos, por certo, estão como os viciados em certos sentidos de
aplicação sectária — não conseguem sacudir de si mesmos o jugo
coercível do passadismo lastroso. A embalagem mecânica poderá mais
do que a idéia superior, assim mesmo como a prática inferior
costuma poder mais do que a teoria sublimada. Admitir o melhor é
fácil; vivê-lo é quase impossível.
— O homem será sempre o homem, na
Terra ou aqui...
Nessa hora, Mesquita vinha a nós,
acompanhado de Alva; deviam trazer recado prazeroso, pelas feições
dos semblantes. Levantamo-nos e fomos ao encontro dos dois.
— Começo de função de ambos! —
anunciou Mesquita, abraçando-nos.
— Graças a Deus! — exclamou
Fábio, baixando a cabeça e ensimesmando-se.
— Andemos? — convidou-nos Alva,
apanhando-me pelo braço.
Durante o pequeno trajeto, que
mediava, entre o parque e a residência de Mesquita, falamos da
função por exercitar. Iríamos residir com Mesquita, até novas
ordens, sendo que trabalharíamos para uma organização socorrista
do local, de que Mesquita era membro diretor. Tudo era de nossos
desejos.
— Amanhã iremos ao encontro do
primeiro a ser atendido por você, Adroaldo — disse-me ele.
—
Mas ainda sou fraco em aplicações de elementos energéticos. Pelo
que me tem sido dado ver, há qualquer coisa de nós mesmos que
devemos utilizar, para o encaminhamento dos outros. Não tenho
prática desses exercícios...
Sorriu Mesquita e emendou:
— Depende de quem vai atender...
Você, por exemplo, terá de entender-se com um evangelista
recém-desencarnado. Vagueia ele, sem saber como e nem por que, num
campo de paz. Para ali o levaram, durante a turbação inicial, para
um sono reparador. Uma vez acordado, passeia pela campina, bebe dos
regatos, penetra nos bosques, ajoelha e ora. É preciso que se o
avise da morte... Compreende?
— Compreendo que devo esclarecê-lo;
mas não sei bem como principiaria por lhe falar. É preciso técnica
para tudo, pois boa intenção, como dizia-me há pouco Fábio, é
qualquer coisa, mas não é tudo.
— Pois saiba que, sabendo ou não,
terá de fazer isso. Fale com sentimento e inteligência. Para o
sentimento, lembre que um dia foi recolhido; e para a inteligência,
apele para o realismo da vida. Não discuta, afirme. Não comente,
exponha. Não prometa, faça.
— Para afirmar, expor e fazer,
precisamos saber e poder. E me sinto frágil em tudo, em quase tudo.
— Pois use o pouco de quase o que
já começou a sobrar... — saiu dizendo Mesquita, deixando-nos a
sós, Fábio, Alva e a mim.
Alva, meiga e amiga, inseriu num
sorriso:
— Não tenha receio de nada. As
coisas devem andar nos ares sempre, a respeito de quem de fato
procura ser útil aos irmãos em natureza e destino. Vá ao seu irmão
por orientar, sem receio e nem prevenções, que por fim tudo sairá
bem. E se de início não sair bem a contento, compenetre-se de que
todos pagamos tributos ao conhecimento, e à técnica de aplicá-lo.
Ninguém é obrigado a começar perfeito, nem tampouco é condenável
por não o ser.
— Farei o possível — foi o meu
remate.
ÍNICIO - CAPA
Nenhum comentário:
Postar um comentário