CHORANDO, MAS DE ALEGRIA
Todos
os amigos quiseram acompanhar-me, quando da primeira oportunidade de
comunicação mediúnica com a família. Arrumaram substitutos para
seus serviços, fizeram por estar presente, na hora augusta em que
pude manter, pela primeira vez, contato verbal com os meus queridos
familiares.
Foi na casa de meu irmão, que por
necessidade de auxiliar aos meus no processo de inventário, para
junto deles foi residir, transladando-se de um Estado para outro.
Havendo convidado, por instância de um guia espiritual, a que
fizessem uma sessão em sua residência, convidou ele a vários
médiuns, gente sem pretensão, homens e mulheres do povo, mas amigos
de instrução e boas leituras, para que o visitassem e ali fizessem
qualquer coisa. E o dia chegou.
Minha cunhada era alvo de atenções
de alguns amigos destes planos, pelo fato de ser francamente passiva,
sonâmbula. E foi por ela que pude falar, dizer coisas da vida, que
continua sempre, com ou sem o beneplácito dos homens. A verdade é
que tive de enfrentar uma eclosão emocional de envergadura. Ao
contato franco, falando como que sem o fator mediúnico, pelos
extremos de passividade de minha cunhada, senti-me como se estivesse
de novo na posse de um corpo materializado. Minhas primeiras palavras
foram embargadas pelo pranto feliz que me invadiu por completo. Coisa
estranha, parecia-me chorar por inteiro, por todo o corpo, como se
todos os meus membros e órgãos chorassem, sentissem, vivessem
psiquicamente.
— O senhor está sofrendo, papai? —
quis saber, angustiada, minha filha.
— Filha, o céu nos confere bênçãos
por demais, para que as possamos fruir sem abalos íntimos profundos.
Eu choro de alegria, uma alegria que só mesmo espiritualmente poderá
ser definida. Estou mais do que bem; é preciso morrer para gozar a
morte, para sentir o que ela é como a vida exuberantemente
espiritual. Porque a morte é uma vida com mais sentidos, com outros
poderes de expansão do Ego, do espírito. Eu ainda não sei
explicar, mas a morte possui glórias que a vida na carne nunca
poderá conferir. Dizem os sábios daqui que nós comportamos, por
sermos emanação de Deus, patrimônios divinos por despertar, sem
conta. Por lei de ubiqüidade é que denominam o poder de expansão
em todos os sentidos. E seja uma questão de termos ou não, a
verdade é que tudo aqui cresce, se multiplica, atinge as fronteiras
do indefinível...
— O senhor está sozinho? —
tornou ela, vivamente interessada.
— Sozinho, minha filha? Esta casa
transborda em seres amigos, alguns deles iluminadíssimos. São
amigos, são irmãos mais emancipados, são guias espirituais, são
angelizados cicerones...
— Que faz o senhor, agora? —
interrompeu-me ela.
— Começo a trabalhar...
— Em que, papai? — tornou,
prontamente.
—
Inicio-me nos socorros... Auxiliado por amigos experimentados, vou
atendendo aos que deixam a carne em condições de poderem ser
recolhidos às esferas de luz. Como sabe, porque Jesus ensinou e você
já leu, cada qual recebe segundo suas obras. O mais certo é dizer
que cada qual se encontra consigo mesmo, chega a ser como se fizer.
Mas como se fizer interiormente, não exteriormente. Valem a Pureza e
a Sabedoria, pois o resto, o que faz, é complicar o ser perante as
leis divinas. Por isso vos aconselho, como pai, como irmão e como
servo do Senhor, a que jamais aceitem do mundo um título, um grau de
ordem religiosa, como que significando valor de ordem espiritual.
Procurem, antes, realizar em si mesmos a Pureza e o Conhecimento;
porque isso não se perde. Existem muitos titulados e graduados do
mundo, nas regiões trevosas. Deus não consulta estatutos humanos,
eis a verdade, Deus é em tudo o Fundamento Básico, não se iludindo
com as aparências da personalidade; porque o egoísmo, a vaidade, o
orgulho, o prazer de mando, de domínio, de querer ser, essas coisas
é que traem o espírito. E elas se fingem, passam por virtuosidades,
por mandamentos de Deus. Tais homens e tais ambientes, é claro,
atraem elementos de planos idênticos, de zonas mentais similares, e
acreditando estarem sendo auxiliados por Deus ou por verdadeiros
guias, estão é, de fato, sob a tangência de seres igualmente
vaidosos, errados e, por vezes, francamente rebelados contra Deus e
Suas Soberanas Leis. Ludibriados que foram pela vaidade, portam-se
dolosamente junto de encarnados menos avisados.
— Devemos trocar de religião?... —
indagou ela, num repente.
Eu ia dizer coisa minha, com
características próprias, quando Eliel, que estava ao meu lado,
observou-me:
— Diga assim:
“Assim
como Jesus ensinou, assim vos lembro;
quem livra é a Verdade. Ele
recomendou o culto da Verdade
como Religião por seguir,
prometendo um Consolador.
Procurai a Verdade e cultivai o
Consolador.”
E a palavra de Eliel foi transmitida
inteira e fielmente, graças a Deus.
Em seguida, convidou-me Eliel a
despedir, prometendo voltar sempre que Deus o permitisse. Fiz isso e
deixei o corpo de minha cunhada livre, para que Eliel pudesse falar e
transmitir o que transmitiu, palavras carinhosas e uma recomendação
ao meu irmão, por via de seus rins, que iam em mau funcionamento.
Mais para frente com os trabalhos, dois endurecidos espíritos foram
passados pelo cadinho mediúnico, compenetrando-se de que contra Deus
não convém tentar luta. No final dos trabalhos Alva falou; contou a
Ângela sobre o que lhe havia feito em tempos outros, revelando-se
mais uma vez agradecida. Eram dois espíritos que de novo se falavam,
um do continente da morte, outro da vida, mas cujos corações
pareciam pulsar em uníssono, pelo que foi-nos dado observar. Entre
elas duas, uma cadeia de luz se estabeleceu, num crescente invulgar,
fazendo-as vibrar e a todo o ambiente, de um modo sublime. Mais,
muito mais que as palavras, falavam os sentimentos, falava a Verdade,
a continuidade da vida, a perenidade do Amor, o culto da gratidão...
Qualquer coisa de mais alto,
hierarquicamente mais alto, se fez presente, convidando a partir. E
partimos, deixando a afetividade penhorada aos queridos que palmilham
os caminhos da vida na carne. Neste momento, alguns deles já fazem
parte das colméias erráticas, trabalham com amor pelos que
permanecem na escola. A Humanidade vive se revezando minuto a minuto,
segundo a segundo, entre os dois planos; e nós temos ordem de
trabalhar pelo entrosamento consciente de ambos os lados. Contamos
com sérios obstáculos, com entraves difíceis de serem removidos,
que são aqueles que as tradições ignorantistas constituem. Mas,
nem que seja à custa de tremendos choques, ditos políticos, sociais
ou econômicos, o Plano Dirigente triunfará. Porque, em verdade,
antes de que a Nova Era se tenha apresentado de fato, abalos
profundos terão feito o homem pensar melhor, respeitar mais as Leis
Supremas, incrustar-se bastante no concerto glorioso da Vida.
F
I M
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